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24.10.23

Um 'plot twist' chamado Mercvrivs

Há 18 anos, eu não gostava de gato — nem de cachorro, nem de planta, nem de nada que demandasse mais dor de cabeça do que já tinha. Recusei a sugestão do então namorado de adotar um dos filhotes acolhidos pela avó, na intenção de tornar um luto mais leve, mas Mercv, como bom mentor, esperou pacientemente pelo almoço de domingo que mudaria tudo.

Na travessia para casa, 39 dias depois, não fazia ideia de que aquela criaturinha, prestes a quebrar na próxima lombada, colocaria em teste todo um jeito de ver e estar no mundo, trazendo novos relacionamentos, trabalhos, um projeto de vida. Quase duas décadas e, mesmo assim, não estava preparada para me despedir.

Na nossa jornada do herói, ainda não alcancei a ressurreição. Mas você ia ficar orgulhoso de saber que tomei coragem de trocar o computador comprado há 12 anos, já usado, do irmão. Eu, que detesto mudanças! Ok, não me restou muita escolha porque a placa-mãe queimou na transferência para o gabinete novo, com filtros, justamente para evitar que o acúmulo de pelos queimasse a placa-mãe.

Só que podia ter me limitado a praguejar e gastei apenas uma semana — primeiro com a assistência técnica, que demorou três dias para constatar que não haveria conserto, depois com a descoberta de que as memórias e o processador antigos não funcionariam na placa-mãe moderna e, finalmente, com o marketplace que não aceitava nosso CEP genérico de cidade pequena no cadastro.

Escrevo este post em um notebook improvisado, sem editor de imagem, mas nos próximos talvez me anime até a arriscar uns vídeos. Já pensou virar TikToker? Acho que nem toda a suspensão de descrença daria conta. rs


Despedida
:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho
:: Ainda não acredito
:: Primeiro aniversário sem Mercv
:: Colo vazio
:: Ele veio me visitar!
:: Um ano sem Mercv

13.7.23

12 vezes obrigada!

Como meus pais morreram cedo, os amigos ficaram com a incumbência das perguntas constrangedoras, tipo: "Você não sente medo de morrer encalhada com dez gatos?" — a criatura em questão, inclusive, se tornou referência na luta por uma educação pública de qualidade no Brasil, por isso terá seu nome preservado. rs

O fato é que, 12 anos atrás, minha história se entrelaçou justamente à de um cara que não curtia o movimento, independente da quantidade de integrantes. E ele não só deu uma chance à gangue como aprendeu a aplicar soro, abriu mão de passeios, me esperou atrasada para comer com a mesa posta, aceitou que nenhum filme passaria incólume aos alarmes de remédio e patê na seringa.


Seis mortes, covas rasgadas no frio, na chuva, com o dedo cortado na faca de cozinha — fora a obra e a mudança para Araçoiaba conturbadas.


E também um gatil, um parquinho, um arranhador, pão de queijo e bolo de banana veganos quando eu só conseguia chorar. Obrigada por abraçar meus projetos, Leonardo Eichinger, mesmo os que parecem não fazer muito sentido, como tirar fotos de conto de fadas com abóboras no gramado. ❤️


Amo você, com todo o caos que acompanha!

18.5.23

Um ano sem Mercv

Hei de confessar: quando Mercv não precisou mais de seu casaquinho peludo, eu cortei um tufo de cada cor e guardei num pote de vidro mais bem-fechado do que os de azeitona, para sentir seu cheiro de roupa passada uma última vez. Dividida entre desapertar a saudade e enlutar uma segunda morte, minha resistência hoje completa 365 dias.


Despedida
:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho
:: Ainda não acredito
:: Primeiro aniversário sem Mercv
:: Colo vazio
:: Ele veio me visitar!

3.5.23

O difícil equilíbrio ao cuidar de gatos

Atualizado às 20h49

Quando Simba morreu, em outubro de 2016, eu me dei conta de que os bigodes haviam envelhecido e passaria pelo misto de impotência, corpo dolorido e emocional em frangalhos mais nove vezes. O que parece uma não-escolha é, na verdade, desdobramento da decisão consciente de poupar criaturas que ainda preservam uma essência selvagem — domesticadas milhares de anos depois dos cachorros.

