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29.12.23

Nossos presentes de Natal, com penetra

Eu já contei aqui que não sou uma adulta natalina ― nem de rituais em geral. Gosto de marcar começos e encerramentos de ciclos, mas de um jeito que faça sentido para mim, não por imposição social. Na infância, inclusive, aproveitava o pacote completo do Natal, com pinheiro natural, presépio decorado, luzinhas na calçada, Papai Noel deixando rastro de brocal, uvas passas herdadas dos panetones alheios.

Depois deste 2023 desafiador, Leo e eu decidimos, então, ficar por aqui mesmo, em Araçoiaba, com lasanha de marmita e a companhia dos gatos sobreviventes ― de volta ao masculino porque Intrú fez questão de participar da ceia da tarde.


Pimenta foi a única que ganhou brinquedo, já que, 16 anos e 7 meses depois, ainda se diverte caçando bichos animados e inanimados. Batizei o ratinho de Topo Gigio, um sonho nunca realizado, pois a Bia criança queria uma versão que falasse e se mexesse sozinha, como a da televisão.


Chocolate curtiu a escovação-cafuné, compatível com seus 17 anos, e os croquetes no parquinho, em que ficou semanas sem conseguir subir por causa da ataxia.


Já Keka não conseguiu aproveitar nem os croquetes nem o parquinho, porque perdeu quase 1 kg desde o ataque do Intrú ― como as irmãs, ela também passou dos 16 anos, avançada na insuficiência renal. Mas compensei comprando uma ração nova, ainda mais cara do que a anterior, pois o céu é o limite para essa gente. E o paladar seletivo da frajola aprovou!


Jujuba teve seus arranhadores horizontais de papelão renovados.


E Intrú ficou com os de segunda mão, como todo irmão mais novo ― a caminha Leo improvisou por causa das noites frias. A ideia é ele acostumar com ela no seu cantinho favorito para depois a gente colocar em um lugar mais protegido.


No sachê especial a criatura nem tocou, preferindo a boa e velha Pet Delícia ― não sem antes me bater (story nos destaques do Instagram). Capacidade de lidar com a frustração: 2, cruzado de esquerda: 10. rs

Ainda rolou o Amigo Secreto de Talentos do Cluboca, nosso grupo de apoiadores, em que presenteei a Adrina com uma radionovela de O Gato e o Diabo, escrito por James Joyce ― foram três dias para gravar a narração (prefeitura asfaltado a rua com caminhões da Idade Média), incluir a trilha sonora e os barulhinhos todos, fotografar e tratar a imagem da Pips.

E da Vanessa ganhei esta ilustra com o Intrú, que ainda procura uma família para poder morar do outro lado da porta de vidro.


Também a versão digital do livro Relatos de um Gato Viajante, de Hiro Arikawa, um vídeo de bigodices e esta mensagem apertável:

Meus presentes são a razão disso aqui existir (de novo Bia!). Separei uma imagem que me fez pensar em você com o Intrú e aquele livro que falei: Relatos de um Gato Viajante. Não só porque os seus viajaram um bocado contigo (SBC, Sorocaba, Araçoiaba) como também porque tanto a vida quanto a passagem para o outro lado são uma viagem, e me conforta pensar que, de vez em quando, tanto nós quanto nossos amados gatinhos viajamos cruzando a fronteira entre os planos para matar a saudade. ❤️

Espero que o festerê por aí tenha tido a cara de vocês. A retrospectiva vai ficar para o ano que vem, quando todo mundo voltar à rotina de pagador de boletos, para compensar a trabalheira. :)

27.12.23

Choco com as patas descoordenadas e ataxia em gatos

Acordar com gatos idosos é sempre uma surpresa: qualquer parte do corpo que estava funcionando perfeitamente no dia anterior pode ficar esquisita e foi exatamente o que aconteceu com a Chocolate no fim do mês passado ― demorei para contar aqui porque queria ver como ela respondia ao tratamento homeopático.



A gente estava almoçando quando notei, com um certo grau de desespero (já imaginando as fraldas e como impedir a ranheta de subir nas coisas) que a pata esquerda da frente entortava durante a caminhada e seguia arrastada, como se estivesse adormecida, enquanto a traseira sobrava esticada ao sentar.


