É importante esclarecer que não se deve ligar o vapor na cara do gato, mesmo que ele esteja acostumado a brincar com a mangueira do jardim e não se intimide nem com o cortador de grama ― pouco importa que você tenha mirado na cabeça. Na dúvida, direcione o jato para áreas menos sensíveis (e mais amplas) do corpo.
Feito esse disclaimer, que nada tem a ver com o Intrú, motivo pelo qual Jujuba não herdou a escova do trauma, achei legal compartilhar os prós e os contras de um dos poucos produtos que as redes sociais acertaram em me mostrar como propaganda. Apesar de importada, a Electric Spray Handle Massage Brush não custou caro: R$ 25,22, já com o frete.
De escovinha, porém, ela não tem muita coisa. E o tamanho é a primeira desvantagem, porque dificulta o uso com bichanos magrinhos (e ossudos) como a Keka. A sujeira de terra da Jujuba, que gostou até do vaporzinho na fuça, também limpou mais fácil com o lenço umedecido. E precisa tomar cuidado no frio, pois o pelo acaba molhado pela insistência.
Na estação certa, por outro lado, a massagem refrescante ajuda a baixar a temperatura do corpo, enquanto os termômetros insistem em quebrar recordes de aquecimento global. E esta é a principal vantagem para mim (ou para eles). A névoa sai fininha, quase silenciosa e fria ― a menos que se coloque água quente no reservatório, só que não sei se pode, porque não achei o site da fabricante chinesa.
A carga demora cerca de meia hora ― na caixa vem um cabo minúsculo (USB-C), compatível com o carregador dos celulares Android. E a cabeleira sai relativamente fácil do meio das cerdas, basta deixar juntar um bolinho.
Se seu amigo é desconfiado, aconselho um período de adaptação, começando só com a escovação. Quando ele estiver acostumado, ligue o vapor durante o processo, de preferência com a escova colada ao pelo e uma musiquinha para disfarçar o barulho do botão e do jato. Uma vez que ele perceber o bem-estar, você não precisará mais se preocupar. :)
Para comemorar oito dias sem vômitos, Keka inaugurou as diarreias explosivas ― aquelas que conseguem sujar duas paredes do banheiro ao mesmo tempo. Na segunda-feira! Isso quer dizer que o organismo está absorvendo menos nutrientes, de uma dieta já sem troco pelo avanço da doença renal. E, ontem de manhã, parecia que não havia sobrado nada para a magrela aproveitar no fim dos 17 anos.
Desafiando as leis da física, da biologia e da química, porém, o vídeo abaixo é sequência da foto anterior. Sim, a frajola desistiu de morrer para caçar um lagartinho ― coisa que não fazia nem quando tinha a saúde perfeita. Ou melhor, arriscou pela primeira e única vez no ano passado, com um grilo persistente.
Como brincou Mariana, a curiosidade ressuscitou o gato?
Quando eu era pequena, bem pequena, desisti do balé clássico porque a professora disse que demoraria para subir na ponta, já que meus ossos ainda estavam em formação. Maiorzinha, abandonei a ginástica olímpica quando um braço ficou para fora do tatame durante o rodante-flic e acabei estatelando a cabeça no chão. Também larguei a fanfarra, o piano e o flamenco, além do curso de alemão e do teatro, porque só sei fazer bem mesmo uma coisa: escrever.
E foi com ronroneos que ouvi Ana Roxo, dramaturga, e Tati Fadel, professora de redação (amante de ornitorrincos e escrita cuneiforme), elogiarem os textos do Gatoca em um canal de 65 mil seguidores ― na foto, as duas pronunciam Mercvrivs ("mercúrius"), o frajola simplão de nome pomposo (culpa do Eduardo) que mudou minha vida. Keka quis muito modelar, aliás, mesmo combalida, o que demandou tempo extra na tentativa de salvar os cliques com iluminação ruim (também não sou boa nisso).
Vocês podem assistir à live completa aqui, mas cortei o trecho que mostraria à minha mãe, se ela ainda estivesse por estas bandas ― já me chamaram de Lebiste, Lewinsky, mas Ceviche foi a primeira vez (tem vegano?). Ana e Tati anunciam nossa parceria de arte, gatos e lubrificação ocular, enquanto jogam conversa fora, porque nem todas as relações precisam ser produtivas e é nos afetos positivos que mora a revolução.
Que tal um desenho de desaniversário? Tem desconto até o dia 31!
Depois de caçar, apanhar, matar e comer, um gato saudável completará o ciclo (CAMCLD) se limpando e dormindo, para se preparar para o próximo. Se você não lembra da última vez que viu seu amigo se lambendo, tem alguma coisa errada ― pode ser um problema tanto físico quanto psicológico. Pelo oleoso ou embaraçado em pontos que não costumavam ficar assim também indicam sinal de alerta.
