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28.7.22

Gato correndo loucão: 3 causas que eu desconhecia!

Todo gateiro um dia vai se deparar com um bichano que resolve atravessar a casa correndo do nada, como se anunciassem promoção de sachê. Eu vejo isso aqui há quase 17 anos e nunca perde a graça — Keka anda pelas paredes, Guda mergulha de barriga embaixo da cama e Jujuba finca a bandeira imaginária na última prateleira da sala, atropelando as irmãs na descida.


Mas só recentemente descobri que essa loucura tem método e pode ser sinal de alerta. A causa mais comum leva o nome pomposo de Períodos Frenéticos de Atividade Aleatória, o que significa, no populacho, que o gato desembesta a correr para queimar a energia acumulada ao longo do dia, como uma resposta quase involuntária do corpo — sim, faltou brincadeira.


Se ele já passou dos dez anos, porém, vale uma conversa com o veterinário, porque a outra suspeita é de hipertireoidismo, uma alteração hormonal que acelera o metabolismo, provocando problemas cardíacos, gastrintestinais e renais, e demanda tratamento medicamentoso para controle ou cirurgia.

O diagnóstico pede exames laboratoriais, principalmente dosagem hormonal de T4. Mas estes sintomas dão uma pista do quadro: perda de peso mesmo comendo mais, a hiperatividade constatada nos ralis, vômitos frequentes, problemas na pelagem, aumento na ingestão de água e no volume de xixi, agressividade.

Há, ainda, um terceiro motivo: a hiperestesia, síndrome rara caracterizada por sensibilidade extrema na pele e um conjunto de comportamentos obsessivos, como mordedura, lambedura e vocalização excessivas, perseguição ao próprio rabo, corridas ou pulos fora de controle — o animal pode apresentar também dilatação das pupilas, ondulações no lombo e até espasmos musculares.

A doença não tem origem clara nem cura, mas medicação aliada a brincadeiras e enriquecimento ambiental devolvem a qualidade de vida. Essa dica vale para qualquer bicho, aliás — tirando a parte do remédio, claro.

E não preciso comentar que às vezes os bigodes enlouquecem só porque estão perseguindo um insetinho que a gente não viu ou escutaram um som que ouvidos humanos não captam, né?

22.7.22

Novidades no Gatoca!

Em terra de gateira, a rinite alérgica é de gatos. E a gente chegou a morar em um apertamento de 60 m2 — dez bigodes, Leo e eu. E hoje as peludas mais novas estão com 15 anos, demandando cuidados especiais. Por tudo isso, o Gatoca acabou focando no projeto de educação e deixando os resgates de lado.


Ao mesmo tempo, nós temos apoiadores maravilhosos, que vira e mexe tropeçam em uma vida precisando de recomeço. Decidi, então, colocar à disposição de quem arregaça as mangas por um planeta melhor esta vitrine de uma década e meia — e meus textos e o conhecimento esforçado de edição de imagem. Angel estreou anteontem! :)

Junto com essa recompensa novíssima do nosso financiamento coletivo, vai um mimo pelo correio, porque, sabe-se lá como, os cartões postais da gangue ficaram todos colados — um minuto de silêncio.


Neste mês, aliás, quem acompanha Pufosa no Gramado da Fama é Regina Hansen, que descobriu o Gatoca procurando outra campanha no Catarse e acabou sensibilizada pelos bichanos. Beatriz Terenzi, leitora há nove anos, que chegou em busca de dicas de adaptação. E Viviane Silva, que me escreveu querendo doar o material de fluidoterapia de Ronron e Twix, em agradecimento à ajuda dos posts sobre como medicar e alimentar animais doentes. ❤️


Vocês não têm noção do tanto que esse reconhecimento dá um ânimo para jornalistas independentes, como eu, continuarem a produzir conteúdo exclusivo. Para se juntar aos despioradores de mundo (e participar do grupo de WhatsApp mais acolhedor e divertido da internet), basta clicar aqui — nossa jornada é longa e só pretendo parar na ONU.

