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7.7.23

Saudade

Atualizado em 8 de julho de 2023, às 13h30

Quando você reverteu um derrame pleural sem punção, às vésperas dos 16 anos e depois de uma quase-morte por micoplasmose, outra por colite, mais 11 anos driblando a doença renal, eu achei que enterraria seus nove irmãos — biológicos e agregados. Pufosa, inclusive, é a gata dos cuidados da vez.


Mas na segunda-feira o rangido voltou no ronrom, na terça seu corpinho já balançava com o esforço da respiração, na quarta você trocou o colo pelo jardim do gatil (que amava) e ontem começou andando devagar pelo catnip e terminou prostrada nos almofadões da sala. Foi muito rápido, Pipoca!


Eu coloquei a fraldinha, para garantir, fiz um último vídeo das Gudinhas juntas e pedi que me chamasse se precisasse de qualquer coisa, porque Chicão me acordaria — no quarto estranho pela alergia a gatos, você provavelmente se angustiaria, como aconteceu com a Guda.


Despertei pela primeira vez às 3h20, como nas outras madrugadas, só que apaguei de novo de exaustão. Às 4h10, te recolhi do chão, com a fraldinha arremessada longe — briosa como os Levischi, você ainda conseguiu usar o banheiro. Esquentei o patê e dei na seringa para a Pufosinha, depois para você, interrompida por duas respirações fortes, aquelas tristes conhecidas.

Não deu tempo de nada. Nem uma gota de xixi fora nem vômito ou diarreia, mucosas coradas porque eu monitorava com mais frequência do que corretor da Bolsa de Valores. Ao mínimo tom de azul, cederia à eutanásia — o veterinário local estava avisado. Tenho asma, levei minha mãe ao hospital pela última vez justamente com os pulmões afogados e não assistiria você morrer sufocando.

Quatro dos dias mais longos de que me lembro.

Dá para acreditar que você passou cinco anos fugindo de mim? Quer dizer, bem no começo, quando ainda era nosso ursinho Pimpão (sim, eu passei essa vergonha na castração), você até gostava das pernas magrelas, equivalentes a sentar no taco. Mas a família Guda, nascida em casa, acabou se fechando para humanos e só ganhei uma segunda chance quando suas patinhas não conseguiram mais fugir.




Naquele 2012 do primeiro susto, Leo me deu de presente um Daruma e, pintando o olho esquerdo, pedi que você sobrevivesse — os tropeços da jornada, inclusive, foram compartilhados, rs. Um privilégio poder completar a pintura nesta manhã — escolhi sua cor, porque já havia preto demais.




P.S.: Volto a este post um pouco menos esgotada do que ontem, digitando no celular com uma mão enquanto faço cafuné na Pufosa com a outra, porque faltou agradecer os momentos incríveis que tivemos juntas. Como você miava pedindo carinho e saía correndinho até sentir que era seguro relaxar e curtir. Sempre me acompanhava durante o almoço, em cima ou embaixo da cadeira, do seu jeito, no seu tempo.

E orava nos potes de água, escolhendo o vaso do finado bebedouro elétrico como seu favorito. Amava libélulas, principalmente pelo barulho, e caçou até um passarinho — o que me despertou emoções conflitantes, confesso. O coração partido da sua pelagem desbotou na velhice, mas, ironicamente, nunca esteve tão vibrante.

20 comentários:

Anônimo disse...

💔 😔

Anônimo disse...

Sniff...
Regina Haagen

Anônimo disse...

Muito difícil sobreviver a quem se ama. Muitas perdas em pouco tempo. Só posso mandar minhas maiores orações pela sua saúde.
Pipoca não sofre mais e agora brinca com os irmãos que a esperavam. Talvez minha Nut e minha Sofia também brinquem com ela.
Força, querida. Eu sei que vc tem bastante.

Anônimo disse...

Alice gap

Anônimo disse...

💜💔

wcris disse...

Saudade, coração roxinho de saudade. A linda Pips se despediu ligeiro e está agora com as outras estrelinhas

Maria disse...

Que Deus conforte seu coração e que o tempo transforme a dor em saudade quentinha. Sei o que você está passando, minha Fofinha se foi em abril depois de 13 anos nos fazendo muito feliz!

Anônimo disse...

Não adianta, é sempre a mesma imensa dor...

Roberta Baradel disse...

Coragem, Bia! Que fiquem todas as boas lembranças do amor e do bem que você faz para despiorar o mundo!

Anônimo disse...

Pipoquinha foi acolhida pela Gudinha e sempre estará presente entre os que a amaram tanto.

Anônimo disse...

Bia, ela está contigo para sempre. Triste, mas é a vida de quem cuida. Um abraço forte.

Anônimo disse...

Que triste é perder nossos amadinhos!

Anônimo disse...

Nunca estaremos preparadas para as perdas....

Anônimo disse...

Tive que me despedir de 3 dos meus idosos em um ano. Francisca em 21/06/2022, Billy em 08/07/2022 e Clara em 04/05/2023. Me despedi dos meus 5 amores de 2018 pra cá… Hoje vivo de saudades. Forças 🌹

Anônimo disse...

Agora é dexar-se levar pela lassidão. A que esvazia a alma e prepara o caminho da cura. Fica em paz.
Regina Haagen

Anônimo disse...

Não sei nem o que dizer diante de tão lindas palavras 😢😢😢😢

Anônimo disse...

💔💔💔💔💔

Anônimo disse...

💔💔😞

Anônimo disse...

Só posso desejar força, mas uma guerreira não foge à luta e você é uma delas ………

Beatriz Levischi disse...

❤️

Um aperto a distância, Maria! E outro para a família da Francisca, do Billy e da Clara.