Essa falta de controle sobre as próprias pernas, chamada de ataxia, a fazia desequilibrar, principalmente em superfícies lisas, e se estabacar no chão. Quando arriava, a pequena demorava para conseguir levantar. Travava do nada nos passeios, justo ela, que não tem parada. E nem na caminha deitava direito.


Os veterinários atribuíram o sintoma neurológico à idade avançada, uma espécie de curto-circuito no cérebro, e esperavam retardar a evolução. Mas o que ocorreu foi que a criatura de 17 anos recuperou quase totalmente a coordenação, deixando escapar só de vez em quando esta curvinha charmosa:

20.12.23

Cartinha de um gato excêntrico ao Papai Noel

Querido Papai Noel...

Ok, eu não sou mais filhote para acreditar em idosos obesos que cabem em chaminés, mas resolvi apelar porque Márcia disse que preciso de um milagre ― viu que estou por dentro dos memes das redes sociais?


Tive quatro anos de vida louca na rua: cacei todo tipo de bicho, passei o rodo geral, briguei sem perder um pedacinho sequer das orelhas. Só que estou cansado, sabe? Quando vi que é possível receber cafuné em vez de vassourada, poder comer devagar, sem medo e tomar sol largadão, confesso que tentei roubar essa família.


Outras gatas, porém, chegaram antes de mim. E elas são velhas, renais e apelonas. Acredita que meu clone frajola parou de comer só porque me vê pela porta de vidro? Bom, talvez ela se lembre que eu lhe dei uns sopapos quando invadi o gatil.

Mas não é justo, porque ela continua com a melhor parte! Posso dizer com propriedade, pois consegui entrar no quarto da Márcia esses dias. Precisa ver a cara dela, alérgica a gatos, saindo do chuveiro! Essa, na verdade, foi minha segunda aventura. Na primeira, ela ficou perplexa por me pegar deitado no chão e não na cama. Eu sei lá o que é cama!


Só queria companhia. Sigo a Márcia pelas janelas, mio para chamar a atenção, acontece que, se ela se mexe de um jeito que eu não esperava, lembro de todas as vezes em que me machucaram e o ataque escapa. Pelo menos da última não saiu sangue. Ela comemorou. Eu também, porque posso ganhar mais carinhos ― que faço questão de receber com a boca aberta.


Os xixis de marcação de território já superei. A castração também me tirou a vontade de paquerar as minas e sair na mão com os manés. Mas não me peça para passar a madrugada embaixo do contêiner porque também não virei padre, né? Márcia fica angustiada e fala que minha casa precisará de enriquecimento ambiental.

Ainda tem a tal da FeLV, que sequer entendi e, mesmo assim, diminui minhas chances de recomeçar. O que pode ganhar de patinhas de elefante?


Ah, sim, eu dou prejuízo na ração, não vou mentir. Mas sou um gato de gostos simples ― transformo pedra em travesseiro!


E, quando começa a chover, para aumentar a culpa da Márcia, pisco de um olho só. Me arruma um cover dela? Nunca te pedi nada!

Valeu, falou!

Intrú/Quino

P.S.: Estou publicando stories com frequência do figura no Instagram, todos reunidos nos destaques.


Epopeia do Intruso

:: Como tudo começou
:: Serial killers sempre voltam à cena do crime!
:: Ronrom, ataques e caos
:: Amansando a fera
:: Intruso: 1 sucesso e 2 bombas
:: Um morto muito louco e perdão felino

15.12.23

Gato medroso: faça do esconderijo casulo! | EG #25

Quando um peludo habita verdadeiramente um espaço, mesmo que goste de ficar embaixo da mesa ou no alto da estante, como comentamos no capítulo anterior desta série inspirada em O Encantador de Gatos, livro do Jackson Galaxy, tem uma linguagem corporal relaxada, com as orelhas voltadas para frente, analisando o entorno de forma não vigilante.

Viver sob a cama ou sobre a geladeira, por outro lado, é querer se tornar invisível ― agachar-se não significa conforto, assim como buscar um cantinho protegido não sinaliza confiança. Se o medo for a emoção prevalente, embora comova, a gente não deve encorajar ― levar comida ou banheiro até o esconderijo só fará com que o bichano se sinta ainda menor.

