.
.

27.10.23

Serial killers sempre voltam à cena do crime!

O ataque que Keka sofreu em agosto foi tão traumatizante que nem ela nem eu recuperamos o peso perdido. E como o intruso entrou no gatil, sem telhado porque o alambrado alto já dá conta da nossa gangue idosa, a pequena nunca mais conseguiu relaxar nos passeios — espia da sala se a barra está limpa, faz xixi no gramado e volta correndo, rosna para qualquer coisa que se aproxime durante o percurso, incluindo as irmãs.

E o cara de pau segue rondando! No dia da faxina, ignorou dois humanos descabelados e um aspirador de pó para espiar, com o focinho praticamente grudado na porta de vidro, o que tinha de interessante dentro de casa — por causa justamente dos humanos descabelados e do aspirador de pó, as gatas estavam fora do campo de visão.

Ao contrário dos serial killers clássicos, porém, que levam troféus de suas vítimas, o frajola mascarado nos presenteia, a cada visita, com o ambicioso projeto de marcar 1 mil m² de terreno, passando desaforadamente pelos pneus do meu carro, o portãozinho da entrada, as lavandas do Leo, o castelinho da caixa d’água.

E quem resiste a esta carinha?


24.10.23

Um 'plot twist' chamado Mercvrivs

Há 18 anos, eu não gostava de gato — nem de cachorro, nem de planta, nem de nada que demandasse mais dor de cabeça do que já tinha. Recusei a sugestão do então namorado de adotar um dos filhotes acolhidos pela avó, na intenção de tornar um luto mais leve, mas Mercv, como bom mentor, esperou pacientemente pelo almoço de domingo que mudaria tudo.

Na travessia para casa, 39 dias depois, não fazia ideia de que aquela criaturinha, prestes a quebrar na próxima lombada, colocaria em teste todo um jeito de ver e estar no mundo, trazendo novos relacionamentos, trabalhos, um projeto de vida. Quase duas décadas e, mesmo assim, não estava preparada para me despedir.

Na nossa jornada do herói, ainda não alcancei a ressurreição. Mas você ia ficar orgulhoso de saber que tomei coragem de trocar o computador comprado há 12 anos, já usado, do irmão. Eu, que detesto mudanças! Ok, não me restou muita escolha porque a placa-mãe queimou na transferência para o gabinete novo, com filtros, justamente para evitar que o acúmulo de pelos queimasse a placa-mãe.

Só que podia ter me limitado a praguejar e gastei apenas uma semana — primeiro com a assistência técnica, que demorou três dias para constatar que não haveria conserto, depois com a descoberta de que as memórias e o processador antigos não funcionariam na placa-mãe moderna e, finalmente, com o marketplace que não aceitava nosso CEP genérico de cidade pequena no cadastro.

Escrevo este post em um notebook improvisado, sem editor de imagem, mas nos próximos talvez me anime até a arriscar uns vídeos. Já pensou virar TikToker? Acho que nem toda a suspensão de descrença daria conta. rs


Despedida
:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho
:: Ainda não acredito
:: Primeiro aniversário sem Mercv
:: Colo vazio
:: Ele veio me visitar!
:: Um ano sem Mercv

20.10.23

Ração de insetos para gato e novidades gringas!

Salva-vida de libélulas interioranas e dona de uma geladeira que não vê carne há quase 17 anos, com um pequeno intervalo para o teste fracassado de alimentação natural caseira dos bigodes, eu não tinha ideia de como ilustrar o post em questão até trombar com esta foto da Chocolate no arquivo.


Sim, ainda uso um caderno de papel para preparar pratos especiais, que nem veganos são (vou fazendo as substituições de cabeça), porque ganhei quando minha mãe morreu, para ajudar na estreia forçada na cozinha. Junto com as receitas da Rose e a letrinha da Lelê, família que escolhi para a vida, incluí um lendário passo a passo de arroz, duas décadas atrás!

Este texto, porém, fala de futuro (ainda que de gosto duvidoso): sabiam que na Europa já se vende ração para gato à base de insetos? O veterinário Carlos Gutierrez explica as vantagens e desvantagens, comparando com a dieta Barf (crua), outra novidade na gringa, e a alimentação natural, que a gente conhece mais por aqui.

Pode parecer bizarro, mas inseto é uma das presas dos bichanos selvagens, representando 6% do cardápio diário — por isso chamam de alimento instintivo. E, para satisfazer as necessidades calóricas, eles precisam comer menos grilos e baratas do que frango. Eu arriscaria? Não sei e não tenho de pensar sobre isso agora porque nem vende no Brasil. 😂

Comecemos pelas vantagens, então: de acordo com os estudos linkados na descrição do vídeo do vet espanhol, as rações feitas de insetos têm alta digestibilidade e valor nutricional (ricas em proteínas, energia e, dependendo da criatura asquerosa, gordura), além de grande quantidade de fibras, no caso das carapaças.

