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7.3.25

Cluboca do Livro: gato sueco dribla velho rabugento

Em Gatoca seria "gato rabugento dribla velha nada sueca" ― a foto não me deixa mentir. A boa notícia que acompanha as mordidas empolgadas, aliás, é que Intrú se recuperou da gastrite, inflamação intestinal ou qualquer revertério que tenha me feito pensar que ele morreria antes de ganhar uma casa.


Voltando ao livro, Um Homem Chamado Ove, do sueco Fredrik Backman, me abraçou durante os cuidados intensivos da despedida da Keka e é tão deliciosamente escrito que, ao concluir a leitura em e-book, acabei comprando também a versão impressa, só para poder grifar inteirinha e mandar para minha sogra, igualmente precisada de um intervalo de vida.


A gente ri da rabugice de Ove, que acredita estar cercado por idiotas, se emociona com as brechas que os vizinhos novos conseguem abrir entre as tentativas frustradas de abreviar uma existência sem sentido após a morte da esposa e torce o tempo inteiro pelo gato ― mais do que isso não posso contar! Se deem de presente esse afago na alma, mesmo fora do Cluboca do Livro.

Tem filme fofo também com o Tom Hanks, em que o personagem foi rebatizado de Otto, mais norte-americano, e no Brasil se chama O Pior Vizinho do Mundo, para manter a linha editorial da Sessão da Tarde. Mas não chega aos pés do texto do Backman ― quem descreve a passagem dos anos em modelos de carro? Depois desse, devorei Minha Avó Pede Desculpas e já botei na lista Gente Ansiosa.

O encontro para conversar sobre a leitura ocorrerá no segundo domingo de abril, dia 13, das 16h às 19h, pelo WhatsApp. Para participar, basta apoiar o Gatoca com qualquer valor a partir de R$ 15, escolher uma bebida e comprar sua edição favorita ― usando os links abaixo, uma porcentagem vem para a gente. :)

- Um Homem Chamado Ove, em papel
- Um Homem Chamado Ove, em e-book
- Qualquer item adquirido na Amazon partindo deste link ajuda o projeto


Discussões anteriores

:: Vou te Receitar um Gato, da japonesa Syou Ishida
:: O Mestre e Margarida, do russo Mikhail Bulgakov

26.2.25

O Mestre e Margarida: encontro do Cluboca do Livro

Parecem limões afogados, mas a bebida que me acompanhou durante a segunda edição do Cluboca do Livro foi uma caipirinha, cujo gelo derreteu completamente, pois o papo estava bom demais. A leitura custou a engatar, confesso, porque o russo Mikhail Bulgakov escreveu em outros tempos (e ritmo), sobre um país diferente do nosso, em que nos escapam as sutilezas ― senti falta de referências aprofundadas sobre a obra em português.


Foto ilustrativa, porque não saiu todo mundo

Sem contar que falamos de um calhamaço, completamente non sense ― quando você acha que não tem como ficar mais absurdo, aparece uma mulher voando pelada em cima de um porco. A sinopse compartilhei no post de janeiro, neste texto quero abordar os temas que discutimos no domingo, começando pelo prefácio da Zoia Prestes, filha do Carlos Prestes, que morou na União Soviética enquanto rolava a ditadura no Brasil.

Ela destaca a indignação do Bulgakov com a censura às empreitadas literárias que criticassem as distorções da primeira experiência socialista, expressa pelo alter ego do autor, o mestre, que também tenta publicar uma história incompreendida, num recurso clássico de metalinguagem ― Zoia não deixa de admitir, por outro lado, que o governo garantia o básico a toda a população, incluindo exilados como sua família.

Já a perseguição religiosa, que o escritor, ligado à Igreja Ortodoxa Russa, considerava um ataque à liberdade de expressão, provavelmente explica a escolha por contar, alternando com o caos da visita do diabo e seu séquito a Moscou, o martírio de Pilatos ― figura que ilustra a ideia antimaniqueísta presente nas 456 páginas de que não existe bem que seja só bom ou mal que seja só mal. Nem Woland, o capiroto, binga a cartelinha da perversidade absoluta. Behemoth, o gato, ganha fácil. rs

Por fim, o problema habitacional se reflete nos room mates do misterioso apartamento de número 50: Berlioz, que perde a cabeça embaixo de um bonde, e Stiopa, diretor do Teatro de Variedades onde acontece o espetáculo de magia negra que lota a clínica do doutor Stravinski ― e vale contextualizar que essa situação começou a mudar no início dos anos 80, com a expansão do programa habitacional, mas Bulgakov não viveu para ver.

