Actinidia polygama ou Silver vine, em inglês, é a planta que tornou o catnip cringe. De flores brancas e frutos que lembram o kiwi, ela cresce em áreas montanhosas do Japão e da China, podendo alcançar 6 m de altura. E os asiáticos usam como estimulante para os gatos há tempos! Aqui, a gente encontra no formato de tronquinho, com reação duas vezes mais potente do que a versão old school. Dizem.
O segredo está na combinação de nepetalactona (cinco variações) e actinidine, enquanto o catnip tem apenas uma variação de nepetalactona. Esses compostos químicos agem no sistema nevoso dos bichanos, provocando reações engraçadas como esfregação, babação, mordidas e roladinhas — alguns peludos ficam doidões e outros mais relaxados. Sem efeitos colaterais, o barato pode durar de 5 a 30 minutos.
Mas não se animem, porque não funciona com seres humanos — a menos que vocês pretendam usar na fermentação do saquê. Quem mandou os troquinhos de matatabi foi a Katia Zuter, do Gatolino, parceiro antigo do Gatoca e que tem nossa frajola no folder! — eles vieram junto com uma bombinha nova, porque o preço aqui está tão absurdo que quase transformei o bebedouro elétrico em vaso.
Mas chega de enrolação! Vocês acham que a gangue curtiu a viagem? Bom, Mercv só cheirou, Jujuba ficou desconfiada, Pimenta se pôs a tomar banho, Keka fugiu e Chocolate bateu na Pufosa, depois jogou o tronquinho embaixo do sofá — vou fazer uma superproducinha com as reações para os apoiadores!
Pelo menos a Pipoca saiu bonita na foto. rs
Vale contextualizar que os bigodes estão velhinhos, preferindo carinho e colo ao agito. E aproveitaram bastante os tempos de catnip. Se seu amigo tem menos de 15 anos (ou espírito jovem, rs), arrisca e me conta! A chance de sucesso é de 79%.
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Todo mês, o Gatoca publica dicas e curiosidades da bíblia "O Encantador de Gatos", escrita pelos especialistas em comportamento Jackson Galaxy e Mikel Delgado, com fotos e vídeos da gangue para ilustrar. ❤️ Se quiser ser avisado, é só assinar nosso boletim ou entrar no canal do Telegram.
Em tempos de pandemia e desgoverno, os ativistas brasileiros precisam repetir para si mesmos, do momento em que acordam até a hora de dormir, que suas ações provocam um impacto positivo — e olha que o noticiário sempre foi desempoderador! Às vezes, a gente só morre antes de ver. rs
Depois das férias forçadas do início do ano, eu voltei pronta para a briga. Intelectual, claro, porque meu peso não permite sequer doar sangue — e com a sabedoria da Lidice-Bá, ex-chefe que dizia para a gente não trazer problemas e, sim, soluções. Minha primeira reação ao ler a matéria da "Folhinha" sobre testes em animais, confesso, foi confrontar a cientista nas redes sociais.
Mas ela não mudaria de opinião por causa de uma jornalista que não financia suas pesquisas e focar nas crianças costuma render melhores resultados. Escrevi, então, para o José Henrique Mariante, ombudsman da Folha de S.Paulo, apontando os equívocos do texto, destinado a esse público, e a parcialidade da biomédica Laís Berro, além de sugerir fontes acadêmicas para contar o outro lado, porque ninguém precisa acreditar em mim.
Que laboratório tupiniquim exibe "O Rei Leão" para cobaia, gente?
Para ampliar, cliquem nas imagens
Para a minha surpresa, a editora da "Folhinha" Marcella Franco concordou. E prometeu uma segunda reportagem, ouvindo não só cientistas como defensores da causa animal — ainda avisou da antecipação da publicação em outra mensagem.
No sábado, fiz questão de virar Araçoiaba do avesso para comprar o jornal — e quem acabou encontrando a única banca da cidade foi o Leo.
Texto à altura da polêmica, com fontes bacanas que eu desconhecia e alguns colegas, adolescentes apertáveis botando a mão na massa e o selo "Todo Mundo Lê Junto", indicando o compartilhamento por responsáveis e educadores com a molecada. ❤️
Esse também amplia ;)
Dá trabalho — mais do que cancelar o povo no Twitter. Mas é um caminho sem volta. E começa no pequenininho.
