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28.4.23

11 anos depois, Pipoca pede outra escolha de Sofia

Em 2012, Pipoca era uma gata intocável, prestes a morrer de micoplasmose (anemia causada pela picada de pulga contaminada por um parasita), com a creatinina alterada. E eu enfrentava o dilema de enfiar os 28 dias de remédio goela abaixo, para os rins colapsarem e não ter permitido a ela um finzinho de vida boa.

Esse "finzinho" já dura 11 anos, a maior sobrevida que conheço de um animal com doença renal — caçando passarinho! Na quarta-feira passada, porém, recebi a confirmação de outro diagnóstico angustiante: a demora na recuperação da última crise de vômitos, com desidratação e letargia, associada a sintomas respiratórios (secreção no nariz e rangido no peito) e zero grama de peso perdido, se devia a um derrame (ou efusão) pleural.


Precisei pagar um veterinário da cidade para vir aqui em casa, que me obrigou a trazer também uma equipe de raio-x porque, sem tosse, todo mundo considerava a hipótese pessimista. Acontece que vi minha mãe dormir sentada várias noites antes de sucumbir à última internação, justamente por derrame pleural — no caso dela, desdobramento do câncer.


E diferente dos humanos, os gatos não entendem a drenagem. Pipoca ainda tem suspeita de ser cardiopata, porque ficou roxa com a simples tentativa de coleta sangue, fato que já havia ocorrido em 2018, quando desisti de monitorar a evolução renal — o raio-x esclareceria, se o líquido não estivesse cobrindo o coração. E seus 16 anos tornam a anestesia um risco ainda maior.


Me toquei que não expliquei o que é derrame pleural, né? Entre os pulmões e a caixa torácica existe uma membrana chamada pleura, recheada de líquido para reduzir o atrito enquanto a gente respira. Quando acumula líquido demais nessa região, por causas variadas e de tipos diferentes também, dificultando a respiração, o pessoal do jaleco branco chama de derrame pleural.

Além do suposto problema no coração (e da doença renal), o vet não descarta a possibilidade de FeLV (leucemia felina), que sempre aparece no fim de vida dos bigodes de Gatoca — adotados numa época em que não se testava e cujo resultado do Mercv, no ano passado, deu negativo. Só que nunca saberemos porque, dessa vez, decidi não fazer o procedimento.

Não acho justo que a última lembrança da pequena seja o terror de um lugar estranho, com gente desconhecida, depois de uma viagem interminável de carro — não tem hospital veterinário em Araçoiaba da Serra. E, mesmo que ela sobreviva, em alguns pacientes o líquido volta a descompensar na semana seguinte.

Existe a chance inversa também, de o corpo reabsorver sozinho, mas o vet duvida que dê tempo. Ele não sabe que Pipoca é uma boa vivedora. E está sendo cuidada por mim e pela Jujuba, enquanto puder aproveitar.

26.4.23

Vale arriscar ração de peixe para gato?

Nestes 17 anos e meio de Gatoca, eu testei até ração vegana com os bigodes — que eles nem se dignaram a cheirar, sejamos honestos. Mas das versões de peixe sempre acabava desistindo, porque é o sabor menos festejado em latinhas, patês e sachês por aqui. Sem contar que frango custa bem mais barato — mesmo super premium, economia futura de veterinário.

Acontece que minhas estratégias para fazer seis gatas renais de 16 anos (Chocolate com 16 e meio) comerem se esgotaram — e elas incluíam colocar punhados de grãozinhos no chão, abaixando e levantando umas cinco vezes per capita. Todas as economias, então, foram gastas no pacote de salmão com melão, combinação deveras duvidosa.


Humor ácido com spoiler, porque à noite nenhuma foto fica boa

E, surpreendentemente, as meninas amaram — sei que não se deve dar ração normal para animais renais e que a doença surge justamente por falta de umidade na alimentação. Quem montou o cardápio da gangue foi uma vet nutróloga e ele conta com renal seca disponível o dia inteiro, normal só um tico à noite para não faltar proteína e Pet Delícia de manhã (com repetecos), mais oito tipos de bebedouros e seringadas de água.

Rações à base de peixes azuis, como atum, sardinha e salmão, ainda deixam a pele dos bichanos mais saudável (descamando menos), além de reduzirem a queda de pelos. E a afirmação é do veterinário Carlos Gutierrez, do canal Mascotas y Familias Felices, porque eu mesma não ganhei um centavo pela propaganda. rs

21.4.23

Alerta: unha de gato pode entrar nas almofadinhas!

Pare o que estiver fazendo agora e olhe as garras do seu gato, principalmente se ele for idoso. Com a preguiça em afiar, elas seguem crescendo curvas e podem entrar nas almofadinhas, provocando inflamação e dor ao caminhar. Mercv e Guda começaram a apresentar esse problema com a idade e eu resolvia cortando uma vez por mês — embora os veterinários recomendem a cada duas semanas.