Como resolver, então? Transformando "cavernas" inacessíveis em "casulos" controlados. Tocas, túneis e até caixas de transporte fornecidos por nós como lugares para passar o tempo e evitar o estresse desafiam, em vez de acomodar. E podem, aos poucos, ir para as áreas sociais, integrando as atividades da casa ― o gato fica seguro, sem desaparecer.

E, nessa metamorfose, acaba descobrindo sua versão mais cheia de gatitude.


Sim, eu tentei botar asas na Jujuba


(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 16 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)

8.12.23

Parquinho vertical: como acostumar os gatos (ou não)

Envelhecer com os bigodes tem me feito enxergar o tempo de outra forma ― já escrevi sobre isso algumas vezes, mas neste ano cheguei perto do chefão. As adaptações demoram mais, o corpo não funciona da mesma forma, a gente precisa fazer um esforço ativo para não deixar a curiosidade morrer junto com o resto.

E foi assim que nosso projeto do parquinho vertical completou seis meses ― da obra para isolar e revestir as portas do contêiner à última rodada de croquetes felinos, no domingo. Só que estou me adiantando: a real é que achei que liberaria a entrada no escritório e as gatas de mais de 16 anos se estapeariam para ver quem experimentaria o playground primeiro.


Elas já trepam na estante do corredor, dormem na prateleira mais alta da sala, vira e mexe derrubam a caixa de Pet Delícia do topo da estante da lavanderia. Mas ignoraram solenemente o empreendimento doado pelas queridas Vanessa Aguiar e Laíze Damasceno.

Em 23 de julho, eu tentei sensibilizar a gangue com sachê ― o catnip nem contou. Keka conseguiu comer sem subir, equilibrada em duas patas. Jujuba, colocada por mim na primeira prateleira, derrubou o potinho e pulou em seguida, no maior estilo Joelma ― o edifício em chamas, não a cantora. Ninguém entendia a escada vazada.

No sábado seguinte, comprei Churu, que as meninas do Cluboca chamam de "cocaína dos gatos", na expectativa de guiar as peludas pelo circuito. Chocolate arremessou para todo lado. Pimenta cheirou e saiu andando. Jujuba derrubou o celular que filmava o mico, quebrando meu tripé. Só Keka aprovou, mas também não foi muito longe ― aí, quando eu já havia desistido, se aventurou sozinha.

O terceiro teste rolou no dia 5 de agosto, com Dreamies, que definitivamente fez mais sucesso, tirando a ânsia de vômito da Pips, que esfarelava os croquetinhos, e da Choco, que demorava tanto para mastigar que eles caíam da boca. Gostar do petisco, aliás, não significa gostar do parquinho. As criaturas ficavam atrás de mim (e do pacote), sem perceber o conteúdo espalhado no playground.

E só Pimenta venceu o desafio da ponte, a única parte instável do conjunto ― Keka levou mais duas semanas e Choco conseguiu apenas em 11 de setembro! O recorde de travessia da escadinha vazada ficou com a frajola, em 20 de agosto ― isso porque eu deixei uma distância conservadora entre os degraus!

De lá para cá, em todo fim de semana distribuo croquetes entre os módulos, que Pips nunca mais arriscou a procurar. Jujuba segue achando tudo muito estranho. E a maior emoção ocorreu quando Choco e Keka disputaram o mesmo petisco, por lados diferentes da ponte ― ainda um tabu.


Keka só vai mesmo pela comida. Mas a ranheta adora se isolar das irmãs no refúgio que apelidamos de "casa das montanhas".


Já valeu a empreitada. :)


P.S.: Eu gravei (e decupei e editei) 45 vídeos para vocês se divertirem rindo da minha cara, morrerem de fofura com as gatas e aprenderem uma ou outra coisinha ― mesmo que seja o que não fazer quando o assunto envolve parquinho vertical, guloseimas e gatos.

1.12.23

Um morto muito louco e perdão felino

Stories da epopeia completa nos destaques do Instagram!