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O conteúdo do Gatoca é financiado por gente que acredita que o mundo pode ser melhor — aqui tem um resumo das principais ações do projeto. Quer fazer parte dos despioradores? Assine nosso clube no Catarse ou doe um cafezinho em forma de PIX: doacoes@gatoca.com.br
Se Tarsila tivesse pintado Chocolate no seu "Abaporu", ele não ficaria datado como o símbolo do Movimento Modernista Brasileiro — e faria muito mais sucesso no TikTok!
P.S.: Sim, eu sei que "homem que come gente", tradução do tupi-guarani, é o quadro brasileiro mais famoso. Mas confesso que quase caí de costas quando li que está avaliado em US$ 200 milhões. De dólares! A BBC conta a história interessantíssima dele aqui.
P.S. do P.S.: No ano passado, antes de a pandemia desgastar nossa existência, Leo e eu entramos na brincadeira de recriar pinturas famosas, vocês viram? :)
Da selva aos "apertamentos", até que não demorou tanto... para que a gente se adaptasse aos bichanos. O primeiro concurso de raças ocorreu em 1871, no Reino Unido, e os EUA copiaram em 1895 — vamos falar sobre a crueldade do processo nos próximos capítulos desta série, inspirada no livro O Encantador de Gatos, escrito pelos especialistas em comportamento Jackson Galaxy e Mikel Delgado.
Em 1876, surgiu a primeira marca de ração (Spratt), também no Reino Unido, que demorou quase duas décadas para chegar aos EUA. Mas foram os norte-americanos, claro, que enlataram a comida, em 1930. E o racionamento de carne, na década seguinte, impulsionou o desenvolvimento da versão seca, feita com restos tanto de carne quanto peixe.
Se você tem pais nascidos antes de 1950, eles assistiram à explosão desse mercado — não ria, geração Z, porque você também entrará na linha do tempo! E a invenção da caixa de areia por Ed Lowe, empresário de Michigan, em 1947. Antes disso, usavam-se cinzas, terra ou areia de praia — e boa parte das famílias deixava os peludos darem um rolê.
As castrações se iniciaram em 1930, ainda pouco populares — e se manteriam assim pelas próximas quatro décadas. Indicava-se a anestesia geral, mas, acreditem, não era obrigatório. Nessa época, aliás, nasceu a lenda que aterroriza protetores até hoje de que as gatas deveriam parir pelo menos uma ninhada.
Antes de 1969, quando nasceu em Los Angeles a primeira clínica de esterilização popular, o número de bichos sacrificados impressionava. E foi só em 1972 que a Sociedade Americana de Prevenção Contra Crueldade com Animais passou a exigir a castração pré-adoção — e os veterinários começaram a recomendar também a criação dentro de casa, para o bem da fauna, da flora e dos próprios felinos.
Sim, caros leitores, eu vi tomar forma o conceito de CED: Captura, Esterilização e Devolução — 1990 lá fora e 2013 aqui. E o primeiro castramóvel rodar em Houston, no Texas, em 1994, porque muitas pessoas precisavam do serviço, mas não podiam ir até uma clínica. E West Hollywood proibir a remoção cirúrgica de garras, em 2003.
Ah! Em 1999, a organização In Defense of Animals (IDA) lançou a "Campanha do Guardião", almejando mudar a linguagem e o estatuto jurídico dos pets para que deixassem de ser tratados como objetos com donos. Mas não rolou na maioria dos países. Ainda. :)
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Resgate uma gata prenhe, que dá à luz cinco filhotas ariscas. Espere 13 anos por um ronrom da pior delas, chamada primeiro de Vaquinho, depois de Jujuba, porque era menina. Mude-se, então, para o interior do interiorrr, em um terreno gramado. Improvise um gatil com bambus do vizinho, telas velhas e macarrões de piscina, pois a grana acabou. Aí, é só pedir para a figura posar para sua campanha — reparem na linguinha! 😂😂😂
A estrela do Gramado da Fama deste mês é Liliane Garcia, patrimônio histórico do Gatoca há, pelo menos, uma década. E tutora do Micefufe, que compete com o Mercvrivs em extravagância batismal e viveu quase 19 anos!
