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25.9.24

Assisti ao Intrú quase ser atropelado!

Não, gato ir para a rua não é liberdade, nem romântico, nem bucólico. Eu escrevi uma dúzia de posts aqui no blog falando sobre guarda responsável, telas nas janelas, riscos de briga, transmissão de doenças como FIV e FeLV, envenenamento, atropelamento. Só que nunca imaginei que fosse viver esse pesadelo em primeira pessoa.


FeLV Intrú já tem, por isso mesmo não posso colocá-lo para o lado de dentro da porta de vidro da lavanderia, com minhas velhinhas. Quatro anos de vadiagem antes de descobrir Gatoca, porém, me deram o falso conforto de que ele jamais se jogaria na frente de um carro. Mas voltemos ao café da manhã em que o gorducho não apareceu cantarolando.

Chamei, cuidei da Jujuba e da Keka, reguei as plantas, fiz almoço, trabalhei e no fim da tarde saí para caminhar, quando o encontrei rolando na calçada de terra de um vizinho que fica na ponta extrema do nosso quarteirão ― do quarteirão mesmo, não da rua. Primeiro, dei risada: então é por isso que o infeliz sempre chega vermelho! Depois, apontei o celular para filmar nosso encontro inusitado.

O coitado fugiu antes de me reconhecer, só então veio pedir carinho e não demorou um minuto e meio para a tragédia só não se consumar porque no interior as pessoas tendem a parar para os animais ― principalmente se uma louca espreme os pulmões asmáticos no grito.


Voltei para casa segurando 6,1 kg de frajola com as garras atacando o ar, porque ele ficou completamente desorientado. E o botei no chão apenas quando percebi que reconheceu nosso portão ― mal dava para ver as patinhas se mexendo na corrida. Um susto triplo, porque Chicão certamente foi arrancado de sua pregação para os passarinhos.


Epopeia do Intruso

:: Como tudo começou
:: Serial killers sempre voltam à cena do crime!
:: Ronrom, ataques e caos
:: Amansando a fera
:: Intruso: 1 sucesso e 2 bombas
:: Um morto muito louco e perdão felino
:: Cartinha de um gato excêntrico ao Papai Noel
:: Nossos presentes de Natal, com penetra
:: O que acontece com gato que vai para a rua
:: Férias do Intrú
:: Procuram-se madrinhas
:: Intrú ganhou madrinhas e um chalé!
:: 59 dias sem acidentes!
:: O primeiro brinquedinho... que ele nem viu
:: Teste: o desaparecimento do frajola
:: Intrú ganhou um cobertor e me emocionou
:: O primeiro colo (sim!)
:: A primeira ioga
:: A primeira brincadeira de caçar (sem mortes!)
:: O desafio de aquecer um bicho que não entra em casa
:: 17º quase-aniversário do Gatoca e bastidores
:: A escova perfeita para aventureiros
:: Vigilantes do Peso Felino

20.9.24

Gatificação: um lugar para onde voltar | EG #32

Na natureza, o território de um felino equivale a seis ou sete quarteirões, que precisam ser compensados quando a gente decide dividir com eles um "apertamento" ― se o mundo externo do Gato Essencial diminuir, enquanto o interno permanece igual, surgirão brigas, móveis destruídos, xixi fora da caixa.

O enriquecimento ambiental ou gatificação, como chama Jackson Galaxy, autor do livro que inspira esta série, permite construir um espaço que satisfaça as necessidades dos peludos de forma criativa, distribuindo marcações olfativas e explorando o universo vertical, sem ofender o senso estético dos donos da casa.

E tudo começa com o acampamento de base, coração do território do seu amigo. Trata-se de um porto-seguro para onde ele sempre pode retornar, minimizando o estresse em situações como mudança, obra, apresentação de um novo animal ou membro da família humana, chegada de visitas e emergências em geral.


Ao contrário do senso comum, ele deve ficar num cômodo em que os tutores passem bastante tempo, um lugar socialmente significativo, não na lavanderia, no porão ou na garagem ― e, em caso de apresentação, fora do quarto com que os veteranos estão acostumados.

E precisa de marcadores de território, ou seja, objetos em que os bichanos podem deitar, se esfregar ou arranhar para deixar seu cheiro, como caminhas, arranhadores e caixas de areia. Eles ajudam a estender esse território conforme o gato vai se acostumando com o resto da casa ― ao mudar os marcadores para ambientes próximos, sinalizamos que eles também fazem parte do seu lar.