Do mestre, criatura molenga e irritante, não há mais muito o que dizer. Margarida, porém, salva o livro: mulher empoderada (para a época), dobra o diabo no pacto fáustico, aquele de Goethe, e é a única que consegue ter seus desejos atendidos ― primeiro por Frida (sororidade), depois pelo seu grande amor (infelizmente, a criatura molenga e irritante).

Para fazer justiça, imaginei uma terceira camada na obra, em que ela narra a história do autor atormentado que escreve sobre Pilatos arrependido. O filme (sim, tem filme e assisti quase três horas em russo, com legendas em inglês), no entanto, opta pelo caminho inverso e esvazia completamente a personagem. Só vale pela fotografia.

Já em papel (ou e-book), O Mestre e Margarida provoca risos com a conversa entre ela e Azazello, um dos ajudantes de Woland, sobre sua especialidade em matar pessoas, não convencer corações apaixonados. A declaração que Nikolai Ivanovitch (não confundir com Ivan Nikolaievitch) pede para comprovar à esposa o sequestro por uma bruxa e a transformação em porco ― sem data, o gato enfatiza, senão o papel perde a validade. E a máxima de que a ofensa é o prêmio comum por um bom trabalho ― essa vou levar para a vida!

Convida a refletir quando o demônio apresenta Abadon, a morte, como imparcial, tendendo à compaixão pelos dois lados. Quando Koroviev, outro integrante do séquito infernal, esbraveja com a recepcionista da casa Griboiedov que não se pede a identidade para se certificar que alguém é escritor ― ao menos não fariam isso com Dostoievski. Ou quando Woland mostra a Mateus Levi que não existe luz sem sombra e até a sombra, no caso das árvores, pode ser boa.

E o que foi aquele baile do diabo, com criaturas em caixões e forcas chegando pela lareira, uma mistura de Labirinto e Beetlejuice? Claro que nem todo mundo curtiu o livro. Muita gente sequer conseguiu terminar. Mas o encontro bateu o recorde de participação ― convenci até o Leo, porque política ele se anima a debater (essa parte, no entanto, deixei de fora para manter o foco).

Marina Kater, que cursou dois semestres de literatura russa na faculdade de letras, comentou que, mais do que atacar ou defender um sistema de governo, a arte russa critica a falibilidade em nós, mostrando que todo mundo é humano, sem pretensão de apontar o certo: "Ninguém fica na categoria de bem e mal, nem os heróis. A gente é essa mistura".

E ilustrou com o exemplo de Pilatos, trabalhador correto, mas covarde, que se arrepende, não ouve a própria intuição: "Bulgakov tem uma visão crua, de olhos nítidos, sabe?". Karine Eslabão completou que o sistema tende a forçar as pessoas a serem complacentes, mesmo que esse arrependimento dure 2 mil anos: "Já as ações do diabo trazem justiça para quem merece".

Paula Melo, que viajou para a Rússia em 2005, se incomodou com a nudez, considerando objetificação das mulheres. Marina, porém, a enxergou associada ao poder, não ao deleite masculino: "Elas são endeusadas, não objetificadas. Não há estranhamento com a própria nudez". E eu, que participei até de casamento druida, lembrei dos rituais pagãos, em que a nudez representa liberdade e integração com a natureza.

Nós três concordamos, no entanto, que Margarida viver em função do mestre, segundo Paula, "um homem inexpressivo, que precisa de uma mulher para resolver seus problemas", não é superfeminista. Mas Marina bem pontuou que se tratava do contexto da época: "Senti falta, inclusive, de explicarem o que esse mestre tem de tão importante".

E Cris Barreto linkou com o machismo de botar as damas se estapeando para trocar suas roupas por modelos da alta costura de Paris, no espetáculo demoníaco do Teatro de Variedades, visão que Marina contrapôs com a cena, no mesmo espetáculo, dos homens se matando pelo dinheiro que caía do teto: "Bulgakov categoriza os personagens em dois grupos. Os fúteis, que brigam por roupa e dinheiro, e os elevados, como Natasha, que podia ter todas as roupas de Margarida e escolhe a liberdade".

A gente discutiu, ainda, que liberdade e democracia dependem de posição que se ocupa em determinada estrutura, qualquer uma. Que um mundo governado por mulheres, na pior das hipóteses, seria menos violento, dadas as experiências das sociedades matriarcais. Que a lua cheia, marcante na jornada de vários personagens, simboliza a metáfora do enlouquecimento ― de onde, inclusive, nasce a palavra "lunático".