Mas, antes do desfecho final, e ciente do privilégio que significa poder cuidar de quem parte em casa, no mesmo esquema intensivo da internação de hospital, por não precisar trabalhar fora, outras resoluções importantes marcaram nossa jornada de quase duas décadas.

Constatada a doença renal na maior parte do grupo, por exemplo, e após quase perder Pipoca na coleta de sangue de 2018, cianótica de pavor, suspendi os exames (hemograma e função renal) de todo mundo — conhecia a evolução dos sintomas e eles bastariam para guiar o tratamento.

Na confirmação do carcinoma da Clara, optei por continuar com a homeopatia em vez de submetê-la aos efeitos colaterais da quimioterapia, que acompanhei durante os oito anos de batalha (perdida) da minha mãe. E, em vez da sobrevida de dois, a retalinha ganhou seis, nos deixando aos 16 e meio.

Sei que não se escreve homeopatia hoje em dia sem ser confundido com o povo do chapéu de alumínio. Abro parêntese, então, para explicar que acredito em terrabolismo, aquecimento global e sou capricorniana — ok, tenho um fraco por astrologia. E quem sugeriu as bolinhas do Hahnemann foi um veterinário alopata.

A gente já tentava curar uma infecção de pele highlander do Simba há mais de ano, fracassando com antifúngico, antibacteriano, anti-inflamatório, antibiótico e corticoide. E a única ração renal que o leãozinho aceitou ainda desencadeou uma intolerância alimentar que três profissionais taxaram como insolúvel sem a substituição da comida. Com a homeopatia (que atua na energia vital, tratando o ser, não a doença), as feridas no corpo sumiram em 38 dias e o piriri, em três meses.

Fecha parêntese, porque o objetivo do post é defender a ideia de que quanto menos se estressar um gato com viagens de carro e manipulações por estranhos, melhor. E, quando não der para evitar, recompense com petiscos, carinho extra ou escovação para mostrar que vale a pena continuar — lembrança do meu avô tomando uísque com morfina no final do câncer de próstata. rs


Sim, é difícil encontrar esse meio termo, principalmente com animais que não podem expressar seus desejos, mas mantenho sempre no horizonte. E a longevidade da gangue acho que prova meu ponto. Pipoca, renal desde os 5 anos, completará 16 em 20 dias, junto com as quatro irmãs. Escrevo isso, aliás, depois de escolher não fazer a drenagem do derrame pleural — diagnosticado por raio-x, aqui em casa.

Apesar de o vet araçoiabano duvidar que o organismo reabsorveria o líquido a tempo e o quadro ainda ser delicado, a magrela já voltou a caçar insetinhos. No dia de sua visita, inclusive, pedi para auscultar também a Chocolate e só o fato de segurá-la à força nos rendeu três dias da diarreia mais tensa de Gatoca, uma lambeção compulsiva e o ânus florescente.

E não tem como não citar a Síndrome de Pandora da Guda, caracterizada por uma cistite recorrente, que a gente demorou para perceber se dever à ansiedade — obra, mudança caótica, ultrassons (1 e 2), alimentação forçada, morte dos amigos. Ela partiu dez meses depois do Mercv, aos 17 anos (e ele, aos 16 e 7 meses).

Preciso enfatizar que poupar os bichanos de estresse e sofrimento desnecessários não quer dizer falta de cuidado? Pago o vet homeopata mensalmente para acompanhar os bigodes a distância, dou água na seringa três vezes por dia para todos e patê batido no processador para quem não consegue comer sozinho, aplico soro nas crises — e queimei três dedos na cola quente fazendo o arranhador favorito deles!

31.3.23

2 anos de casa nova, menos 3 gatos

Eu sei que escolhi vir morar no interiorrr para os bigodes terem de volta um gramadinho no fim da vida — que acabou virando gramadão. E que gatos de 15 e 16 anos não atravessariam uma década. Mas sou de humanas, deem um desconto pelas linhas salgadas. Entre os cuidados com a Clara, o Mercv e a Guda, sobrou pouco tempo para curtir.


Continuamos, inclusive, sem porta no banheiro — existe estresse pós-traumático de obra? Até paguei por um toldo contra o alagamento da lavanderia, só que o gênio instalou um modelo que vaza água quando chove, deixa a casa escura nos dias de sol e faz barulho com o vento. Talvez, meta uma cortina de miçangas entre a privada e o quarto.

