.
.

2.4.15

Se há uma chance, Gatoca é a favor

A forma mais fácil de contar uma história é a cronológica. Mas a vida não quer saber o que aconteceu primeiro. Vem passando por cima do sono e da fome com suas demandas egoístas, e obriga a gente rabiscar o cronograma 20 vezes. No sábado, rolou a segunda parte do mutirão de castração no DER. Eu pretendia escrever sobre isso. Junto com as três gatas, os nove filhoticos e o cachorro fujão, porém, Pretinha adoeceu ― lembram da peluda que me rendeu um talho na mão?


De mucosas amareladas, ela parou de comer, virou meia e passou a andar com dificuldade. Para ajudar no diagnóstico, Drª. Ana Lúcia pediu exames de sangue e ultrassom, que o pessoal do R&K executou com o maior carinho (e 30% de desconto). Karolyne, a neta de 13 anos da dona Ermínia, fez questão de acompanhar as cirurgias da trupe, a consulta da pretolina e ainda faltou à escola ontem, dia do laboratório.




Subiu a ladeira da comunidade de batom, se emocionou olhando as imagens cinzentas no monitor da veterinária e comentou animada que o avô havia recebido a aposentadoria e compraria a primeira caixinha de areia para os bigodes ― eles usam o barraco sem janelas de banheiro e quem vê primeiro limpa (quando não dá o azar de pisar).


Estiquei o caminho da volta até o pet shop e coloquei no carrinho duas bacias grandes, pazinha, cinco pacotes de granulado higiênico, sachês e latinhas de sabores variados. Dona Ermínia me recebeu com uma xícara de chá de camomila, que, mesmo detestando, eu tomei até o fim. E seu Moacir, homem de poucas palavras, sorriu pela primeira vez.


Hoje, com o resultado dos exames, nós pedimos socorro ao Dr. N., vizinho da comunidade. A coisa é séria: anemia severa, infecção, hepatose. Karol aprendeu a medicar (corticoide uma vez ao dia e antibiótico, duas), a dar papinha (Nutralife Intensiv) na seringa, a endurecer para amolecer. E eu fui pagando ― R$ 472 já, porque Dr. N. não cobrou a consulta.


Quero que Pretinha tenha uma chance, mesmo que pequena. Mas quero ainda mais mostrar a Karol que vale a pena sair da zona de conforto para deixar o mundo melhor. E o mundo começa com quem a gente já sabe que ama, para se esparramar por desconhecidos que a gente aprende a amar.


P.S.: No próximo post, publico as fotos individuais dos bebês, que a família topou doar. Toda ajuda é bem-vinda: com dinheiro, divulgação, apoio moral. :)



Leiam também:

:: Panfletagem por uma causa nobre
:: Inscrição em três etapas - parte 1
:: Inscrição em três etapas - partes 2 e 3
:: Protetor é quem cuida
:: Mutirão de castração é para os fortes
:: Da favela para Hollywood!
:: Mutirão de castração é para os fortes - parte 2
:: O primeiro de nove!
:: Sementes
:: Adoção platônica
:: Adoção Gremlin
:: Quase famosos
:: Ossos e um coração partidos
:: Felicidade que nunca chega
:: Descanso merecido
:: Para bater recordes de bilheteria!
:: A arte de enxugar gelo
:: Quando a coisa fica preta
:: Desfecho frustrante
:: Refilmagem
:: Os últimos de nove
:: Favela com emoção
:: Conscientização: o trabalho por trás dos holofotes
:: Ossos e um coração colados
:: NeverEnding Story
:: De Hollywood para o Japão
:: De Hollywood para os palcos
:: Halloween da sorte 2015
:: De Richard Gere para os braços do Pepê
:: Black Friday fracassada

2 comentários:

Anônimo disse...

Caramba Bia!!!!
Tu é uma guerreira. Alguém te ajuda? Vejo gente com casos muito menos complexos que esse pedindo ajuda a todo momento na internet...


Beijos

Beatriz Levischi disse...

Ajuda, sim. Mas tem que insistir: http://blog.gatoca.com.br/2015/04/ajuda-para-quem-ajuda_7.html. rs