Parece que faz uma eternidade, só que esta foto tem exatos dois meses. E, por mais 18 dias, Guda* seguiu minha companheira de leitura e roladinhas, até sobrar o gramado vazio. Não deu tempo de chorar, depois daquela madrugada de respiração e sono entrecortados, porque Pipoca acumulou nossas lágrimas no pulmão. Mas, no domingo, devo tirar o atraso. O golpe da barriga completaria 16 anos.
*Novelinha: conheça a história da Guda
Outros aniversários: 2022 | 2021 | 2020 | 2019 | 2018 | 2017 | 2016 | 2015 | 2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008
5.5.23
3.5.23
O difícil equilíbrio ao cuidar de gatos
Atualizado às 20h49
Quando Simba morreu, em outubro de 2016, eu me dei conta de que os bigodes haviam envelhecido e passaria pelo misto de impotência, corpo dolorido e emocional em frangalhos mais nove vezes. O que parece uma não-escolha é, na verdade, desdobramento da decisão consciente de poupar criaturas que ainda preservam uma essência selvagem — domesticadas milhares de anos depois dos cachorros.
Mas, antes do desfecho final, e ciente do privilégio que significa poder cuidar de quem parte em casa, no mesmo esquema intensivo da internação de hospital, por não precisar trabalhar fora, outras resoluções importantes marcaram nossa jornada de quase duas décadas.
Constatada a doença renal na maior parte do grupo, por exemplo, e após quase perder Pipoca na coleta de sangue de 2018, cianótica de pavor, suspendi os exames (hemograma e função renal) de todo mundo — conhecia a evolução dos sintomas e eles bastariam para guiar o tratamento.
Na confirmação do carcinoma da Clara, optei por continuar com a homeopatia em vez de submetê-la aos efeitos colaterais da quimioterapia, que acompanhei durante os oito anos de batalha (perdida) da minha mãe. E, em vez da sobrevida de dois, a retalinha ganhou seis, nos deixando aos 16 e meio.
Sei que não se escreve homeopatia hoje em dia sem ser confundido com o povo do chapéu de alumínio. Abro parêntese, então, para explicar que acredito em terrabolismo, aquecimento global e sou capricorniana — ok, tenho um fraco por astrologia. E quem sugeriu as bolinhas do Hahnemann foi um veterinário alopata.
A gente já tentava curar uma infecção de pele highlander do Simba há mais de ano, fracassando com antifúngico, antibacteriano, anti-inflamatório, antibiótico e corticoide. E a única ração renal que o leãozinho aceitou ainda desencadeou uma intolerância alimentar que três profissionais taxaram como insolúvel sem a substituição da comida. Com a homeopatia (que atua na energia vital, tratando o ser, não a doença), as feridas no corpo sumiram em 38 dias e o piriri, em três meses.
Fecha parêntese, porque o objetivo do post é defender a ideia de que quanto menos se estressar um gato com viagens de carro e manipulações por estranhos, melhor. E, quando não der para evitar, recompense com petiscos, carinho extra ou escovação para mostrar que vale a pena continuar — lembrança do meu avô tomando uísque com morfina no final do câncer de próstata. rs
Sim, é difícil encontrar esse meio termo, principalmente com animais que não podem expressar seus desejos, mas mantenho sempre no horizonte. E a longevidade da gangue acho que prova meu ponto. Pipoca, renal desde os 5 anos, completará 16 em 20 dias, junto com as quatro irmãs. Escrevo isso, aliás, depois de escolher não fazer a drenagem do derrame pleural — diagnosticado por raio-x, aqui em casa.
Apesar de o vet araçoiabano duvidar que o organismo reabsorveria o líquido a tempo e o quadro ainda ser delicado, a magrela já voltou a caçar insetinhos. No dia de sua visita, inclusive, pedi para auscultar também a Chocolate e só o fato de segurá-la à força nos rendeu três dias da diarreia mais tensa de Gatoca, uma lambeção compulsiva e o ânus florescente.
E não tem como não citar a Síndrome de Pandora da Guda, caracterizada por uma cistite recorrente, que a gente demorou para perceber se dever à ansiedade — obra, mudança caótica, ultrassons (1 e 2), alimentação forçada, morte dos amigos. Ela partiu dez meses depois do Mercv, aos 17 anos (e ele, aos 16 e 7 meses).
Preciso enfatizar que poupar os bichanos de estresse e sofrimento desnecessários não quer dizer falta de cuidado? Pago o vet homeopata mensalmente para acompanhar os bigodes a distância, dou água na seringa três vezes por dia para todos e patê batido no processador para quem não consegue comer sozinho, aplico soro nas crises — e queimei três dedos na cola quente fazendo o arranhador favorito deles!
Quando Simba morreu, em outubro de 2016, eu me dei conta de que os bigodes haviam envelhecido e passaria pelo misto de impotência, corpo dolorido e emocional em frangalhos mais nove vezes. O que parece uma não-escolha é, na verdade, desdobramento da decisão consciente de poupar criaturas que ainda preservam uma essência selvagem — domesticadas milhares de anos depois dos cachorros.
Mas, antes do desfecho final, e ciente do privilégio que significa poder cuidar de quem parte em casa, no mesmo esquema intensivo da internação de hospital, por não precisar trabalhar fora, outras resoluções importantes marcaram nossa jornada de quase duas décadas.
Constatada a doença renal na maior parte do grupo, por exemplo, e após quase perder Pipoca na coleta de sangue de 2018, cianótica de pavor, suspendi os exames (hemograma e função renal) de todo mundo — conhecia a evolução dos sintomas e eles bastariam para guiar o tratamento.
Na confirmação do carcinoma da Clara, optei por continuar com a homeopatia em vez de submetê-la aos efeitos colaterais da quimioterapia, que acompanhei durante os oito anos de batalha (perdida) da minha mãe. E, em vez da sobrevida de dois, a retalinha ganhou seis, nos deixando aos 16 e meio.
Sei que não se escreve homeopatia hoje em dia sem ser confundido com o povo do chapéu de alumínio. Abro parêntese, então, para explicar que acredito em terrabolismo, aquecimento global e sou capricorniana — ok, tenho um fraco por astrologia. E quem sugeriu as bolinhas do Hahnemann foi um veterinário alopata.
A gente já tentava curar uma infecção de pele highlander do Simba há mais de ano, fracassando com antifúngico, antibacteriano, anti-inflamatório, antibiótico e corticoide. E a única ração renal que o leãozinho aceitou ainda desencadeou uma intolerância alimentar que três profissionais taxaram como insolúvel sem a substituição da comida. Com a homeopatia (que atua na energia vital, tratando o ser, não a doença), as feridas no corpo sumiram em 38 dias e o piriri, em três meses.