E vocês ganham recompensas! Uma delas é o Cluboca, grupo com apoiadores espalhados pelo Brasil (que mandam foto de neve em Curitiba ao mesmo tempo em que reclamam dos 28ºC à noite na Paraíba), de experiências de vida variadas (como historiadora-bancária, farmacêutica-ambientalista e advogada de TI) e que compartilham dicas de pipeta para alimentação forçada à persiana antigarras.
...Ana Fukui, Marilene Eichinger, Guiga Müller, Sérgio Amorim, Gatinhos da Família F., Luca Rischbieter, Rosana Rios, Lilian Gladys de Carvalho, Regina Hein, Paula Melo, Paulo André Munhoz, Marianna Ulbrik, Cristina Rebouças, Lorena da Fonseca, Amanda Midori, Karine de Cabedelo, Michely Nishimura, Ana Paula de Vilas Boas, Danilo, Klay Kopavnick, Glaucia Almeida e Ana Cris Rosa, pela acolhida nestes meses pavorosos! ❤️
Quando Simba entrou no estágio terminal da doença renal, Clara continuou grudada nele: dormia junto no tapetinho higiênico, cobiçava as comidas diferentes, dava banhos caprichados — os outros gatos acabaram se afastando porque os feromônios mudam, tornando o animal combalido praticamente um estranho, e o instinto tende a protegê-los de possíveis infecções.
Nas últimas semanas, foi a vez de a retalhinha entrar no estágio terminal do carcinoma. E Mercv retribuiu o amor que mantém o Gatoca de pé em tempos tão difíceis — nesta foto ela ainda estava gordinha, três meses atrás, mas escolhi porque o abraço no rabinho me transborda.
Clara morreu ao lado de seu Romeu peludo, na terça-feira mais triste deste mês, e durante três dias ninguém conseguiu convencê-lo a deixar o cantinho deles — Julieta embaixo do edredom, fugida dos insetos.
À noite, eu embrulhava o frajola feito um burrito, para atravessar a madrugada solitária, e o encontrava descoberto e gelado pela manhã.
No quarto dia, Guda emprestou seu calorzinho.
E o resto da gangue foi chegando aos poucos. Mas fiquei pensando como fazem as famílias com escassez de bigodes. Resolvi, então, entrevistar a Amanda Alano, veterinária especialista em comportamento felino e dona do meu perfil favorito no Instagram, o Território Felino.
É importante ressaltar que nem todos os gatos sofrem com a partida do outro. Depende muito da relação que eles tinham. "Quando Snow e Lelão morreram, Luke desenvolveu uma dermatite por lambedura e se tornou mais introspectivo. Já Pierre, que não se dava com os irmãos, se aproximou da gente e passou a chamar para brincar. É comum rolar essa mudança no grupo social", explica Amanda.
(Luke, Snow, Lelão e Pierre, se fazendo de difícil)
:: Os estágios do luto
Assim como nós, os animais também ficam enlutados, mas o processo consiste em três etapas:
1) Fase ativa
Quando começam a vocalizar, cheirar os cômodos e procurar o companheiro. 2) Fase passiva
Reina a introspecção e muitos acabam optando pelo isolamento — precisa tomar cuidado porque alguns param de comer de tristeza. 3) Aceitação
Momento em que pode ocorrer também alterações de personalidade — tem bichanos que se tornam mais carentes, por exemplo.
A intensidade e duração de cada estágio mudam conforme o indivíduo e não há necessidade de bingar a cartelinha — Mercv saltou direto para o segundo. Amanda pontua, ainda, que o luto tende a se prolongar quando a morte é do tutor. "Dependendo da idade, o animal sofre tanto que não se recupera". Em tempos de pandemia, inclusive, muitos gatos que perderam suas famílias por covid estão sendo divididos entre amigos, uma situação ainda mais delicada.
:: 4 formas de amenizar a tristeza
1) Mantenha a rotina
Continue oferecendo ração e petiscos na mesma hora, brinque com seu amigo mesmo sem vontade, respeite os momentos de soneca. A previsibilidade é importante para os bichanos.
2) Segure a limpeza
Evite sair lavando tudo assim que o peludo morrer porque o feromônio, uma substância volátil, que diminuirá com o passar dos dias sem novas esfregações, ajuda a tornar mais real a percepção da ausência.
3) Cuide da energia
Florais e homeopatia demonstram bons resultados em questões comportamentais.
4) Seja paciente
Assista ao tempo fazer seu trabalho — "muito ajuda quem não atrapalha", já dizia o ditado.
