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9.7.23

Saudade (sim, mais uma)

Eu guardo uma coleção de fotos suas esmagando o Simba, a Clara, o Mercv e a Guda em espaços onde, teoricamente, caberia apenas um gato. Você só tinha tamanho, Pufosa — e patas de leoa! Suspeitava que perder a mãe, último porto seguro, seria um grande baque. Mas não te imaginava partir menos de quatro meses depois e apenas dois dias na sequência da Pipoca.


Há 16 anos, vocês também chegaram mudando tudo. E de tutora de bigodes em quantidade normal (quatro, meu número da sorte) virei protetora de dez, ainda imaginando que conseguiria doar, se não a golpista da barriga, ao menos a ninhada. Como cansei de desabafar aqui, porém, quem separa uma família que segue mamando com 2 anos? Você, inclusive, foi a mais persistente.




E, por mais que tenha me esforçado para compensar as ausências, não podia lamber sua cabeça — sou alérgica a gatos, né? Embora neste final, hei de confessar, afundei a cara no seu pelo fininho e macio (surpreendentemente cheiroso!) mais de uma vez, enquanto chorava. Por causa dele, aliás, você é Pufosa — inicialmente Bufosa, até a gente descobrir que se tratava de "arma de fogo, pistola, berrante". rs


Não que você não berrasse, mas só na hora das guloseimas. Bastava ouvir o barulho da latinha abrindo de manhã ou do sachê rasgando nos fins de semana, que aparatava na cozinha, atropelando os irmãos. E continuou vindo mesmo doente, sem conseguir comer quase nada. E, quando andar ficou mais difícil, me encarava com os farolões azuis, de qualquer lugar da casa, esperando ansiosa pelo potinho.






Só você ganhou sachê batido em todas as seringadas dos últimos dias, com sabores variando. Nem parecia a criatura de gosto duvidoso que adorava recomer vômito (o próprio e os alheios), em um processo apelidado de micro-ondas, pelo aquecimento natural — se eu soubesse que, exclusivamente na ração úmida, você não vomitaria mais, teria nos poupado todo o estresse com o megaesôfago, o chiclete de dente, a gastrite. Me desculpa?

Talvez, você também aproveitasse outras coisas do gatil, além da grama que crescia no meio da cinerária, perigosamente mais saborosa. Engraçado que só você não quis se isolar no jardim nessa fase. Preferiu, sim, ficar sem as irmãs no escritório, mas acho que era porque o colchão, herdado com o sofá (que você amou) do cantinho novo, acomodava melhor sua artrose.




Ontem, a gente leu juntas e trocou carinhos, cada uma no seu estilo. Na hora de dormir, vesti a fraldinha, porque o banheiro havia ficado longe demais, mesmo sem sair do lugar. Ainda acordei às 4h14 para um chamego extra — fraldinha seca, patê para o estômago não doer, mais carinho. Você ronronou e gastou o miado economizado há dois dias, agora sei que em despedida.


Leo te pegou mais uma vez, três horas depois, em um sono tranquilo, enroladinha. Acordada por um pesadelo com o Simba e os gritos da Keka na porta do quarto, só cheguei a tempo de te botar no colo e repetir, grogue de sono, que estava ali. Bon vivant, claro que você morreria no domingo. O primeiro em que não pediu sachê.

26 comentários:

Anônimo disse...

Ai, Bia ... Sinta-se abraçada novamente 🥺

Anônimo disse...

Queria tanto ter algo bom pra dizer, mas infelizmente escrever é um dom pra poucos.
Meu abraço mais apertado. Muito carinho pra vc.
AliceGap

Roberta Baradel disse...

Ahhhh, que tristeza, Bia! Desejo a você o que Guimarães uma vez desejou: que sofra, mas sofra depressa que é para que as novas alegrias possam vir! Força!

Anônimo disse...

Força, querida!

Anônimo disse...

😢😢😢sinto demais! Perdi dois esse ano, é mt duro! Abraços 😢

Mauriceia Maria disse...

Eu não tenho nem palavras 😭 a gente vai junto com eles, um pedaço faltando em coração 💔

Anônimo disse...

Sinto muitíssimo, Bia. Força e um abraço apertado ✨🙌🏽

Anônimo disse...

Sinto muito! É mais um pedaço do seu coração que se vai. E como dói não é?

Anônimo disse...

Sem palavras ....

Bárbara disse...

Meus sentimentos, Bia, não sei nem o que dizer. Um abraço carinhoso.

Cinthia Bessa disse...

Chega a ser assustador o quanto de espaço a falta pode ocupar e seus dias tem acumulado mais e mais espaços, sinto muito por isso. Peço a Deus que a força que te move não a desampare e que ele conforte esse seu gigante coração.

Anônimo disse...

Ai Bia, q as bigodudas te consolem nessa tristeza toda. Abraços, e cuida de ti também.

Anônimo disse...

Tô chorando aqui litros...tão doído isso, essas perdas em sequência, um luto que não fecha e já vem outro em seguida. Que vc possa ter espaço e apoio para encontrar de novo o chão firme dos seus propósitos.

Suze disse...

Sinto muito amiga 😞, nem sei o que dizer 😭😭

Anônimo disse...

Os olhos mais lindos do mundo!

Anônimo disse...

😭😭😭😭😭😭 sem palavras e de coração tão apertado! 😭😭😭😭😭🙏🏻

Anônimo disse...

Gatos lindos, textos lindos, quanta força, Bia !! Grande abraço 😢😢😢

Maria disse...

😭😭😭❤ É um vazio que dói, né! Força! 🐾❤

Anônimo disse...

Devastador... Um abraço carinhoso, Bia, querida!
💔💔💔💔💔💔
Gláucia Almeida

Anônimo disse...

Despedidas... a gente acaba se acostum... acaba nada. Sempre dói. 😔💔

Anônimo disse...

Meus sentimentos, Bia! 😞

Maria Alice dos Santos disse...

Choro por ela como se fosse minha, força Bia, tb estou a contar os dias com minha Chocolate que velhinha aos 16, perdeu a vaidade de lamber o pelo viçoso, dos banhos de sol fora de casa. Como dói um coração partido por todas que já se foram. Sinta-se abraçada!!

wcris disse...

Texto lindo, tão sentido e verdadeiro que a gente se sente aí, tendo vivido tudo isso, olhado os "farolões azuis" de pertinho e preparado os patês. Um beijo como quem assopra machucados pra passar a dor.

Anônimo disse...

😢🥺😢Sempre muita força !!!

Anônimo disse...

Ler essas postagens é sentir todo o amor que você tem por todos esses filhos gatos. Com certeza, eles sentiram isso presencialmente, almamente a vida inteira e é isso que sempre perdurará!

Beatriz Levischi disse...

❤️

Um aberto em você e na Chocolate, Maria Alice!