Fecha parêntese, porque o objetivo do post é defender a ideia de que quanto menos se estressar um gato com viagens de carro e manipulações por estranhos, melhor. E, quando não der para evitar, recompense com petiscos, carinho extra ou escovação para mostrar que vale a pena continuar — lembrança do meu avô tomando uísque com morfina no final do câncer de próstata. rs
Sim, é difícil encontrar esse meio termo, principalmente com animais que não podem expressar seus desejos, mas mantenho sempre no horizonte. E a longevidade da gangue acho que prova meu ponto. Pipoca, renal desde os 5 anos, completará 16 em 20 dias, junto com as quatro irmãs. Escrevo isso, aliás, depois de escolher não fazer a drenagem do derrame pleural — diagnosticado por raio-x, aqui em casa.
Apesar de o vet araçoiabano duvidar que o organismo reabsorveria o líquido a tempo e o quadro ainda ser delicado, a magrela já voltou a caçar insetinhos. No dia de sua visita, inclusive, pedi para auscultar também a Chocolate e só o fato de segurá-la à força nos rendeu três dias da diarreia mais tensa de Gatoca, uma lambeção compulsiva e o ânus florescente.
E não tem como não citar a Síndrome de Pandora da Guda, caracterizada por uma cistite recorrente, que a gente demorou para perceber se dever à ansiedade — obra, mudança caótica, ultrassons (1 e 2), alimentação forçada, morte dos amigos. Ela partiu dez meses depois do Mercv, aos 17 anos (e ele, aos 16 e 7 meses).
Preciso enfatizar que poupar os bichanos de estresse e sofrimento desnecessários não quer dizer falta de cuidado? Pago o vet homeopata mensalmente para acompanhar os bigodes a distância, dou água na seringa três vezes por dia para todos e patê batido no processador para quem não consegue comer sozinho, aplico soro nas crises — e queimei três dedos na cola quente fazendo o arranhador favorito deles!
28.4.23
11 anos depois, Pipoca pede outra escolha de Sofia
Em 2012, Pipoca era uma gata intocável, prestes a morrer de micoplasmose (anemia causada pela picada de pulga contaminada por um parasita), com a creatinina alterada. E eu enfrentava o dilema de enfiar os 28 dias de remédio goela abaixo, para os rins colapsarem e não ter permitido a ela um finzinho de vida boa.
Esse "finzinho" já dura 11 anos, a maior sobrevida que conheço de um animal com doença renal — caçando passarinho! Na quarta-feira passada, porém, recebi a confirmação de outro diagnóstico angustiante: a demora na recuperação da última crise de vômitos, com desidratação e letargia, associada a sintomas respiratórios (secreção no nariz e rangido no peito) e zero grama de peso perdido, se devia a um derrame (ou efusão) pleural.
Precisei pagar um veterinário da cidade para vir aqui em casa, que me obrigou a trazer também uma equipe de raio-x porque, sem tosse, todo mundo considerava a hipótese pessimista. Acontece que vi minha mãe dormir sentada várias noites antes de sucumbir à última internação, justamente por derrame pleural — no caso dela, desdobramento do câncer.
E diferente dos humanos, os gatos não entendem a drenagem. Pipoca ainda tem suspeita de ser cardiopata, porque ficou roxa com a simples tentativa de coleta sangue, fato que já havia ocorrido em 2018, quando desisti de monitorar a evolução renal — o raio-x esclareceria, se o líquido não estivesse cobrindo o coração. E seus 16 anos tornam a anestesia um risco ainda maior.
Me toquei que não expliquei o que é derrame pleural, né? Entre os pulmões e a caixa torácica existe uma membrana chamada pleura, recheada de líquido para reduzir o atrito enquanto a gente respira. Quando acumula líquido demais nessa região, por causas variadas e de tipos diferentes também, dificultando a respiração, o pessoal do jaleco branco chama de derrame pleural.
Além do suposto problema no coração (e da doença renal), o vet não descarta a possibilidade de FeLV (leucemia felina), que sempre aparece no fim de vida dos bigodes de Gatoca — adotados numa época em que não se testava e cujo resultado do Mercv, no ano passado, deu negativo. Só que nunca saberemos porque, dessa vez, decidi não fazer o procedimento.
Não acho justo que a última lembrança da pequena seja o terror de um lugar estranho, com gente desconhecida, depois de uma viagem interminável de carro — não tem hospital veterinário em Araçoiaba da Serra. E, mesmo que ela sobreviva, em alguns pacientes o líquido volta a descompensar na semana seguinte.
Existe a chance inversa também, de o corpo reabsorver sozinho, mas o vet duvida que dê tempo. Ele não sabe que Pipoca é uma boa vivedora. E está sendo cuidada por mim e pela Jujuba, enquanto puder aproveitar.
Esse "finzinho" já dura 11 anos, a maior sobrevida que conheço de um animal com doença renal — caçando passarinho! Na quarta-feira passada, porém, recebi a confirmação de outro diagnóstico angustiante: a demora na recuperação da última crise de vômitos, com desidratação e letargia, associada a sintomas respiratórios (secreção no nariz e rangido no peito) e zero grama de peso perdido, se devia a um derrame (ou efusão) pleural.
Precisei pagar um veterinário da cidade para vir aqui em casa, que me obrigou a trazer também uma equipe de raio-x porque, sem tosse, todo mundo considerava a hipótese pessimista. Acontece que vi minha mãe dormir sentada várias noites antes de sucumbir à última internação, justamente por derrame pleural — no caso dela, desdobramento do câncer.
E diferente dos humanos, os gatos não entendem a drenagem. Pipoca ainda tem suspeita de ser cardiopata, porque ficou roxa com a simples tentativa de coleta sangue, fato que já havia ocorrido em 2018, quando desisti de monitorar a evolução renal — o raio-x esclareceria, se o líquido não estivesse cobrindo o coração. E seus 16 anos tornam a anestesia um risco ainda maior.
Me toquei que não expliquei o que é derrame pleural, né? Entre os pulmões e a caixa torácica existe uma membrana chamada pleura, recheada de líquido para reduzir o atrito enquanto a gente respira. Quando acumula líquido demais nessa região, por causas variadas e de tipos diferentes também, dificultando a respiração, o pessoal do jaleco branco chama de derrame pleural.