:: Principais erros
- Forçar interações
Não adianta mimar um bicho que não curte o movimento só porque ele está chateado. Deixe o grupo social se reestabelecer sozinho e os bigodes irem ocupando os espaços — só interfira em caso de conflito.
- Correr para adotar outro
Cada gato é um ser único. E adaptações geralmente envolvem uma dose de estresse, né? Tentem pensar com a cabeça do peludo: ele gostaria de uma companhia nesse momento? Depende do contexto também. No caso de idosos, por exemplo, Amanda sugere um parzinho de filhotes para brincarem sem incomodá-lo. E, se ele sentir vontade, participa, já que não possui o mesmo pique.
Por fim, permitam-se viver o luto — está liberado chorar, faltar no trabalho, ignorar quem não entende sua dor. E cerquem-se de pessoas que enxergam os animais como iguais e te ajudarão a recolher os caquinhos. O Gatoca está aqui para isso. :)
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Eu terminei a carta de despedida para a Clara acreditando que amanheceríamos com a janela do quarto florida em amarelo. E Leo até saiu para comprar os girassóis naquele dia esquecível, enquanto meu peito rachado arrancava o resto do carcinoma das paredes, piso, almofadas e edredom. Mas girassóis crescidos não vingam no chão e mesmo no vaso não ultrapassam dez dias.
Antes de continuar, preciso explicar que enterrar a Clara no jardim já não havia sido uma decisão fácil. Percebi um apego ao corpo, ainda que vazio, e a ideia de jogar terra em cima dela ou tropeçar em alguma parte sem querer, após meses, me angustiava. Mas o reiki da Tati Spinelli dizia para transformar a dor em semente e 26 anos de estoque não cabiam mais nos 47 quilos de peso — esta matéria da Mundo Estranho também ajudou (sim, eu fiz essa pesquisa).
Leo, que não encontrou os girassóis, voltou então com uma caixinha fofa, toda trançada. Só que Clara não coube nela. E entendi que a retalhinha merecia um final livre — Chocolate certamente aproveitará melhor a caixinha. A escavação do solo duro rendeu bolha na mão e rega espontânea.
Um lado meu estava aliviado e o outro, destroçado. Clara me acompanhou em mais de um terço da vida — um namoro, um rolo e um casamento, três mudanças de casa, algumas dezenas de frilas, menos viagens do que gostaria. E é impressionante como a gente se acostuma até com as rotinas de doença — cheguei a ir e voltar de um velório em São Paulo em menos de cinco horas para não perder a segunda refeição dela.
Na sexta-feira passada, pegamos a estrada rumo à feira das flores, no Ceagesp de Sorocaba, e escolhi um girassol simbólico, que os bigodes passaram a semana chacoalhando — e perdeu parte do prumo, mas ainda resiste.
Também comprei dois saquinhos de sementes, surpresa com a existência da versão vermelha.
Fiz um vídeo do plantio, só que comecei a chorar e estraguei tudo — talvez, compartilhe com os apoiadores. E aproveitei o domingo para botar a energia para circular ressuscitando as plantas abandonadas e acrescentando mais cores à nossa casa de aço, concreto e terra.
As sementes seguem adormecidas. Há uma possibilidade de os passarinhos terem nos roubado. Mas sempre posso tentar de novo.
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Atualizado em 16 de agosto de 2021, com a foto do festerê
A vida já estava difícil com a pandemia — tanto que passei a investir mais em conteúdo leve e divertido por aqui. Aí veio a mudança para Araçoiaba da Serra com a casa inacabada, depois de tomar um golpe da empresa de contêineres que quase enterrou o Gatoca. E, na semana passada, Clara morreu — exatamente 12 meses depois de eu escrever que ela começara a escurecer.
Mas um projeto que resiste há 14 anos, o mais longevo desta jornalista freelancer, merece um esforço comemorativo, né? Desde a primeira crônica, com pretensões exclusivamente literárias, até o quase-resgate de uma vaca, que acabei contando só no Cluboca, foram muitas frentes:
:: Engajamento e formação de comunidade
11.554 comentários, 6.324 seguidores no Facebook, nosso primeiro milhar Instagram e mais uma meia-dúzia no Twitter, 27 parceiros ao longo da jornada, com destaque especial à Pet Delícia, pelo quarto ano consecutivo, e o maravilhoso grupo de apoiadores, que relutei em criar e virou meu porto-seguro.
