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30.1.09

Pintura egípcia

Eu sabia que haviam abandonado um filhote tigrado na concessionária aqui do bairro. E que ele tinha os olhos desenhados em preto, como os de Hórus. E o nariz dourado. E a barriga cheia de bengal-linhas. Mas como o pequeno estava sendo cuidado pelos funcionários da loja e existem dúzias de casos piores na rua, troquei de calçada.

Duas semanas depois, porém, ele apareceu com a patinha machucada e não agüentei. Marquei o veterinário, consegui uma carona (Escortinho?! Quem é Escortinho?) e já providenciamos a castração*. Ontem, o tico de gato voltou a apoiar o pé no chão, só que passou mal após a cirurgia e acabou dormindo aqui em casa.


Imagino que ele nunca tenha visto um brinquedo em sua vida de quatro meses. Pelo menos ainda não cansou de pular com o ratinho (sem gatária!) que lhe dei de presente na hora do almoço.


Basta a gente entrar no escritório, aliás, para que a criatura se ponha a ronronar. Os bigodes é que não gostaram nada da idéia, principalmente porque meu colo reside no tal cômodo a maior parte do dia.


Preciso pedir ajuda na divulgação da bolinha de pêlo?


Epopéia do Hórus na busca por um lar:

:: Como tudo começou
:: Caçador de cabelo
:: Doce de batata doce
:: Festa do papel higiênico
:: Era uma vez um dente de leite...
:: Cera de ouvido para o jantar
:: Zé do Caixote
:: Casa nova!

*Sorte que a estadia da Pandora no sítio de São Roque não adentrou o segundo mês! E obrigada, Maria Alice, Fabi (Mopi) e Luísa, pelos depósitos antecipados. :)

27.1.09

Desarmada e perigosa

Antes das telas, todas as caixas de comida congelada compradas em Gatoca passavam a integrar a decoração local, na débil esperança de impedir o acesso dos bigodes à rua. Vira e mexe, porém, um infeliz encontrava uma alternativa de fuga e Clara Luz até aprendeu a pular o muro do corredor, com mais de dois metros de altura.

Seis meses após a visita da Rosa e do Casé, portando buchas, parafusos, arame galvanizado e furadeira, eu achei que estava livre do susto de resgatar a irresponsável da boca do rottweiler da vizinha, ou do forro de algum telhado perdido pelo bairro, quando ouvi um chorinho abafado, vindo do armário do meu quarto.

Recém-chegada de Sorocaba, abri a porta e dei de cara com o nariz da criatura amassado contra o vidro da gaveta de acessórios. Ninguém sabe como ela se prendeu ali. O fato é que conseguira transitar de um "andar" para o outro, revirando todas as roupas. Ganhei várias blusas de pele (além de uns 200 gramas de cocô e 1 xícara de chá de xixi).

Clara virou uma ameaça a si própria. Mesmo dentro de casa. rs

20.1.09

Pandora agora é vizinha da Ana Hickmann!

Atualizado em 22.01.09, com informações decentes sobre o milagre

Eu voltei de Curitiba achando que jamais conseguiria outra doação como a do Marley, mesmo que o coração de pudim insistisse em batucar por décadas a fio. E quando a Rose ligou para contar que havia decidido ficar com a Pandora, duas semanas depois, não pude frear o impulso de me beliscar. Se o escritório sucumbisse a um motim de fadas e gnomos, no minuto seguinte, seria melhor preparar um contra-ataque.

A viagem da pantera a Sorocaba já estava até marcada, mas tinha como destino o quintal de uma família mais-ou-menos, só para livrá-la da solidão do sítio temporário. De tanto que eu resmunguei na orelha de São Francisco, porém, o povo acabou trocando a pastora por um casal de poodles e, na mesma noite, Rose sonhou com uma cachorra preta pedindo para entrar em casa.