Como saber quando o pequeno está pronto para expandir o acampamento? Quando ele demonstrar tranquilidade, explorando o espaço de rabo para cima, comendo e bebendo água normalmente, e usando os marcadores de cheiro.




(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 17 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)

13.9.24

Oficina de escrita 'hot' para gateiras!

Tudo começou com a sugestão, no nosso grupo de apoiadores, de transformar o conteúdo do Gatoca em livro ― formato que já experimentei em 2016, com o Manual do Gateiro de Segunda Viagem, antes de e-book ser modinha. E terminou com a Lorena Fonseca elucubrando se os bichanos já acompanhavam humanos ao banheiro no Antigo Egito.

Entre as duas coisas (e o desafio dos boletos), comentei que escreveria um romance hot, abrindo os bytes para a conversa mais surreal do Cluboca. Bárbara lamentou não levar o dom, porque "tem gente ganhando seis dígitos com esse tipo de literatura". E Aline Fagundes prontamente apresentou a solução: "Pensa que os personagens são gatos! Passaram-se horas de gritos, unhadas vorazes e mordidas calientes sob o luar. A língua indo e vindo, alcançando lugares inimagináveis".


Regina Haagen pontuou, então, que essa aspereza poderia acrescentar uma pegada BDSM (bondage, dominação, sadismo e masoquismo) e já anunciou o protagonista: "Vejo grandes possibilidades no rabão do Pingu" ― o pequeno da Vanessa Araújo tem realmente um rabo avantajado. E Liliane Molina tratou de monetizar a ideia, criando a oficina que dá título ao post ― "primeira e única do gênero".


Tudo brincadeira, claro, mas rendeu risadas molhadas, no sentido inocente da expressão, num momento em que eu estava precisando muito. Essa comunidade, não canso de repetir, é a maior riqueza do projeto. Se você quiser não escrever romances hot com a gente ou estiver precisando trocar o aspirador de pó, basta clicar aqui.

Vale dizer que, em um grupo com duas dezenas de participantes mais ativos, 10% levaram bigodes ao motel. Roxana, nome fictício para preservar a identidade da leitora, viajou de carro do Rio de Janeiro até Brasília e acabou parando para dormir com os peludos na cama redonda. Já Paulina resgatou o felino no próprio motel, deixando na portaria para pegar na saída. E quem não se identifica com Nicolette, que tinha seu desempenho julgado por Mia?

O cabaré está on, sim, Simone!

11.9.24

Como cortar comprimido para gato sem esmigalhar

Vocês estão prestes a ler um spin-off das dicas salvadoras para dar remédio, porque eu continuei pesquisando um jeito de não desperdiçar os microcomprimidos da Keka, que chegam a custar três dígitos por caixa. A boa notícia é que 99% dos leitores se beneficiarão com este conteúdo, já que não tem muita informação sobre o assunto na internet.

A má notícia é que o Mirtz insiste em quebrar no formato "dois quartos e uma suíte", como brincou Adrina Barth no nosso grupo de apoiadores, em vez dos quatro desejados ― pedi até ajuda para a Regina Haagen, correspondente do Gatoca no Rio de Janeiro, que ganhou uma lâmina de bisturi da veterinária. Tutores de bichanos com apetite rebaixado, saibam, portanto, que não é culpa sua ― e pulem para o final do post.

Usem cortador
O da Needs (que não pagou um centavo pela propaganda, reforço) vem com compartimento para guardar os pedaços restantes do medicamento e vocês encontram nas farmácias Droga Raia e Drogasil de todo o Brasil. Mas qualquer cortador bem-amolado dá conta do recado.


Afiem com papel alumínio
Dobrem várias vezes, do lado fosco ou brilhante, e esfreguem em cada face da lâmina ― tomando o cuidado, obviamente, de não se cortar.

Sejam rápidos
Depois de posicionar o comprimido com cuidado no cortador, desçam a guilhotina sem piedade ― hesitar só aumentará a chance de zigue-zague.

Não subestimem as facas
Vanessa Araújo deixa no ponto do assassinato e bota um paninho macio dobrado embaixo do comprimido para não sair do lugar.