:: Projeto Amigão Bicho
Iniciativa em parceria com a prefeitura de Sorocaba, aprovada no edital do Condeca (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente), esperando o final da pandemia para sensibilizar o olhar de estudantes de escolas públicas localizadas em regiões de vulnerabilidade social da cidade.
No sábado (14), aliás, rolou o festerê virtual. E os apoiadores, que acompanharam todo o perrengue dos últimos meses, em 24 capítulos apócrifos, compartilhados no grupo do WhatsApp, finalmente conheceram a casóca. Eu fiz faxina até a hora da videoconferência, porque ficamos sem água na sexta e ainda não deu para instalar a caixa. Choveu em cima da roupa lavada três vezes. E não sobrou tempo nem para um batonzinho. Mas me diverti demais!
Para ampliar, cliquem na imagem
Obrigada pela companhia, e especialmente pelo suporte, destes 5.114 dias! ❤
Você foi meu parto ao contrário. E, quando decidi te chamar de Clara Luz, não fazia ideia disso. Era uma homenagem a um livro de infância, sobre uma fada que não queria seguir as regras do livro das fadas. Nossa história toda, aliás, foi avessa a regras, né? Você quem me adotou, há 15 anos e (quase) quatro meses, enroscando as garras, de dentro da gaiolinha do pet shop, na minha blusa de lã.
E eu, que só tinha o Mercv, perguntei para a atendente se poderia te devolver caso a adaptação não desse certo — você, recém-abandonada em um saco de lixo com toda a ninhada! Se dependesse do seu gênio ariano adotivo, não daria certo mesmo. Mas Mercv te amou desde o primeiro instante. Hoje eu olho esta foto, que nomeei inexperiente como "beijo", e dou risada: você cogitava um ataque.
Aí, depois de sete anos e meio sem pegar um resfriado, apareceu um tumor, retirado com sucesso. E a hiperqueratose inofensiva, em 2015, que ninguém imaginou virar um carcinoma. Uma sorte, porque a quimioterapia te proporcionaria uma sobrevida de dois anos e você só baqueou nos últimos nove meses.
Nossa gestação ao contrário começou com o colar elisabetano, porque o machucado que nunca cicatrizaria passou a coçar cada vez mais e você transformou o escritório em um filme do Tarantino. Sem conseguir comer direito, a gente inventou de bater a ração úmida da Pet Delícia no processador e te dar de colherinha. 270 dias. Você curtiu cada um deles. E, quebrando a tradição mais uma vez, preferia lamber as costas da colher.
Não bastassem as limitações impostas pelo colar, ainda rolou um quase enforcamento com a coleira. Eu tentei muitos modelos e acabei te deixando o mais solta possível, com algumas derrotas para o carcinoma, porque você descobria novos jeitos de se libertar. Ninguém aproveitou tanto o terreno da nossa casa nova, aqui em Araçoiaba da Serra — o resto da gangue precisou se contentar com o gatil. Eu via seu colarzinho espetado no gramado, ao longe, e te chamava de girassol, lembra?
A primeira bicheira não demorou a nos aterrorizar. E tirei tantos ovos da sua cabeça depois dela que não sei de que jeito a segunda conseguiu evoluir. Você só desistiu dos passeios há quatro semanas, quando ficou cega de vez — o olho direito o carcinoma já tinha roubado no início da nossa gestação ao contrário. Como sobraram os insetos, criei as coleções "primavera-verão" e "outono-inverno". Várias vezes por dia alternava a "cobertura" entre o lençol e o edredom. Sempre com o Mercv colado — eu sei que sua paixão era o Simba, mas ele aceitou o segundo lugar com elegância.
Seus irmãos se afastaram porque seu cheiro mudou. Ele não se importava. E, quando eu limpava seu rosto com o paninho úmido quente, precisava tirar pus e sangue do pelo do coitado.
Me desculpa por ter gritado na noite em que você fez xixi na coberta? Era desespero de te deixar com frio. E, enquanto a máquina de lavar trabalhava, eu esquentava o lençol com secador, na esperança de me redimir. Bateu 2ºC naquela manhã — não esqueço porque esfreguei o colar no tanque com os dedos adormecidos.
