Para contrapor a pegada descompromissada de Vou te Receitar um Gato, livro de estreia do nosso clube, escolhemos logo um calhamaço, polêmico e com nomes impronunciáveis. O Mestre e Margarida, do escritor russo Mikhail Bulgakov, satiriza a vida e a repressão sob o regime soviético de Stálin.
E o curioso é que o próprio Stálin viu 16 vezes Os dias dos Turbin, uma das peças do Bulgakov, fez voltar em cartaz quando soube que tinham censurado, ainda arrumou um emprego para ele como diretor assistente no Teatro de Arte de Moscou ― as informações são do jornal O Globo.
Na trama do nosso livro, satanás e seu séquito diabólico, composto por um gato fanfarrão, um intérprete trapaceiro, uma bela bruxa e um capanga assustador, decidem visitar a Moscou dos anos 1930, deixando um rastro de destruição e loucura ― e inspirando a música Simpathy for the Devil, dos Rolling Stones.
Em algum momento, eles se cruzarão com mestre, autor malcompreendido de um romance sobre Pôncio Pilatos, e Margarida, que fará de tudo para reencontrar seu amado desaparecido ― já li um terço da obra e até agora nada. Estou apanhando, inclusive, para decorar as múltiplas alcunhas dos personagens com a privação de sono proporcionada pela Jujuba.
O encontro para conversar sobre a leitura ocorrerá no terceiro domingo de fevereiro, dia 16, das 16h às 19h. Para participar, basta apoiar o Gatoca com qualquer valor a partir de R$ 15, escolher uma bebida e comprar sua edição favorita ― usando os links abaixo, uma porcentagem vem para a gente. :)
- O Mestre e Margarida da Editora 34, traduzido pelo Irineu Franco Perpetuo
- O Mestre e Margarida da Companhia das Letras, traduzido pela Zoia Prestes, filha do Carlos Prestes
- Versão em e-book da edição da Companhia das Letras
- Vou te Receitar um Gato, para quem ficou curioso
- Qualquer compra na Amazon partindo deste link ajuda o projeto (vale até aspirador de pó!)
Sabem aquele armário em que terra se tornou tempero, as paredes com sedimentos de catarro, secreção de olho, patê e patas, o toldo mofado pelos temporais que arrancaram o portão e as 283 janelas que exigiriam a criatividade de lavar internamente com o pulverizador das plantas? Fora o toalheiro e a luminária do banheiro nunca instalados. Além da porta de tela, cuja estrutura Leo construiu e eu fiquei de pintar e colar o mosquiteiro.
Aí, a bateria do celular de dois anos estufou e a Samsung me deixou 22 dias sem WhatsApp e fotos boas, quebrando o galho com um iPhone de uma década atrás, justo nas comemorações de Natal, Ano-Novo e aniversário ― para querer me cobrar um terço do valor do aparelho pelo conserto. Da taxa de R$ 38 para constatar o óbvio não consegui fugir.
E só pude participar do Amigo Secreto de Talentos do meu próprio projeto usando a conta do Leo no aplicativo de mensagens do Zuckerberg. Ganhei da Karine a história do Gatoca ilustrada por inteligência artificial e editei na unha cinco cenários de Onde Está Wally? para a July procurar Amora, Batata, Matilda, Milka e Pobá ― as versões de IA pareciam saídas de filme de terror.
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Cluboca teve até bolão da virada! Tudo porque Karine, que mora no Canadá, encontrou C$ 10 ao passear com a rata, jogou na Mega-Sena e ofereceu dividir o prêmio com o grupo. Antes mesmo de eu aceitar participar, as meninas já haviam decidido me dar um iPhone novo, comprar uma casa para o Intrú, destinar uma tonelada de ração para ONGs, abrir um cat-café e organizar uma excursão pela Europa para conhecer outros cat-cafés. Claro que não ganhamos.
E, se o Natal foi dia de pijama enquanto o Ano-Novo passamos à base de hambúrguer, não permiti que o cansaço e a frustração tecnológica arruinassem também os festejos de 45 anos. Sim, qualquer amigo precisaria enfrentar horas de estrada (e pedágios) até o interiorrr. Mas Eli, Bá, Tati e Fê trouxeram comida, presentes e lembranças da melhor fase da minha vida ― risadas que riem juntas há três décadas!