Já as plantas não podem reclamar: cresceram quase tanto quanto o mato, floriram de todas as formas, renderam caipirinha, moqueca, cupcake. E a gangue também aproveitou — o gatil improvisado, o gatil oficial, as escapadas do gatil (privilégio de quem não conseguiria mais alcançar a rua).

Ainda restam seis.

Decidi embrulhar o passado em contact e acquablock para recomeçar com outras cores. Mas pega leve, Universo!










15.3.23

Gatas no feminino: um desafio

Gatoca sempre foi um matriarcado, com duas participações masculinas especiais: Simba, mais gata do que a Clara, e Mercvrivs, um frajola não-binário antes de o termo render discussões intermináveis no Twitter. Mas, como vivemos em uma sociedade patriarcal, eles dominaram o gênero do recinto por quase 17 anos.

Acontece que faz dez meses que Mercv, o último exemplar de macho da casa, morreu e eu, militante do feminismo, ainda me refiro ao coletivo de peludas empoderadas no masculino.


Pimenta reinando no tronquinho que Leo fez para eles elas

Em parte, porque é difícil mudar hábitos. Mas também porque significaria mais uma expressão de ausência.

7.3.23

Mercv veio me visitar!

Clara havia fugido de casa e eu a procurava na montanha-russa, a toda velocidade — uma boa metáfora para estas quase duas décadas da gangue. Quando abria a janela do carrinho, porém, quem pulava para dentro era o Mercvrivs.

O luto parece fazer o caminho inverso nos sonhos: primeiro morte, depois doença, no terceiro indiferença — contei que o frajola aparecia disfarçado de estranho, com uma manchinha na perna, né?

Neste quarto, numérico e geográfico, talvez esteja a cura.


Despedida
:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho
:: Ainda não acredito
:: Primeiro aniversário sem Mercv
:: Colo vazio

2.2.23

Desafio: qual é a série do seu gato?

Com dez gatos, dá para lançar o Emmy de Gatoca — sim, eu incluí estrelas que não brilham mais na terra porque são estrelas, oras! E tem bigode que merece mais de um seriado, sorry. Ficam as sugestões para os humanos, já que se tratam de algumas das minhas séries favoritas. :)

Fofo, engraçado, totalmente sem jeito com as meninas e me considerando um porto-seguro, Mercv ficaria dividido entre Atypical e The Big Bang Theory. Simba, que chegou com as orelhas comidas de briga, sem castrar e virou mocinho, embora apegado aos prazeres mundanos, amaria Lucifer. A sagacidade da Clara para fugir de casa, nos primórdios sem telas, a faria maratonar Lupin e Sherlock com o bloquinho de anotações.

Guda, às voltas com a educação de cinco filhas de personalidades complicadas, só poderia ser fã de Modern Family. Chocolate, que compartilha com ela uma rotina de amor e ódio, assistiria resmungando Grace and Frankie. Pimenta, batizada pela Mariana de Devedora Temedora, alternaria entre La Casa de Papel e Family Business.

Uma gata como Pufosa, que come mais do que cabe na barriga, vomita e come de novo (o das irmãs também!), não perderia Community. Pipoca, desabrochando conforme crescia, depois de quase morrer várias vezes, fez a jornada do herói da Anne with an E. Keka, arisca e com cara de mal-humorada, mas doce por dentro, se identificaria com Wandinha.


Ao falhar na missão de me arrancar um braço, em 2013, Jujuba trocaria Dexter por Only Murders in the Building, mais moderna e com menos sangue. Vocês provavelmente me associariam com Call me Kat, acertei? E o Gatoca tem um quê de The Good Place — entendedores entenderão. 😂

Contem nos comentários as séries dos bichanos de vocês!

2.12.22

Colo vazio

Quando você chegou, 17 anos atrás, a casa só tinha o gramado — descuidado porque eu era razão. Logo viramos 13, entre bípedes e quadrúpedes, mais nove temporários felinos e dois caninos. Se fez urgente aprender a meditar. O gramado acabou ficando para trás na mudança para o apertamento — 1.407 dias de sol na janela (e briga com os vizinhos).