Além do suposto problema no coração (e da doença renal), o vet não descarta a possibilidade de FeLV (leucemia felina), que sempre aparece no fim de vida dos bigodes de Gatoca — adotados numa época em que não se testava e cujo resultado do Mercv, no ano passado, deu negativo. Só que nunca saberemos porque, dessa vez, decidi não fazer o procedimento.
Não acho justo que a última lembrança da pequena seja o terror de um lugar estranho, com gente desconhecida, depois de uma viagem interminável de carro — não tem hospital veterinário em Araçoiaba da Serra. E, mesmo que ela sobreviva, em alguns pacientes o líquido volta a descompensar na semana seguinte.
Existe a chance inversa também, de o corpo reabsorver sozinho, mas o vet duvida que dê tempo. Ele não sabe que Pipoca é uma boa vivedora. E está sendo cuidada por mim e pela Jujuba, enquanto puder aproveitar.
26.4.23
Vale arriscar ração de peixe para gato?
Nestes 17 anos e meio de Gatoca, eu testei até ração vegana com os bigodes — que eles nem se dignaram a cheirar, sejamos honestos. Mas das versões de peixe sempre acabava desistindo, porque é o sabor menos festejado em latinhas, patês e sachês por aqui. Sem contar que frango custa bem mais barato — mesmo super premium, economia futura de veterinário.
Acontece que minhas estratégias para fazer seis gatas renais de 16 anos (Chocolate com 16 e meio) comerem se esgotaram — e elas incluíam colocar punhados de grãozinhos no chão, abaixando e levantando umas cinco vezes per capita. Todas as economias, então, foram gastas no pacote de salmão com melão, combinação deveras duvidosa.
Humor ácido com spoiler, porque à noite nenhuma foto fica boa
E, surpreendentemente, as meninas amaram — sei que não se deve dar ração normal para animais renais e que a doença surge justamente por falta de umidade na alimentação. Quem montou o cardápio da gangue foi uma vet nutróloga e ele conta com renal seca disponível o dia inteiro, normal só um tico à noite para não faltar proteína e Pet Delícia de manhã (com repetecos), mais oito tipos de bebedouros e seringadas de água.
Rações à base de peixes azuis, como atum, sardinha e salmão, ainda deixam a pele dos bichanos mais saudável (descamando menos), além de reduzirem a queda de pelos. E a afirmação é do veterinário Carlos Gutierrez, do canal Mascotas y Familias Felices, porque eu mesma não ganhei um centavo pela propaganda. rs
Acontece que minhas estratégias para fazer seis gatas renais de 16 anos (Chocolate com 16 e meio) comerem se esgotaram — e elas incluíam colocar punhados de grãozinhos no chão, abaixando e levantando umas cinco vezes per capita. Todas as economias, então, foram gastas no pacote de salmão com melão, combinação deveras duvidosa.
Humor ácido com spoiler, porque à noite nenhuma foto fica boa
E, surpreendentemente, as meninas amaram — sei que não se deve dar ração normal para animais renais e que a doença surge justamente por falta de umidade na alimentação. Quem montou o cardápio da gangue foi uma vet nutróloga e ele conta com renal seca disponível o dia inteiro, normal só um tico à noite para não faltar proteína e Pet Delícia de manhã (com repetecos), mais oito tipos de bebedouros e seringadas de água.
Rações à base de peixes azuis, como atum, sardinha e salmão, ainda deixam a pele dos bichanos mais saudável (descamando menos), além de reduzirem a queda de pelos. E a afirmação é do veterinário Carlos Gutierrez, do canal Mascotas y Familias Felices, porque eu mesma não ganhei um centavo pela propaganda. rs
21.4.23
Alerta: unha de gato pode entrar nas almofadinhas!
Pare o que estiver fazendo agora e olhe as garras do seu gato, principalmente se ele for idoso. Com a preguiça em afiar, elas seguem crescendo curvas e podem entrar nas almofadinhas, provocando inflamação e dor ao caminhar. Mercv e Guda começaram a apresentar esse problema com a idade e eu resolvia cortando uma vez por mês — embora os veterinários recomendem a cada duas semanas.
Existe cortador específico (o nosso não serve) e vários vídeos na internet ensinam como pressionar a patinha para as unhas saírem. Mas já adianto que a maioria dos bichanos não gosta, então cada família tem seu truque — o meu é um misto de paciência, amor e firmeza (a dica de aproveitar a hora da soneca não rola aqui). Conte o seu nos comentários!
E só se corta a pontinha, branca, tomando o cuidado de não pegar a veia, parte rosada da base. Recompensas ao final são sempre bem-vindas, como carinho, petiscos, escovação — para os peludos que gostam, claro. Se a garra já estiver dentro da almofadinha, melhor levar ao vet.
Vale enfatizar que as unhas ajudam no equilíbrio e na mobilidade do animal, incluindo os atos de pular e escalar, portanto, não devem ser extraídas (onicectomia) de forma alguma — sem contar que isso é proibido no Brasil, desde 2008, pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Se você não curte a customização do sofá, invista em enriquecimento ambiental.
Existe cortador específico (o nosso não serve) e vários vídeos na internet ensinam como pressionar a patinha para as unhas saírem. Mas já adianto que a maioria dos bichanos não gosta, então cada família tem seu truque — o meu é um misto de paciência, amor e firmeza (a dica de aproveitar a hora da soneca não rola aqui). Conte o seu nos comentários!
E só se corta a pontinha, branca, tomando o cuidado de não pegar a veia, parte rosada da base. Recompensas ao final são sempre bem-vindas, como carinho, petiscos, escovação — para os peludos que gostam, claro. Se a garra já estiver dentro da almofadinha, melhor levar ao vet.
Vale enfatizar que as unhas ajudam no equilíbrio e na mobilidade do animal, incluindo os atos de pular e escalar, portanto, não devem ser extraídas (onicectomia) de forma alguma — sem contar que isso é proibido no Brasil, desde 2008, pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Se você não curte a customização do sofá, invista em enriquecimento ambiental.
20.4.23
Comprei a primeira caminha para gato, 17 anos depois
Eu aprendi a ser gateira com o carro andando — 18 anos atrás, sequer simpatizava com animais! Isso quer dizer que não faltou improviso em Gatoca. E o mais duradouro deles foi a caminha. Primeiro, a gangue se dividia entre as camas de solteiro da nossa casa antiga, três irmãos sem pais. Para o apertamento de São Bernardo, Tati Pagamisse doou os encostos de seu sofá, que viraram almofadões, perfeitos para acolher dez gatos.