Cabeleira longa, aliás, precisa de ajuda para não formar nós, embora qualquer bichano se beneficie com a escovação. Dependendo da sensibilidade do animal ao toque, inclusive, Jackson Galaxy defende a "tosa de leão", apesar de a estética do corte depor contra ― é que não existem muitos felinos selvagens de pelo longo, pois se trata de uma característica selecionada por criadores.
O autor de O Encantador de Gatos, livro que inspira esta série, ressalta ainda que não se deve dar banho em criaturas autolimpantes, porque apaga o cheiro (e a identidade) que elas se dedicam tanto para cultivar com a língua, parte fundamental da gatitude. Velhinhos e gorduchos com dificuldade de alcançar regiões como as costas e o bumbum podem ser limpos com lenços umedecidos.
O descanso, por sua vez, demanda um lugar tranquilo, silencioso e seguro, especialmente em casas agitadas ou com muitos animais ― bichos estressados tendem a perder o sono. E, mesmo que o peludo goste da sua king size, vale oferecer diferentes texturas e estilos de caminha para ver onde ele fica mais relaxado ― lembrando que alguns gostam de dormir no alto e outros, no chão.
Cada etapa do CAMCLD alimenta a confiança para a seguinte. E, enquanto os três Rs (rotina, ritmo e ritual) ditam o gingado da gatitude, o domínio do território é o tambor que dá a batida da música, como vocês verão nos próximos capítulos.
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 17 anos de projeto. ❤)
Pode parecer uma dúvida boba, mas mudou completamente minha rotina com a Keka porque, quase duas décadas e dez gatos depois, eu não sabia que o segredo da fluidoterapia está no xixi! Só que me adianto. Preciso explicar primeiro como chegamos até aqui. A magrela tem 17 anos e gastrite, não qualquer gastrite, uma gastrite causada pela doença renal.
Isso quer dizer que os rins dela não filtram direito as toxinas, deixando passar ureia para a corrente sanguínea, e essa uremia provoca enjoo e úlceras no estômago. Para ajudar a diluir as toxinas, animais renais demandam um reforço na hidratação, o que eu já fazia com as seringadas de sachê (batido no blender).
Acontece que, após oito dias comendo até pedra, feito de arrancar lágrimas quando a criatura em questão pesa metade dos tempos áureos, Keka entrou em um looping de vômitos, terminando em sangue vivo ― quanto menos a comida parava na barriga, menos ainda a gente oferecia para não sobrecarregar a digestão e, claro, ela acabou desidratando.
Eu, que havia prometido não aplicar soro na leva arisca da gangue, me vi reconsiderando tentar apenas uma bolsa para ver se a pequena embalava de novo ― que vida bandida essa de tutora de idosos! Festival de urros e algumas pesquisas frustradas na internet depois, escrevi para o Eduardo Carneiro, porque tenho o privilégio de poder encher de perguntas um veterinário paciente e acolhedor.
O primeiro efeito do soro é hidratar o bicho, o que ocorre gradativamente, conforme passa para o sangue e depois banha os tecidos ― você vai ver uma bolota se formar no local da aplicação e ir desaparecendo aos poucos. Nos casos mais severos, pode demorar alguns minutos e, nos demais, raramente passa de quatro horas.
Vale ressaltar que me refiro à aplicação subcutânea, aquela entre a pele e o músculo, que a gente consegue fazer sozinho em casa (dicas salvadoras aqui), porque a intravenosa (direto na veia) se absorve bem mais rápido. Como a desidratação está sempre ligada a outro problema, porém, retornará também em questão de horas se ele não for resolvido.
Em um quadro renal, por exemplo, equivale a dar um auxílio emergencial de R$ 300 para uma família com despesa de R$ 3 mil ― longe do ideal, melhor do que nada. Por isso a indicação de pelo menos quatro aplicações, permitindo que o organismo ganhe um respiro maior para se reorganizar.
Nossa aposta é que os vômitos da Keka cessem e a hidratação oral, sem agulhas, torne a bastar. Aqui entra o segundo efeito do soro: ao diluir a ureia, ele ameniza a náusea. Mas ela só passa mesmo com a eliminação pelo xixi. E voltamos ao começo do post. Funciona melhor concentrar a hidratação de manhã, assim o animal se livra logo das toxinas e tem o resto do dia para comer sem o enjoo atrapalhando.