E que o gato é um tremendo canalha, sem moral nem ética, de acordo com Marina, que se coloca sempre como antagonista, por pura filha-da-putagem. Ainda assim, Lorena Fonseca considerou um equívoco enorme existir um bichano no livro que não seja o mestre: "Isso está obviamente muito errado".

*

Volto para contar quando o livro de abril for decidido. Para viver outras histórias, cair na risada junto, se emocionar e culpar o clima seco, basta apoiar o Gatoca com qualquer valor a partir de R$ 15, escolher uma bebida e comprar sua edição favorita ― usando nosso link da Amazon (para qualquer produto, aliás), uma porcentagem vem para o projeto. :)

- O Mestre e Margarida da Editora 34, traduzido pelo Irineu Franco Perpetuo
- O Mestre e Margarida da Companhia das Letras, traduzido pela Zoia Prestes
- Versão em e-book da edição da Companhia das Letras

24.1.25

Cluboca do Livro: obra russa com gato falante!

Para contrapor a pegada descompromissada de Vou te Receitar um Gato, livro de estreia do nosso clube, escolhemos logo um calhamaço, polêmico e com nomes impronunciáveis. O Mestre e Margarida, do escritor russo Mikhail Bulgakov, satiriza a vida e a repressão sob o regime soviético de Stálin.


E o curioso é que o próprio Stálin viu 16 vezes Os dias dos Turbin, uma das peças do Bulgakov, fez voltar em cartaz quando soube que tinham censurado, ainda arrumou um emprego para ele como diretor assistente no Teatro de Arte de Moscou ― as informações são do jornal O Globo.

Na trama do nosso livro, satanás e seu séquito diabólico, composto por um gato fanfarrão, um intérprete trapaceiro, uma bela bruxa e um capanga assustador, decidem visitar a Moscou dos anos 1930, deixando um rastro de destruição e loucura ― e inspirando a música Simpathy for the Devil, dos Rolling Stones.

Em algum momento, eles se cruzarão com mestre, autor malcompreendido de um romance sobre Pôncio Pilatos, e Margarida, que fará de tudo para reencontrar seu amado desaparecido ― já li um terço da obra e até agora nada. Estou apanhando, inclusive, para decorar as múltiplas alcunhas dos personagens com a privação de sono proporcionada pela Jujuba.

O encontro para conversar sobre a leitura ocorrerá no terceiro domingo de fevereiro, dia 16, das 16h às 19h. Para participar, basta apoiar o Gatoca com qualquer valor a partir de R$ 15, escolher uma bebida e comprar sua edição favorita ― usando os links abaixo, uma porcentagem vem para a gente. :)

- O Mestre e Margarida da Editora 34, traduzido pelo Irineu Franco Perpetuo
- O Mestre e Margarida da Companhia das Letras, traduzido pela Zoia Prestes, filha do Carlos Prestes
- Versão em e-book da edição da Companhia das Letras
- Vou te Receitar um Gato, para quem ficou curioso
- Qualquer compra na Amazon partindo deste link ajuda o projeto (vale até aspirador de pó!)

11.12.24

Vou te Receitar um Gato: encontro do Cluboca do Livro

Domingão rolou a primeira edição da pata literária (e etílica) do Gatoca, com participantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Bahia, Canadá e do plantão do hospital (nutricionista, calma!). Movida a chocolate quente com rum, na caneca do Simba ilustrada pela Marina Kater, nem vi as três horas passarem.

A gente conversou sobre Vou te Receitar um Gato, best-seller japonês de Syou Ishida, indicado pela Cora Rónai na coluna d'O Globo, que divertiu parte dos leitores pela leveza e abandonou outros no caminho pela superficialidade e ritmo mais lento.


Para ampliar, clique na imagem

Eu mesma achei uma boa ideia mal-executada, como se toda a experiência que a autora demonstra com bichanos faltasse à escrita ― diálogos artificiais, inconsistências no enredo, soluções convenientes. O tom de "manual para acompanhar a adoção" ainda se alternava com animais de raça, romantização de fuga e lições de moral blé, como a de que ninguém é insubstituível.

Mas gostei da proposta do realismo mágico e confesso que fui pega de surpresa pelo plot twist, pós-chá de matatabi. Das cinco histórias, a que mais me tocou foi a da mãe cansada e sem tempo, que faz a filha devolver um filhote, porque já estive no lugar da criança e dezenas de vezes no lugar da mãe, como protetora que sobra com o gosto amargo de não poder ajudar quem repassa o problema para dormir tranquilo.