Obrigada pela companhia, Adrina Barth, Alice Gap, Itacira Ociama, Regina Haagen, Renata Godoy, Leonardo Eichinger, Irene Icimoto, Tati Pagamisse, Roberta Herrera, Vanessa Araújo, Dani Cavalcanti, Samanta Ebling, Bárbara Santos, Marina Kater, Sonia Oliveira, Danilo Régis, Marcelo Verdegay, Patrícia Urbano, Fernanda Leite Barreto...

...Bárbara Toledo, Solimar Grande, Aline Silpe, Lucia Mesquita, Michele Strohschein, Ana Fukui, Marilene Eichinger, Guiga Müller, Sérgio Amorim, Gatinhos da Família F., Luca Rischbieter, Rosana Rios, Lilian Gladys de Carvalho, Regina Hein, Paula Melo, Paulo André Munhoz, Marianna Ulbrik, Cristina Rebouças, Lorena da Fonseca...

...Karine de Cabedelo, Michely Nishimura, Ana Paula de Vilas Boas, Danilo, Klay Kopavnick, Glaucia Almeida e Ana Cris Rosa, Ana Hilda Costa, Lia Paim, Elisângela Dias, Amanda Herrera, Ivoneide Rodrigues, Melissa Menegolo, Vanessa Almeida, Vivian Vano, Maria Beatriz Ribeiro, Elaigne Rodrigues e Simone Castro! 🤗

20.7.22

Adoção: gata baiana busca amor tibetano!

No dia 1º de janeiro deste ano, enquanto metade da população estava de ressaca e a outra metade com covid, Cristina Rebouças tentava acalmar uma tigrinha de dois meses, surgida no portão de sua casa, suja, faminta e feroz — nem vou comentar a luta que foi pegá-la para dar banho.


Oito luas se sucederam até Cris conseguir ficar perto da pequena na hora de comer, prendendo a respiração, só para vê-la se esconder antes de terminar o potinho. Seu esporte favorito é fuga de estranhos. Mas ela também pratica a filosofia das ruas: descer a porrada primeiro para depois descobrir que se assustou com um pedacinho papel.


Aos finais de semana, gosta de cair de mau-jeito na tigela de água e fazer milanesa na caixa de areia. Convive com outros nove gatos no mesmo Airbnb, só que ainda não ficou amiga de nenhum — na verdade, a coitada tensiona quando algum galanteador arrisca uma aproximação.

Angel está com 8 meses e, como não sabemos os perrengues que passou em seu comecinho de vida, tende a demorar para confiar — em bípedes e quadrúpedes. Precisa de uma família paciente, com capacidade irrestrita de amor. No colo da Cris, aprendeu a gostar de carinho e até brinca de caçar os rabos que passam. 🧡


Será doada apenas para apartamento telado ou casa de muros altos, em Salvador e região metropolitana — o contato pode ser comigo ou direto com a Cris: (71) 9105-9044. Ajudem este post a chegar nos tutores da tigresa? :)


Este espaço é aberto aos apoiadores do Gatoca que arregaçam as mangas por um mundo melhor. Para participar do nosso financiamento coletivo, basta clicar aqui — e neste link tem um resumo das principais ações do projeto nos últimos 15 anos.

18.7.22

Ainda não acredito...

Sonhei com o Mercvrivs pela primeira vez ontem.

Ele morria.

Hoje completam dois meses. 💔



Despedida do Mercv:

:: Saudade
:: Cicatriz
:: Luto seco: um luto estranho

14.7.22

Como é um abraço felino? | EG #11

Impossível não lembrar daquelas fotos de animais com bracinhos, já viram? — desculpa, Keka! 😂


Mas gatos abraçam sem usar as patas, virando de barriga para cima (com as garras guardadas, claro). Por ser uma posição extremamente vulnerável, trata-se de uma bela demonstração de confiança, o que não significa permissão para meter a mãozona lá.


Se soar como ameaça, a mordida ou o arranhão certamente virão, porque essa também é uma posição de defesa, embora de bichanos pouco interessados em arrumar treta, já que deixa os dentes e as quatro patas a postos para proteção. E, no caso dos filhotes, podem entender como um convite à brincadeira.