Aí, em Sorocaba, conquistamos nosso próprio sofá, doado pela minha prima Miriam. Chocolate teve, ainda, o travesseiro de joaninha de uma ex-chefe, presente para mim, na verdade, por causa do recheio de camomila — repaginado à la Tim Burton. E a cestinha que Leo havia comprado para enterrar a Clara, sem sucesso.
Sempre que alguém comentava sobre a tal da cama nuvem no grupo de apoiadores, a alergia gritava — junto com a praticidade capricorniana e a conta bancária de jornalista freelancer. Acontece que três mortes em um ano e meio nos dão outra perspectiva sobre a vida. E decidi testar com a Chocolate, que sente mais frio por causa da idade (16 anos e meio) e porque não dorme no grupinho.
Escolhi de propósito um modelo em que só cabe a gata-anã, com o preço justo da gringa, lavável na máquina. E me surpreendi: a pelúcia esbanja maciez e o tecido limpa fácil com paninho molhado, mesmo não sendo impermeável — só posso afirmar isso porque, quatro dias depois, ela teve uma diarreia nunca dantes vista.
De diva a doce, toda vez que passo pela lavanderia, a criatura está em uma pose diferente.
E nem a maria-fedida resistiu — não me perguntem se isso é ovo ou cocô.
Aí, em Sorocaba, conquistamos nosso próprio sofá, doado pela minha prima Miriam. Chocolate teve, ainda, o travesseiro de joaninha de uma ex-chefe, presente para mim, na verdade, por causa do recheio de camomila — repaginado à la Tim Burton. E a cestinha que Leo havia comprado para enterrar a Clara, sem sucesso.
Sempre que alguém comentava sobre a tal da cama nuvem no grupo de apoiadores, a alergia gritava — junto com a praticidade capricorniana e a conta bancária de jornalista freelancer. Acontece que três mortes em um ano e meio nos dão outra perspectiva sobre a vida. E decidi testar com a Chocolate, que sente mais frio por causa da idade (16 anos e meio) e porque não dorme no grupinho.
Escolhi de propósito um modelo em que só cabe a gata-anã, com o preço justo da gringa, lavável na máquina. E me surpreendi: a pelúcia esbanja maciez e o tecido limpa fácil com paninho molhado, mesmo não sendo impermeável — só posso afirmar isso porque, quatro dias depois, ela teve uma diarreia nunca dantes vista.
De diva a doce, toda vez que passo pela lavanderia, a criatura está em uma pose diferente.
E nem a maria-fedida resistiu — não me perguntem se isso é ovo ou cocô.
14.4.23
Conheça sua maquininha de matar: audição | EG #18
Não, não é para ouvir a gente reclamando do sofá arranhado ou fofocar com os irmãos que os gatos têm uma superaudição. A maioria de suas características está relacionada à detecção de presas, tornando-a uma ferramenta tão importante para a caça quanto o tato e a visão.
Imaginem uma faixa de 10,5 oitavas, a mais ampla dos carnívoros. E, embora guardemos capacidade semelhante no extremo mais grave da escala, os bichanos conseguem escutar sons muito mais agudos, comoa cigar box guitar que Leo fez para brincar com a Catarina os guinchos de um rato — cerca de 1,6 oitava acima do nosso limite.
Isso porque o ouvido externo dos peludos aumenta as frequências, além de possuir o formato ideal para canalizar sons mais difíceis de identificar para o canal auditivo.
E a habilidade de movimentar as orelhas independentemente? Vocês já pararam para pensar nas vantagens? Não importa se for de presa, predador ou filhote em busca da mãe, eles rastreiam com precisão a origem de um barulho. E, girando cada orelha em quase 180 graus, também percebem aproximações por trás.
Fisiologia e anatomia esmiuçadas, no próximo capítulo desta série inspirada em O Encantador de Gatos, livro do Jackson Galaxy, analisaremos como e o que nossas maquininhas de matar favoritas costumam caçar na natureza.
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes quase 16 anos de projeto. ❤)
CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)
Imaginem uma faixa de 10,5 oitavas, a mais ampla dos carnívoros. E, embora guardemos capacidade semelhante no extremo mais grave da escala, os bichanos conseguem escutar sons muito mais agudos, como
Isso porque o ouvido externo dos peludos aumenta as frequências, além de possuir o formato ideal para canalizar sons mais difíceis de identificar para o canal auditivo.
E a habilidade de movimentar as orelhas independentemente? Vocês já pararam para pensar nas vantagens? Não importa se for de presa, predador ou filhote em busca da mãe, eles rastreiam com precisão a origem de um barulho. E, girando cada orelha em quase 180 graus, também percebem aproximações por trás.
Fisiologia e anatomia esmiuçadas, no próximo capítulo desta série inspirada em O Encantador de Gatos, livro do Jackson Galaxy, analisaremos como e o que nossas maquininhas de matar favoritas costumam caçar na natureza.
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes quase 16 anos de projeto. ❤)
CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)
10.4.23
Segundo aniversário sem Clara, depois do caos
Clara Luz teve um luto inteiro contado em girassóis, exaustivamente compartilhado por aqui. Mas seu primeiro aniversário-sem-aniversariante acabou encoberto pelos cuidados com Mercv e Guda, que também secaram — ele no outono de 2022, ela neste de 2023.
Hoje, quando me deparei com a data no calendário, senti um misto de saudade e surpresa. Nossa despedida (e o pesadelo do carcinoma, o colar elisabetano, as larvas) parece tão distante. A ciência diz que amenizar sofrimentos intensos é uma estratégia do cérebro para que a gente aceite passar por tudo de novo — e sobra "de novo" em Gatoca.
Por hora, no entanto, escolho lembrar da retalhinha me fazendo companhia durante a ioga, em um terreno que não tinha plantas nem gatil, mas já mostrava seu potencial.
Hoje, quando me deparei com a data no calendário, senti um misto de saudade e surpresa. Nossa despedida (e o pesadelo do carcinoma, o colar elisabetano, as larvas) parece tão distante. A ciência diz que amenizar sofrimentos intensos é uma estratégia do cérebro para que a gente aceite passar por tudo de novo — e sobra "de novo" em Gatoca.
Por hora, no entanto, escolho lembrar da retalhinha me fazendo companhia durante a ioga, em um terreno que não tinha plantas nem gatil, mas já mostrava seu potencial.
7.4.23
Quando e como usar fralda em gato
Atualizado em 27 de setembro, às 20h01
Desde que a Clara morreu, adio este post. Não queria reviver a despedida, logo Mercv adoeceu e partiu também, aí chegou a vez da Guda e lá estava o dilema da fraldinha de novo. Antes de entrar na rotina intensiva de cuidados do próximo gato (16 anos as mais novas!), fiz então um esforço para que a experiência acumulada ajude outros animais.