Elas também provocam menos impacto ambiental, já que sua produção demanda menos recursos naturais e emite menos gases do efeito estufa. Só que a composição varia de acordo com a fase de desenvolvimento do inseto (larvas, por exemplo, são bem mais nutritivas), precisa balancear os aminoácidos, faltam estudos para avaliar possíveis riscos causados pelos agrotóxicos e nem todo gato curte.

A Barf, abreviação em inglês para "comida crua biologicamente apropriada", é bem mais palatável, hidratada e igualmente de fácil digestão — dizem que o cocô fica até mais compacto. Por outro lado, às vezes deixa a desejar na formulação, custa mais caro, dura menos e não só o peludo como os humanos estão sujeitos a contrair bactérias que não morrem no congelamento, como a salmonella.

Esse problema se resolve com a alimentação natural comercial, adequadamente balanceada e tão gostosa, hidratada e eficiente na compactação de cocô quanto, embora também estrague rápido e pese no bolso. Eu provavelmente continuaria optando por ela, mas adoraria uma versão feita em laboratório, sem sofrimento animal.

13.10.23

Qual é o arquétipo do seu gato? | EG #23

Vocês já sabem que a gatitude permite que os bichanos fiquem à vontade no próprio corpo, sintam-se donos de seu território e transformem o espaço ao redor em lar, né? Mas, para chegar lá, precisamos identificar primeiro em que estágio eles estão. Jackson Galaxy propõe três arquétipos em O Encantador de Gatos, livro que inspira esta série: mojito, napoleão e invisível.


Mojito

É aquele que vai encontrar a visita no centro da sala, de rabo erguido, peito estufado, orelhas prontas para explorar (mas sem girar para todo o lado, como se tentasse captar pistas do invasor) e olhos focados à frente, cumprimentando, em vez de verificar os arredores em busca de rotas de fuga.

Se fosse humano, ofereceria mojitos. Como nasceu gato, porém, se põe a andar entre as pernas do visitante e esfrega testa e bochechas quando ele estica os dedos, marcando-o com seu cheirinho. Ao entrarem na sala de estar, sobe no andar mais alto do arranhador, mostrando orgulho de suas posses. Na cozinha, come sem preocupação com a conversa que rola próxima.

Se a pessoa sentar em qualquer lugar, deita e cochila ao lado ou até no colo, um farol de confiança, sem nada a provar. Ama tanto seu ambiente que quer partilhá-lo.

Napoleão

Embora o complexo de Napoleão não apareça na Classificação Internacional de Doenças, da Organização Mundial da Saúde (OMS), a expressão é usada para descrever indivíduos com complexo de inferioridade, que tendem a supercompensar suas limitações e massacrar os outros para se reafirmar — comportamento que também se aplica aos felinos com a pior falta de gatitude.

Um gato napoleão, portanto, receberá visitas com as orelhas para frente, olhos fixos e talvez uma postura baixa, quase agressiva. Se pudesse, cruzaria os braços bem na porta ou no meio do caminho — nada de mojitos! Primeiro, se questiona sobre quem é a criatura, depois pensa o que ela veio roubar. Fica paranoico com a possibilidade de expulsão e exagera para evitar.

Emboscará humanos e animais quando menos esperarem, mesmo que demonstrem abrir mão da posição de líder. Faz questão de demarcar seu território com urina. Por outro lado, recebe pouco amor e empatia, o que só agrava a insegurança. Pode não parecer, mas napoleões precisam muito de proteção.

Invisível

Como o nome dá a pista, ele desaparece quando a campainha toca. É o gato que mora dentro do armário, embaixo da cama ou no alto da geladeira, esperando que você não note quando passar sorrateiramente. Acredita que não domina seu território, usa apreensível a caixinha de areia e sai correndo com o rabo entre as pernas.

Em casas com mais de um bichano, vira o pária, mesmo evitando confronto a todo custo e agindo de forma exageradamente assustada e tímida. Chega a fazer xixi e cocô "na calça" para não sair do lugar seguro, independente de existir uma ameaça real. Também não tem gatitude, já que se esconder consiste em um comportamento reativo, não ativo.

O maior obstáculo na jornada de napoleões e invisíveis são nossas visões pré-concebidas sobre eles. Enquanto o primeiro fica com as broncas, terminando preso em um cômodo onde não agredirá ninguém, o segundo ganha nossa pena e reforços para se manter no bunker. E nenhuma das estratégias os ajuda a se tornarem sua melhor versão mojita.



(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 16 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança (estreia no dia 17 de outubro!)

