Capricornianos são bons planejadores de longo prazo. Quando decidi estreitar laços com o intruso, anotei na agenda a castração dele para 27 de novembro, exatamente um mês depois, almejando mais gordura e menos agressividade. Durante esse tempo, ele devorou cinco refeições por dia, cada uma delas como se fosse a última, me atacou seis vezes, diminuindo gradativamente a intensidade, ronronou e se esfregou outras tantas.
Faltando uma semana para o grande dia e aproveitando a concentração no pote de Pet Delícia, apliquei na nuca o combo de antipulgas + vermífugo ― os carinhos também funcionam melhor durante a comida. Coloquei a caixa de transporte do lado de fora para ele já ir se acostumando E, na noite da véspera, tive a sacada de recolhê-la para conseguir devolver de manhã com o pote já dentro, sem retalhação ― escolhi um sachê inédito bem apelativo.
Pois o cara de pau entrou na caixa tranquilamente (obrigada, Chicão!), limpou o prato e só se tocou que a porta estava fechada quando virou. Não gritou na hora, não gritou na viagem, (quase) não gritou na clínica ― acho que o pessoal não levou muito a sério meu aviso de braveza. Até precisarem tirá-lo de lá. rs
Aqui vale abrir um parêntese para explicar que optei por uma ONG, na verdade, que oferece atendimento veterinário, porque essa galera castra animal arisco de colônia, com técnica minimamente invasiva, sem necessidade de retorno para tirar os pontos e antibiótico injetável, dispensando medicações via oral.
Eles também entenderam que eu não podia marcar horário porque dependia de conseguir capturar a criatura com a comida, e levaria, portanto, um gato sem jejum, deixando-o para o final da fila. Ainda precisaríamos fazer todos os procedimentos no mesmo dia, desaconselhável no caso de bichos domesticados, sob o risco de nunca mais pegá-lo. Fecha parêntese.
A cirurgia foi um sucesso, mas veio acompanhada de duas bombas: Intrú (ou Quino, como Leo chama, insistindo numa abreviação de "inquilino" que só faz sentido na cabeça dele) não é o filhotão que apareceu aqui em dezembro do ano passado, porque já tem 4 anos ― idade que dificulta ainda mais a adoção de frajolas.
E o teste de FIV e FeLV deu positivo para FeLV, a estigmatizada leucemia felina, causada por um vírus que enfraquece o sistema imunológico ― por isso não vacinamos. Existe a chance de negativar, como a gente viu acontecer com a Catrina, só que depende de o organismo dele conseguir neutralizar o vírus.
Caso isso não ocorra, o pequeno só poderá ser doado para famílias sem gatos ou com outros FeLV+, restringindo ainda mais o leque de possibilidades para um bichinho assustado, que sonha em dormir do outro lado da porta de vidro da lavanderia.
P.S.: O link que compartilhei lá em cima sobre a FeLV é de um vídeo maravilhoso da Isa Gateira, que todo mundo precisa assistir para reverter preconceitos e dar uma chance aos peludos que terminam encalhados nos abrigos.
Epopeia do Intruso
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