A primeira coisa que a gente deve avaliar é se o bicho realmente precisa de fralda. Digo isso porque os pelos dificultam a limpeza e manter a região constantemente abafada pode causar assadura, problemas de pele e até infecções, pelo contato com a urina e as fezes.
Aqui, talvez caiba um alerta: escrevo sobre e para gatos doentes. Xixi fora da caixa a gente resolve com checap veterinário, enriquecimento ambiental e, dependendo do caso, consultoria comportamental.
Voltando... Se o bichano consegue ir ao banheiro, mas tem escapes, funciona melhor blindar seus lugares favoritos — a gente forrou com papelão as caixas e nichos de madeira, estruturados, e cobriu com tapete higiênico os almofadões e a cadeira do escritório, para não passar nada para o recheio (assim os gastos se diluem).
A estratégia também vale para aquele estágio em que o peludo não sai mais muito do lugar. Por exclusão, a fralda fica para as outras situações, embora eu confesse ter usado apenas nas madrugadas, já que trabalho em casa, assombrada pela lembrança do Simba deitado na poça gelada de xixi, depois de conseguir se arrastar para fora da caminha com tapete higiênico.
Optando pela fraldinha, enfim, estas dicas facilitarão o processo:
Compre a versão RN
Sim, a de recém-nascidos humanos custa bem mais barato do que as de pet.
Faça um furo para o rabo
Basta medir antes de cortar, usando uma tesoura comum, e deixar sempre uma fralda de modelo para a próxima — só tome cuidado para não alargar demais, provocando vazamentos, ou de menos, dificultando a passagem do rabo até o final.
Ajeite o babado
Ele deve ficar acima da dobra da coxa e estar todo virado para fora, garantindo a secura do seu amigo — nas primeiras vezes é complicado mesmo, porque os polvos costumam encolher as patas.
Reforce com fita crepe
Magrelos podem precisar de ajuste extra.
Tire com atenção
Principalmente nos casos de diarreia — dá vontade de chorar quando ela vai lambuzando o rabo até a ponta.
Limpe o gato de acordo com a ocasião
Se foi só um xixizinho, vai de lenço umedecido (específico para pets!). Estragos maiores demandam pano, água morna e sabonete líquido neutro — Adrina Barth sugeriu este rolo no nosso grupo de apoiadores, que eu não precisava ficar esfregando no tanque, de madrugada, com 0ºC.
Tenha um secador de emergência
Ele serve tanto para pelos molhados, em dias muito frios (já que os bichanos se assustam com o barulho), quanto para eventuais carimbadas em camas e sofás.
Apele à tosa higiênica
Aparar os fundilhos de animais muito peludos pode ser uma boa. Leo até tem barbeador elétrico, mas não testamos porque o estresse superaria os benefícios — e levar bicho morrendo em pet shop não faz sentido, né?
Desde que a Clara morreu, adio este post. Não queria reviver a despedida, logo Mercv adoeceu e partiu também, aí chegou a vez da Guda e lá estava o dilema da fraldinha de novo. Antes de entrar na rotina intensiva de cuidados do próximo gato (16 anos as mais novas!), fiz então um esforço para que a experiência acumulada ajude outros animais.
A primeira coisa que a gente deve avaliar é se o bicho realmente precisa de fralda. Digo isso porque os pelos dificultam a limpeza e manter a região constantemente abafada pode causar assadura, problemas de pele e até infecções, pelo contato com a urina e as fezes.
Aqui, talvez caiba um alerta: escrevo sobre e para gatos doentes. Xixi fora da caixa a gente resolve com checap veterinário, enriquecimento ambiental e, dependendo do caso, consultoria comportamental.
Voltando... Se o bichano consegue ir ao banheiro, mas tem escapes, funciona melhor blindar seus lugares favoritos — a gente forrou com papelão as caixas e nichos de madeira, estruturados, e cobriu com tapete higiênico os almofadões e a cadeira do escritório, para não passar nada para o recheio (assim os gastos se diluem).
A estratégia também vale para aquele estágio em que o peludo não sai mais muito do lugar. Por exclusão, a fralda fica para as outras situações, embora eu confesse ter usado apenas nas madrugadas, já que trabalho em casa, assombrada pela lembrança do Simba deitado na poça gelada de xixi, depois de conseguir se arrastar para fora da caminha com tapete higiênico.
Optando pela fraldinha, enfim, estas dicas facilitarão o processo:
Compre a versão RN
Sim, a de recém-nascidos humanos custa bem mais barato do que as de pet.
Faça um furo para o rabo
Basta medir antes de cortar, usando uma tesoura comum, e deixar sempre uma fralda de modelo para a próxima — só tome cuidado para não alargar demais, provocando vazamentos, ou de menos, dificultando a passagem do rabo até o final.
Ajeite o babado
Ele deve ficar acima da dobra da coxa e estar todo virado para fora, garantindo a secura do seu amigo — nas primeiras vezes é complicado mesmo, porque os polvos costumam encolher as patas.
Reforce com fita crepe
Magrelos podem precisar de ajuste extra.
Tire com atenção
Principalmente nos casos de diarreia — dá vontade de chorar quando ela vai lambuzando o rabo até a ponta.
Limpe o gato de acordo com a ocasião
Se foi só um xixizinho, vai de lenço umedecido (específico para pets!). Estragos maiores demandam pano, água morna e sabonete líquido neutro — Adrina Barth sugeriu este rolo no nosso grupo de apoiadores, que eu não precisava ficar esfregando no tanque, de madrugada, com 0ºC.
Tenha um secador de emergência
Ele serve tanto para pelos molhados, em dias muito frios (já que os bichanos se assustam com o barulho), quanto para eventuais carimbadas em camas e sofás.
Apele à tosa higiênica
Aparar os fundilhos de animais muito peludos pode ser uma boa. Leo até tem barbeador elétrico, mas não testamos porque o estresse superaria os benefícios — e levar bicho morrendo em pet shop não faz sentido, né?
5.4.23
Prioridades e por que o Gatoca ficou fora do ar
Capricorniano é bicho avesso a mudanças. Isso quer dizer que eu me seguro no penhasco quentinho até a vida soltar aquele último dedo e as atualizações acumuladas vêm todas ao mesmo tempo — tipo ser demitida de um trabalho desgastado e tomar um pé na bunda daquele amor que funciona melhor como amizade, enquanto a mãe perde uma longa batalha contra o câncer no hospital.