Imagina se eu não fizesse ioga! rs
Não, não esqueci da retrospectiva. Só demandava uma energia que não descobri de onde tirar. Sozinha pela primeira vez na existência, Jujuba se põe a miar quando fecho o quarto para dormir e na melhor hora do sono, porque acordou desorientada, e antes das 6h para ganhar sachê batido de café da manhã. Eu até poderia educá-la. Mas 17 anos e meio atrás.
Confesso que também falta estímulo para escrever contra os algoritmos e depois ainda ser roubada pela IA do Google ― acho que nunca fiquei tanto tempo sem atualizar o blog! Na semana que vem, quem sabe?
Intrú queria comida e eu precisava de um modelo para alternar as fotos do blog com a Jujuba, porque nosso castingdesfalcou de repente. Ele ganhou croquetes e consegui cinco cliques: quatro de cara feia e o último sem gato ― que saiu correndo para providenciar o próprio almoço, provocando uma debandada de passarinhos.
Impossível não lembrar do Grinch, a criatura verde que odeia Natal, interpretada no cinema pelo Jim Carrey. Ou do Scrooge, personagem de Um Conto de Natal, escrito por Charles Dickens, que considera a data um desperdício de tempo e dinheiro, e acaba recebendo os espíritos do Natal passado, presente e futuro para esfregarem seus erros na cara.
Eu mesma não morro de amores pela chacina animal, o apelo consumista e a ideia de juntar pessoas tão diferentes em volta da mesma mesa. Mas não podia agradecer vocês pela travessia em companhia deste 2024 tão difícil de mau humor, né? Percebi, então, que chapeuzinhos de Papai Noel deixam qualquer coisa fofa.
E é nesse clima que festejo a chegada ao nosso grupo de apoiadores da Sara Gonçalves, da Soraia Mancilha e da Celina Matsuda! Elas se juntam aos maravilhosos Adrina Barth, Alice Gap, Itacira Ociama, Regina Haagen, Renata Godoy, Leonardo Eichinger, Irene Icimoto, Tati Pagamisse, Roberta Herrera, Vanessa Araújo, Dani Cavalcanti, Samanta Ebling, Bárbara Santos, Marina Kater, Sonia Oliveira, Marcelo Verdegay, Fernanda Leite Barreto...
... Bárbara Toledo, Solimar Grande, Aline Silpe, Lucia Mesquita, Michele Strohschein, Marilene Eichinger, Guiga Müller, Sérgio Amorim, Gatinhos da Família F., Luca Rischbieter, Rosana Rios, Regina Hein, Paula Melo, Paulo André Munhoz, Marianna Ulbrik, Cristina Rebouças, Lorena da Fonseca, Karine Eslabão, Michely Nishimura...
...Danilo, Klay Kopavnick, Glaucia Almeida, Ana Cris Rosa, Ana Hilda Costa, Lia Paim, Elisângela Dias, Ivoneide Rodrigues, Melissa Menegolo, Vanessa Almeida, Vivian Vano, Maria Beatriz Ribeiro, Elaigne Rodrigues, Simone Castro, Beatriz Terenzi, Viviane Silva, Regina Hansen, Arina Alba, July Grafe, Sandra Malacrida, Vera e Gabriela Fromme, Lucia Trindade, Aline Silva e Caroline Rocha! 🤗
Será que em 2025 nosso rabugento ganha uma família para brigar no Natal?
Ninguém espera que vocês encham os cômodos com semáforos, faixas de pedestres e placas de trânsito, mas planejar o fluxo de tráfego da sua casa garante que humanos e animais se movam livremente, sem conflitos ― estruturar o mundo em dois eixos, horizontal e vertical, ainda ajuda quem tem cachorro e criança, porque o incompreendido do bichano pode encontrar seu lugar de confiança no alto.
Para colocar o planejamento urbano em prática, Jackson Galaxy, autor de O Encantador de Gatos, livro que inspira esta série, sugere três passos.
Passo 1
Avalie a paisagem atual da sua residência, analisando a disposição dos móveis e recursos (comedouros, bebedouros, arranhadores, banheiros). O trânsito parece eficiente ou existem áreas problemáticas, como as descritas abaixo?