6.10.23

Como deixar o patê do gato lisinho (para seringa!)

Duas coisas me salvaram no primeiro semestre deste ano, enquanto cuidava de três gatas idosas que morriam ao mesmo tempo — e mais quatro renais, que ainda estão por aqui: as latinhas da Pet Delícia (tenho uma dívida de gratidão eterna com a Nathália Vieira!) e a descoberta do blender.

Pet Delícia é parceira do Gatoca há seis anos e meio. Acompanhou o fim de vida de cinco bigodes, garantindo que ninguém ficasse de barriga vazia quando a ração seca já não descia tão bem. E segue favorita no café da manhã da gangue, enquanto as mais variadas marcas de sachê perdem a graça sucessivamente. Comida com cara, cheiro e gosto de comida, sem corantes nem conservantes.

O blender, por sua vez, é um liquidificador que mistura, tritura e processa alimentos com alta potência e precisão, permitindo que o patê delas fique lisinho, sem entupir a seringa (dicas importantes no pé do post!). O multiprocessador herdado da irmã, com o copinho de grãos, também funcionava, mas cabia uma quantidade menor, o que me obrigava a bater e lavar tudo duas ou três vezes por dia — no frio, na chuva, numa casinha de sapê.

Escolhi, então, um modelo com dois copos, de 400 ml e 1 l, deixando o menor para as felinas, que já comporta a latinha inteira, e o maior para os sucos, molhos e sopas dos humanos. A potência seria de 1000 w, se não tivesse comprado por engano o modelo de 220 v — nada que não compense, porém, repetindo a batida. Só precisa tomar cuidado para não esquentar ou juntar pressão.

Com a facilidade, acabei substituindo as seringadas de água da turma, que não precisa de alimentação forçada, por seringadas de patê mais diluído, que, além de ajudar nos rins, revertem parte da perda de peso generalizada pela idade. Chocolate, a modelo da foto, logo completa 17 anos — resgatamos a pequena com uns 4 meses! E as gudinhas sobreviventes fizeram 16 em maio. ❤

Esta xicrinha lascada, aliás, tem história!



Outras infos importantes:

:: Doença renal, pelo maior especialista em gatos do Brasil
:: 7 dicas que podem salvar seu amigo
:: Diagnóstico renal não significa sentença de morte
:: Sobrevida de 11 anos (e contando)!
:: 9 sinais de doença que a gente não percebe
:: Teste: seu peludo sente dor? Descubra pela cara!
:: Como identificar mal-estar sem sintomas
:: O difícil equilíbrio ao cuidar de gatos
:: Pesando bichanos com precisão
:: Como estimular a beber água
:: A importância de ter potes variados
:: Gatos sentem o sabor da água
:: O melhor bebedouro para o verão!
:: 13 macetes para dar líquidos na seringa
:: A seringa (quase) perfeita
:: Seringa que goteja para cuidar de gato doente
:: O milagre da água na seringa, seis anos depois
:: Soro subcutâneo: dicas e por que vale o esforço
:: Soro fisiológico, ringer ou ringer com lactato?
:: O desafio da alimentação natural
:: Quando a alimentação natural não dá certo
:: Ração úmida mais barata para gato renal
:: Seu pet não come ração úmida (patê, sachê, latinha)?
:: Como ensinar o bichano a amar ração úmida natural
:: Ração em molho: nós testamos!
:: Alimentação de emergência para animal desidratado
:: Calculadora de ração felina, seca e úmida
:: Cuidado com alimentação forçada!
:: Suporte para comedouro pode cessar vômitos
:: Diarreia em gatos: o que fazer?
:: Quando e como usar fralda
:: Gastrite causada por problemas renais
:: Luto: gatos sentem a morte do amigo? O que fazer?

4.10.23

Gata do tempo e o tempo do relógio

Abro este post com um arco-íris de Pimenta para contar que...


...trombei com esta imagem na internet e guardei para recriá-la com os bigodes em 4 de janeiro de 2017!


Nos quase sete anos que dividem planejamento de publicação, esmagaram-se duas mudanças de casa, três cidades (São Bernardo, Sorocaba e Araçoiaba), uma obra com pandemia e desgoverno, cinco gatos mortos (Clara, Mercv, Guda, Pipoca, Pufosa) — e outras intensidades que meu senso de autopreservação provavelmente enfiou nas samambaias.

Foi quando compartilharam esta ilustração no Instagram, mês passado, que decidi tirar do papel o que sem querer acabou virando um projeto de longo prazo.


E não poderia escolher melhor modelo do que nossa performer de soneca.


GATA DO TEMPO

Chuvoso


Encoberto


Nublado


Parcialmente nublado


Ensolarado


Aquecimento global


Está liberado imprimir e colar na geladeira! 😂