Já fazia tempo, aliás, que pensava em migrar o Gatoca de servidor para ter mais autonomia (e suporte em português) — sem soar ingrata pelo puxadinho que nos abrigou por mais de uma década. Mas nunca era o momento de enfrentar a resistência tecnológica. E o ultimato chegou por um descompasso de humores, bem no processo de despedida da Guda.
Em outros tempos, eu adoeceria tentando administrar tudo. Seis mortes humanas e felinas depois, aprendi a ficar com os seres (enquanto) animados.
Michele Strohschein já havia indicado um serviço bacana de hospedagem, Danilo Régis ajudou na transferência de última hora dos arquivos enroscados (santo backup!), Leo assumiu as correrias outras. Mas não deu tempo. E o blog passou boa parte do sábado fora do ar, enterrando o post de aniversário da mudança para Araçoiaba e o boletim mensal.
Prioridades.
Na sexta-feira, tem outro post. No dia 29, mais um boletim. No ano que vem, a terceira comemoração de casa (semi)nova.
Guda não.
Já fazia tempo, aliás, que pensava em migrar o Gatoca de servidor para ter mais autonomia (e suporte em português) — sem soar ingrata pelo puxadinho que nos abrigou por mais de uma década. Mas nunca era o momento de enfrentar a resistência tecnológica. E o ultimato chegou por um descompasso de humores, bem no processo de despedida da Guda.
Em outros tempos, eu adoeceria tentando administrar tudo. Seis mortes humanas e felinas depois, aprendi a ficar com os seres (enquanto) animados.
Michele Strohschein já havia indicado um serviço bacana de hospedagem, Danilo Régis ajudou na transferência de última hora dos arquivos enroscados (santo backup!), Leo assumiu as correrias outras. Mas não deu tempo. E o blog passou boa parte do sábado fora do ar, enterrando o post de aniversário da mudança para Araçoiaba e o boletim mensal.
Prioridades.
Na sexta-feira, tem outro post. No dia 29, mais um boletim. No ano que vem, a terceira comemoração de casa (semi)nova.
Guda não.
31.3.23
2 anos de casa nova, menos 3 gatos
Eu sei que escolhi vir morar no interiorrr para os bigodes terem de volta um gramadinho no fim da vida — que acabou virando gramadão. E que gatos de 15 e 16 anos não atravessariam uma década. Mas sou de humanas, deem um desconto pelas linhas salgadas. Entre os cuidados com a Clara, o Mercv e a Guda, sobrou pouco tempo para curtir.
Continuamos, inclusive, sem porta no banheiro — existe estresse pós-traumático de obra? Até paguei por um toldo contra o alagamento da lavanderia, só que o gênio instalou um modelo que vaza água quando chove, deixa a casa escura nos dias de sol e faz barulho com o vento. Talvez, meta uma cortina de miçangas entre a privada e o quarto.
Já as plantas não podem reclamar: cresceram quase tanto quanto o mato, floriram de todas as formas, renderam caipirinha, moqueca, cupcake. E a gangue também aproveitou — o gatil improvisado, o gatil oficial, as escapadas do gatil (privilégio de quem não conseguiria mais alcançar a rua).
Ainda restam seis.
Decidi embrulhar o passado em contact e acquablock para recomeçar com outras cores. Mas pega leve, Universo!
Continuamos, inclusive, sem porta no banheiro — existe estresse pós-traumático de obra? Até paguei por um toldo contra o alagamento da lavanderia, só que o gênio instalou um modelo que vaza água quando chove, deixa a casa escura nos dias de sol e faz barulho com o vento. Talvez, meta uma cortina de miçangas entre a privada e o quarto.
Já as plantas não podem reclamar: cresceram quase tanto quanto o mato, floriram de todas as formas, renderam caipirinha, moqueca, cupcake. E a gangue também aproveitou — o gatil improvisado, o gatil oficial, as escapadas do gatil (privilégio de quem não conseguiria mais alcançar a rua).
Ainda restam seis.
Decidi embrulhar o passado em contact e acquablock para recomeçar com outras cores. Mas pega leve, Universo!
23.3.23
Saudade
Você foi o golpe da barriga mais bem-sucedido do universo felino. Quando dona Jane, a vizinha que passou anos odiando nossa infância (e seus barulhos), tocou a campainha de casa, em maio de 2007, eu não sabia disso. Achei, na verdade, que viria reclamação. Eis que você apareceu ostentando a pança que viraria apelido e daria forma ao Gatoca — porque contar a história de quatro gatos não tem o mesmo apelo de uma dezena, né?
Preciso confessar, aliás, que pretendia doar todo mundo — quem consegue cuidar de dez bichos? Depois, só a ninhada. E aqui entra a engenhosidade do golpe: você fez as meninas mamarem até os 2 anos! Aos 6 meses, vamos combinar, a situação já era ridícula. Pimenta nem coube!
E toda noite, pontualmente às 21h, você roubava um ímã do meu mural de fotos, fazia um miado engraçado e as cinco vinham jogar hockey. Contei essa história na Folha de S.Paulo, lembra? Uma sexta-feira em que o blog superou os acessos acumulados desde a criação, seis meses antes.
Só um monstro separaria essa família — que seu coração, tão grande quanto os bigodes, compartilhou gentilmente conosco.
Como minha mãe morreu muito cedo e a gente não se toca da importância do que está vivendo enquanto se está vivendo, foi você quem se tornou meu exemplo de maternidade. Mesmo quando as Gudinhas já não queriam mais ficar tão grudinhas, você apoiou — do seu jeito, no tempo delas.
E me fazia pensar quem zelaria por ti no final — Simba teve Clara, Clara teve Mercv, Mercv teve você. A resposta refletia no espelho. Mas ainda não estou pronta para terminar esta despedida.
Quero falar antes de como você recebia todas as visitas com esfregadas, personalidade oposta à das filhotas ariscas, e tentou sem sucesso ser amiga da Chocolate — que inventou o conceito de arqui-inimigo platônico. Da sua obsessão por pão francês. Dos carinhos de pé que amava ganhar feito pano de chão — só que impecavelmente branco, macio e cheiroso (até o fim, exceto pelo bafo, sorry).
Das bolinhas petelecadas, quando ninguém mais topava brincar junto (1 e 2) — sempre me chama a atenção constatar o lado não-mãe das mães. E da generosidade de deixar o luto de maio do ano passado exclusivo para o Mercv.