Amanhã, completa 18 anos que eu trouxe o primeiro gato para casa. Mercv mudou minha vida, mas morreu às vésperas dos 17 e quero usar este post para mudar a vida de um gato que não posso colocar para dentro de casa. Seguindo a epopeia de adoção do Intrú, faltou falar justamente dos desafios de um pós-operatório outdoor.


Grogue da anestesia até anoitecer, toda hora eu precisava tirar o coitado do sol, sem a facilidade de pegá-lo no colo. A boca só abriu para comer às 18h, ainda descoordenado. E, quando começou a chover (porque precisava fazer todas as estações no mesmo dia), ele sumiu. Na manhã seguinte, chegou atrasado para o café e desistiu na metade para se proteger em cima do muro do monstro que lhe providenciou uma brazilian wax vexatória.


Ainda voltou à noite, em busca da outra metade de ração, vazando sem querer saber de papo ― o sachê com que o atraí para dentro da caixa de transporte, aliás, nem lambeu. Mas devem ser poucas as ofertas de alimentação com carinho na região e na quarta-feira o marrento voltou a acampar na porta da lavanderia.



Epopeia do Intruso

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:: Intruso: 1 sucesso e 2 bombas

30.11.23

Intruso: 1 sucesso e 2 bombas

Stories da epopeia completa nos destaques do Instagram!

Capricornianos são bons planejadores de longo prazo. Quando decidi estreitar laços com o intruso, anotei na agenda a castração dele para 27 de novembro, exatamente um mês depois, almejando mais gordura e menos agressividade. Durante esse tempo, ele devorou cinco refeições por dia, cada uma delas como se fosse a última, me atacou seis vezes, diminuindo gradativamente a intensidade, ronronou e se esfregou outras tantas.


Faltando uma semana para o grande dia e aproveitando a concentração no pote de Pet Delícia, apliquei na nuca o combo de antipulgas + vermífugo ― os carinhos também funcionam melhor durante a comida. Coloquei a caixa de transporte do lado de fora para ele já ir se acostumando E, na noite da véspera, tive a sacada de recolhê-la para conseguir devolver de manhã com o pote já dentro, sem retalhação ― escolhi um sachê inédito bem apelativo.


Pois o cara de pau entrou na caixa tranquilamente (obrigada, Chicão!), limpou o prato e só se tocou que a porta estava fechada quando virou. Não gritou na hora, não gritou na viagem, (quase) não gritou na clínica ― acho que o pessoal não levou muito a sério meu aviso de braveza. Até precisarem tirá-lo de lá. rs


Aqui vale abrir um parêntese para explicar que optei por uma ONG, na verdade, que oferece atendimento veterinário, porque essa galera castra animal arisco de colônia, com técnica minimamente invasiva, sem necessidade de retorno para tirar os pontos e antibiótico injetável, dispensando medicações via oral.

Eles também entenderam que eu não podia marcar horário porque dependia de conseguir capturar a criatura com a comida, e levaria, portanto, um gato sem jejum, deixando-o para o final da fila. Ainda precisaríamos fazer todos os procedimentos no mesmo dia, desaconselhável no caso de bichos domesticados, sob o risco de nunca mais pegá-lo. Fecha parêntese.

A cirurgia foi um sucesso, mas veio acompanhada de duas bombas: Intrú (ou Quino, como Leo chama, insistindo numa abreviação de "inquilino" que só faz sentido na cabeça dele) não é o filhotão que apareceu aqui em dezembro do ano passado, porque já tem 4 anos ― idade que dificulta ainda mais a adoção de frajolas.

E o teste de FIV e FeLV deu positivo para FeLV, a estigmatizada leucemia felina, causada por um vírus que enfraquece o sistema imunológico ― por isso não vacinamos. Existe a chance de negativar, como a gente viu acontecer com a Catrina, só que depende de o organismo dele conseguir neutralizar o vírus.


Caso isso não ocorra, o pequeno só poderá ser doado para famílias sem gatos ou com outros FeLV+, restringindo ainda mais o leque de possibilidades para um bichinho assustado, que sonha em dormir do outro lado da porta de vidro da lavanderia.


