Foi Leo quem encontrou a rolinha encolhida.
E quem nos revelou se tratar de uma rolinha, na verdade, foi a Mônica Campitelli, amiga-bióloga. Seguindo as instruções dela, ajeitei comida e água perto da primavera, longe do sol. E fiquei observando enquanto decidia se valia a pena levá-la ao veterinário — animais silvestres se estressam muito fácil.
A combinação de arroz, mamão e couve-manteiga orgânica, que num passado remoto fez a alegria da pomboca, não agradou. E a bichinha andava para um lado para o outro desengonçada, despencando quando tentava voar. Imaginamos que pudesse ter se chocado contra o vidro.
Veio a tempestade — em um filme essa reviravolta soaria forçada, mas na vida real pode! Leo ajeitou a rolinha no banheiro, transformando em casa a caixa de transporte dos bigodes, de porta aberta mesmo, só para ela se sentir protegida.
E escrevi para o Eduardo Carneiro, vet homeopata que atende em São Paulo. Se fosse uma contusão, Arnica montana C6 ajudaria. Só que a gente não tinha. Pinguei, então, duas gotas de Pulsatilla C6 na água para trabalhar o emocional — servem glóbulos também.
E apelei à Gabriela Fromme, amiga-veterinária-não-praticante, que mora aqui em Sorocaba. Nessa hora, o roteirista abandonou de vez o bom-senso. Gabi entendia tudo de rolinhas porque teve um ninho na janela da cozinha — sim, rolinhas são pombas mais arrumadas, no quesito sociabilidade. E a cauda diminuta denunciava um filhote!
Por isso o voo atrapalhado.
No dia seguinte, levei a caixa de transporte para o jardim, já com papel picado dentro (tecido amassado também funciona), porque a pata das aves não se estrutura direito em pisos lisos. E, embora Gabi tenha garantido que não precisava me preocupar com os cocôs, pois "o ninho delas é uma meleca", não resisti.
(Limpei também a privada, a parede, o creme de cabelo e as gavetinhas de maquiagem, todos lugares que ela conseguiu carimbar. Não, não usei violência. Até porque já havia segurado a vontade de encher a pequena de cafuné — quanto menos a gente mexer nesses animais, melhor.)
Junto com o abrigo improvisado e a vista para a horta, a criatura ganhou um banquete mais adequado: alpiste, quirela (ou quirera) de milho e aveia — não fazia ideia de que a aveia da granola não existe pronta na natureza, gente!
E eu fiquei lá, assistindo e encorajando as tentativas destrambelhadas de voo. Gabi havia dito que rolinha sai do ninho em menos de duas semanas e essa já devia estar na fase final de aprendizagem. Outra opção seria achar o tal do ninho, mas bateu o receio de revolvê-la à família errada e criar uma crise.
A cada investida, ela subia um tantinho mais alto. Até que alcançou o muro. E se pôs a piar. Vocês não imaginam a emoção! Piou. Piou. Piou. Eu filmando de mãos trêmulas — será a superproducinha deste mês para os apoiadores! Quando parecia ter desistido, chegou a resposta.
E a bichinha cruzou o céu em cima da minha cabeça, acompanhada por asas maiores.
:: Curiosidades
- Não deu para saber se nossa rolinha era "rolinho", porque a coloração só vem depois. As fêmeas puxam para o roxo.
- Outra característica de filhote, além da cauda curtinha, são as narinas "levantadas", como nestas calopsitas, porque o bico ainda está se formando.
- Aves têm parasitas parecidos com mosquinhas, mas não há motivo para histeria. Basta deixar o desinfetante agindo por um tempo no local (piso e caixa de transporte, no meu caso) e lavar normalmente — se não puder lavar, passe um pano úmido com o produto e espere secar sozinho, tirando o excesso com água limpa depois.