Como a desidratação, porém, a uremia também torna a aumentar entre 12 e 24 horas. A insistência na fluidoterapia pode ajudar a voltar menos alta a cada aplicação, mas não é garantido, principalmente porque um corpo acostumado a trabalhar com menos água tende a mandar o excesso embora, buscando o equilíbrio padrão, e o gato acaba urinando mais.
Falta um dia para terminar a bolsa-teste de 500 ml, dividida em sessões de tortura de pouco mais de 100 ml, e a frajola já retomou o hábito de me perseguir miando por comida ― em especial a ração do Intrú, cheia de proteína e fósforo para rins saudáveis, que provavelmente a fez entrar no looping de vômitos.
Uma hora a gente não vai mais conseguir ― eu, ela, os rins. Mas hoje dormi feliz.
...é como estar de férias na sua própria casa. Não tem gato brincando e brigando e correndo e roncando e caçando e miando, tudo ao mesmo tempo. Se os sobreviventes passarem dos 17 anos, então, você pode sentar neles sem perceber.
Exceto durante as madrugadas, quando a velhice resolve botar os sintomas de fora.
Jujuba vomitou na Keka, que vomitou na Pimenta, que não tem mais força para vomitar em ninguém. Parece releitura do Drummond, mas foi mais um dia em Gatoca, iniciado antes do sol, das galinhas e até de o Intrú chegar da rua gritando pelo café da manhã.
Frio de endurecer os dedos e eu esfregando o almofadão, tentando desgrudar as gatas e superaquecendo o secador. Para repetir tudo de novo à tarde, no colchão que fica no escritório, só trocando as personagens.
Estou destreinada, confesso. A última goela de Gatoca que perturbei com comprimidos acho que foi a da Pipoca, 12 anos atrás, por causa da micoplasmose. E a gangue só tomou remédio para giárdia em 2009, com a ajuda do vet ― no post, aliás, eu falo em imobilizar o gato segurando pelo cangote, mas essa estratégia caducou (aqui vocês podem baixar um guia atualizado com as melhores práticas de manuseio felino).
Pois, aos 17 anos, Keka me trouxe de volta à alopatia animal ― primeiro com o protetor gástrico e agora com o estimulante de apetite. Ela tem gastrite, causada pela doença renal crônica, e montamos um verdadeiro esquema de guerra para contornar os vômitos. Só que não consigo acordar de madrugada para dar o sachê batido na colher, porque já fico devendo sono com a rotina diurna. E sempre sobra um líquido com sangue do jejum.
Como o comprimido, além de minúsculo para manipular, quebrou todo torto, pedi ajuda no Cluboca, nosso grupo maravilhoso de apoiadores e compartilho abaixo:
Use um cortador
Paula Melo indicou o da Needs, que não pagou um centavo pela propaganda, e eu até comprei para testar, mesmo já tendo um antigão, brinde de pet shop, mas a drágea esmigalhou do mesmo jeito. A vantagem é que o novo vem com uma caixinha para guardar a metade (ou um terço, rs) restante. Vanessa Araújo disse que corta na faca mesmo, só que precisa estar assassinamente amolada, raridade por aqui ― aí, basta colocar o comprimido sobre um pano macio dobrado.
Afie a lâmina com papel alumínio
Arquiteta nas horas vagas, Adrina Barth me apresentou às 1001 utilidades do papel alumínio. Para ressuscitar o cortador da dica anterior, dobre o papel alumínio várias vezes e esfregue em cada face da lâmina ― tomando o cuidado, obviamente, de não se cortar. Só não consegui descobrir se o lado certo é o fosco ou o brilhante.
Insira o remédio em cápsulas vazias
Eu não fazia ideia de que isso existia, até ler a mensagem da Aline Fagundes contando que usa com os peludos o menor tamanho, de número quatro. Já Paula prefere o dois, para comprimidos maiores ― mesmo que precise partir. Nessas cápsulas também dá para colocar medicações que devem ser tomadas juntas, com um único sofrimento. Além de facilitar a manipulação, Bárbara Santos lembrou que elas disfarçam o gosto amargo que provoca a babação e escorregam melhor na garganta.
No fim das contas, acabei adiando o Mirtz para a Keka porque, depois de uma fase sem alma com o Gaviz V, ela embalou de novo. Mas gravei um vídeo com o passo a passo básico:
Corte as garras do bichano
Principalmente se uma longa temporada de medicação os espera ― a menos que ele seja a Jujuba.
Seja firme (e rápido)
Quanto mais pena a gente sente, mais molenga age, dando brecha para o pequeno se rebelar. E sofrer.
Bloqueie esconderijos
Essa é para o caso de fracassar no passo anterior.
Posicione bem o animal
Eu gosto de ajeitá-los na prateleira da sala, virados para a direita, porque sou (mais ou menos) destra, e com as quatro patas apoiadas na almofadinha antiderrapante. Se tentarem me unhar, estarei na lateral ou nas costas, fora de alcance.