Tentei colocar alarmes a cada duas horas para te levar ao banheiro. E fomos bem até o dia da diarreia. Eu só tinha experiência com fralda + gato paraplégico e fralda + bebê humano sem garras. Não foi fácil. Insistia só para te ver devorar feliz a xicrinha de patê. Esse era nosso acordo: aproveitar a comida, o sol no jardim, ainda que no colo, o carinho.
Anteontem você não conseguiu. Parece que o carcinoma chegou na mandíbula e a gente quebrou o galho com a pipeta, depois ficou só na água e ontem não desceu mais nada. Você miou sofrido quando sentei no gramado, dando a entender que preferia voltar. E nunca mais ronronou. Eu procurei um veterinário para te ajudar a descansar, mas quis dar a chance de ir sozinha primeiro. 24 horas, muitas lágrimas, meia oração, porque também não sou boa com protocolos.
Ajeitei seus 2,35 kg (de 6!) no meu quarto, aquele que ninguém entra porque sou uma gateira alérgica a gatos. Acordei nas três vezes em que você engasgou, botei no colo, arremessei o colar — você não precisava mais. Quando amanheceu, te trouxe para o sol e Mercv tratou de reassumir seu posto:
Foram dez minutos. Você gritou, eu te embalei e nublou.
Amanhã, quando abrir a janela do quarto, você será girassol.
*
Antes de morrer, sonhei que Clara tentava por três vezes, bem baixinho porque estava fraca, me dar um recado: "Se desesperar... Se desesperar... Se desesperar... pega uma bandeira e coloca no altar". Foram 12 dias quebrando a cabeça até me tocar que bandeiras representam coletivos — ordens religiosas, templárias, torcidas de futebol, brasões familiares.
E, quando pedi, a ajuda veio. Minha mãe e meu pai em sonho também, Tati Spinelli com um reiki que só fiquei sabendo depois (estrelado por Santa Clara e Pachamama!), Amanda Herrera perguntando se estava tudo bem, Mari Levischi mandando um vídeo sobre o tempo das coisas que importam. E Rose Hacklaender com a intermediação para a eutanásia desnecessária.
Eu não teria conseguido cuidar da Clara assim, aliás, se trabalhasse fora. Devo esse privilégio aos apoiadores do Gatoca, que me acolheram emocionalmente muitas vezes também. Ao Edu e à Maru, veterinários que viraram amigos, vieram ao interiorrr para consultar a retalhinha e responderam inúmeras mensagens fora do horário comercial. E à Mônica Campiteli, que nos socorreu no episódio da bicheira, uma das coisas mais desafiadoras que encarei na vida.
No final dessa gestação ao contrário, precisei apelar às drogas. E voltei para o corticoide, depois de cinco anos limpa e uma madrugada sufocando no hospital. Dr. Vagner passou semanas me acompanhando a distância, por texto e videoconferência, até desistir de cobrar pelas consultas — que loteria nenhuma no mundo pagaria, na verdade.
E, em todos esses momentos, cá estava ele: Leo Eichinger, o Mercvrivs que Chicão mandou para mim. ❤️
Chocolate não troca calorzinho. Literalmente. É a única gata que me preocupa quando as temperaturas baixam, porque os outros oito dormem em monobloco. Ela até tem uma almofada exclusiva de joaninha, instalada na caixa de sapato velha do Leo (e poderia usar o cobertor do jeito tradicional, em vez de deitar por cima), mas a previsão de 2ºC me fez pesquisar roupinhas na internet.
Ao compartilhar essa dúvida no grupo de apoiadores do Gatoca, Glaucia mandou o podcast maravilhoso da veterinária Larissa Rüncos e me senti na obrigação de dividir com vocês. Animais que sentem frio têm sua saúde mental afetada e gatos costumam sofrer mais do que cachorros, porque vêm de regiões quentes, portanto, seu organismo está mais adaptado ao calor. Isso quer dizer que devemos embrulhá-los em algodão e lã? Não!
:: Bichanos odeiam roupinha!
Alguns toleram e a gente acha fofo, tira foto, cria perfil no Instagram. Mas a verdade é que a urbanização e o distanciamento da natureza dificultaram muito nossa comunicação — que nossos ancestrais tiravam de letra, inclusive. Não, não existe uma raça felina que curta o movimento. Gatos pelados até precisam, só que devem ser acostumados desde a infância.
Isso porque o raio da roupinha...