Recomeçamos, então, no interior, onde havia jardim, ainda que modesto, meditação com passarinhos, sol no colo. Mas Sorocaba encolheu na pandemia e a gente sonhou floresta, gatil, céu estrelado, beija-flor. Você amou Araçoiaba da Serra do mesmo jeito que amava a São Bernardo poluída, porque descobriu o segredo da vida.

Só que o colo da meditação esvaziou.


Despedida
:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho
:: Ainda não acredito
:: Primeiro aniversário sem Mercv

11.11.22

Conheça sua maquininha de matar: tato | EG #15

Preocupada com a emergência climática, a humanidade não percebe que divide a cama com aquele que, se quisesse, poderia causar sua extinção. Sim, estou falando dos gatos! E quem já tentou colocar uma criatura ̶a̶s̶s̶a̶s̶s̶i̶n̶a̶ assustada dentro da caixa de transporte para mudar de casa está me abraçando virtualmente agora. rs

No capítulo anterior desta série, inspirada na bíblia do Jackson Galaxy e financiada coletivamente pelos leitores do Gatoca, expliquei a importância da caça para a gatitude, lembram? E, como todas as partes da fisiologia dos bichanos têm uma função nesse processo, vale a pena destrinchá-las, começando pelo tato.

Diferente da gente, que não fica consciente o tempo inteiro da roupa junto ao corpo, os felinos possuem receptores na pele que indicam o toque continuamente. Isso significa que as células nunca se adaptam ao contato físico e seguem enviando ao cérebro o sinal de "estão relando em mim" — o que os torna supersensíveis.

Até os folículos de pelos dos gatos têm nervos — e aquele carinho que bagunça tudo pode se tornar extremamente irritante. Mais sensível ainda são o focinho, que consegue identificar mudanças na direção do vento e na temperatura, e os dedos e as almofadinhas das patas da frente — por isso, inclusive, que bichanos de pelo longo se incomodam mais com areia no pé.

Preciso citar, ainda, os pelinhos curtos e grossos ao redor da boca e dos pulsos, que servem para detectar vibrações, e a base das garras, responsável por alertar os movimentos mais sutis, habilidade muito útil quando um rato tenta se livrar de seu algoz, por exemplo.

Essa percepção sensorial toda funciona também para defesa, afinal, gatos são presas de animais maiores e quanto antes sacarem os sinais de um ataque, mais rápido poderão acionar o mecanismo de lutar-ou-fugir — sem perder a elegância, tão característica.


(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 15 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: Bichanos dormem menos do que parece (estreia no dia 15 de setembro!)

24.10.22

Primeiro aniversário sem Mercv, 17 anos depois

É como se eu continuasse anestesiada — ou iludida. Para que sofrer se, a qualquer momento, posso acordar e encontrar o Mercv* no sofá, me esperando para o café da manhã? Sei que já se passaram cinco meses. Tratei de preencher cada um deles com os outros gatos (ainda resisto à mudança de gênero da gangue, agora exclusivamente feminina), plantas, trabalhos.

Mas não faz sentido o frajola não ter chegado aos 18 anos. Foram 4 mil dias de colo à disposição em home office. Veterinário pago mensalmente. 24 mil seringadas de água! Sim, ele já morreu em sonho. E ficou doente, de rosto inchado e vermelho. E, nesta semana, apareceu disfarçado de estranho, com uma manchinha na perna.

Isso, porém, só reforça meu ponto: Simba e Pandora me receberam com festa no reencontro onírico. Entre a gente, reina o silêncio.


*Novelinha: Conheça a história do Mercv

Outros aniversários: 2021 (extra!) | 2020 (extra!) | 2019 (extra!) | 2018 (extra!) | 2017 (extra!) | 2016 | 2015 (extra!) | 2014 (extra!) | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008 | 2007

Despedida
:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho
:: Ainda não acredito

3.8.22

Um ano sem Clara

Eu te dei papinha nas costas da colher por 270 dias, até o carcinoma derrotar a mandíbula. Reguei 16 semanas de girassóis multicoloridos para as formigas transformarem em graveto. Cinco meses depois, plantei Mercvrivs.

Final (quase) feliz.