Mire no fundo da garganta
Com a mão livre, incline a cabeça do peludo bem para trás, facilitando a queda do comprimido ― o dedo médio deve pressionar uma das bochechas, a palma apoiar no topo da cabeça (cobrindo as orelhas) e o dedão pressionar a outra bochecha. Com a mão que segura o remédio, force a abertura da boca pela lateral, até conseguir espaço para soltá-lo na goela.
Garanta a ingestão
Se seu amigo integrar o grupo dos cuspidores, vale dar uma empurrada na drágea com o dedo até as profundezas ou jogar um pouquinho de água com a seringa na sequência ― já deixe pronto. Lambida nos lábios ou aquele movimento de "glup" indicam sucesso na missão.
Tente o aplicador de comprimidos
Comigo nunca funcionou, porque as criaturas mastigam e a geringonça não solta o comprimido ― ou erra a pontaria. Mas vai que você dá sorte.
Existe lugar melhor para falar de reforma e aspirador de pó do que um grupo de gateiros? Pois esses são assuntos que, vira e mexe, movimentam o Cluboca, nossa confraria de apoiadores. Paula Melo deu a ideia do post e Adrina Barth, a arquiteta que me salvou várias vezes durante a obra caótica, caprichou na consultoria. Se você tem gatos (ou cachorros) e está pensando em trocar o piso...
- Evite modelos de madeira natural e laminados, pois tendem a estufar e manchar na presença de líquidos, como água, xixi e vômito. No caso dos bichos de apartamento, o laminado ainda deixa passar mais barulho, incomodando os vizinhos.
- Ao escolher o porcelanato, prefira acabamentos acetinados, especialmente os indicados para áreas úmidas, porque os brilhantes são mais escorregadios e podem causar problemas nas articulações. Quanto menos textura, aliás, mais fácil de limpar.
- No universo dos vinílicos, que oferecem o aconchego visual da madeira e mantêm o conforto térmico, vale optar pela versão colada, que impede os líquidos de escorrerem para baixo das peças. Quem sofre com xixi fora da caixa, porém, deve passar longe, pois a acidez estraga o PVC.
- Em ambientes externos, onde os peludos costumam se exercitar, acabamentos mais ásperos ajudam a "gastar" as unhas, especialmente dos cães.
Nós acertamos 50% em Gatoca: o porcelanato que imita madeira disfarça bem a sujeira e tem uma textura tranquila de limpar ― Araçoiaba da Serra levanta um poeirão de terra à la Mad Max! Sim, ele brilha diferente da madeira de verdade, mas só quando o sol bate direto.
Já o laminado do escritório e do quarto foi escolhido pelo preço, o mais barato do mostruário, para equilibrar as finanças, rs. E está resistindo até que bem, como mostra o vômito da Keka, 17 anos e avançada na doença renal, que apelidei de poltergeist.
Adrina deu, ainda, uma dica que acho bacana compartilhar: é possível consultar o custo estimado por m² de obra em cada estado, pesquisando nos sites regionais do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon). E o valor da reforma fica entre 50% e 70% do Custo Unitário Básico (CUB).
Todo tutor de gato já ficou com cara de trouxa segurando um sachê, potinho ou latinha pela metade, que o bonito não quer mais saber de comer. Eu já havia compartilhado a dica de dar uma esquentada no micro-ondas e talvez você ainda esteja no estágio anterior, em que o bichano precisa aprender a gostar de ração úmida (só clica!).
Este post, porém, é para as vítimas do paladar seletivo felino, especialmente aquelas que têm velhinhos ou doentes em casa. Quem me salvou foi a Viviane Silva, contando no nosso grupo maravilhoso de apoiadores que congelava o patê em porções menores, descongelando apenas o que os bigodes consumiriam na hora.
Eu testei com a latinha da Pet Delícia batida no blender, porque a gangue de 17 anos aceita melhor essa textura, mas imagino que também funcione com a versão original (e com os sachês) ― só precisa colocar em uma embalagem que possa ser aquecida depois, né? As meninas comem como se a gente tivesse acabado de abrir, pois o cheiro e o sabor ficam preservados. :)
Vocês não fazem ideia do inception de plot twists que ocorreram nos últimos meses para que a gente chegasse ao dia de hoje nesta configuração de Gatoca. Caçando qualquer coisa que se move no jardim, Pimenta sofreu uma provável reação alérgica a picada e acabou antecipando nosso luto porque os rins, já gastos pelos 17 anos de jornada, arriaram de vez.