- Pontos de conflito: locais onde costumam acontecer brigas, agressões, xixis fora da caixa. Marque cada um deles com fita adesiva. Quanto mais marcações, pior é o espaço, demandando alternativas para não se tornar um ponto morto.
- Zonas de emboscada e pontos mortos: muitas vezes criados por aspectos da própria casa, como posicionamento da mobília, elementos arquitetônicos e até mesmo bagunça, deixam apenas uma opção de acesso aos recursos, possibilitando que um peludo impeça o outro de passar.
- Cavernas: já explicamos o significado e importância de bloqueá-las aqui.
Passo 2
Adicione "rotatórias" aos pontos de conflito para desviar o fluxo. Vale usar prateleiras ou qualquer estrutura de escalar que ofereça um nível alternativo de passagem, permitindo que o bichano suba para se afastar da área problemática. É preciso viabilizar também rotas de fuga, certificando-se que todas as prateleiras e locais de apoio tenham vários pontos de saída ― no caso do banheiro, basta tirar a tampa.
Passo 3
Otimize todo o espaço potencial dos cômodos com as dicas dos próximos capítulos.
Quem nasceu nos anos 70 e 80 cresceu com o Pica-Pau descendo as Cataratas do Niágara em um barril, enquanto pessoinhas de capa amarela gritavam de braços levantados. Imaginem, então, a emoção que vivi ao sentir os lendários respingos no rosto, quando viajei para o Canadá a trabalho, em 2006 ― de capa azul, porque amarela é a cor para os turistas do lado norte-americano.
Foi exatamente o oposto de ver um braço do toldo se desprender do contêiner bem em cima da casinha do Intrú, durante o último temporal, derrubando uma cachoeira inteira no telhado, que se deslocou e fez o coitado sair correndo sem barril nem capinha. Acho que nunca fiquei tão ensopada na vida, ao menos não de pijama, tentando consertar algo na força do desespero.
E precisei de muitos croquetes para convencer o gorducho a entrar no cafofo de novo, cujo cobertor 50% molhado tapeei com a bolsa térmica para resistir à madrugada. Estas fotos são do dia seguinte, quando saiu sol e pude lavar tudo, menos o gato ― que continuava tentando trocar de casa.
Domingão rolou a primeira edição da pata literária (e etílica) do Gatoca, com participantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Bahia, Canadá e do plantão do hospital (nutricionista, calma!). Movida a chocolate quente com rum, na caneca do Simba ilustrada pela Marina Kater, nem vi as três horas passarem.
A gente conversou sobre Vou te Receitar um Gato, best-seller japonês de Syou Ishida, indicado pela Cora Rónai na coluna d'O Globo, que divertiu parte dos leitores pela leveza e abandonou outros no caminho pela superficialidade e ritmo mais lento.
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Eu mesma achei uma boa ideia mal-executada, como se toda a experiência que a autora demonstra com bichanos faltasse à escrita ― diálogos artificiais, inconsistências no enredo, soluções convenientes. O tom de "manual para acompanhar a adoção" ainda se alternava com animais de raça, romantização de fuga e lições de moral blé, como a de que ninguém é insubstituível.
Mas gostei da proposta do realismo mágico e confesso que fui pega de surpresa pelo plot twist, pós-chá de matatabi. Das cinco histórias, a que mais me tocou foi a da mãe cansada e sem tempo, que faz a filha devolver um filhote, porque já estive no lugar da criança e dezenas de vezes no lugar da mãe, como protetora que sobra com o gosto amargo de não poder ajudar quem repassa o problema para dormir tranquilo.
Lúcia Trindade notou que todos os personagens começam autocentrados e acabam mudando por causa dos gatos. "Quando um gato entra na sua vida, tudo muda", emendou Cristina Barreto. E Vanessa Araújo enfatizou o reestabelecimento de conexões perdidas também nas famílias desfuncionais.
Não passou despercebido para Viviane Silva que as mulheres têm mais visão de contexto, enquanto os homens parecem mais alienados. Já Lorena Fonseca sacou que a personalidade do médico e da enfermeira que trabalham na clínica que receita felinos era condizente com a deles. Aline Silpe recomenda para quem gosta de dorama, o que não é seu caso.
