O financiamento coletivo do Catarse rendeu o primeiro mutirão de castração do Gatoca e uma gastrite com a fuga do Napoleão, a morte do Enzo e as demandas intermináveis dos barracos sem janelas do DER, como mais esterilizações, ajuda para doar bicho e tratamento para doenças que se desdobravam em outras doenças (1, 2 e 3) ― Pretinha ganhou e perdeu um lar temporário em seis dias, por causa de um erro veterinário.
As dezenas de idas à favela incluíram, ainda, caçar gato embaixo da lavadora, atravessar telhado de bunda e desfilar pelas vielas de terra com seu Moacir de cueca. Distante dali, em um bairro de ruas asfaltadas e árvores floridas, Catrina foi abandonada por um ser humano, proibida de receber comida por outro e desabrigada por um terceiro, que mudou de ideia sobre a hospedagem emergencial sem dar satisfação.
Na avenida do Estado, Leo freou para um cachorro preto que andava desorientado entre as pistas, mas sua parceira já estava morta. Da conversa com a família de carroceiros, restou a impotência. E o sentimento se repetiu quando o Vitório virou Derrota antes de desmamar, mesmo com quatro pessoas, incluindo um mendigo, envolvidas na batalha.
Em meia noite de sono, Pimenta conseguiu cortar o rabo num cômodo praticamente vazio do apertamento. Simba odiou a ração renal que Pipoca já comia, emagreceu 600 gramas em sete dias (a pança loira era assim), teve intolerância alimentar com a marca nova, que ironicamente amou, e a diarreia mais fedida da história de Gatoca ― detalhe: a gente nem havia curado a infecção de pele de 2014.
Às vésperas do famoso inferno astral de dezembro, quase cinco anos depois da adoção, Feijão e Luigi foram devolvidos. E o Facebook tirou do ar o post de divulgação dos meninos com quase mil compartilhamentos, levando junto todas as ofertas de lar temporário e os contatos dos interessados em ficar com eles. Não adiantou espernear.
Eu já tinha mobilizado a rede para levantar a grana das passagens a Brasília e procurado corações de pudim que topassem acompanhar os bigodes no avião. Gastei, então, mais um tempão escrevendo novos textos de divulgação (1 e 2), buscando um canto por aqui para os dois, respondendo mensagens de possíveis adotantes. E não consegui terminar o e-book do Gatoca para o Natal ― sim, nosso primeiro livro digital seria lançado neste ano.
Como dezembro é o mês mais longo dos 12, ainda trinquei o dedinho do pé em duas partes, só encostando no aspirador de pó. Chorei com o coral de crianças no supermercado, comprando os ingredientes para a ceia do Jamie Oliver. Fiz faxina até perto da hora da festa e não pintei as unhas. E, em vez de Papai Noel no trenó, assisti a uma barata entrar voando pela janela do quarto e atravessar a cama de lençol recém-lavado.
O post começou com os contratempos do mutirão no DER, né? Mas nós também conscientizamos a comunidade sobre os benefícios da castração, com panfletagem nos estabelecimentos comerciais, inscrição na pracinha e conversa de porta em porta. A Ceva doou todos os vermífugos e antibióticos da empreitada. E as cirurgias, ocorridas em duas etapas (1 e 2), beneficiaram 49 cães e gatos ― Napoleão foi encontrado 18 horas e três quilos perdidos depois.
Subindo e descendo as vielas de barro, eu descobri a Cida, garota de rua que cresceu protetora e ajuda os animais da favela com o salário de empregada doméstica. O seu Luis, que emprestou o pet shop para incentivar a população a cobrar o CCZ, já que eu costuro palavras melhor do que barrigas. E a Karol, pré-adolescente que convenceu os avós a castrar os 14 quadrúpedes da família e doar os bebês hollywoodianos.
Após três campanhas de divulgação (1, 2 e 3), Will Smith conquistou a veterinária Camilla De Cássia Sovenhi. Halle Berry e Catherine Zeta-Jones se mudaram para a casa da Joyce Tsuchiya Melo. Johnny Depp teve um desfecho aparentemente frustrante que terminou feliz. Benedict Cumberbath e Julia Roberts passaram pelo quintal da Susan (AUG) antes de aportar, respectivamente, nos apartamentos da Maria Augusta e da Rafaela Dantas. Angelina Jolie virou Tofu no colo de Bianca Urata. E Brad Pitt sensibilizou dona Madalena com sua bacia quebrada ― esqueci de contar isso nos primeiros parágrafos. rs
O financiamento coletivo do Catarse também permitiu que o blog fosse atualizado diariamente por cinco meses, somando 98 textos, para turbinar a missão de divertir, ensinar e sensibilizar leitores de língua portuguesa a arregaçarem as mangas pelo mundo. E o layout ganhou cara nova, assinada pelo namorado e programada pelo irmão. Em abril, nós batemos a marca de 1 mil posts. Naveguem pelo arquivo de dicas! (Seria insano listar tudo aqui.)
Meu relato sobre o dengo da Pretinha pós-sofrimento amoleceu a Fernanda Abreu, rendendo-lhe dois irmãos temporários, o Demonho e a Mushu. E o Gatoca se profissionalizou nas campanhas de adoção: teve especial de Halloween, Black Friday e Dia dos Mortos. Os moradores do prédio onde Catrina foi três vezes sacaneada se uniram para ajudá-la, João passou quatro semanas de janelas fechadas até a gente conseguir um lar temporário oficial e Marina Kater-Calabró não resistiu ao chamado de La Muerte. Feijão e Luigi recomeçaram na casa nova ― conto assim que terminar a adaptação delicada.
Uma das desistências do mutirão de fevereiro aprendeu a tempo que pena se deve sentir de animal que vai para a rua. A pedido da Gatto de Bottas, que ficou sabendo do nosso trabalho educativo por uma grande marca de ração, nós conscientizamos a família do Baeta a castrar oito bichanos. E caprichamos nas fotos da turma para divulgação. Michele Naneti e Cléber Borges acabaram adotando todos os Cartoons encalhados! E o café da manhã virou PB com Penélope Charmosa e seus três frajolinhas.
Para agradecer a aula de maquiagem do Saulo Fonseca, acostumado a pintar modelos de passarela e capas de revista, eu fiz um book do Fumacinha, que logo arrumou um sofá-arranhador oficial. Salvei um gato da árvore montada num estranho. Insisti na propaganda do Felinos Urbanos, esperançando despiorar a vida dos peludos maranhenses que não votaram na família Sarney por cinco décadas. Escrevi os textos da agenda e do calendário 2016 do AUG, além de coordenar as vendas do arraial e do bazar de Natal.
E ganhei cobertinhas da Itacira Ossiama para os bichos do DER, mimos artesanais da Daniela Cavalcanti e proteção de peru, morcego, aranha e cachorro em Cunha. Ah! Continuei trabalhando em boa companhia, sendo louca dos gatos com orgulho (1, 2 e 3), curtindo as peripécias dos bigodes (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10) ― valem cada clique! E eles continuaram se amando.
Não faltou festerê, aliás: da Chocolate, da Pandora, da Clara, da Guda e das Gudinhas, do Gatoca (1, 2 e 3), do Simba e do Mercv (1 e 2). O leãozinho se curou da diarreia e da infecção de pele (finalmente!) com a homeopatia, um tratamento lento, mas bem mais barato e sem efeitos colaterais. E minha admiração pela Maria Eugenia Carretero se desdobrou em terapia alternativa coletiva, incluindo o terror da Jujuba.
2015 foi um ano em que tudo deu certo.
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