Despedida da Clara:

:: Saudade
:: Nunca foi tão difícil plantar girassóis
:: Os primeiros 30 dias
:: Clara finalmente virou girassol!
:: Girassóis góticos de Halloween
:: Luto: tempo contado em girassóis

18.7.22

Ainda não acredito...

Sonhei com o Mercvrivs pela primeira vez ontem.

Ele morria.

Hoje completam dois meses. 💔



Despedida do Mercv:

:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho

1.7.22

Luto seco: um luto estranho

Eu me considerava especialista em luto. Perdi meus avós maternos aos 15 anos, minha mãe aos 23 e meu pai aos 31. Aí vieram as mortes felinas, Simba aos 36 e Clara aos 41, eclipsando outros parentes porque essa é uma lista de afetos. Em todos os casos, houve uma doença que se demorava, noites de sono entrecortado, alívio no final — e lágrimas atropelando tudo.

Mas não com o Mercvrivs.

Até muito perto do inesquecível 18 de maio, cuidei dele esperando que ficasse bom. Não percebi que era a vida que emagrecia, ainda não acredito que nunca mais. E, apesar de lembrar do frajola todo dia, não penso a respeito, não vejo fotos, não estendo conversa. Medo de chorar e não parar mais.

Por ele, por tudo de tão errado com o mundo, pela minha pequenez.

Foi um episódio do Diário Possível (mas inventado), anteontem, que me driblou. Comecei empática à voz embargada da Ana Roxo, que se despedira do pai, peguei carona na trilha sonora ardilosa e logo o tronco inteiro chacoalhava no tapetinho de ioga, em que Mercv me fez companhia por mais de uma década — a parceria na cadeira do escritório beirou 17 anos!

42 dias represada.

E ainda não posso dizer que estou fluindo.



Despedida do Mercv:

:: Saudade
:: Cicatriz

3.6.22

Cicatriz

Quando minha mãe morreu, a menos de um mês para o Natal de 2003, eu fechei o sutiã que insistia em dar um baile no funcionário do hospital, consertei o sobrenome escrito errado na plaquinha do velório, pedi para tirarem os crisântemos do caixão porque ela achava que crisântemo era flor de cemitério — não pareceu contraditório na época.

Sempre fui razão.

Nas inúmeras sessões de terapia depois, percebi que se mostrava urgente algum espaço para emoção. Cogitei até tatuar um coração de asas como lembrete. Aí conheci o Eduardo, coincidentemente com essa mesma imagem na internet, símbolo de muitos presentes, e Mercvrivs, o mais inesquecível deles.


Pensei de novo em tatuar o coração alado, agora como lembrança. E me toquei que o frajola já havia cuidado disso. A cicatriz no tornozelo direito, feita durante um trabalho que não existiria sem ele, porque caiu do colo que foi seu porto seguro em horário comercial durante 16 anos e 7 meses, me dividindo entre a dor e o riso, como tantas vezes antes. ❤️


Aproveito para agradecer os apoiadores incríveis do Gatoca, Adrina Barth, Aline Silpe, Daniela Cavalcanti, Elaigne Rodriges, Elisângela Dias, Gláucia Almeida, Kley Kopavnick, Marcelo Verdegay, Regina Tavares, Vanessa Araújo e Vivian Vano, que, encabeçados pela Michele Strohschein, dividiram as despesas com os últimos exames dos bigodes, compensando a desvalorização que nosso financiamento coletivo sofreu nos últimos anos.

(Aceitamos novos apoiadores, retribuímos com mundo melhor! 🤗)

E também a Tatiana Spinelli, irmã que escolhi na jornada, que tem ajudado a colar minha alma com band-aids de reiki lá da Itália — sair na foto com a Jujuba não é para qualquer um! rs

18.5.22

Saudade

Do alto da minha arrogância, acreditei que era só dar água na seringa que você viveria para sempre — não me passou pela cabeça que existiam outras mortes de gato, que não a do Simba e da Clara. E talvez eu tenha subestimado a falta que ela te faz, né, Mercv?

Você, a criatura mais tibetana que já passou pela Terra, me esperou recomeçar. Nove meses, depois dos nove meses do parto ao contrário — essa parece ser a nova marcação de tempo por aqui. Eu não estava pronta. Mas também não estaria se você partisse aos 30 anos, como costumava brincar.