Nesses dez meses, a doença renal avançou, a cistite rendeu dois episódios, o nariz nunca mais desencatarrou. E ao quadro delicado ainda se juntaram sintomas neurológicos — tipo fingir coma enquanto dorme. Fica difícil identificar o que te fez parar de comer de vez.
Mas cada rodada de patê na seringa era compensada, para nós duas, com passeios úmidos pelo jardim, roladinhas sem pressa no gramado, cafuné com ronrom. Até comecei a ler O Homem Que Morreu Duas Vezes, mas você se enfiava na lama embaixo do contêiner e só deu para embalar mesmo quando terminamos na cama.
Não era para ser assim. No meu roteiro, a gente teria espreguiçadeiras. E você, baiana de tudo, seguiria apagando como uma velinha — já contava com essa possibilidade desde janeiro. Quem sabe morreria sonhando, por que não? Na última semana, porém, rolou um plot twist e os três últimos dias dispensam bilheteria.
Simba partiu quando não conseguiu mais chegar ao banheiro para fazer xixi, Clara quando não conseguiu mais comer o patê de colher, Mercv quando não conseguiu mais curtir o meu colo. Você já tinha perdido tudo, parecia que entregaria os pontos e, do nada, tirava forças para mais um miado, uma caminhada bamba, um solzinho no gatil.
Senti que não queria ir. Era por causa das meninas, Guda? Na primeira noite em que te levei prostrada para o quarto (sim, diferente dos outros gatos, você dormiu mais de uma noite no quarto, fato inédito por causa da alergia... a gatos), você se materializou em frente à porta, deixando claro que não ficaria.
Na terça-feira, seu balde de faxina favorito para beber água velha amanheceu quebrado e ninguém sabe dizer como. Depois, a assadeira refratária de vidro explodiu no forno com o nosso almoço — Nadir Figueiredo destacando em vinho a tecnologia contrária ao feito. E eu completei quatro quilos perdidos — nada, em comparação aos seus 1,65 kg finais.
Ontem, perguntei para o Leo se a Clara ainda estava nos almofadões. Provavelmente exausta pelas madrugadas em claro, mas quero acreditar que era ela te acompanhando na partida. E você foi. Às 4h55 de hoje, depois de cair (será?) da escultura moderna de travesseirinhos com que tentei melhorar sua respiração, de rosto colado ao meu.
A lembrança mais agridoce que se pode ter de um despertar.
Fica tranquila que cuidarei das tranqueiras — aprendi com a melhor. Em dois meses, elas farão 16 anos! E você fará uma falta danada.
Preciso confessar, aliás, que pretendia doar todo mundo — quem consegue cuidar de dez bichos? Depois, só a ninhada. E aqui entra a engenhosidade do golpe: você fez as meninas mamarem até os 2 anos! Aos 6 meses, vamos combinar, a situação já era ridícula. Pimenta nem coube!
E toda noite, pontualmente às 21h, você roubava um ímã do meu mural de fotos, fazia um miado engraçado e as cinco vinham jogar hockey. Contei essa história na Folha de S.Paulo, lembra? Uma sexta-feira em que o blog superou os acessos acumulados desde a criação, seis meses antes.
Só um monstro separaria essa família — que seu coração, tão grande quanto os bigodes, compartilhou gentilmente conosco.
Como minha mãe morreu muito cedo e a gente não se toca da importância do que está vivendo enquanto se está vivendo, foi você quem se tornou meu exemplo de maternidade. Mesmo quando as Gudinhas já não queriam mais ficar tão grudinhas, você apoiou — do seu jeito, no tempo delas.
E me fazia pensar quem zelaria por ti no final — Simba teve Clara, Clara teve Mercv, Mercv teve você. A resposta refletia no espelho. Mas ainda não estou pronta para terminar esta despedida.
Quero falar antes de como você recebia todas as visitas com esfregadas, personalidade oposta à das filhotas ariscas, e tentou sem sucesso ser amiga da Chocolate — que inventou o conceito de arqui-inimigo platônico. Da sua obsessão por pão francês. Dos carinhos de pé que amava ganhar feito pano de chão — só que impecavelmente branco, macio e cheiroso (até o fim, exceto pelo bafo, sorry).
Das bolinhas petelecadas, quando ninguém mais topava brincar junto (1 e 2) — sempre me chama a atenção constatar o lado não-mãe das mães. E da generosidade de deixar o luto de maio do ano passado exclusivo para o Mercv.
Nesses dez meses, a doença renal avançou, a cistite rendeu dois episódios, o nariz nunca mais desencatarrou. E ao quadro delicado ainda se juntaram sintomas neurológicos — tipo fingir coma enquanto dorme. Fica difícil identificar o que te fez parar de comer de vez.
Mas cada rodada de patê na seringa era compensada, para nós duas, com passeios úmidos pelo jardim, roladinhas sem pressa no gramado, cafuné com ronrom. Até comecei a ler O Homem Que Morreu Duas Vezes, mas você se enfiava na lama embaixo do contêiner e só deu para embalar mesmo quando terminamos na cama.
Não era para ser assim. No meu roteiro, a gente teria espreguiçadeiras. E você, baiana de tudo, seguiria apagando como uma velinha — já contava com essa possibilidade desde janeiro. Quem sabe morreria sonhando, por que não? Na última semana, porém, rolou um plot twist e os três últimos dias dispensam bilheteria.
Simba partiu quando não conseguiu mais chegar ao banheiro para fazer xixi, Clara quando não conseguiu mais comer o patê de colher, Mercv quando não conseguiu mais curtir o meu colo. Você já tinha perdido tudo, parecia que entregaria os pontos e, do nada, tirava forças para mais um miado, uma caminhada bamba, um solzinho no gatil.
Senti que não queria ir. Era por causa das meninas, Guda? Na primeira noite em que te levei prostrada para o quarto (sim, diferente dos outros gatos, você dormiu mais de uma noite no quarto, fato inédito por causa da alergia... a gatos), você se materializou em frente à porta, deixando claro que não ficaria.
Na terça-feira, seu balde de faxina favorito para beber água velha amanheceu quebrado e ninguém sabe dizer como. Depois, a assadeira refratária de vidro explodiu no forno com o nosso almoço — Nadir Figueiredo destacando em vinho a tecnologia contrária ao feito. E eu completei quatro quilos perdidos — nada, em comparação aos seus 1,65 kg finais.
Ontem, perguntei para o Leo se a Clara ainda estava nos almofadões. Provavelmente exausta pelas madrugadas em claro, mas quero acreditar que era ela te acompanhando na partida. E você foi. Às 4h55 de hoje, depois de cair (será?) da escultura moderna de travesseirinhos com que tentei melhorar sua respiração, de rosto colado ao meu.