Existe cortador específico (o nosso não serve) e vários vídeos na internet ensinam como pressionar a patinha para as unhas saírem. Mas já adianto que a maioria dos bichanos não gosta, então cada família tem seu truque — o meu é um misto de paciência, amor e firmeza (a dica de aproveitar a hora da soneca não rola aqui). Conte o seu nos comentários!

E só se corta a pontinha, branca, tomando o cuidado de não pegar a veia, parte rosada da base. Recompensas ao final são sempre bem-vindas, como carinho, petiscos, escovação — para os peludos que gostam, claro. Se a garra já estiver dentro da almofadinha, melhor levar ao vet.


Vale enfatizar que as unhas ajudam no equilíbrio e na mobilidade do animal, incluindo os atos de pular e escalar, portanto, não devem ser extraídas (onicectomia) de forma alguma — sem contar que isso é proibido no Brasil, desde 2008, pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Se você não curte a customização do sofá, invista em enriquecimento ambiental.

20.4.23

Comprei a primeira caminha para gato, 17 anos depois

Eu aprendi a ser gateira com o carro andando — 18 anos atrás, sequer simpatizava com animais! Isso quer dizer que não faltou improviso em Gatoca. E o mais duradouro deles foi a caminha. Primeiro, a gangue se dividia entre as camas de solteiro da nossa casa antiga, três irmãos sem pais. Para o apertamento de São Bernardo, Tati Pagamisse doou os encostos de seu sofá, que viraram almofadões, perfeitos para acolher dez gatos.

Aí, em Sorocaba, conquistamos nosso próprio sofá, doado pela minha prima Miriam. Chocolate teve, ainda, o travesseiro de joaninha de uma ex-chefe, presente para mim, na verdade, por causa do recheio de camomila — repaginado à la Tim Burton. E a cestinha que Leo havia comprado para enterrar a Clara, sem sucesso.

Sempre que alguém comentava sobre a tal da cama nuvem no grupo de apoiadores, a alergia gritava — junto com a praticidade capricorniana e a conta bancária de jornalista freelancer. Acontece que três mortes em um ano e meio nos dão outra perspectiva sobre a vida. E decidi testar com a Chocolate, que sente mais frio por causa da idade (16 anos e meio) e porque não dorme no grupinho.

Escolhi de propósito um modelo em que só cabe a gata-anã, com o preço justo da gringa, lavável na máquina. E me surpreendi: a pelúcia esbanja maciez e o tecido limpa fácil com paninho molhado, mesmo não sendo impermeável — só posso afirmar isso porque, quatro dias depois, ela teve uma diarreia nunca dantes vista.

De diva a doce, toda vez que passo pela lavanderia, a criatura está em uma pose diferente.




E nem a maria-fedida resistiu — não me perguntem se isso é ovo ou cocô.


Para ampliar, cliquem na imagem

14.4.23

Conheça sua maquininha de matar: audição | EG #18

Não, não é para ouvir a gente reclamando do sofá arranhado ou fofocar com os irmãos que os gatos têm uma superaudição. A maioria de suas características está relacionada à detecção de presas, tornando-a uma ferramenta tão importante para a caça quanto o tato e a visão.

Imaginem uma faixa de 10,5 oitavas, a mais ampla dos carnívoros. E, embora guardemos capacidade semelhante no extremo mais grave da escala, os bichanos conseguem escutar sons muito mais agudos, como a cigar box guitar que Leo fez para brincar com a Catarina os guinchos de um rato — cerca de 1,6 oitava acima do nosso limite.


Isso porque o ouvido externo dos peludos aumenta as frequências, além de possuir o formato ideal para canalizar sons mais difíceis de identificar para o canal auditivo.

E a habilidade de movimentar as orelhas independentemente? Vocês já pararam para pensar nas vantagens? Não importa se for de presa, predador ou filhote em busca da mãe, eles rastreiam com precisão a origem de um barulho. E, girando cada orelha em quase 180 graus, também percebem aproximações por trás.

Fisiologia e anatomia esmiuçadas, no próximo capítulo desta série inspirada em O Encantador de Gatos, livro do Jackson Galaxy, analisaremos como e o que nossas maquininhas de matar favoritas costumam caçar na natureza.

(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes quase 16 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: Bichanos dormem menos do que parece (estreia no dia 15 de setembro!)

10.4.23

Segundo aniversário sem Clara, depois do caos

Clara Luz teve um luto inteiro contado em girassóis, exaustivamente compartilhado por aqui. Mas seu primeiro aniversário-sem-aniversariante acabou encoberto pelos cuidados com Mercv e Guda, que também secaram — ele no outono de 2022, ela neste de 2023.

Hoje, quando me deparei com a data no calendário, senti um misto de saudade e surpresa. Nossa despedida (e o pesadelo do carcinoma, o colar elisabetano, as larvas) parece tão distante. A ciência diz que amenizar sofrimentos intensos é uma estratégia do cérebro para que a gente aceite passar por tudo de novo — e sobra "de novo" em Gatoca.