P.S.: O link que compartilhei lá em cima sobre a FeLV é de um vídeo maravilhoso da Isa Gateira, que todo mundo precisa assistir para reverter preconceitos e dar uma chance aos peludos que terminam encalhados nos abrigos.


Epopeia do Intruso

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23.11.23

O usurpador: a nova saga do Gatoca!

Chegou aos ouvidos de Chicão que eu pretendia me aposentar em breve, gastar o dinheiro da ração com drinks de guarda-chuvinha e só curtir gatos digitais, que não me matassem de alergia. Mas ele achou que quase duas décadas de serviços prestados não eram suficientes e mandou um frajola que decidiu bater nas nossas gatas, morar no nosso terreno (SP) e beber a água suja do nosso balde.

Suspeito que seja o mesmo filhote que não consegui resgatar pouco depois de mudarmos para cá, sobrecarregada com a obra inacabada e os bigodes morrendo, só que endurecido pelas porradas da vida. No dia 27 do mês passado, enquanto ele nos observava faxinar a sala, para a indignação das meninas, resolvi tentar uma aproximação.


Levei Pet Delícia, que o pequeno devorou em segundos, e arrisquei um carinho tímido, entre os machucados de briga. Na segunda refeição, já ganhei esfregadinhas na perna e o primeiro ataque, assustado pelo balde que ele mesmo derrubou ― dá para ver no vídeo que pula de bracinhos abertos, as garras furando a parte de trás das minhas pernas e os dentes batendo na frente.


Com esse mínimo de intimidade, o cara de pau se sentiu à vontade para invadir nosso quarto (aquele vetado aos moradores por causa da alergia a gatos) e marcar território no banheiro. No segundo ataque, que vitimou meu peito, eu nem havia encostado nele, mas li que a agressividade redirecionada pode ocorrer horas depois do estresse e tinha rolado um estapeamento pelo alambrado do gatil.

No terceiro ataque, que personalizou minha mão direita, resolvi entrar com a homeopatia. E já notei diferença para a patada sem unha do quarto e a mordida do sexto, que não tiraram sangue ― receosa de colocar a ração com ele alternando ansioso entre minha mão e o pote no chão, devo ter emulado justamente uma presa. E vocês não imaginam como ele caça!


Quando tentei respeitar a quantidade de alimentação recomendada pela embalagem, o self-made cat pegou um lagarto in natura, que custou todas as minhas habilidades de negociação de reféns. Agora, a criatura mora embaixo do nosso contêiner (Leo diz que me acompanha entre os cômodos pela voz) e faz cinco refeições por dia ― acorda a gente em estéreo, miando fora e Keka dentro, pontualmente às 6h30!


Só que ainda vai para a rua. Voltou mancando no fim de semana, com o olho esquerdo mais fechado. E, do mesmo jeito que entortou, desentortou. Não faço ideia se entrará na caixa de transporte com petiscos, mas pretendo castrá-lo na segunda-feira, quando completa um mês de comida sem miséria e tentativa de socialização.

Leitores de exatas devem ter sentido falta do quinto ataque, né? Foi no domingo em que resolvi ler no jardim, a uma distância segura, para ele se acostumar. Acontece que antes de a bunda chegar no concreto, o carente já estava se esfregando em todas as partes alcançáveis do meu corpo e deitando coladinho e acertando meu peito e meu rosto.


Ele é um gato assustado, mas parece que vai gostar de ter uma família. Ronrona de boca aberta igualzinho o Mercv, tenta entrar em casa a qualquer oportunidade e ostenta o nariz rosinha mais apertável! Vou precisar de toda a ajuda do mundo com a divulgação para encontrar tutores experientes durante o verão ― as madrugadas de inverno aqui são bem frias.


Alice Gap amadrinhou o frajola bancando as primeiras despesas ❤, que incluem antipulgas + vermífugo para a diarreia, diariamente comunicada na soleira. Ajuda com as próximas (veterinário, castração, vacinas, teste FIV/FeLV) também é bem-vinda ― chave pix: doacoes@gatoca.com.br.


Não, eu não posso ficar com ele porque as meninas, idosas e renais, merecem um fim de vida tranquilo. Chocolate passou quase 17 anos atormentada pela Guda (ainda que ela não fizesse de propósito) e só agora está aproveitando outros espaços da casa. Keka emagreceu meio quilo desde o ataque e fica o tempo todo procurando o intruso nas janelas.