Se nada disso funcionar ou vocês também estiverem na luta contra o Mirtz, confirmei que é possível manipular a mirtazapina na dosagem prescrita pelo vet, eliminando a necessidade de fracionamento, e no formato e sabor que seu amigo preferir ― Viviane Silva e Bárbara Santos, apoiadoras queridas, recomendam sem sabor, para disfarçar melhor no petisco favorito deles.

6.9.24

Vigilantes do Peso Felino

O ser humano é um bicho curioso. Quando Intrú decidiu morar no nosso terreno, tinha cerca de 4 anos e pesava menos de 3,5 kg, tomando por base a marcação da balança no dia da castração, depois de um mês de alimentação (quase) à vontade. Ninguém se importava com ele.

Bastou levar ao veterinário, sofrer dez ataques até conseguir socializá-lo, comprar casinha, blindar casinha e montar uma dieta balanceada para um infeliz decidir sobrealimentá-lo ― provavelmente com porcaria, porque a criatura começou a rejeitar a ração úmida. Quem olha para um gato sem pescoço e resolve entuchar mais comida nele?


Eu já tinha de lidar com os ratinhos, lagartinhos, rãs e até um coelho, que o frajola caçava quando considerava que três jantares não eram o suficiente. Se, estragado o paladar (e os rins), a pessoa ao menos o adotasse, nem reclamaria. Mas o coitado continua voltando para dormir no seu cobertorzinho, do lado de fora da porta de vidro da lavanderia ― a FeLV+ o impede de conviver com minhas velhinhas.

Na última semana, passou dos 6 kg (6,1 kg, para ser mais exata), o que dá umas três Kekas e meia ― sem o menor sinal de que vá parar por aí. Como emagrecer um gorducho que já paga seu cárdio diário batendo perna pelo bairro?


Epopeia do Intruso

:: Como tudo começou
:: Serial killers sempre voltam à cena do crime!
:: Ronrom, ataques e caos
:: Amansando a fera
:: Intruso: 1 sucesso e 2 bombas
:: Um morto muito louco e perdão felino
:: Cartinha de um gato excêntrico ao Papai Noel
:: Nossos presentes de Natal, com penetra
:: O que acontece com gato que vai para a rua
:: Férias do Intrú
:: Procuram-se madrinhas
:: Intrú ganhou madrinhas e um chalé!
:: 59 dias sem acidentes!
:: O primeiro brinquedinho... que ele nem viu
:: Teste: o desaparecimento do frajola
:: Intrú ganhou um cobertor e me emocionou
:: O primeiro colo (sim!)
:: A primeira ioga
:: A primeira brincadeira de caçar (sem mortes!)
:: O desafio de aquecer um bicho que não entra em casa
:: 17º quase-aniversário do Gatoca e bastidores
:: A escova perfeita para aventureiros

4.9.24

Testei a escova para gato que solta vapor!

É importante esclarecer que não se deve ligar o vapor na cara do gato, mesmo que ele esteja acostumado a brincar com a mangueira do jardim e não se intimide nem com o cortador de grama ― pouco importa que você tenha mirado na cabeça. Na dúvida, direcione o jato para áreas menos sensíveis (e mais amplas) do corpo.

Feito esse disclaimer, que nada tem a ver com o Intrú, motivo pelo qual Jujuba não herdou a escova do trauma, achei legal compartilhar os prós e os contras de um dos poucos produtos que as redes sociais acertaram em me mostrar como propaganda. Apesar de importada, a Electric Spray Handle Massage Brush não custou caro: R$ 25,22, já com o frete.


De escovinha, porém, ela não tem muita coisa. E o tamanho é a primeira desvantagem, porque dificulta o uso com bichanos magrinhos (e ossudos) como a Keka. A sujeira de terra da Jujuba, que gostou até do vaporzinho na fuça, também limpou mais fácil com o lenço umedecido. E precisa tomar cuidado no frio, pois o pelo acaba molhado pela insistência.




Na estação certa, por outro lado, a massagem refrescante ajuda a baixar a temperatura do corpo, enquanto os termômetros insistem em quebrar recordes de aquecimento global. E esta é a principal vantagem para mim (ou para eles). A névoa sai fininha, quase silenciosa e fria ― a menos que se coloque água quente no reservatório, só que não sei se pode, porque não achei o site da fabricante chinesa.

A carga demora cerca de meia hora ― na caixa vem um cabo minúsculo (USB-C), compatível com o carregador dos celulares Android. E a cabeleira sai relativamente fácil do meio das cerdas, basta deixar juntar um bolinho.