No livro O Encantador de Gatos, que inspirou esta série, financiada pelos apoiadores (quem quiser despiorar o mundo com a gente basta clicar aqui! ❤️), Jackson Galaxy lista outras posturas corporais importantes para entender seu amigo.

Trégua: como os ancestrais dos bigodes não eram uma espécie social, eles não têm sinais claros de apaziguamento. Costumam resolver conflitos, portanto, se evitando ou com comportamentos defensivos — um deles explicado anteriormente, o outro parecendo menores (e menos ameaçadores) ao encolher ombros e patas e apontar as orelhas para trás. Podem até atacar, encurralados, mas só como última opção.

Amizade: ocorre por meio de um cheiro único para o grupo e de sinais como o rabo erguido. A roladinha é comum na presença dos mais velhos, de fêmeas no cio ou em resposta ao catnip.

Relaxamento: peludo que boceja e se alonga está tranquilão. Ao deitar com as patas embaixo do corpo (e as "armas" escondidas), no estilo "pão de forma", ele mostra que não tem a intenção de fugir ou se defender. Mas também vale a esfinge, com as patas dianteiras esticadas diante do corpo — frequentemente acompanhada por olhos "bêbados".

Tensão: notem que o relaxamento se difere do agachamento, em que o bichano fica parcialmente encolhido ou apoiado nas patas dianteiras, uma posição tensa, em provável sinal de dor.

Chateação: faz com que eles arrepiem os pelos e adotem uma postura expansiva para parecerem maiores — o clássico gato de Halloween, sabem? Em estado de alerta, estão dispostos a se defender se necessário.

Ataque: patas esticadas, rabo arrepiado e traseiro erguido indicam que é melhor correr.


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: Bichanos dormem menos do que parece (estreia no dia 15 de setembro!)

7.7.22

Testei roupinha para gato! #polêmica

Eu sei que eles não gostam, que a gente deve investir em alternativas (caminha, cobertor, aquecedor), que, apesar de fofo, roupinha atrapalha a higiene, dificulta os movimentos e "aprisiona" um animal que tende a se incomodar com o menor penduricalho — já escrevi sobre tudo isso.

Mas Chocolate continuava gelada em sua almofada de joaninha, instalada dentro de uma caixa de papelão praticamente fechada, com o climatizador ligado a madrugada inteira — aqui em Araçoiaba chegou a fazer 5ºC! E a criatura se recusa a deitar no grupinho. Dotada de um timbre vocal poderoso, ninguém dormia.

Vale explicar também que os bichanos sofrem mais do que os cachorros com as baixas temperaturas porque vêm de regiões quentes, tendo seu organismo mais adaptado ao calor. E que sentir frio pode, inclusive, afetar a saúde mental.

Liliane, apoiadora querida, crochetou, então, uma roupinha de lã para teste. Deu trabalho colocar porque ficou justa. Mas, se fizesse maior, acho que a encardida tiraria. E não faltou tentativa! — isso depois de ela conseguir se equilibrar em pé, rs. Filmei os melhores momentos, incluindo as reações da gangue, para a superproducinha de julho, recompensa do nosso financiamento coletivo.



Imagino que o ideal seja comprar um tecido elástico. Só que não encontrei nada parecido na internet. As opções do mercado, aliás, são péssimas: com gola, capuz, material que não aquece, pouco prático de limpar, a preços indecentes. E Chocolate acabou arrumando outro uso para a roupinha.


Para garantir uma noite de sono tranquila a bípedes e demais quadrúpedes, antes de deitar eu esquento sua almofada de joaninha com o secador — aquele que herdei e nunca apontei para o cabelo.

6.7.22

Vida com gatos (pendurados) #9

Já pesquisaram as caraterísticas de um bom travesseiro? Primeiro, depende da posição em que se dorme: de barriga para cima pede uma espessura mais fina para evitar curvar demais o pescoço, de lado demanda uma altura equivalente à distância entre os ombros e a base do pescoço. Há também que se considerar a resistência do material. E o tipo — mais ou menos quente, ortopédico, confortável, só que propício a causar alergias.