16 e meio: tanto em tão pouco.

Sim, eu quis desistir porque você começava a diarreia na caixa de areia e saía andando sem terminar, sujando tudo. Não entendia nada de bicho. Só que, quando o veterinário disse que sua chance de sobreviver era pequena, nem 50 dias já com anemia, infecção e virose, eu chorei.

Na frente de um estranho, por uma bolota de bigodes de que acha que não gostava. E decidi te segurar nas garras — além de acabar com o estoque de Gatorade de limão, seu favorito.

O que não me impedia de ficar brava quando você mordia meu dedão embaixo da coberta ou escalava minhas pernas com as unhas, porque desconhecia o próprio poder letal. Entendi só depois que o combo precoce de doenças te roubou a oportunidade de se calibrar na lutinha com os irmãos.

Essa foi a vantagem que Eduardo usou para me convencer a te adotar, lembra? "Ele não mia, não brinca, não come, você nem vai perceber que ele existe". E logo a Clara me pescou no pet shop, te mordeu de volta e a paz passou a reinar — fora do quarto, porque, injustiça das bravas, me descobri alérgica a gatos.

Você foi, de longe, minha melhor escolha. Tentaram me empurrar os filhotes que cresceriam de olhos azuis, um dos cinzas com branco, o mais peludinho. Mas eu sabia que era você — o frajola comum, com a eterna secreção no olho esquerdo e o pelo caspento (que resolveu ficar macio e brilhante, misteriosamente, no final). Não tem explicação, não racional.

E com você eu aprendi a amar também cachorro, passarinho, rato kamikaze, pomba porcalhona. A resgatar, depois a doar — não sem antes formar nossa gangue. A dividir o Gatoca com o mundo. A estender esse amor aos porcos, vacas, galinhas — e ler rótulo minúsculo de embalagem.

A querer mudar o planeta.

Agora, preciso aprender a continuar sem você — e seu cheirinho de roupa passada, o salto alto ecoando pela casa, as caçadas de ração, o colo roubado no meio da ioga, "mãããããããe" perfeitamente miado do outro lado das portas fechadas (isso quando você não decidia abri-las no pulo), a parceria no mamão do café da manhã (porque descobri que não podia te dar iogurte e sorvete napolitano), sua paixão por água, fingindo que bebia só para molhar o cabelo.

Naquele 2 de dezembro de 2005, te carreguei sem jeito no carro balançando, com medo de quebrar. Uma menina de 25 anos. Aos 42, sou eu a quebrada.

Se não existir nada além daqui, no nosso terreno você está ao lado da Clara — lugar em que você mesmo escolheu descansar no último passeio, já cambaleante. E porque Leo pegou a enxada há pouco, com a sensação térmica de 9ºC — você partiu no dia mais frio do ano e o termômetro não precisava concordar.

Como prometido, segurei sua mão por intermináveis cinco horas. E você retribuiu com um pãozinho timidamente amassado, o presente mais incrível que uma mãe poderia ganhar. Não existirá outro Mercvrivs.

Vem me visitar, de vez em quando? Eu sou boa de sonho.



*

Não poderia deixar de agradecer à Guda, que não era a Clara, mas ficou grudadinha com o Mercv até o fim. Ao Leo, da ajuda prática com o soro e os almoços que eu mal conseguia comer ao acolhimento em abraços silenciosos. Ao Edu, que cuidou do pequeno nos últimos dois anos, durante as madrugadas e finais de semana. À Maru, por me apresentar à homeopatia e às seringadas de água, e me acompanhar na despedida. Ao Eduardo, por ter insistido para eu abrir a janela e deixar o sol entrar.

13.5.22

17 anos depois, encarei o teste de FIV e FeLV!

Em 2005, quando adotei o Mercvrivs (e depois a Guda), não era comum testar os gatos para aids (FIV) e leucemia (FeLV) felinas, doenças virais que afetam o sistema imunológico. Na verdade, eu nem sabia que elas existiam. E, como não misturava os animais resgatados, segui na ignorância.


Até 2016, quando Simba teve uma evolução renal bizarra, que fez a veterinária suspeitar de FeLV, e os hemogramas de seis bigodes acusaram leucócitos baixos. Cheguei a cogitar um novo exame, em laboratório especial para minimizar o estresse, que também afeta os leucócitos, mas desisti. Um diagnóstico positivo me derrubaria e não faria diferença no tratamento.