Se seu amigo é desconfiado, aconselho um período de adaptação, começando só com a escovação. Quando ele estiver acostumado, ligue o vapor durante o processo, de preferência com a escova colada ao pelo e uma musiquinha para disfarçar o barulho do botão e do jato. Uma vez que ele perceber o bem-estar, você não precisará mais se preocupar. :)

30.8.24

Porque é tão difícil saber quando parar de tentar

Para comemorar oito dias sem vômitos, Keka inaugurou as diarreias explosivas ― aquelas que conseguem sujar duas paredes do banheiro ao mesmo tempo. Na segunda-feira! Isso quer dizer que o organismo está absorvendo menos nutrientes, de uma dieta já sem troco pelo avanço da doença renal. E, ontem de manhã, parecia que não havia sobrado nada para a magrela aproveitar no fim dos 17 anos.


Desafiando as leis da física, da biologia e da química, porém, o vídeo abaixo é sequência da foto anterior. Sim, a frajola desistiu de morrer para caçar um lagartinho ― coisa que não fazia nem quando tinha a saúde perfeita. Ou melhor, arriscou pela primeira e única vez no ano passado, com um grilo persistente.


Como brincou Mariana, a curiosidade ressuscitou o gato?

23.8.24

O Gatoca segundo Ana Roxo (e Tati Fadel)

Quando eu era pequena, bem pequena, desisti do balé clássico porque a professora disse que demoraria para subir na ponta, já que meus ossos ainda estavam em formação. Maiorzinha, abandonei a ginástica olímpica quando um braço ficou para fora do tatame durante o rodante-flic e acabei estatelando a cabeça no chão. Também larguei a fanfarra, o piano e o flamenco, além do curso de alemão e do teatro, porque só sei fazer bem mesmo uma coisa: escrever.

E foi com ronroneos que ouvi Ana Roxo, dramaturga, e Tati Fadel, professora de redação (amante de ornitorrincos e escrita cuneiforme), elogiarem os textos do Gatoca em um canal de 65 mil seguidores ― na foto, as duas pronunciam Mercvrivs ("mercúrius"), o frajola simplão de nome pomposo (culpa do Eduardo) que mudou minha vida. Keka quis muito modelar, aliás, mesmo combalida, o que demandou tempo extra na tentativa de salvar os cliques com iluminação ruim (também não sou boa nisso).


Vocês podem assistir à live completa aqui, mas cortei o trecho que mostraria à minha mãe, se ela ainda estivesse por estas bandas ― já me chamaram de Lebiste, Lewinsky, mas Ceviche foi a primeira vez (tem vegano?). Ana e Tati anunciam nossa parceria de arte, gatos e lubrificação ocular, enquanto jogam conversa fora, porque nem todas as relações precisam ser produtivas e é nos afetos positivos que mora a revolução.


Que tal um desenho de desaniversário? Tem desconto até o dia 31!

21.8.24

Gato velho pode tudo!

Atrapalhar o trabalho.


A insustentável leveza do ser

Fazer arte com a comida.


Ração sobre chão

Vomitar na capa do colchão que você acabou de lavar.


O importante é ter saú...

16.8.24

Novidade que junta gatos, arte e lubrificação ocular!

Eu achava que andar de roupa furada e comprar duas escovinhas importadas justamente para os meliantes que furaram as roupas me colocava no topo do ranking da abnegação. Conversando no Cluboca, porém, nosso grupo maravilhoso de apoiadores, vi que tem gente que chega a gastar 80% do salário com gatos que resolveram envelhecer ao mesmo tempo.

E você, qual foi a última vez que escolheu algo para você? Quantos brinquedinhos passaram na frente, sumariamente trocados pela embalagem? Talvez um granulado higiênico que deixe o apertamento com menos cheiro de banheiro? Certamente uma comida mais balanceada do que a que seu corpo cansado dá conta de cozinhar depois de uma jornada estendida de trabalho.

Neste fim de ciclo da gangue, tenho pensado muito sobre a vida que me trouxe até aqui e para onde gostaria de levá-la nos próximos anos ― nem tanto um destino, mais uma sensação, sabe? Dias sem sobressaltos, tempo para abraços presenciais, ludicidade. Na impossibilidade de um piquenique em Versalhes, comecei pelos livros: uma sequência de comédias românticas que beira a diabetes.