E quem melhor resumiu a experiência, na minha opinião, foi a Paula Melo, que sentiu falta de aprofundamento nas 224 páginas: "Amei, duas estrelas!". rs
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O Cluboca do Livro é uma das recompensas do nosso financiamento coletivo e a segunda edição está programada para o início de fevereiro ― divulgo o nome do livro e a data certinha assim que decidirmos. Se você também quiser viver outras histórias, cair na risada junto, se emocionar e culpar o clima seco, clique aqui e escolha sua bebida! :)
Jujuba já tinha assumido o papel de enfermeira de Gatoca ao aconchegar a mãe e as irmãs enquanto morriam.
(Pipoca e Pufosa com dois dias de diferença, exigindo malabarismos de todos os envolvidos.)
Mas eu não imaginava que não desgrudaria também da Chocolate, que deixava clara sua preferência por não trocar calorzinho com ninguém ― a gente tirava a bichinha de perto e ela voltava, feito iôiô.
E, quando chegou a vez da Pimenta, comecei a me preocupar: quem cuidaria da malhada?
Claro que ela tem a mim, mas não é a mesma coisa ― poder desligar do mundo colada a um corpo quentinho e peludo, que só sairá de perto depois de você.
Pela primeira vez sozinha em 17 anos e meio, Jujuba se aproximou mais de mim. Na hora de dormir, porém, se encaixa entre as almofadas do sofá, onde antes existiam outros nove gatos, e meu coração engasga.
Tem gente que é incompetente para o descanso. Eu havia prometido um respiro neste fim de ano, depois de quase meia década de mortes felinas em sequência, para retomar os projetos com força total em 2025. E, quando me dei conta, estava com a casa virada do avesso. Tudo começou com a caminha da Chocolate, intocada desde abril, porque me faltou coragem para doar.
E como já teria de abrir espaço no depósito de jardim, resolvi rever todas as coisas guardadas ao longo da jornada com gatos ― pois poderia esfriar, ou esquentar, ou resgatar de novo uma ninhada, ou precisar de mais banheiros. Levei até a ONG que castrou o Intrú e nem fotografei porque não percebi o movimento que se iniciava.
Aí, Leo sugeriu uma ida ao Ceagesp para repor as plantas que não sobreviveram à rotina entre alarmes ― ele cuidando dos pais e eu, dos velhinhos quadrúpedes. Peguei a estrada determinada a recomprar a cinerária prateada que secou junto com a gangue e voltei com cristas-de-galo que, se crescerem como imagino, farão um pôr de sol no gatil ― Intrú ajudou com os vasos de fora, como não se nota na imagem anterior.
Mari pediu, então, para procurar na papelada que deixou comigo, antes de se mudar para a Itália, seus diplomas e históricos escolares. E aproveitou para desapegar dos livros e das roupas que já haviam vindo de Sorocaba para cá. A coleção do Sherlock Holmes entreguei na biblioteca da cidade, pequena, mas gracinha. E as obras de espiritualidade estou dividindo entre os amigos menos céticos.
As peças sociais poderiam ser vendidas no shopping, já que minha irmã não compartilha a estratégia de usar até virar pijama, depois jogar no reciclável porque não aceitariam nem como doação. Só que antes de qualquer destino preciso descobrir como tirar macha de botão que esverdeou o tecido ou de calça colorida que estampou a clara.
E lavar de novo a leva do varal que quebrou, para delírio do Intrú.
Tenho compartilhado mais registros do cotidiano nos stories do Instagram, porque vocês disseram que querem ver ― e talvez contribua para a fidelização da comunidade (já disse que odeio os algoritmos?).
Ainda deve rolar um bate e volta para Campinas, pois também consegui substituir, nesta Black Friday, os pneus que me obrigavam a dirigir com aventura pela Raposo. Perguntei ao mecânico se dava para saber a data da última troca, já que não me lembrava mais, e fiquei chocada com a resposta: 2008. Comprei o Focus em 2011.
A gangue nunca entrou no estúdio do Leo porque cada passo em falso tem potencial de destruir meia dúzia de coisas ― de bibelôs a equipamentos de fotografia. Mas Intrú, o Sherlock Holmes dos vãozinhos em dias abafados, conseguiu.