Lúcia Trindade notou que todos os personagens começam autocentrados e acabam mudando por causa dos gatos. "Quando um gato entra na sua vida, tudo muda", emendou Cristina Barreto. E Vanessa Araújo enfatizou o reestabelecimento de conexões perdidas também nas famílias desfuncionais.

Não passou despercebido para Viviane Silva que as mulheres têm mais visão de contexto, enquanto os homens parecem mais alienados. Já Lorena Fonseca sacou que a personalidade do médico e da enfermeira que trabalham na clínica que receita felinos era condizente com a deles. Aline Silpe recomenda para quem gosta de dorama, o que não é seu caso.

E quem melhor resumiu a experiência, na minha opinião, foi a Paula Melo, que sentiu falta de aprofundamento nas 224 páginas: "Amei, duas estrelas!". rs

*

O Cluboca do Livro é uma das recompensas do nosso financiamento coletivo e a segunda edição está programada para o início de fevereiro ― divulgo o nome do livro e a data certinha assim que decidirmos. Se você também quiser viver outras histórias, cair na risada junto, se emocionar e culpar o clima seco, clique aqui e escolha sua bebida! :)

13.11.24

Vou te receitar um Cluboca do Livro!

Neste 2024 de tantas perdas, o Gatoca conseguiu juntar dois band-aids para a alma: literatura e gatos. O Cluboca do Livro pretende ser um espaço seguro e acolhedor para viver outras histórias, cair na risada junto, se emocionar. Nosso grupo no WhatsApp já tem 25 integrantes e o primeiro encontro (por videoconferência) está agendado para o dia 8 de dezembro, um domingo, às 17h.

Jujuba encarou com desconfiança a transformação do dom de seu povo em mercadoria, mas Vou te Receitar um Gato, best-seller japonês de Syou Ishida, foi indicado pela Cora Rónai, gateira e jornalista das antigas, na coluna d'O Globo.

Ainda dá tempo de participar, basta assinar a recompensa de R$ 15 no Catarse, providenciar sua versão favorita da obra (em papel ou digital) e escolher uma bebida (chimarrão, suco verde, chá de cogumelo, drink com guarda-chuvinha) para acompanhar o bate papo.


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Novidade: se vocês decidirem comprar o livro pela Amazon e usarem este link, o Gatoca agora recebe uns trocados. :)

9.10.24

Gatoca lança um clube do livro diferente!

Com os cuidados que os bigodes idosos andam demandando e o dinheiro tão apertado quanto o coração, não viajo há mais de cinco anos ― nem bate e volta para a praia. E o que tem salvado meus dias são os livros. Sem sair de casa, posso investigar assassinatos com outros velhinhos, dançar balé em Paris, ser roteirista de programa de TV, dormir num quarto que se molda ao meu humor ― essa talvez não fosse uma boa ideia agora. rs

Na maioria das vezes, nem gasto nada porque aproveito o acervo da Biblion, do Skeelo (que vem no plano de celular) e as promoções agressivas de e-book da Amazon (precisa garimpar). Achei, então, que seria legal compartilhar esse passatempo com quem também gosta de gato.


O Cluboca do Livro nasceu no nosso grupo de apoiadores, como um espaço para viver outras histórias, cair na risada junto, se emocionar e culpar o clima seco. Mas ganhará um puxadinho exclusivo, dentro da comunidade do Gatoca. E vocês podem participar só dele, assinando a recompensa de R$ 15 no Catarse. A única exigência, além de providenciar o livro, é escolher uma bebida para acompanhar o bate papo ― vale chimarrão, suco verde, chá de cogumelo, drink com guarda-chuvinha. :)


Começaremos por Vou te receitar um gato, best-seller japonês de Syou Ishida, que não está na foto porque ainda não comprei. Foi uma indicação da Cora Rónai, em sua coluna n'O Globo sobre healing literature, a "literatura de cura" surgida com a pandemia para quem não aguentava mais o clima de fim de mundo, cheia de livrarias, bibliotecas, cafés, lojinhas de conveniência e felinos.

E fiz questão de estabelecer um tempo de leitura é generoso (dois meses), porque todo mundo já se massacra para cumprir outros cronogramas. No começo de dezembro, então, a gente se encontra por videoconferência ― fiquem de olho no e-mail automático que o Catarse envia com o link para entrar no grupo!