Pendurei a tapeçaria do Peru que ganhei da Amanda. Distribuí vidros com flores secas pela estante (alma gótica). Fotografo o nascer do sol sempre que as meninas me acordam vomitando. E escrevi para a Ana Roxo decidida a ter um original que ilustrasse a jornada do Gatoca.


Ela aceitou a parceria e sem saber desenhou a tatuagem que, duas décadas atrás, idealizei como lembrete de que nem tudo se resumia à razão ― com um coração do lugar do gato, porque ainda achava que não gostava de gato. Aí Mercv chegou arrancando emoções na unha (essa história vocês conhecem) e dispensou demais registros sobre a pele.

Acompanhando a aquarela, veio esta cartinha:

Fiquei muitos e muitos dias trabalhando em cima de tudo que eu sabia e de fotos do Mercvrivs, e a imagem da janela se abrindo pro sol entrar não saía da minha cabeça. Trabalhei no desenho digital, bastante tempo, achando tudo muito ruim, e sentindo que precisava caprichar, pelo Mercv (veja a intimidade) ter feito tudo o que ele fez, mesmo sem fazer muito nada, como os gatos fazem.

Depois de um tempo frustrada e não acessando o que eu realmente queria com aquilo, voltei pro analógico e peguei meu caderno de desenhos (em português chamam de
sketchbook), que é onde tenho os desenhos mais pessoais mesmo, coisas como estudos ou estados (de alma), e desisti de encontrar beleza pra ver se eu achava sentido em tudo que eu estava sentindo.


Quando meu cachorro Samuca morreu, estava no México. Desenhei o Samuca com asas muito coloridas, pra lidar com a dor, asas de alebrije (procure saber). E foi a partir do desenho do Samuca que voltei a desenhar, comecei a estudar, saí de uma (ainda que leve) depressão por não estar no Brasil e não estar fazendo teatro (minha arte materna, tipo que nem língua materna). Samuca fez isso por mim e entendi que o Mercvrivs tinha que ter asas. Aí o resto foi.

Não sei se está à altura dele e do que ele fez, mas foi feito com muito amor e em meio a lágrimas e patinhas dos meus gatos (impressionante como eles gostam de tomar água de aquarela).

Obrigada por me deixar desenhar o Mercv. Obrigada Mercv pelo Gatoca (que é culpa sua). Obrigada, Beatriz, por não deixar aquele e mail ir pro Céu dos E-mails.



Também chorei. A vida é bela e doída e maluca e intensa, mas, acima de tudo, um sopro. Se você estiver precisando recomeçar, quiser eternizar um amor que partiu, presentear um gateiro querido ou só achar que uma parede branca sempre pode ficar mais colorida, manda um "oi" para Ana: anaroxxo@gmail.com ― ela tem um livro infantil lindo, lindo em financiamento coletivo e um canal, junto com a Tati Fadel, cheio de vídeos essenciais, como a série sobre a culpa.

Ah! Os valores dependem do tamanho e da complexidade do desenho, 20% vem para o projeto poder explorar horizontes outros e leitores do Gatoca ganham 10% de desconto até o fim de agosto, para comemorar nossos 17 anos de resistência.

Como prefiro dar dinheiro a quem empodera e ajuda a sonhar outros mundos, em vez de deixar bilionário mais rico, os algoritmos das redes sociais provavelmente reduzirão o alcance da nossa parceria. Empresta seus dedos para subverter o sistema? Qualquer comentário, curtida, compartilhamento já faz valer o empenho da Jujuba na sessão de fotos. 😂

14.8.24

Três Rs: limpeza e sono felinos | EG #31

Depois de caçar, apanhar, matar e comer, um gato saudável completará o ciclo (CAMCLD) se limpando e dormindo, para se preparar para o próximo. Se você não lembra da última vez que viu seu amigo se lambendo, tem alguma coisa errada ― pode ser um problema tanto físico quanto psicológico. Pelo oleoso ou embaraçado em pontos que não costumavam ficar assim também indicam sinal de alerta.

Cabeleira longa, aliás, precisa de ajuda para não formar nós, embora qualquer bichano se beneficie com a escovação. Dependendo da sensibilidade do animal ao toque, inclusive, Jackson Galaxy defende a "tosa de leão", apesar de a estética do corte depor contra ― é que não existem muitos felinos selvagens de pelo longo, pois se trata de uma característica selecionada por criadores.