Ignorou o sofá macio, as prateleiras apinhadas de objetos brilhantes, os vasos de plantas tóxicas e subiu direto na mesa para fazer o que todo gato (semi)domesticado faz: digitar com a bochecha no laptop enquanto pede carinho.
Nestas quase duas décadas de gateira, Mercvrivs foi filho único por apenas quatro meses. E, em um ano e meio, eu, que não gostava de animais, já havia juntado dez gatos ― mais nove temporários compartilharam simultaneamente a casa com eles (sem contato direto), além de dois cachorros (Marley no quintal e Pandora no veterinário, depois no hotelzinho).
Isso quer dizer que estou acostumada a trapezistas, cuspidores de fogo, mágico serrando a ajudante ao meio, não a saber de quem são todos os cocôs, xixis, vômitos e espirros de madrugada. Ou a cuidar de um único ser vivo, sem outros três doentes demandando. Muito menos a comprar um brinquedinho 100% fracassado porque não pôde ser repassado.
P.S.: vi essas molinhas no canal de um veterinário espanhol e, com o tigrinho xófen dele, elas fazem o maior sucesso. Guardei para testar com o Intrú, quando ele não morar mais em um chão de grama ― e elas conseguirem rolar.
Neste 2024 de tantas perdas, o Gatoca conseguiu juntar dois band-aids para a alma: literatura e gatos. O Cluboca do Livro pretende ser um espaço seguro e acolhedor para viver outras histórias, cair na risada junto, se emocionar. Nosso grupo no WhatsApp já tem 25 integrantes e o primeiro encontro (por videoconferência) está agendado para o dia 8 de dezembro, um domingo, às 17h.
Jujuba encarou com desconfiança a transformação do dom de seu povo em mercadoria, mas Vou te Receitar um Gato, best-seller japonês de Syou Ishida, foi indicado pela Cora Rónai, gateira e jornalista das antigas, na coluna d'O Globo.
Ainda dá tempo de participar, basta assinar a recompensa de R$ 15 no Catarse, providenciar sua versão favorita da obra (em papel ou digital) e escolher uma bebida (chimarrão, suco verde, chá de cogumelo, drink com guarda-chuvinha) para acompanhar o bate papo.
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Novidade: se vocês decidirem comprar o livro pela Amazon e usarem este link, o Gatoca agora recebe uns trocados. :)
Ainda não acredito que você e Jujuba, as irmãs mais ariscas da ninhada parida em casa, ficaram por último ― 17 anos e 5 meses e meio, no seu caso. E que a frajolinha assustada que criou asas para grudar no teto de tela, em Sorocaba, quando o entregador passou com as telhas pelo quintal, terminaria no colo. Ronronando.
Aqui também sofreu o ataque do Intrú no gatil e tudo desandou. Entre o abscesso de agosto de 2023 e os vômitos de sangue (as diarreias explosivas viriam depois), comecei o rascunho desta despedida. O arquivo marcava 28 de fevereiro!
Como no dia em que escapou da mordida do Marley andando pelas paredes de São Bernardo, hábito "Matrix" que levaria contigo em todas as nossas mudanças de cidade, você fugiu da morte desviando pelas paredes metafóricas de 2024 ― enterrou Chocolate e Pimenta, que nem ruins estavam, apesar de renais.
E demandou uma jornada quase integral de cuidados, que eu constatava sempre que recebia o relatório do celular ― Youtube para as tarefas mecânicas, WhatsApp para conversar com o veterinário, alarmes para encaixar a rotina em blocos de 40 minutos (os intervalos das seringadas de comida).
Se o ataque do Intrú acelerou sua partida, ele se redimiu emprestando a energia que faria falta à Jujuba, porque você passou a dividir a porta de vidro da lavanderia com o gorducho ― só que do lado certo. E Jujuba acolhia seu 1,7 kg nas madrugadas.
E assim você foi apagando no seu tempo ― a doença renal crônica não conseguiu te desidratar, deixar o hálito fétido ou roubar o apetite amarelando as mucosas. Mas causou um déficit metabólico que tornou os nutrientes da última semana inúteis.
Insegurança na caminhada, xixi fora do banheiro (que você já confundiu com restaurante!), meio pacote de fraldas de bebê ― e miadinhos (que agora me desmontam como alucinação auditiva) para virar de lado no sofá, ganhar mais comida ou uma forcinha com o cocô.