"Há dias ando preparando nove bolachas com requeijão para o café da manhã dos focinhos, ao invés de oito. Deve ser um sinal", tentou justificar a escolha irracional. "Podem gravar o comercial de margarina", eu pensei no ato. E nem me importei com as três horas e meia de trolebus-metrô-viaçãocometa (boa parte do percurso em pé, em pleno sábado) rumo ao interior.

No canil do Capim Santo, Pan nos recebeu empolgada, alternando pulinhos de euforia com o pavor de um novo abandono. Tremia de dar dó. O comportamento esquisito não passou nem no condomínio chiquérrimo da Ana Hickmann e do Raul Gil. Bastava eu mudar de cômodo, para que a coitada desandasse a chorar, gritar, fungar o nariz. Tudo isso junto.

Sorte que a paciência e o carinho dos Fenselau se mostraram ainda maiores que o terreno de 2,5 mil metros quadrados. A simpatia da princesa por Detlev, aliás, foi instantânea. Bem como a aceitação do exército de peludos. Nina logo quis brincar, Lumpy arriscou um galanteio no estilo Don Juan canino, Bob soltou três bufadas e desistiu de fingir hostilidade, Preta limitou-se a ignorá-la.

No segundo turno de apresentações, Mel, Lili e Dexter agiram de forma igualmente gentil. Apenas Zelda, o exemplar gigante da turma, permaneceu presa (e mal humorada). Para diminuir a agitação, Pan ganhou leite de cabra morno, pãozinho mergulhado no floral, ração úmida com calmante fitoterápico. Podia beber água na piscina quantas vezes desejasse e chegou a simular uns tropeções para abrandar o calor.

Agora, precisará aprender alemão para entender as broncas, agrados e instruções de convivência pacífica. Abrir portas e pular janelas ela sabe bem. Fez uma demonstração especial, inclusive, no domingo, enquanto eu arrumava a mala para ir embora (após passar a madrugada inteira gemendo na garagem). Como parte do ritual de despedida, entreguei-lhe a clássica camiseta fedida, que Rose comentou ainda servir de travesseiro, e saí correndo.

De vez em quando, a fiel escudeira me procura pela casa, mas não se desespera mais. Virou confidente da Zelda (quem diria?!), arrisca participar das latições da matilha contra os transeuntes, rouba as bolachas com requeijão dos desavisados, assiste televisão no pé do Christian. Até o cocô melhorou, embora o exame tenha acusado a presença de vermes. O veterinário acha que ela enfrentou, no mínimo, cinco invernos ao longo da vida.

Espero, minha grande amiga, que daqui para frente você só respire primaveras. :)

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17.1.09

OT, mas nem tanto

Era uma vez um coração que saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. Seu peito sobrou oco, murcho, sem cor. Não reconheço os sorrisos, as gracinhas, a vontade de aprender a voar. E as memórias, aos poucos, vão ganhando gosto de isopor. Se você ainda bater, na gaveta empoeirada de algum armário, saiba que eu lembrei.

16.1.09

Os bigodes de Santos agradecem

Jubão sensibilizou o povo do MSN e do Orkut, Lelê divulgou no Twitter, vocês encaminharam aos amigos, teve gente votando em casa e no trabalho. O resultado de tamanha mobilização não poderia ser outro: o blog Gatinhos de Toda Parte ficou em primeiro lugar na categoria "animais" do prêmio Nosso Top e em segundo no ranking geral!

Por conta das entrelinhas do regulamento, porém, as meninas ganharão apenas os R$ 100 da colocação temática. Vocês também se sentiram enganados? Pois com R$ 100 Patrícia disse que consegue castrar cinco gatinhos abandonados no cemitério de Santos. Para essas vidas, então, a gente fez a diferença. Obrigada! :)

P.S.: Se tudo der certo, segunda-feira tem surpresa aqui no blog! Cruzem os dedos.

15.1.09

Temos 12 horas para mudar a história de 70 vidas!