A lembrança mais agridoce que se pode ter de um despertar.
Fica tranquila que cuidarei das tranqueiras — aprendi com a melhor. Em dois meses, elas farão 16 anos! E você fará uma falta danada.
Categorias:
Guda,
Gudinhas,
Vale a pena ler de novo
17.3.23
Gatos, por Salvador Dalí
Escorridos, desencaixados, inusitados, eles protagonizam cenas bizarras e oníricas, com invejável qualidade plástica.
Rosa Meditativa
Metamorfose de Narciso
A Persistência da Memória
Natureza-Morta Viva
A Desintegração da Persistência da Memória
Rosa Meditativa
Metamorfose de Narciso
A Persistência da Memória
Natureza-Morta Viva
A Desintegração da Persistência da Memória
15.3.23
Gatas no feminino: um desafio
Gatoca sempre foi um matriarcado, com duas participações masculinas especiais: Simba, mais gata do que a Clara, e Mercvrivs, um frajola não-binário antes de o termo render discussões intermináveis no Twitter. Mas, como vivemos em uma sociedade patriarcal, eles dominaram o gênero do recinto por quase 17 anos.
Acontece que faz dez meses que Mercv, o último exemplar de macho da casa, morreu e eu, militante do feminismo, ainda me refiro ao coletivo de peludas empoderadas no masculino.
Pimenta reinando no tronquinho que Leo fez paraeles elas
Em parte, porque é difícil mudar hábitos. Mas também porque significaria mais uma expressão de ausência.
Acontece que faz dez meses que Mercv, o último exemplar de macho da casa, morreu e eu, militante do feminismo, ainda me refiro ao coletivo de peludas empoderadas no masculino.
Pimenta reinando no tronquinho que Leo fez para
Em parte, porque é difícil mudar hábitos. Mas também porque significaria mais uma expressão de ausência.
10.3.23
Conheça sua maquininha de matar: visão | EG #17
"Por que esses olhos tão grandes?", pergunta o rato desavisado. E vocês já sabem a resposta, né? Eles são proporcionalmente maiores do que os nossos (e voltados para frente) justamente porque se tratam de animais predadores. Inclusive respondem melhor a movimentos rápidos. E seu campo visual cobre cerca de 200 graus, contra 150 graus do olho humano. Mas, pasmem, os bichanos não enxergam muito bem de perto. A distância ideal para eles fica entre dois e seis metros.
E, a menos de 30 cm, a presa vira um borrão — aí, quem entra em ação para identificar os detalhes são os bigodes, como expliquei no capítulo anterior desta série, inspirada em O Encantador de Gatos, livro do Jackson Galaxy. Há que se ressaltar, porém, que nossos amigos domesticados tendem à miopia, diferente de seus ancestrais, porque os brinquedinhos com que costumam interagir estão mais próximos.
E o lance de que os peludos não veem cores, procede? Primeiro, vale explicar o funcionamento do olho: a luz passa pela córnea (capinha transparente que ajuda a focar os objetos), entra pela pupila (parte preta no centro da íris, a bolota colorida que controla a quantidade de luz), atravessa o cristalino (que também permite focar os objetos) e é projetada na retina (localizada no fundo do olho), que envia a informação para o cérebro pelo nervo óptico.
Na retina, existem dois tipos de receptores: os bastonetes, especializados em condições de pouca luz, e os cones, melhores na detecção de cores diurnas. Como os gatos possuem três vezes mais bastonetes do que a gente, só que menos cores, até conseguem detectar algumas delas durante o dia, embora não tão proeminentes. Já na penumbra enxergam em preto e branco, mas com muito mais clareza.
No Super Trunfo da caça, nitidez certamente vence o colorido.
Outras curiosidades:
- As pupilas em fresta vertical permitem que os bichanos respondam mais rápido à luz, abrindo e fechando em todas as direções.
- Seus olhos demoram mais para focalizar porque o cristalino é duro. E, quando as pupilas estão retraídas, sob luz intensa, fica ainda mais difícil.
- Enquanto nós, humanos, temos fóvea, um buraquinho na retina especializado em detalhes, os felinos possuem uma "linha visual" que cumpre função semelhante.
- Atrás da retina, eles também possuem células refletoras chamadas tapetum lucidum, que funcionam como lanterna, dando mais poder à visão no escuro — e é por causa delas que, em toda foto com flash que você tira, seu pet sai com olhos brilhantes.
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 15 anos e meio de projeto. ❤)
CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)
E, a menos de 30 cm, a presa vira um borrão — aí, quem entra em ação para identificar os detalhes são os bigodes, como expliquei no capítulo anterior desta série, inspirada em O Encantador de Gatos, livro do Jackson Galaxy. Há que se ressaltar, porém, que nossos amigos domesticados tendem à miopia, diferente de seus ancestrais, porque os brinquedinhos com que costumam interagir estão mais próximos.
E o lance de que os peludos não veem cores, procede? Primeiro, vale explicar o funcionamento do olho: a luz passa pela córnea (capinha transparente que ajuda a focar os objetos), entra pela pupila (parte preta no centro da íris, a bolota colorida que controla a quantidade de luz), atravessa o cristalino (que também permite focar os objetos) e é projetada na retina (localizada no fundo do olho), que envia a informação para o cérebro pelo nervo óptico.
Na retina, existem dois tipos de receptores: os bastonetes, especializados em condições de pouca luz, e os cones, melhores na detecção de cores diurnas. Como os gatos possuem três vezes mais bastonetes do que a gente, só que menos cores, até conseguem detectar algumas delas durante o dia, embora não tão proeminentes. Já na penumbra enxergam em preto e branco, mas com muito mais clareza.
No Super Trunfo da caça, nitidez certamente vence o colorido.
Outras curiosidades:
- As pupilas em fresta vertical permitem que os bichanos respondam mais rápido à luz, abrindo e fechando em todas as direções.
- Seus olhos demoram mais para focalizar porque o cristalino é duro. E, quando as pupilas estão retraídas, sob luz intensa, fica ainda mais difícil.
- Enquanto nós, humanos, temos fóvea, um buraquinho na retina especializado em detalhes, os felinos possuem uma "linha visual" que cumpre função semelhante.
- Atrás da retina, eles também possuem células refletoras chamadas tapetum lucidum, que funcionam como lanterna, dando mais poder à visão no escuro — e é por causa delas que, em toda foto com flash que você tira, seu pet sai com olhos brilhantes.
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 15 anos e meio de projeto. ❤)
CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)
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