2015 foi um ano em que tudo deu errado.
O
financiamento coletivo do Catarse rendeu o
primeiro mutirão de castração do
Gatoca e uma gastrite com a fuga do Napoleão, a morte do Enzo e as demandas intermináveis dos barracos sem janelas do DER, como
mais esterilizações,
ajuda para doar bicho e tratamento para doenças que se desdobravam em outras doenças (
1,
2 e
3) ― Pretinha ganhou e
perdeu um lar temporário em seis dias, por causa de um erro veterinário.
As dezenas de idas à favela incluíram, ainda,
caçar gato embaixo da lavadora,
atravessar telhado de bunda e desfilar pelas vielas de terra com
seu Moacir de cueca. Distante dali, em um bairro de ruas asfaltadas e árvores floridas,
Catrina foi abandonada por um ser humano, proibida de receber comida por outro e
desabrigada por um terceiro, que mudou de ideia sobre a hospedagem emergencial sem dar satisfação.
Na avenida do Estado, Leo freou para um cachorro preto que andava desorientado entre as pistas, mas sua parceira já estava morta. Da
conversa com a família de carroceiros, restou a impotência. E o sentimento se repetiu quando o
Vitório virou Derrota antes de desmamar, mesmo com quatro pessoas, incluindo um mendigo, envolvidas na batalha.
Em meia noite de sono, Pimenta conseguiu
cortar o rabo num cômodo praticamente vazio do apertamento. Simba odiou a ração renal que Pipoca já comia, emagreceu 600 gramas em sete dias (a pança loira
era assim), teve
intolerância alimentar com a marca nova, que ironicamente amou, e a diarreia mais fedida da história de
Gatoca ― detalhe: a gente nem havia curado a
infecção de pele de 2014.
Às vésperas do famoso inferno astral de dezembro, quase cinco anos depois da adoção,
Feijão e Luigi foram devolvidos. E o Facebook tirou do ar o post de divulgação dos meninos com quase mil compartilhamentos, levando junto todas as ofertas de lar temporário e os contatos dos interessados em ficar com eles. Não adiantou
espernear.
Eu já tinha mobilizado a rede para levantar a grana das passagens a Brasília e procurado corações de pudim que topassem acompanhar os bigodes no avião. Gastei, então, mais um tempão escrevendo novos textos de divulgação (
1 e
2), buscando um canto por aqui para os dois, respondendo mensagens de possíveis adotantes. E não consegui terminar o e-book do
Gatoca para o Natal ― sim, nosso primeiro livro digital seria lançado neste ano.
Como dezembro é o mês mais longo dos 12, ainda trinquei o dedinho do pé em duas partes, só encostando no aspirador de pó. Chorei com o coral de crianças no supermercado, comprando os ingredientes para a ceia do Jamie Oliver. Fiz faxina até perto da hora da festa e não pintei as unhas. E, em vez de Papai Noel no trenó, assisti a uma barata entrar voando pela janela do quarto e atravessar a cama de lençol recém-lavado.
O post começou com os contratempos do mutirão no DER, né? Mas nós também conscientizamos a comunidade sobre os benefícios da castração, com
panfletagem nos estabelecimentos comerciais,
inscrição na pracinha e
conversa de porta em porta. A Ceva doou todos os vermífugos e antibióticos da empreitada. E as cirurgias, ocorridas em duas etapas (
1 e
2), beneficiaram 49 cães e gatos ―
Napoleão foi encontrado 18 horas e três quilos perdidos depois.
Subindo e descendo as vielas de barro, eu descobri a
Cida, garota de rua que cresceu protetora e ajuda os animais da favela com o salário de empregada doméstica. O seu Luis, que emprestou o pet shop para incentivar a população a
cobrar o CCZ, já que eu costuro palavras melhor do que barrigas. E a
Karol, pré-adolescente que convenceu os avós a castrar os 14 quadrúpedes da família e doar os bebês hollywoodianos.
