Você senta no computador para trabalhar, depois de duas horas e meia de congestionamento e um retrovisor estourado por motoboy, e começa a ouvir um miado distante. Parece o mesmo da manhã, que fingiu vir do vizinho. O miado fica mais alto. Nenhuma boca de
Gatoca se mexe. Você foca nos e-mails atrasados. O miado vira sessão de tortura. Você sai correndo de pijama, sachê e celular, preparada para a tragédia.
Uma das moças que cadastrou o gatinho no
mutirão de castração do projeto e não apareceu porque sentiu pena chora copiosamente na calçada. Preso no telhado de uma casa antiga por três dias, o peludo é puro desespero. Perdeu 200 quilos, ganhou uma coleção de arranhões e podia ter morrido envenenado, atropelado, atacado por outros animais. Quando pergunto por que não seguiu meu conselho de impedir o acesso à rua, a resposta se repete: pena.