- Impede a higiene
E eles usam usa a língua para tomar banho pelo menos três vezes por dia — exceto o Mercv. rs - Contém um animal que é presa
E claramente se incomoda mais com toque e penduricalhos. - Inibe a movimentação natural
Repararam como os bigodes lembram os iogues? Não dá para se mexer fluidamente fechado a vácuo, né? E, se a roupinha for larga, a criatura arranca.
:: Como esquentá-los, então?
Do jeito clássico:
- Forneça abrigo decente
Não adianta deixar o coitado na sacada, por exemplo — quem faz isso, gente? - Cuide da temperatura ambiente
Casas muito frias demandam aquecimento adicional — vale climatizador, ar-condicionado, lareira, fogueira. - Providencie caminhas e cobertores
Mas só cubra se eles quiserem. - Aqueça a comida
Essa é opcional. :)
:: 5 sinais de frio
1) Se mexer menos.
2) Se encolher.
3) Proteger as partes vulneráveis do corpo e as extremidades — mão, pé, barriga, cara, rabo.
4) Procurar lugares quentes, principalmente aparelhos, como o modem do computador.
5) Ter orelhas, almofadinhas e focinho gelados.
:: Alerta!
Animais em situação extrema de frio tremem e apresentam focinho e lábios pálidos ou azulados.
Resumo da ópera: na dúvida, ofereça recursos abundantes para que seu amigo escolha como prefere se esquentar. Ele só vai errar se estiver doente.
Sigam as instruções abaixo e, o mais importante, escolham um dia com temperatura inferior a 10ºC para estragar o crescimento do pão. rs
Ingredientes:
- 2 colheres (sopa) de óleo de girassol
- 300 ml de água morna
- 4 colheres (sopa) de azeite
- 2 colheres (sopa) de melado de cana ou açúcar demerara
- 4 xícaras de farinha de trigo
- 1 colher (sopa) de sal
- 1 colher (sopa) de fermento biológico
Modo de preparo:
Untem uma assadeira com o óleo de girassol e reservem. Em outro recipiente, misturem o fermento, a água, o melaço e o azeite e deixem descansar por cerca de dez minutos, formando uma espuma na superfície. Acrescentem o sal, a farinha e amassem até desgrudar das mãos. Cubram a massa com plástico filme, afinal, vocês têm gatos, e esperem dobrar de volume.
Transfiram para uma superfície lisa e sem pelos, untada com a outra colher de óleo de girassol, e sovem por cerca de cinco minutos. Modelem o futuro pão em formato oval, coloquem na assadeira e deixem descansar por mais meia hora. Pré-aqueçam o forno a 180ºC, façam um corte no sentido do comprimento do pão e levem para assar por aproximadamente uma hora.
Aconselho comer quentinho e não dividir com os bigodes.
Se os homens estreitaram laços com os felinos por interesse, tendo seus grãos protegidos contra roedores, foi uma mulher quem popularizou a ideia trazê-los para dentro de casa — pelo menos é o que se acredita. E faz uns 150 anos só! A rainha Vitória apoiava o bem-estar animal e chegou a conceder status de Real à Sociedade Protetora dos Animais inglesa.
Além de cachorros, cavalos e cabras, tinha dois gatos persas — a fêmea White Heather viveu até o final no Palácio de Buckingham, muito depois de sua morte. Bichos de estimação em geral aumentaram na Era Vitoriana (a Inglaterra do século 18), tanto símbolos de status quanto uma forma de os nobres demonstrarem poder sobre a natureza.
E o caráter blasé dos bichanos os tornava a espécie perfeita: "selvagem, mas limpinha" — muitos escritores e artistas expressaram seu amor por eles e pessoas passaram a fazer funerais para seus amores peludos.
Esta série é inspirada no livro O Encantador de Gatos, escrito pelos especialistas em comportamento Jackson Galaxy e Mikel Delgado. Eu assino a confecção das coroas de papel alumínio de cozinha e o cuidado com os bigodes, há quase 16 anos, rs. E Leo Eichinger fez as fotos maravilhosas. ❤️
O conteúdo do Gatoca é financiado por gente que acredita que o mundo pode ser melhor — aqui tem um resumo das principais ações do projeto. Quer fazer parte dos despioradores? Assine nosso clube no Catarse ou doe um cafezinho em forma de PIX: doacoes@gatoca.com.br