Após três campanhas de divulgação (
1,
2 e
3),
Will Smith conquistou a veterinária Camilla De Cássia Sovenhi.
Halle Berry e Catherine Zeta-Jones se mudaram para a casa da Joyce Tsuchiya Melo. Johnny Depp teve um
desfecho aparentemente frustrante que
terminou feliz. Benedict Cumberbath e Julia Roberts passaram pelo
quintal da Susan (AUG) antes de aportar, respectivamente, nos apartamentos da
Maria Augusta e da
Rafaela Dantas.
Angelina Jolie virou Tofu no colo de Bianca Urata. E Brad Pitt sensibilizou
dona Madalena com sua
bacia quebrada ― esqueci de contar isso nos primeiros parágrafos. rs
O financiamento coletivo do Catarse também permitiu que o blog fosse atualizado diariamente por cinco meses, somando
98 textos, para turbinar a missão de divertir, ensinar e sensibilizar leitores de língua portuguesa a arregaçarem as mangas pelo mundo. E o
layout ganhou cara nova, assinada pelo namorado e programada pelo irmão. Em abril, nós batemos a marca de
1 mil posts. Naveguem pelo
arquivo de dicas! (Seria insano listar tudo aqui.)
Meu relato sobre o
dengo da Pretinha pós-sofrimento
amoleceu a Fernanda Abreu, rendendo-lhe dois irmãos temporários, o Demonho e a Mushu. E o
Gatoca se profissionalizou nas campanhas de adoção: teve especial de
Halloween,
Black Friday e
Dia dos Mortos. Os moradores do prédio onde Catrina foi três vezes sacaneada
se uniram para ajudá-la, João passou
quatro semanas de janelas fechadas até a gente conseguir um lar temporário oficial e
Marina Kater-Calabró não resistiu ao chamado de La Muerte. Feijão e Luigi recomeçaram na casa nova ― conto assim que terminar a adaptação delicada.
Uma das desistências do mutirão de fevereiro aprendeu a tempo que pena se deve sentir de
animal que vai para a rua. A pedido da Gatto de Bottas, que ficou sabendo do nosso trabalho educativo por uma grande marca de ração, nós conscientizamos a família do Baeta a
castrar oito bichanos. E caprichamos nas fotos da turma para
divulgação. Michele Naneti e Cléber Borges acabaram adotando
todos os Cartoons encalhados! E o café da manhã virou PB com Penélope Charmosa e seus três frajolinhas.
Para agradecer a
aula de maquiagem do Saulo Fonseca, acostumado a pintar modelos de passarela e capas de revista, eu fiz um
book do Fumacinha, que logo arrumou um sofá-arranhador oficial.
Salvei um gato da árvore montada num estranho. Insisti na propaganda do
Felinos Urbanos, esperançando despiorar a vida dos peludos maranhenses que não votaram na família Sarney por cinco décadas. Escrevi os textos da agenda e do calendário 2016 do AUG, além de coordenar as vendas do arraial e do bazar de Natal.
E ganhei
cobertinhas da Itacira Ossiama para os bichos do DER,
mimos artesanais da Daniela Cavalcanti e proteção de peru, morcego, aranha e cachorro em
Cunha. Ah! Continuei
trabalhando em boa companhia, sendo louca dos gatos com orgulho (
1,
2 e
3), curtindo as peripécias dos bigodes (
1,
2,
3,
4,
5,
6,
7,
8,
9 e
10) ― valem cada clique! E eles continuaram
se amando.
Não faltou festerê, aliás: da
Chocolate, da
Pandora, da
Clara, da
Guda e das Gudinhas, do Gatoca (
1,
2 e
3), do
Simba e do Mercv (
1 e
2). O leãozinho se curou da diarreia e da infecção de pele (finalmente!) com a
homeopatia, um tratamento lento, mas bem mais barato e sem efeitos colaterais. E minha admiração pela Maria Eugenia Carretero se desdobrou em
terapia alternativa coletiva, incluindo o
terror da Jujuba.
2015 foi um ano em que tudo deu certo.
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