O engraçado é que, nestes seis anos, acabei acostumando com a ideia, mesmo sem a confirmação — principalmente depois do carcinoma da Clara e do rodízio de doencinhas da gangue. Testar virou, então, uma estratégia para incentivar mais gente a acolher felvinhos, mostrando que eles podem ter vidas incríveis.

E a oportunidade veio com a ida ao laboratório da dupla, no último sábado, para investigar a recusa em comer. Testei só o Mercv porque uma enfermidade transmitida por lambida e compartilhamento de potinhos e caixas de areia dificilmente contaminaria apenas um bicho, tantos anos depois — e porque não custa barato.

O vet indicou o método Elisa, que identifica a reação do organismo ao vírus, com uma margem de acerto de até 99,2%, dependendo da especificidade (um parâmetro estatístico) — enquanto o PCR, para dar positivo, precisa que o vírus, ou parte dele, esteja presente na amostra de sangue coletada.

E o resultado, acreditem, foi negativo, tanto para FeLV quanto para FIV!


Para ampliar, cliquem na imagem

Os pequenos podem ter tido contado com a doença e eliminado sozinhos — Catrina, resgatada no mesmo 2016, nós sabemos que negativou. Mas fica o apelo de qualquer forma: deem uma chance a um peludo que provavelmente morrerá no abrigo, sem saber o que é uma família.

Ele precisará dos mesmos cuidados que quem ama dá a seus bichos: uma rotina sem estresse, comida de qualidade e acompanhamento veterinário. ❤️

12.5.22

Doença renal em gatos: o milagre da água na seringa!

Como se a rotina já não estivesse complicada com oito gatos idosos, 50 mudas de planta e a batalha dos boletos, Mercv e Guda desistiram de comer ao mesmo tempo — eu comentei sobre o emagrecimento silencioso dele e as inalações dela. No sábado, então, nós pegamos a estrada até Sorocaba, onde os bigodes fizeram ultrassom, hemograma e função renal.


Mercv apresentou alterações no fígado, baço e pâncreas. Mas os rins, que eram minha preocupação, não estão ruins para um senhor de 16 e meio, renal há seis. E a creatinina até baixou, em relação a 2018: de 2,2 mg/dL para 1,90 mg/dL — rins saudáveis devem mantê-la inferior a 1,8 mg/dL.


Os da Guda estão ainda melhores, apesar dos cristais de outros carnavais e de a creatinina ter aumentado um tico: de 1,73 mg/dL para 2,20 mg/dL. No pacote dela, tem também cistite, responsável pelo sangue na urina, e gases, provavelmente causados por estresse — que muda as bactérias da região.


Se nada disso for responsável pelo apetite prejudicado dos peludos, a culpa deve ser da ureia mais alta, que provoca enjoo. E preciso confessar que ambos possuem linfonodos inchados na barriga, mais um indício de FeLV, o diagnóstico de que fujo desde a morte do Simba. Dessa vez, porém, autorizei o teste — o resultado sai amanhã.

"E as seringadas de água?", vocês devem estar se perguntando. Oras, elas funcionam, visto que os rins são a melhor coisa desses exames, rs. É que gato não foi feito para comer ração seca — na natureza, eles caçam animais menores, com cerca 70% de líquido em seus corpos, e justamente por isso não têm o costume de beber água.

Em tempos de crise, se não puderem comprar sachê, patê ou latinha, água na seringa opera milagres! Eu distribuo em três rodadas de 20 ml (manhã, tarde e noite), como reforço da hidratação — lembrando que 20 ml é a quantidade que cabe confortavelmente no estômago deles e precisa esperar 40 minutos para a digestão.

Nos links abaixo, tem dicas para facilitar o processo, desde como dar líquido na seringa até modelo de dosador oral que goteja — e outras informações importantes sobre o pesadelo dos gateiros. Prevenção simples e grátis!


