Os últimos meses em
Gatoca abrigaram contradições: plantas nascendo e gatos morrendo. Sobre a partida da
Clara e do
Mercv já escrevi bastante — foram quase 17 anos, na verdade, compartilhando histórias deles aqui. Mas faltou falar de flores. Ou da falta delas.
Quando a Adriana Todesco, amiga querida da minha mãe, mandou
57 mudas de Serra Negra para colorir nosso
terreno de mato, eu não fazia ideia da quantidade de aprendizados que se pode envasar!
1) Respeitar os próprios limites
Imaginem o trabalho de regar e adubar 57 plantas — para sempre! Eu até comecei prestando atenção para não molhar as folhas, medindo as quantidades de fertilizante na balança e brigando com o Leo, que me achava maluca. Mas, quando ele
quebrou o tornozelo e sobrei também com a função de carpir, passei a pegar mais leve com a autocobrança.
2) Recuar para continuar avançando
As mudas muito pequenas não reagiram bem ao transplante para o solo (ou ao sol forte, ou à frequência de rega que a gente conseguia dar conta, ou às pragas das pragas) e decidi voltar todas para o vaso, onde poderia caprichar mais nos cuidados. Nesses 12 meses, fui recompensada com múltiplos botões.
3) Focar nas vidas salvas
Mesmo assim, as formigas assassinaram uma pata-de-vaca branca, que nunca chegava na quarta folhinha, e a emergência climática desidratou a nêspera. Em compensação, eu nunca tinha comido framboesa fora da geleia. E elas parecem cenográficas!
4) Dividir para não enlouquecer
Do borrifador de faxina ao pulverizador de fazenda (sim, nós compramos), é impossível exterminar todos os pulgões e cochonilhas de 1 mil m². E a flor-de-são-miguel bichada floriu, enquanto a boa ficou completamente careca. Uma parte do butim, então, a gente come, a outra a gente deixa para gaia.
5) Aprender fazendo — por tentativa e erro
Se vocês pesquisarem no Google possíveis causas para folhas com pontas queimadas, vão se deparar com: "Excesso de rega, falta de rega, muito calor, frio extremo, adubo demais, adubo de menos, vento cortante, pouca umidade, água salobra, água com flúor". O que não ajuda em nada — e é justamente por isso que eu prefiro cuidar de gatos. rs
6) Conhecer a ti mesmo
Economize R$ 11 em veneno se não terá coragem de usar contra as malditas formigas cortadeiras, que mordem também os seus pés assim que encontram o chão.
7) Lidar com a frustração
Já confessei por aqui: eu não sei perder — nem gente, nem bicho, nem discussão. E, nos meus cinco estágios do luto, raiva aparece três vezes. Mas as plantas morrem, mesmo que a gente tenha se esforçado e gasto dinheiro e feito blindagens de garrafa pet com graxa.
8) Estar aberto ao novo
Esqueci de dizer que a manga também não vingou. Mas no lugar dela cresceu um mamoeiro, que ninguém cultivou e vou poder comer no café da manhã — porque manga ninguém merece!
9) Improvisar
A grande expectativa da floresta araçoiabana era o manacá-de-jardim, para garantir a sombrinha dos bigodes dentro do gatil. Só que ele é da leva que acabou voltando para o vaso, me obrigando a comprar um resedá, que ainda não conseguiu formar uma copa, obrigando os gatos a descansarem na mandioca de geração espontânea.
E a coitada quebrou com o vendaval, dando lugar à moita de catnip, originada por duas singelas mudinhas que Leo esqueceu que havia plantado. Este se tornou, portanto, o atual refúgio da gangue:
10) Saber a hora de se retirar
A íris azul desponta majestosa, não dura mais do que um dia e termina sua breve existência neste embrulhinho simpático, sem drama.