Pimenta conseguiu fugir quando bobeamos com a porta e se atracou feio com ele ― separei aos urros. Nem consigo imaginar se fosse a Jujuba! Nosso gatil sem teto também não segura um bichano jovem, cheio de energia. E ainda sonho com um sabático depois do caos.

17.11.23

Identifique o lugar de confiança do seu gato | EG #24

Eu sempre digo que os bichanos são 3D e Jackson Galaxy, autor de O Encantador de Gatos, livro que inspira esta série, concorda comigo. Diferente da gente, que costuma observar os objetos que estão no chão, eles veem seu território de forma tridimensional, avaliando pontos elevados de onde possam acompanhar quem vai e vem, locais de descanso, esconderijos para brincar, caçar ou se afastar do mundo.

E criam autoconfiança justamente com base no cantinho em que conseguem ter mais sucesso ― seja no eixo horizontal ou no vertical. Nossa missão, portanto, é descobrir e encorajar a relação com esses lugares, permitindo que exerçam sua gatitude plena. Para facilitar, Galaxy divide os habitantes felinos em três tipos:

Dos arbustos: geralmente se enfiam embaixo da mesa ou atrás de um vaso de planta ― muitas vezes esperando para caçar ou atacar.

Das árvores: demonstram estar à vontade no alto ― não necessariamente em cima da estante, mas em cadeiras ou no sofá.

Da praia: gostam de manter as quatro patas em terra firme, relaxando em ambientes abertos ― aquele peludo em que você frequentemente tropeça. rs

Para onde seu amigo olha primeiro quando entra em um cômodo?


(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 16 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)

10.11.23

Banho em gato e antipulgas não combinam!

Na verdade, vocês raramente precisarão dar banho em um gato porque eles são autolimpantes ― sua saliva possui enzimas que ajudam a remover a sujeira do pelo quando se lambem. Mas, em caso de emergência, como nos resgates em que paninho úmido nenhum no universo resolveria, deve-se esperar de cinco a dez dias para aplicar o antipulgas, segundo o veterinário Carlos Gutierrez.

Isso porque o conteúdo da pipeta é absorvido pela gordura da pele e o sabão do banho elimina justamente essa capa de gordura. Despulgar e enfiar a criatura no chuveiro, portanto, também não funciona ― bastam, porém, apenas três ou quatro dias de intervalo.

Tem posts aqui no blog com dicas para acabar de vez com as pulgas (que ficam no ambiente, contra apenas 5% no animal), para preparar um antipulgas caseiro, barato e natural, e para quem quiser arriscar o banho em casa, sem perder os óculos ― o comentário do chuveiro era brincadeira, hein? Chocolate está resmungando porque Leo encostou nela durante a ioga. 😂

8.11.23

Pequena

Se Gatoca fosse um seriado, esta temporada abriria com a imagem de um portão de garagem arrancado, intercalaria flashes de um gato com a cabeça machucada, árvores caídas, um computador quebrado e mais um aniversário de banheiro sem porta, tudo ao som de uma música frenética, para retroceder até o dia em que decidi trocar o gabinete do PC.


O motivo já contei aqui. Mas nem vocês nem eu sabíamos a reação em cadeia que isso geraria. O efeito mais direto foi trabalhar dez dias com um notebook improvisado, subtraindo da conta bancária a placa-mãe queimada, mais processador e duas memórias, já que a placa nova não funcionaria com peças de 12 anos, que definitivamente não são vinhos.


O indireto foi ver a vida atrasando na velocidade da luz para empacar de vez com o temporal que nos deixou sem luz por 53 horas ― e também sem água e internet, incluindo o 4G. Eu corri muito para escrever o post da semana, as chamadas das redes sociais e o boletim, que já estava atrasado. Só não publiquei antes por causa do feriado. Não ter conseguido divulgar na sexta fará com que os algoritmos nos penalizem, tanto no alcance das redes quanto na indexação do Google.