O autor de O Encantador de Gatos, livro que inspira esta série, ressalta ainda que não se deve dar banho em criaturas autolimpantes, porque apaga o cheiro (e a identidade) que elas se dedicam tanto para cultivar com a língua, parte fundamental da gatitude. Velhinhos e gorduchos com dificuldade de alcançar regiões como as costas e o bumbum podem ser limpos com lenços umedecidos.


O descanso, por sua vez, demanda um lugar tranquilo, silencioso e seguro, especialmente em casas agitadas ou com muitos animais ― bichos estressados tendem a perder o sono. E, mesmo que o peludo goste da sua king size, vale oferecer diferentes texturas e estilos de caminha para ver onde ele fica mais relaxado ― lembrando que alguns gostam de dormir no alto e outros, no chão.

Cada etapa do CAMCLD alimenta a confiança para a seguinte. E, enquanto os três Rs (rotina, ritmo e ritual) ditam o gingado da gatitude, o domínio do território é o tambor que dá a batida da música, como vocês verão nos próximos capítulos.


(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 17 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)

10.8.24

17º aniversário do Gatoca!

Escrevo este post sob as cobertas porque chove lá fora — e aqui dentro não parece muito mais seco. Em dez minutos, o alarme tocaria para a sexta rodada de comida na seringa, mas Keka se antecipou e até lambeu sozinha na xicrinha. Quando penso que a batalha está perdida, ela tira forças do alçapão renal para mais um passeio no gatil, dois beliscos de sachê, três minutos de colo com cafuné.

O dedão da mão esquerda ainda lateja pela queimadura de segundo grau com cera quente. E essa nem foi a maior estupidez do fim de semana passado. Eu, que nunca fumei, sequer bebi de passar vergonha, tive a pior viagem da existência porque comprei um bombom de cogumelo mágico no trailer da feirinha de artesanato que anunciava feijoada vegana, hambúrguer e batata-frita.

Aí, em vez de paisagem bucólica, com música good vibes e pessoas de branco buscando o autoconhecimento, fui assistir a Criminal Minds, frustrada com o gosto insosso do chocolatinho. O alarme das seringadas tocou (ele toca o dia inteiro) e minhas pernas derretiam, enquanto o queixo da Keka inchava e a torneira da cozinha entortava.

Comecei rindo feito o cachorro da vizinha quando tenta latir com a bolinha de borracha presa na boca (fifo-fifo-fifo-fifo) e terminei aos prantos "porque a vida era muito solitária". Se você pretende perder completamente o controle do corpo, recomendo investir na endoscopia — com dois sedativos conto histórias ótimas, Mariana pode provar.

Mas por que esse relato aleatório em um blog de gatos? Porque não está sobrando gato — nem Intrú deu as caras hoje. E talvez o Gatoca já tenha cumprido sua função. Nestes 17 anos, foram 1.828 textos informativos, engraçados, emocionantes, mobilizadores — contra os algoritmos das redes sociais e agora a inteligência artificial, que rouba nosso conteúdo e não dá sequer a visualização.

Mais e-book, boletim, tentativa de canal no Youtube. Sementes em forma de jogo (Gatonó), livro (Depois da Quarentena), série (AssassiGato). Uma comunidade engajada, com experiências trocadas em 13,3 mil comentários, grupo acolhedor no WhatsApp e 27 parceiros ao longo da jornada — destaque especial ao Wings For Change, à Pet Delícia e à prefeitura de Sorocaba, na gestão anterior.

Os braços offline do projeto ainda envolveram 116 gatos, oito cachorros e quatro aves, um mutirão de castração, oficina com escoteiros e bandeirantes, roda de conversa com adolescentes, curso no Sesc sobre o poder do coletivo, clube de leitura na ONU, sob a imaginação da Rosana Rios.

Tudo isso com o apoio de vocês, pelo qual sou imensamente grata, em forma de rifa, lojinha, financiamento coletivo, clube de assinaturas. Mas sinto que preciso sonhar outros sonhos, entendem? Depois que conseguir dormir oito horas por noite, claro — o que não deve acontecer tão cedo, então bora manter o ritmo da digitação! Na semana que vem, aliás, divulgo nossa nova parceria, justamente para quem está precisando de afago na alma.