Eu deveria ter suspendido a alimentação forçada na primeira semana de tratamento fracassado ― o cheiro na boca era de morte, o olhar opaco, as vértebras à mostra, a apatia frustrante. Mas existe uma pequenina parte no meu cérebro capricorniano, em formato de gato, que desobedece a razão. E, duas semanas depois, encontrei o lagartinho com que só a frajola brinca tomando sol no gatil.
Ao final da terceira semana, como se restasse alguma dúvida, ela saltou do meu colo em disparada para perseguir um lagartinho de verdade no corredor. Ainda não come sozinha, os rins seguem cronicamente doentes, ninguém espera um desfecho Benjamin Button. Mas, neste 22 de maio, comemoramos sua segunda chance.
Após ganhar o apelido de Cocreta pelo vício em procurar croquetes no parquinho vertical, Keka decidiu testar 50 tons de vômito e alcançou o menor peso possível para um bichano funcional. Quanto mais opções de sachê eu tentava, mais sangue a gastrite botava para fora de madrugada. Até que o estômago de 17 anos resolveu rejeitar o último sabor restante, de peixe branco, da única marca que a magrela ainda comia sozinha, batido no blender.
Apelei às seringadas, submetida ao sono picado, à tendinite e à musculação involuntária de tanto abaixar e levantar ― quando Pimenta caiu também, confesso, surtei. Mas no domingo a frajola lambeu o bico da seringa com mais urgência do que o patê dava conta de sair e depois a colher e os sabores de frango, atum, peru. Neste 22 de maio, comemoramos sua terceira (ou quarta) chance ― era para ela ter morrido antes da Chocolate!
Em terra de renais, quem tem uma gata com mais de 3 kg é rainha. E Jujuba se tornou aquela filha que tira boas notas na escola, arruma a cama sem ninguém pedir, não dá dor de cabeça ― apesar de que a cabeça de 17 anos da malhada não anda tão boa assim. Do nada, ela se desorienta na própria casa, emendando miados urgentes de angústia.
Mas ainda reconhece meu chamado, se acalma com o carinho e morde a mão que insiste em usar o mouse em vez de contribuir para o ronronar ― sim, a gata que me rendeu uma escarificação na mudança para o apertamento em São Bernardo! Neste 22 de maio, comemoramos como se fosse a primeira vez. E talvez seja a última também ― da família Guda já partiram a mãe, Pipoca e Pufosa.
Para não acharem, então, que se trata sempre do mesmo gato nos posts, fica a dica: Keka tem cavanhaque, Pips bigode, Intrú máscara e Jujuba é diferente. rs
Este texto em especial traz o colorido da Lucia Trindade e da Aline Silva, estreando no Gramado da Fama. Lucia acompanha o Gatoca há uma década, mora no Rio de Janeiro, trabalha com museus (sonho!) e batizou um dos peludos de Balão. A paulistana Aline faz pesquisas na área de química, tem quatro idosos e tirou Gordinha da crise com as dicas que aprendeu aqui sobre soro subcutâneo e alimentação úmida. Bem-vindas oficialmente, meninas!
Um aperto a distância também para Adrina Barth, Alice Gap, Itacira Ociama, Regina Haagen, Renata Godoy, Leonardo Eichinger, Irene Icimoto, Tati Pagamisse, Roberta Herrera, Vanessa Araújo, Dani Cavalcanti, Samanta Ebling, Bárbara Santos, Marina Kater, Sonia Oliveira, Marcelo Verdegay, Patrícia Urbano, Fernanda Leite Barreto...
... Bárbara Toledo, Solimar Grande, Aline Silpe, Lucia Mesquita, Michele Strohschein, Marilene Eichinger, Guiga Müller, Sérgio Amorim, Gatinhos da Família F., Luca Rischbieter, Rosana Rios, Regina Hein, Paula Melo, Paulo André Munhoz, Marianna Ulbrik, Cristina Rebouças, Lorena da Fonseca, Karine Eslabão, Michely Nishimura...
...Danilo, Klay Kopavnick, Glaucia Almeida, Ana Cris Rosa, Ana Hilda Costa, Lia Paim, Elisângela Dias, Ivoneide Rodrigues, Melissa Menegolo, Vanessa Almeida, Vivian Vano, Maria Beatriz Ribeiro, Elaigne Rodrigues, Simone Castro, Beatriz Terenzi, Viviane Silva, Regina Hansen, Arina Alba, July Grafe, Sandra Malacrida, Vera e Gabriela Fromme, que não deixam o projeto morrer! 🤗
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 16 anos e meio. ❤)
Por quanto tempo uma casa ainda pode ser considerada nova? E se antes mesmo de você mudar, a casa em questão, construída do zero, já colecionava problemas? Talvez, em 2025 eu troque o título para "4 anos de Araçoiaba da Serra". Ou não ― a ideia de novo faz a vida parecer menos velha, principalmente quando a gente lida com impotência e morte.