O blog Gatinhos de Toda Parte está concorrendo ao prêmio Nosso Top, idealizado pela Demari & Demari, e precisa de 300 votos, até a meia-noite de hoje, para garantir o primeiro lugar da categoria "animais". Se as meninas conseguirem uma boa colocação na classificação geral, aliás, podem ganhar de R$ 400 a R$ 2 mil, dinheiro que será integralmente doado a projetos de castração.

Patrícia faz um trabalho lindo com os bigodes abandonados em Santos. Tive o prazer de conhecê-la em 2007, quando hospedamos o Léo aqui em casa. Quem quiser ajudar, basta clicar no selo dourado e copiar as letras que aparecem na figura. Não é PowerPoint com texto falso do Jabor, mas agradeço se repassarem aos amigos. ;)

12.1.09

Delicadezas de aniversário

Passar o aniversário sozinha em casa, trabalhando, poderia despertar instintos suicidas, se não fossem as mensagens carinhosas de vocês. Celina ainda me mandou pelo correio esse calendário lindo da Siamese Cat Rescue – que não teve o mesmo destino da Superinteressante da Mariana, fique tranqüila. rs



Também ganhei da Maria Amália Camargo dois de seus livrinhos fofos, o "Laranja-pêra, couve manteiga", sobre a feira da alameda Couve-Flor, e o "Romeu suspira, Julieta espirra", sobre a histórica atração amorosa entre os opostos. As rimas são uma delícia e os desenhos enchem os olhos. Leitura garantida para os bigodes, antes de dormir.


Para ampliar, cliquem nas imagens

Obrigada pelos presentes, meninas! :)

8.1.09

Bigodes importados para adoção

Vocês sabem que São Francisco de Assis me adora, né? Pois quando levei o Marley a Curitiba, quase voltei com os bigodes abaixo na mala. Eles foram abandonados na casa de uma família muito humilde, em Santa Felicidade, e correm o risco de parar na boca dos cachorros do abrigo vizinho ou de se perder no meio da mata que dá para o quintal dos fundos. Renata prometeu trazê-los a São Paulo, castrados e vacinados, caso alguém se interesse (não precisa levar o combo!). Filhotes brancos, amarelos ou de raça, como a Fumaça (uma Azul da Rússia), costumam cair no gosto popular, mas o povo do sul parece que prefere os focinhos. Por favor, divulguem. :)

Garfield (macho)

Floco de Neve (macho)

Fumaça (fêmea)


P.S.: Candidatos à adoção, não esqueçam de deixar um e-mail para contato.

Seu pet te protege do quê?

Se você for capaz de responder a pergunta do título deste post em legendas de até 40 caracteres e estiver precisando urgentemente de um GPS ou uma TV LCD, participe do concurso cultural da Merial, parceira do Gatoca. As inscrições para a primeira fase vão até o dia 19 de janeiro.

6.1.09

Presente de aniversário

Junto com o fim do meu inferno astral*, Gatoca virou PageRank 5! O cálculo é usado pelo Google para determinar a relevância de uma página, com base nos links que ela recebe de outros sites e na importância desses sites. Há cinco meses, quando nós subimos no ranking de três para quatro, eu citei a classificação de alguns famosos. Quem quiser matar a curiosidade e consultar a popularidade do seu blog clique aqui.


*Como vocês sempre perguntam, achei melhor desvendar o mistério: hoje eu completo 29 anos (com corpinho de 19 e cabeça de 79!). rs

4.1.09

Presente de Santa Felicidade

O relato da adoção do Marley pode ter dado a impressão de que eu não fiz mais nada em Curitiba, além de chorar, o que não é verdade. Entre um soluço e outro, Miharu, Rose e Renata levaram-me a lugares belíssimos e restaurantes tradicionais, onde eu costumava cometer a heresia de encher o prato de salada. Até lembrei de trazer uma lembrança da feirinha de artesanato aos bigodes.