Espero seguir acompanhada. ❤


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8.8.24

Feliz Dia Internacional da Maquininha de Ronrom!

E de matar também. rs



Aproveito a data para contar que tem parceria artístico-felina chegando por aí! E o risco de vocês amarem é enorme!

2.8.24

Gato renal: em quanto tempo o soro faz efeito?

Pode parecer uma dúvida boba, mas mudou completamente minha rotina com a Keka porque, quase duas décadas e dez gatos depois, eu não sabia que o segredo da fluidoterapia está no xixi! Só que me adianto. Preciso explicar primeiro como chegamos até aqui. A magrela tem 17 anos e gastrite, não qualquer gastrite, uma gastrite causada pela doença renal.

Isso quer dizer que os rins dela não filtram direito as toxinas, deixando passar ureia para a corrente sanguínea, e essa uremia provoca enjoo e úlceras no estômago. Para ajudar a diluir as toxinas, animais renais demandam um reforço na hidratação, o que eu já fazia com as seringadas de sachê (batido no blender).

Acontece que, após oito dias comendo até pedra, feito de arrancar lágrimas quando a criatura em questão pesa metade dos tempos áureos, Keka entrou em um looping de vômitos, terminando em sangue vivo ― quanto menos a comida parava na barriga, menos ainda a gente oferecia para não sobrecarregar a digestão e, claro, ela acabou desidratando.

Eu, que havia prometido não aplicar soro na leva arisca da gangue, me vi reconsiderando tentar apenas uma bolsa para ver se a pequena embalava de novo ― que vida bandida essa de tutora de idosos! Festival de urros e algumas pesquisas frustradas na internet depois, escrevi para o Eduardo Carneiro, porque tenho o privilégio de poder encher de perguntas um veterinário paciente e acolhedor.


O primeiro efeito do soro é hidratar o bicho, o que ocorre gradativamente, conforme passa para o sangue e depois banha os tecidos ― você vai ver uma bolota se formar no local da aplicação e ir desaparecendo aos poucos. Nos casos mais severos, pode demorar alguns minutos e, nos demais, raramente passa de quatro horas.

Vale ressaltar que me refiro à aplicação subcutânea, aquela entre a pele e o músculo, que a gente consegue fazer sozinho em casa (dicas salvadoras aqui), porque a intravenosa (direto na veia) se absorve bem mais rápido. Como a desidratação está sempre ligada a outro problema, porém, retornará também em questão de horas se ele não for resolvido.

Em um quadro renal, por exemplo, equivale a dar um auxílio emergencial de R$ 300 para uma família com despesa de R$ 3 mil ― longe do ideal, melhor do que nada. Por isso a indicação de pelo menos quatro aplicações, permitindo que o organismo ganhe um respiro maior para se reorganizar.

Nossa aposta é que os vômitos da Keka cessem e a hidratação oral, sem agulhas, torne a bastar. Aqui entra o segundo efeito do soro: ao diluir a ureia, ele ameniza a náusea. Mas ela só passa mesmo com a eliminação pelo xixi. E voltamos ao começo do post. Funciona melhor concentrar a hidratação de manhã, assim o animal se livra logo das toxinas e tem o resto do dia para comer sem o enjoo atrapalhando.

Como a desidratação, porém, a uremia também torna a aumentar entre 12 e 24 horas. A insistência na fluidoterapia pode ajudar a voltar menos alta a cada aplicação, mas não é garantido, principalmente porque um corpo acostumado a trabalhar com menos água tende a mandar o excesso embora, buscando o equilíbrio padrão, e o gato acaba urinando mais.

Falta um dia para terminar a bolsa-teste de 500 ml, dividida em sessões de tortura de pouco mais de 100 ml, e a frajola já retomou o hábito de me perseguir miando por comida ― em especial a ração do Intrú, cheia de proteína e fósforo para rins saudáveis, que provavelmente a fez entrar no looping de vômitos.

Uma hora a gente não vai mais conseguir ― eu, ela, os rins. Mas hoje dormi feliz.


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31.7.24

Não morar (mais) com uma gangue felina...

...é como estar de férias na sua própria casa. Não tem gato brincando e brigando e correndo e roncando e caçando e miando, tudo ao mesmo tempo. Se os sobreviventes passarem dos 17 anos, então, você pode sentar neles sem perceber.


Exceto durante as madrugadas, quando a velhice resolve botar os sintomas de fora.