Sei que pareço um disco quebrado, mas a conjuntura não colabora, né? Nos últimos 365 dias, Pipoca e Pufosa ajudaram a superpopulacionar nosso cat sematary. E Chocolate e Keka andam flertando com o empreendimento. Ao contrário dos gatos, as plantas finalmente ganharam autonomia e paramos de apanhar do solo seco, das formigas vorazes, das pragas multicoloridas ― quem rouba nossas frutas agora são os saguizinhos.
Enfermaria ao ar livre
Duplinha do sachê
Contorcionista
Preciso contar também que, às vésperas de completar dois anos e sete meses, mais especificamente em 7 de outubro de 2023, instalamos a lendária porta do banheiro ― embora ela ainda continue sem batente de um dos lados.
E tentamos ter uma piscina inflável, que esvaziava sempre que chovia (longa história), depois bichou (desculpem pelo surto de dengue!) e acabou furando no limoeiro (que limão mesmo não quis saber de dar até o presente momento).
Este post-comemorativo não poderia excluir o frajola figura que decidiu morar em Gatoca, contra a vontade de Gatoca, e me rouba sorrisos úmidos nos dias difíceis com poses assim:
Pensem em uma gata de 17 anos e meio que tem os olhos brilhantes, as mucosas coradas mesmo sem comer sozinha, hidratação de fazer inveja à gen-z, zero ocorrência de vômito, cocô de exposição. Mesmo assim, Chocolate foi saindo cada vez menos de sua cama nuvem, parou de ronronar, o miado ficou rouco.
Ok, nos últimos meses rolaram uns sintomas respiratórios em parzinho com a Jujuba. E a ataxia, que de vez em quando escorregava uma pata ou atrapalhava um salto ― bem mais sutil do que em dezembro. E a respiração acelerada, sem diagnóstico certo. Mas eu aceitei que ela não conseguiria mais caçar croquetes no parquinho vertical e seguimos.
Na esperança de desvendar o mistério da apatia repentina, paguei, então, um veterinário da cidade para vir aqui em casa. Ele cogitou problema no coração, que explicaria a respiração acelerada, a apatia e a ataxia intermitente, pela falta de oxigenação adequada do sistema nervoso central. Só que não pegou nada na auscultação.
A respiração acelerada também podia ter a ver com uma broncopatia, resquício de infecções respiratórias malcuradas, o que justificaria o catarro na garganta e os engasgos bizarros que vem e vão. Só que não apareceu na auscultação igualmente ― nem as tais áreas de silêncio, que dedaram o derrame pleural da Pipoca.
Temperatura, linfonodos e tireoide estavam ok, a elasticidade da pele foi considerada exemplar para a idade e recebi elogios pela longevidade ― o vet brincou que a pequena havia envelhecido melhor do que ele, que nem velho era. Durante a palpação da região lombar, porém, ela mordeu o coitado, ressuscitando a suspeita de artrose.
Eu não queria fazer os exames. Choco é uma gata sensível à manipulação, que passou dias com diarreia de pingar só porque lhe botaram um estetoscópio no peito, no ano passado. E teve cistite quando aumentei as seringadas de patê, receosa com o leve emagrecimento. Mas o homeopata escreveu um pedido tão fofo que cedi.
A equipe de raio-x veio aqui também, porque decidi não economizar nos últimos cuidados com os bigodes, todos na sobrevida ― almoços fora podem esperar e roupa já nem compro mesmo. A ranheta pareceu tranquila e só com o sague no xixi da manhã seguinte é que percebi que sofreu calada.
O resultado deu coração "com dimensões usuais para a idade referida" e pulmões "com aspecto de senescência" ― no latim vulgar, pulmões de velha. O problema estava na coluna, com um combo de espondilose ventral + esclerose das placas terminais + espaços intervertebrais com acentuada redução + opacificação/mineralização do forâmen intervertebral.
E da última visita ao tronquinho no gatil, com o equilíbrio prejudicado, para cá, menos de dez dias depois, a peluda perdeu quase completamente a mobilidade, andando com dificuldade apenas até o banheiro, colado ao colchonete coberto com tapete higiênico.
As patas traseiras ainda amanheceram inchadas hoje e o nível avançado desse desafio a prestações pode compreender um trombo ― coágulo de sangue que surge em um vaso sanguíneo do corpo, impedindo a circulação.
O prognóstico definitivamente não é bom, mas com a Keka dividindo os cuidados intensivos, que têm avançado madrugada adentro e recomeçado antes de clarear, só me restou encaixar o choro na hora do banho.
