Atualizado às 20h49
Quando
Simba morreu, em outubro de 2016, eu me dei conta de que os bigodes haviam envelhecido e passaria pelo misto de impotência, corpo dolorido e emocional em frangalhos mais nove vezes. O que parece uma não-escolha é, na verdade, desdobramento da decisão consciente de poupar criaturas que ainda preservam uma essência selvagem — domesticadas milhares de anos depois dos cachorros.
Mas, antes do desfecho final, e ciente do privilégio que significa poder cuidar de quem parte em casa, no mesmo esquema intensivo da internação de hospital, por não precisar trabalhar fora, outras resoluções importantes marcaram nossa jornada de quase duas décadas.
Constatada a
doença renal na maior parte do grupo, por exemplo, e após quase perder Pipoca na coleta de sangue de 2018, cianótica de pavor, suspendi os exames (hemograma e função renal) de todo mundo — conhecia a evolução dos sintomas e eles bastariam para guiar o tratamento.
Na
confirmação do carcinoma da Clara, optei por continuar com a homeopatia em vez de submetê-la aos efeitos colaterais da quimioterapia, que acompanhei durante os oito anos de batalha (perdida) da minha mãe. E, em vez da sobrevida de dois, a retalinha ganhou seis,
nos deixando aos 16 e meio.
Sei que não se escreve homeopatia hoje em dia sem ser confundido com o povo do chapéu de alumínio. Abro parêntese, então, para explicar que acredito em terrabolismo, aquecimento global e sou capricorniana — ok, tenho um fraco por astrologia. E quem sugeriu as bolinhas do Hahnemann foi um veterinário alopata.
A gente já tentava curar uma
infecção de pele highlander do Simba há mais de ano, fracassando com antifúngico, antibacteriano, anti-inflamatório, antibiótico e corticoide. E a única ração renal que o leãozinho aceitou ainda desencadeou uma intolerância alimentar que três profissionais taxaram como insolúvel sem a substituição da comida. Com a homeopatia (que atua na energia vital, tratando o ser, não a doença), as feridas no corpo sumiram em 38 dias e o piriri, em três meses.
Fecha parêntese, porque o objetivo do post é defender a ideia de que quanto menos se estressar um gato com viagens de carro e manipulações por estranhos, melhor. E, quando não der para evitar, recompense com petiscos, carinho extra ou escovação para mostrar que vale a pena continuar — lembrança do meu avô tomando uísque com morfina no final do câncer de próstata. rs
Sim, é difícil encontrar esse meio termo, principalmente com animais que não podem expressar seus desejos, mas mantenho sempre no horizonte. E a longevidade da gangue acho que prova meu ponto. Pipoca,
renal desde os 5 anos, completará 16 em 20 dias, junto com as quatro irmãs. Escrevo isso, aliás, depois de escolher não fazer a drenagem do
derrame pleural — diagnosticado por raio-x, aqui em casa.
Apesar de o vet araçoiabano duvidar que o organismo reabsorveria o líquido a tempo e o quadro ainda ser delicado, a magrela já voltou a caçar insetinhos. No dia de sua visita, inclusive, pedi para auscultar também a Chocolate e só o fato de segurá-la à força nos rendeu três dias da diarreia mais tensa de
Gatoca, uma lambeção compulsiva e o ânus florescente.
E não tem como não citar a
Síndrome de Pandora da Guda, caracterizada por uma cistite recorrente, que a gente demorou para perceber se dever à ansiedade — obra,
mudança caótica, ultrassons (
1 e
2),
alimentação forçada, morte dos amigos. Ela partiu dez meses depois do Mercv,
aos 17 anos (e ele, aos
16 e 7 meses).
Preciso enfatizar que poupar os bichanos de estresse e sofrimento desnecessários não quer dizer falta de cuidado? Pago o vet homeopata mensalmente para acompanhar os bigodes a distância, dou
água na seringa três vezes por dia para todos e
patê batido no processador para quem não consegue comer sozinho, aplico
soro nas crises — e queimei três dedos na cola quente fazendo o arranhador favorito deles!