:: Doença renal, pelo maior especialista em gatos do Brasil
:: 7 dicas que podem salvar seu amigo
:: Diagnóstico renal não significa sentença de morte
:: Sobrevida de 11 anos (e contando)!
:: 9 sinais de doença que a gente não percebe
:: Teste: seu peludo sente dor? Descubra pela cara!
:: Como identificar mal-estar sem sintomas
:: O difícil equilíbrio ao cuidar de gatos
:: Pesando bichanos com precisão
:: Como estimular a beber água
:: A importância de ter potes variados
:: Gatos sentem o sabor da água
:: O melhor bebedouro para o verão!
:: 13 macetes para dar líquidos na seringa
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29.4.22

7 posições de rabo explicadas | EG #9

Atualizado em 11 de setembro de 2023, com informações deste vídeo do Galaxy

Além de ajudar no equilíbrio e nos pulos, o rabo funciona como um emoji para os bichanos — quem diz isso sou eu, não o Jackson Galaxy, embora esta série seja inspirada em seu livro O Encantador de Gatos (rs). Sabem quando a gente inclui uma carinha ao final da mensagem para não restar dúvida quanto à intenção? E, como a ponta do rabo se move de forma independente do restante, dá para criar vários sinais.

Erguido: melhor demonstração de confiança, porque é um localizador fácil para predadores — na natureza os felinos definitivamente não andam assim. Só os gatos têm esse hábito, aliás. Já com a pontinha em curva trata-se de um cumprimento clássico, amigável ou brincalhão, equivalente ao nosso "oi".

Meio mastro (paralelo ao chão): indica exploração, curiosidade e precaução ao mesmo tempo.

Para baixo: aparece durante a perseguição da presa ou quando estão assustados, para parecerem menores — em casos extremos, é acompanhado pelo rastejar do exército.

Entre as pernas: expressa medo intenso, aquele rabo que a gente costuma ver nas idas ao veterinário.

Arrepiado: resposta a algo alarmante no ambiente, para parecerem maiores, sinaliza uma manobra ofensiva ou defensiva.

Tremendo: também conhecido como "marcação fantasma" ou "falso borrifo", geralmente significa empolgação — direcionada a uma pessoa de quem o bichano gosta.

Balançando: alerta para uma ação que virá, podendo ser positiva ou negativa — a interpretação depende do contexto. Se os movimentos lembram chicotadas, quer dizer que o peludo está superestimulado (frustrado ou irritado) e provavelmente reagirá de forma agressiva.

Um estudo muito legal da Universidade de Bristol, feito por John Bradshaw e Charlotte Cameron-Beaumont, analisou como os gatos respondiam a silhuetas de outros gatos (em papel preto), para eliminar a influência de feromônios ou vocalizações, com rabos em diferentes posições. E eles se aproximavam mais rápido da silhueta com o rabo erguido, levantando o próprio rabo em resposta — rabo para baixo ganhava outro rabo para baixo ou balançando.

Aqui em Gatoca, temos versões disruptivas:




Quebrado e torto assim, como você quer que eu não grite?


Morder ou não morder, eis a questão


Rabo? Que rabo? Não vi nenhum rabo por aqui...


Meu pirulito peludo! Tira o olho!


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: Bichanos dormem menos do que parece (estreia no dia 15 de setembro!)

27.4.22

Tutorial: como descansar no sofá

Vida de gato domesticado pressupõe fazer escolhas complexas. Em vez de um punhado de terra com plantas, a gente pode dormir na cama (a deles), na caminha (a nossa), escondidos na caixa de papelão, no alto da geladeira, pendurado na prateleira e, assunto do nosso tutorial, no sofá das visitas. Para um sono antiestresse, portanto, siga este ritual...

Passo 1: amacie o assento com as garras até fazer pequenos buraquinhos — não desista no primeiro acquablock!

Passo 2: solte a maior quantidade possível de pelos para afastar humanos, principalmente os alérgicos.

Passo 3: espere o sol bater certeiro.

Passo 4: deite no chão, coladinho ao sofá.


P.S.: Mercv não está bem. Às voltas com as crises recorrentes da Pipoca (doença renal), da Guda (cistite) e da Pufosa (dentes), não percebi o emagrecimento silencioso dele. Não há vômitos nem diarreia, só o pelo caspento de sempre, os dentinhos binários, a secreção no olho esquerdo. E 16 anos e meio — mais de um terço da minha vida, sete a menos do que o tempo que compartilhei com minha mãe. Este post é uma tentativa de sorriso.