Você, que acompanha esta série inspirada em O Encantador de Gatos desde o início, pode comemorar porque nós finalmente chegamos à parte prática do livro do Jackson Galaxy! Nos capítulos anteriores, explicamos como a gatitude está ligada ao Gato Essencial e poder caçar, apanhar, matar, comer, se limpar e dormir (CAMCLD) torna um bichano mais confiante e dono orgulhoso de seu território.
Neste e nos próximos capítulos, vocês aprenderão como proporcionar a infraestrutura em que essas atividades ocorram todos os dias de forma previsível, baseando-se nos três Rs: rotina, ritual e ritmo. Isso porque cada casa tem seus ciclos naturais de ascensão e queda de energia, definidos pelos momentos em que a família se levanta, sai para o trabalho ou escola, retorna e vai dormir.
Estabelecer rituais e rotinas para os peludos considerando esses picos de energia ajuda a criar um ritmo para as interações primárias (da alimentação à brincadeira) que contemple as necessidades deles e as nossas. Bora tornar a coisa visual, então!
Balão de gatinho
O balão de energia de um gato começa encher quando ele dorme para se preparar para a caça. Ao acordar, precisará de um alvo para essa energia, que, na natureza, seria uma presa. Ganhar carinho ou participar da agitação familiar só acrescenta mais ar ao balão, que continua demandando liberação. E aqui entramos nós.
Todas as interações humanas com os bichanos colocam ou tiram energia desse balão. Mas, depois de cumprir os rituais básicos da nossa própria rotina matinal (banho, café da manhã, pia de louça), a gente vai embora, deixando o coitado prestes a explodir. E ele ainda terá de lidar com barulhos de passarinhos, trânsito, vizinhos.
Para receber um novo pico de energia quando voltamos ao lar, exaustos. Na tentativa de se regular, surgem comportamentos de agressividade redirecionada, rabo chicoteando, tremor nas costas, lambedura frenética de parte do corpo do nada. Você estica a mão para um cafuné e toma bufada, mordida, corrida?
Com as ferramentas certas, essa realidade pode mudar!
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 16 anos e meio de projeto. ❤)
Há quase oito anos, desde que Simba adoeceu, eu lido com gatos renais e vômitos. Depois dele se foram Mercv, Guda, Pipoca, Pufosa ― só Clara morreu diferente. Mas ninguém havia me dito que existem alimentos e comportamentos inofensivos que podem agravar o quadro, até eu pedir ajuda no Cluboca, nosso grupo maravilhoso de apoiadores.
O desafio atual é Keka, com gastrite causada justamente pela doença renal crônica. Diferente dos outros bigodes quando avançavam na enfermidade, porém, ela tem vontade de comer. Um paladar seletivo para sachê, mas tudo bem ― quase 17 anos espremidos em um corpinho de metade do tamanho original.
Mia persistentemente, limpa o potinho, só que acaba botando tudo para fora, horas depois. Vanessa confirmou que peixe tende a ser menos pesado. Elisângela achou na internet uma lista de peixes magros e gordos. Bárbara lembrou da veterinária dizendo que Gisele vomitava menos com eles porque se tratava de uma carne menos alergênica para os bichanos.
Aí, Lorena comentou do enjoou que sente no calor, Roberta emendou com o relato de que sempre encontra um vomitozinho nas noites quentes, Viviane associou ao fato de os peludos beberem água mais afoitos ― e realmente havia mais líquido nos bofes da frajola. De posse dessas informações, escrevi para o vet da gangue, testei com a Keka e compartilho a vitória de três dias sem vômitos por aqui!
Priorizem os sabores de peixe
Proteína de peixe é mais facilmente digerida pelo organismo, provocando menos reações imunológicas (de defesa). A magrela aceitou bem o sachê de peixe branco, mas já não segurou o de atum, que é mais gordo. Na alimentação forçada, notei que a latinha de porco da Pet Delícia funciona melhor, o que faz sentido porque, contrariando o senso comum, porco pode ser uma carne magra, depende do corte.
Suspendam a ração seca
Tanto a versão normal quanto a versão renal pioravam as crises da Pufosa e produzem o mesmo efeito com a frajola. Existem opções de ração úmida (latinha, sachê, patê, alimentação natural) para todos os bolsos no mercado, não precisam assaltar um banco.
Encontrem o equilíbrio do estômago
A gente fica feliz quando um animal convalescente se empolga nas refeições, mas a chance de ele vomitar tudo depois é enorme. E longos períodos de barriga vazia são igualmente delicados. Se seu amigo não consegue recuperar o embalo, ofereçam pequenas quantidades de comida batida no processador ― listei dicas para não errar aqui.