Ontem de manhã, quando o sol rasgou uma trégua nos dias chuvosos, senti que estava esperando para se despedir do jardim. E testemunhei uma última ressurreição:
Você travou a boca para o sachê favorito, conquistou o direito de dormir na cama com minha alergia a gatos (Jujuba de vigília na porta) e, às 2h, amolecida no meu peito exausto, esticou determinada os bracinhos para o alto, como se abraçasse alguém, depois apertou-os contra minha mão.
Eu costumo brincar que se uma criatura do além resolver me assombrar, vai precisar se esforçar mais do que os bigodes, que passaram quase duas décadas fazendo barulhos estranhos e parando em posições bizarras ― Jujuba agora deu para conversar com a parede, mas ela tem 17 anos e meio. rs
A justificativa que todo gateiro conhece para esses comportamentos aparentemente inexplicáveis dos bichanos é inseto, primeiro tópico da nossa listinha. Mas o veterinário espanhol Carlos Gutierrez, do canal Mascotas y Familias Felices, pontua também outras causas, que achei interessante trazer neste Dia das Bruxas.
Vibrações misteriosas
Os felinos conseguem detectar movimentos sutis, como correntes de ar, porque seus bigodes e sobrancelhas possuem vasos sanguíneos e terminações nervosas. Isso permite que notem a presença de um passarinho ou uma borboleta que ainda não entraram no nosso radar.
Audição supersônica
Sua capacidade auditiva muito mais desenvolvida do que a nossa, aliada à habilidade de girar as orelhas na direção do som, possibilita escutar frequências que o ouvido humano nem sonha em captar.
Surdez seletiva
Sim, seu gato te ignora de propósito. Esse poder de isolar ruídos de fundo, a que estão acostumados, para focar nos novos faz com que prestem atenção apenas no que interessa ― provavelmente algo para o qual a gente não daria a menor bola.
Câmera lenta
Por quanto tempo você olharia uma preguiça atravessando a rua? Pois é assim, em slow motion, que os peludos enxergam movimentos super-rápidos para nós, como o bater das asas de um beija-flor ― uma vantagem na natureza, já que permite se antecipar a possíveis ataques. Uma janela, para eles, dificilmente é apenas uma janela.
E por que as esquisitices acontecem sempre à noite, hora favorita dos fantasmas? Porque os bichanos são crepusculares, ou seja, ficam mais ativos ao cair da noite, nossas luzes atraem mais insetos e as sombras que eles produzem ainda criam efeitos mágicos.
Os estudos que embasaram o vídeo estão em inglês e espanhol, por isso não linkei no texto. Mas seguem abaixo:
Olhando para uma das muitas cicatrizes feitas pela falta de noção dos bigodes, me toquei que o único gato que me atacou dez vezes não deixou marca nenhuma ― quer dizer, tenho um rasgo no braço de tentar fechar a porta da lavanderia antes de ele conseguir entrar, mas a incompetência foi toda minha.
O frajola de patinhas de elefante chegou como Intruso, batendo primeiro na Keka, ao invadir o gatil, depois na Pimenta, que aproveitou um descuido do Leo para sair no terreno. Virou Intrú quando passei vergonha para castrá-lo. E agora me olha com vergonha sempre que troco Intrusinho por Frufruzinho ― os caninos e as garras finalmente se limitaram aos ratinhos.
Não tem tempo ruim com quem transforma pedra em travesseiro. O gorducho ainda me obriga a exercitar a flexibilidade porque se encasqueta com algo, ninguém demove. Bateu 6,1 kg (o dobro da época do resgate!) depois que descobriu uma fonte de comida porcaria no bairro ― digo porcaria porque a criatura passou a rejeitar a ração úmida natural. E só emagreceu (500 g) quando tive a ideia de misturar o molho da Pet Delícia na ração seca super premium.
Muita gente acha que protetor doa os bichos de que não gosta e não há impressão mais equivocada. É preciso amar para reconhecer que o outro merece mais ― uma casa em que a FeLV não impeça de morar do lado de dentro, com aquecimento nas madrugadas frias, brinquedinho livre de formigas, sem riscos de atropelamento.
Enquanto esse dia não chega, ele tem salvo os meus ❤️ ― obrigada, madrinhas, pela acolhida dupla!