Claro que eles só resolveram brincar com os piões, quando a gente jogou os embrulhos rasgados de papel no lixo.

2.1.09

Um pedaço de mim agora vive em Curitiba

Miharu se apaixonou pelo Marley desde que eu publiquei a história do seu resgate aqui no blog. Mas preferiu deixar a adoção para alguém que já não tivesse 12 bigodes, 11 focinhos e cinco carpas. Eu também me apaixonei pelo terreno de 3 mil metros quadrados das fotografias, mas achei melhor esperar por um candidato que não morasse tão longe. Acontece que o tempo passou e ninguém se interessou pelo nosso querido-cão-demônio.

Com a jornada dupla de trabalho, o abandono da Pandora, a suspeita de pneumonia e a batida do Escortinho, a vida ficou pesada demais em Gatoca. Marley quase não passeava, os gatos acabaram totalmente negligenciados. Foi quando Miharu e eu decidimos arriscar o "intercâmbio cultural". Dia 26 de dezembro, Rose (Cachorreira Militante, Louca por Gatos) saiu de Sorocaba com o chiqueirinho do Zafira preparado e, às 9h, nós caímos na estrada.

Mesmo entupido de Acepran, o aloprado tentou enterrar o osso ganho de presente no porta-malas, perseguiu os cachorros do restaurante em Registro, brigou com todos os ônibus do percurso. Nossa despedida, aliás, iniciou-se na noite de Natal. Por causa dos fogos de artifício, Mariana e eu passamos uma hora trancadas com a criatura dentro do carro, o rádio ligado, as orelhas cheias de algodão. Bastava uma parar de chorar para que a outra recomeçasse.

Tirar o figura de casa mostrou-se tarefa bem mais difícil do que encarar as seis horas de viagem. Na mansão de Santa Felicidade, ele correu e latiu tanto, que fez cansar dois rottweilers. Ainda roubou um osso esquecido pela turma no jardim. Miharu instalou suas quinquilharias bernardenses no casebre da horta, com direito à sofá e cobertor. Na primeira bronca, porém, o ingrato quase lhe arrancou o dedo, mostrando a qualidade da educação que recebera na terra das batatas.

A madrugada atingiu o clímax dos filmes de terror, graças aos uivos compridos que insistiam em testar meu desapego. Sábado, o sem noção conseguiu fugir para a área dos akitas, um casal de ursos que fica separado dos demais cães pelo histórico de rinha. Não imagino de onde arrumei coragem para apartá-los antes que o sangue tomasse as paredes. Arrisco até a dizer que o macho de modestos 60 quilos curtiu a idéia de ter um companheiro de aventuras.

Domingo, foi dia de trocar cafunés, brincar com a corda-esfregão e o humano de pelúcia, marchar no pote de água. A adaptação superara as expectativas. Eis que a segunda-feira amanheceu nublada como o meu coração. E Merlin (rebatizado por motivos óbvios) resolveu jogar todos os seus pertences no gramado, em protesto à minha partida. Andava de um lado para o outro inquieto, só queria saber de morder. Machucou meu braço feio, tentando prender minha blusa junto com a camiseta do Harry Potter, lembrança dos nossos cinco meses de convivência.

Expliquei, entre soluços, que ele havia se mudado para ser mais feliz, ter amigos peludos e um espaço arborizado à altura de suas peripécias. Claro que sentiremos falta do focinho grudado na janela pedindo biscoito, da empolgação ao passear de carro, da recepção animada no portão, das contorções desajeitadas para caber no colo, das cavalgadas no estacionamento da faculdade de direito, do olhar canino mais doce do universo.

Ainda me pego evitando fazer barulho de manhã para não acordá-lo, pensando no melhor momento de levá-lo ao parque, separando saquinhos plásticos para recolher os cocôs, vestindo roupa velha na hora de atender a campainha.

Mas Marley não é mais o "cachorro da garagem".

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