Cuidem do conforto térmico
Beber água demais ou muito rápido também pode causar vômitos. Nós não temos ar-condicionado por motivos de: alergia e planeta. Mas acionei climatizador e umidificador na batalha contra o calor do interiorrr.
Em algum mês de 1994, eu passava vergonha inclinando cada vez mais na cadeira do oftalmologista, enquanto a assistente tentava alcançar o olho em fuga para ensinar como colocar a lente de contato ― morro de aflição, cheguei a desmaiar nos exames pré-operatórios dos 5,5 graus de miopia. Três décadas depois, eis que o veterinário me manda puxar a pálpebra inferior justo da Chocolate.
A vida é mesmo uma roda gigante, não?
Mas me atropelo. Essa conversa começa com uma possível rinotraqueíte, em uma gata de 17 anos, doente renal crônica. E sem que eu soubesse avaliar se a pele estava flácida pela queda na produção de colágeno, como acontece com idosos humanos, ou por desidratação, apesar da persistência nas seringadas de patê.
Aqui entra a orientação do vet de puxar a pálpebra, porque elas dificilmente ficam flácidas por velhice, servindo de critério de desempate ao apontar graus maiores de desidratação. O teste funciona desta forma:
Como a pele retorna assim que Leo solta (vocês não acharam que eu encararia essa bomba, né?), diferente da lateral do corpo, que demora mais, a hidratação da pequena pode ser considerada sob controle. E para dar um parâmetro de comparação, segue um vídeo da Keka quando era mais nova:
Se a pele do seu amigo levar três (ou mais) segundos para se reestruturar e ele não estiver velhinho como a gangue aqui, corra ao veterinário. Vale ressaltar também que mesmo a flacidez de velhice pode mudar de animal para animal, porque depende da compleição física de cada um ― Keka ainda tem a pele mais firme e a diferença de idade para Choco é de apenas sete meses.
Em um misticismo exclusivo, os anos terminados em três marcam transformações profundas em mim. Foi em 2003 que precisei me dividir entre o trabalho e o hospital até dona Vera perder uma longa batalha contra o câncer, perto do Natal ― e que também tive de aprender a fazer arroz, lavar privada, cuidar dos irmãos mais novos, multiplicar dinheiro no supermercado.
Em 2013, deixei o casarão de uma vida inteira para caber com dez gatos, o Leo e, esporadicamente, as enteadas em um apertamento de 60 m2. Meu apertamento ― depois de uma reforma "faça você mesmo", apelidada de terapia. Uns meses antes, por causa das crises recorrentes de alergia e asma, já havia decidido parar com os resgates e redirecionar os esforços do Gatoca para a educação.
Se minha mãe estivesse viva, provavelmente confirmaria que em 1983 juntou coragem para se separar do alcoolismo do meu pai e nos mudamos para o prédio em que minha avó morreu antes de cumprir a promessa de sorvete toda a tarde, quando o shopping em frente ficasse pronto ― para voltar atrás pouco tempo depois. A mãe, não a avó.
E deve ter sido em 1993 que sofri um bullying persistente por nunca ter beijado na boca ― resolvi inventar um caso na viagem com as "amigas" à Caraguatatuba, que acabou desmascarado e só piorou tudo. Para dar uma ideia do impacto, o beijo de verdade tardou mais cinco anos ― e, por favor, não façam as contas.
Finalmente chegamos a 2023, assunto desta retrospectiva, com três gatas mortas em 15 semanas, a expectativa de um sabático ao final destas quase duas décadas felinas e um intruso estragando tudo. Guda partiu em março, com 17 anos, Pipoca em julho e Pufosa dois dias depois, ambas com 16.
A dinâmica da casa, acostumada a nove bichos preenchendo vazios e silêncios, mudou completamente ― ainda não acostumei a me referir à gangue no feminino. Sem a mãe e metade das irmãs, Jujuba virou uma gata carente e Keka deu para me acordar aos berros cada vez mais cedo ― 4h44 o recorde! Quem não mudou foi o Leo (amo essa foto!), parceiro de soro, de obra, de cova.
Comentei aqui no blog que envelhecer com os bigodes tem me feito enxergar o tempo de outra forma ― as adaptações demoram mais, o corpo não funciona do mesmo jeito, a gente precisa fazer um esforço ativo para não deixar a curiosidade morrer junto com o resto.
O blog perdeu o puxadinho no servidor de mais de uma década, passando justo o 1º de abril fora do ar. E ainda assistimos portão e telhado araçoiabanos voarem com o temporal de novembro ― que também nos deixou sem luz e água por três dias. Nos intervalos, porém, a gente comemorou.