Os ventos de 104 km/h ainda arrancaram nosso portão, que rasgou o depósito de jardim, e destalharam a oficina do Leo feito papel crepom. A gente nem terminou a casa ― de contêiner, no meio do mato, depois de um golpe que custou bem mais do que dinheiro. Só depois de dois anos e sete meses instalamos a lendária porta no banheiro ― fiz até vídeo de comemoração! rs


E, no meio desse caos, Chicão resolveu mandar o intruso, que tem um bom coração, mas já me atacou três vezes ― prometo um post só sobre ele. Estou cansada, sabem? Esse é o momento da jornada do herói em que vocês se juntam aos meus 48,5 quilos! :)


Acredito demais no potencial do Gatoca (persisto há 16 anos, né?), vibro com cada relato de que o blog ajudou a fazer soro, dar comida na seringa, entender melhor algum assunto, só parei o card game porque não dei conta com as mortes em sequência ― anotem: esse braço lúdico vai ser grande! Mas preciso, mais do que nunca, do reforço da nossa comunidade.


Quem gosta dos textos e pode apoiar financeiramente acesse a campanha do Catarse, que oferece como uma das recompensas o grupo mais acolhedor da internetGatoca é projeto de vida, mas também meu trabalho, pagador de boletos importantes. Para as despesas com o intruso, segue a chave pix: doacoes@gatoca.com.br. E também ajuda muito curtir, comentar e compartilhar os posts nas redes sociais.

Junto é mais difícil tombar! ❤

3.11.23

Que vergonha os gatos fazem vocês passarem?

Quem vê esta cena pensa que a gente deixa o pote do pior material, no lugar mais difícil da casa para não estragar a decoração e as gatas que se virem. Quando, na realidade, elas têm um de vidro, outro de alumínio e o grandão de cachorro para não encostar nos bigodes na borda, mais os bebedouros elétricos, nos modelos chafariz e com torneirinha ― esse último de barro para manter a água fresca.


O pote em questão, que nem cândida dá mais conta de livrar das manchas, foi colocado aí de improviso, porque Chocolate passava a maior parte do dia na máquina de lavar, cultivando uma inimizade unilateral pela Guda. E nunca consigo jogar fora, pois as pestes se revezam no favoritismo. Jujuba, inclusive, vira e mexe cai dentro do tanque, mas persiste.

Que constrangimento os gatos de vocês causam com as visitas? Compartilhem nos comentários para eu me sentir acolhida? rs

27.10.23

Serial killers sempre voltam à cena do crime!

O ataque que Keka sofreu em agosto foi tão traumatizante que nem ela nem eu recuperamos o peso perdido. E como o intruso entrou no gatil, sem telhado porque o alambrado alto já dá conta da nossa gangue idosa, a pequena nunca mais conseguiu relaxar nos passeios — espia da sala se a barra está limpa, faz xixi no gramado e volta correndo, rosna para qualquer coisa que se aproxime durante o percurso, incluindo as irmãs.

E o cara de pau segue rondando! No dia da faxina, ignorou dois humanos descabelados e um aspirador de pó para espiar, com o focinho praticamente grudado na porta de vidro, o que tinha de interessante dentro de casa — por causa justamente dos humanos descabelados e do aspirador de pó, as gatas estavam fora do campo de visão.

Ao contrário dos serial killers clássicos, porém, que levam troféus de suas vítimas, o frajola mascarado nos presenteia, a cada visita, com o ambicioso projeto de marcar 1 mil m² de terreno, passando desaforadamente pelos pneus do meu carro, o portãozinho da entrada, as lavandas do Leo, o castelinho da caixa d’água.

E quem resiste a esta carinha?


24.10.23

Um 'plot twist' chamado Mercvrivs

Há 18 anos, eu não gostava de gato — nem de cachorro, nem de planta, nem de nada que demandasse mais dor de cabeça do que já tinha. Recusei a sugestão do então namorado de adotar um dos filhotes acolhidos pela avó, na intenção de tornar um luto mais leve, mas Mercv, como bom mentor, esperou pacientemente pelo almoço de domingo que mudaria tudo.

Na travessia para casa, 39 dias depois, não fazia ideia de que aquela criaturinha, prestes a quebrar na próxima lombada, colocaria em teste todo um jeito de ver e estar no mundo, trazendo novos relacionamentos, trabalhos, um projeto de vida. Quase duas décadas e, mesmo assim, não estava preparada para me despedir.