Por hora, no entanto, escolho lembrar da retalhinha me fazendo companhia durante a ioga, em um terreno que não tinha plantas nem gatil, mas já mostrava seu potencial.

7.4.23

Quando e como usar fralda em gato

Atualizado em 27 de setembro, às 20h01

Desde que a Clara morreu, adio este post. Não queria reviver a despedida, logo Mercv adoeceu e partiu também, aí chegou a vez da Guda e lá estava o dilema da fraldinha de novo. Antes de entrar na rotina intensiva de cuidados do próximo gato (16 anos as mais novas!), fiz então um esforço para que a experiência acumulada ajude outros animais.

A primeira coisa que a gente deve avaliar é se o bicho realmente precisa de fralda. Digo isso porque os pelos dificultam a limpeza e manter a região constantemente abafada pode causar assadura, problemas de pele e até infecções, pelo contato com a urina e as fezes.

Aqui, talvez caiba um alerta: escrevo sobre e para gatos doentes. Xixi fora da caixa a gente resolve com checap veterinário, enriquecimento ambiental e, dependendo do caso, consultoria comportamental.

Voltando... Se o bichano consegue ir ao banheiro, mas tem escapes, funciona melhor blindar seus lugares favoritos — a gente forrou com papelão as caixas e nichos de madeira, estruturados, e cobriu com tapete higiênico os almofadões e a cadeira do escritório, para não passar nada para o recheio (assim os gastos se diluem).

A estratégia também vale para aquele estágio em que o peludo não sai mais muito do lugar. Por exclusão, a fralda fica para as outras situações, embora eu confesse ter usado apenas nas madrugadas, já que trabalho em casa, assombrada pela lembrança do Simba deitado na poça gelada de xixi, depois de conseguir se arrastar para fora da caminha com tapete higiênico.


Optando pela fraldinha, enfim, estas dicas facilitarão o processo:

Compre a versão RN
Sim, a de recém-nascidos humanos custa bem mais barato do que as de pet.

Faça um furo para o rabo
Basta medir antes de cortar, usando uma tesoura comum, e deixar sempre uma fralda de modelo para a próxima — só tome cuidado para não alargar demais, provocando vazamentos, ou de menos, dificultando a passagem do rabo até o final.

Ajeite o babado
Ele deve ficar acima da dobra da coxa e estar todo virado para fora, garantindo a secura do seu amigo — nas primeiras vezes é complicado mesmo, porque os polvos costumam encolher as patas.

Reforce com fita crepe
Magrelos podem precisar de ajuste extra.

Tire com atenção
Principalmente nos casos de diarreia — dá vontade de chorar quando ela vai lambuzando o rabo até a ponta.

Limpe o gato de acordo com a ocasião
Se foi só um xixizinho, vai de lenço umedecido (específico para pets!). Estragos maiores demandam pano, água morna e sabonete líquido neutro — Adrina Barth sugeriu este rolo no nosso grupo de apoiadores, que eu não precisava ficar esfregando no tanque, de madrugada, com 0ºC.

Tenha um secador de emergência
Ele serve tanto para pelos molhados, em dias muito frios (já que os bichanos se assustam com o barulho), quanto para eventuais carimbadas em camas e sofás.

Apele à tosa higiênica
Aparar os fundilhos de animais muito peludos pode ser uma boa. Leo até tem barbeador elétrico, mas não testamos porque o estresse superaria os benefícios — e levar bicho morrendo em pet shop não faz sentido, né?

5.4.23

Prioridades e por que o Gatoca ficou fora do ar

Capricorniano é bicho avesso a mudanças. Isso quer dizer que eu me seguro no penhasco quentinho até a vida soltar aquele último dedo e as atualizações acumuladas vêm todas ao mesmo tempo — tipo ser demitida de um trabalho desgastado e tomar um pé na bunda daquele amor que funciona melhor como amizade, enquanto a mãe perde uma longa batalha contra o câncer no hospital.

Já fazia tempo, aliás, que pensava em migrar o Gatoca de servidor para ter mais autonomia (e suporte em português) — sem soar ingrata pelo puxadinho que nos abrigou por mais de uma década. Mas nunca era o momento de enfrentar a resistência tecnológica. E o ultimato chegou por um descompasso de humores, bem no processo de despedida da Guda.

Em outros tempos, eu adoeceria tentando administrar tudo. Seis mortes humanas e felinas depois, aprendi a ficar com os seres (enquanto) animados.

Michele Strohschein já havia indicado um serviço bacana de hospedagem, Danilo Régis ajudou na transferência de última hora dos arquivos enroscados (santo backup!), Leo assumiu as correrias outras. Mas não deu tempo. E o blog passou boa parte do sábado fora do ar, enterrando o post de aniversário da mudança para Araçoiaba e o boletim mensal.

Prioridades.

Na sexta-feira, tem outro post. No dia 29, mais um boletim. No ano que vem, a terceira comemoração de casa (semi)nova.

Guda não.