Na nossa jornada do herói, ainda não alcancei a ressurreição. Mas você ia ficar orgulhoso de saber que tomei coragem de trocar o computador comprado há 12 anos, já usado, do irmão. Eu, que detesto mudanças! Ok, não me restou muita escolha porque a placa-mãe queimou na transferência para o gabinete novo, com filtros, justamente para evitar que o acúmulo de pelos queimasse a placa-mãe.

Só que podia ter me limitado a praguejar e gastei apenas uma semana — primeiro com a assistência técnica, que demorou três dias para constatar que não haveria conserto, depois com a descoberta de que as memórias e o processador antigos não funcionariam na placa-mãe moderna e, finalmente, com o marketplace que não aceitava nosso CEP genérico de cidade pequena no cadastro.

Escrevo este post em um notebook improvisado, sem editor de imagem, mas nos próximos talvez me anime até a arriscar uns vídeos. Já pensou virar TikToker? Acho que nem toda a suspensão de descrença daria conta. rs


Despedida
:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho
:: Ainda não acredito
:: Primeiro aniversário sem Mercv
:: Colo vazio
:: Ele veio me visitar!
:: Um ano sem Mercv

20.10.23

Ração de insetos para gato e novidades gringas!

Salva-vida de libélulas interioranas e dona de uma geladeira que não vê carne há quase 17 anos, com um pequeno intervalo para o teste fracassado de alimentação natural caseira dos bigodes, eu não tinha ideia de como ilustrar o post em questão até trombar com esta foto da Chocolate no arquivo.


Sim, ainda uso um caderno de papel para preparar pratos especiais, que nem veganos são (vou fazendo as substituições de cabeça), porque ganhei quando minha mãe morreu, para ajudar na estreia forçada na cozinha. Junto com as receitas da Rose e a letrinha da Lelê, família que escolhi para a vida, incluí um lendário passo a passo de arroz, duas décadas atrás!

Este texto, porém, fala de futuro (ainda que de gosto duvidoso): sabiam que na Europa já se vende ração para gato à base de insetos? O veterinário Carlos Gutierrez explica as vantagens e desvantagens, comparando com a dieta Barf (crua), outra novidade na gringa, e a alimentação natural, que a gente conhece mais por aqui.

Pode parecer bizarro, mas inseto é uma das presas dos bichanos selvagens, representando 6% do cardápio diário — por isso chamam de alimento instintivo. E, para satisfazer as necessidades calóricas, eles precisam comer menos grilos e baratas do que frango. Eu arriscaria? Não sei e não tenho de pensar sobre isso agora porque nem vende no Brasil. 😂

Comecemos pelas vantagens, então: de acordo com os estudos linkados na descrição do vídeo do vet espanhol, as rações feitas de insetos têm alta digestibilidade e valor nutricional (ricas em proteínas, energia e, dependendo da criatura asquerosa, gordura), além de grande quantidade de fibras, no caso das carapaças.

Elas também provocam menos impacto ambiental, já que sua produção demanda menos recursos naturais e emite menos gases do efeito estufa. Só que a composição varia de acordo com a fase de desenvolvimento do inseto (larvas, por exemplo, são bem mais nutritivas), precisa balancear os aminoácidos, faltam estudos para avaliar possíveis riscos causados pelos agrotóxicos e nem todo gato curte.

A Barf, abreviação em inglês para "comida crua biologicamente apropriada", é bem mais palatável, hidratada e igualmente de fácil digestão — dizem que o cocô fica até mais compacto. Por outro lado, às vezes deixa a desejar na formulação, custa mais caro, dura menos e não só o peludo como os humanos estão sujeitos a contrair bactérias que não morrem no congelamento, como a salmonella.

Esse problema se resolve com a alimentação natural comercial, adequadamente balanceada e tão gostosa, hidratada e eficiente na compactação de cocô quanto, embora também estrague rápido e pese no bolso. Eu provavelmente continuaria optando por ela, mas adoraria uma versão feita em laboratório, sem sofrimento animal.