Isso se você for humano, claro.

Para os gatos, basta pendurar a cabeça em qualquer superfície:








Mais vida com gatos: #1 | #2 | #3 | #4 | #5 | #6 | #7 | #8

1.7.22

Luto seco: um luto estranho

Eu me considerava especialista em luto. Perdi meus avós maternos aos 15 anos, minha mãe aos 23 e meu pai aos 31. Aí vieram as mortes felinas, Simba aos 36 e Clara aos 41, eclipsando outros parentes porque essa é uma lista de afetos. Em todos os casos, houve uma doença que se demorava, noites de sono entrecortado, alívio no final — e lágrimas atropelando tudo.

Mas não com o Mercvrivs.

Até muito perto do inesquecível 18 de maio, cuidei dele esperando que ficasse bom. Não percebi que era a vida que emagrecia, ainda não acredito que nunca mais. E, apesar de lembrar do frajola todo dia, não penso a respeito, não vejo fotos, não estendo conversa. Medo de chorar e não parar mais.

Por ele, por tudo de tão errado com o mundo, pela minha pequenez.

Foi um episódio do Diário Possível (mas inventado), anteontem, que me driblou. Comecei empática à voz embargada da Ana Roxo, que se despedira do pai, peguei carona na trilha sonora ardilosa e logo o tronco inteiro chacoalhava no tapetinho de ioga, em que Mercv me fez companhia por mais de uma década — a parceria na cadeira do escritório beirou 17 anos!

42 dias represada.

E ainda não posso dizer que estou fluindo.



Despedida do Mercv:

:: Saudade
:: Cicatriz

29.6.22

15º quase-aniversário do Gatoca e bastidores

Lembram do Pequeno Wilber, na época em que a gente ouvia rádio FM, "sem os braços, sem as pernas, mas ainda vivo"? Pois é assim que eu me sinto às vésperas dos 15 anos do Gatoca. Não só por todos os blogs e protetores que ficaram pelo caminho, mas porque eu mesma quase fiquei pelo caminho — primeiro com a obra da casa, dia desses com covid.

Após dois anos e meio enraizada no concreto de Sorocaba, sem muitos frutos, e no terreno de Araçoiaba, com muitas formigas, fui a um evento em São Paulo, cujos ingressos estavam comprados desde o fim de 2019, para ajudar no desenvolvimento do primeiro jogo de tabuleiro do projeto — que deve começar, na verdade, por um jogo de cartas.

Enchi uma sacola com todo tipo de pecinha que vocês podem imaginar, deixei Chocolate autografar o saquinho de dados e caí doente.


Cinco dias ruim e dois de cama, com febre, falta de ar mesmo no corticoide, corpo atropelado, garganta queimando, tosse catarrenta.

Tentei confirmar o diagnóstico para não ficar circulando por aí e contaminar mais gente, mas me fizeram circular por aí e contaminar mais gente sem um diagnóstico — duas idas ao hospital do SUS, a primeira com quatro horas de espera, e três a farmácias com testes custando o dobro porque moramos em um fim de mundo turístico.

Só quando precisei correr com o Leo de madrugada para o pronto socorro é que tivemos o resultado duplamente positivo para covid. E ele ainda me rendeu uma discussão com o médico, que conseguiu chamar de irresponsável a única pessoa que segue usando máscara na cidade e sai de casa apenas para ir ao supermercado, uma vez por mês. Capricorniana!

Retruquei perguntando se ele era vegano e, enquanto contextualizava que a pandemia estava diretamente ligada ao consumo de carne e ao desmatamento, sugerindo uma mudança de dieta, ele gritava e me enxotava do consultório. Cena bonita de se ver, principalmente para ativistas que precisam acreditar na humanidade para continuar seu trabalho.

Aqui, retomo o início do texto: de nariz entupido e respirando pela boca, o Gatoca também persiste. E já fizemos de tudo: 1.651 posts (contando este!), e-book, mutirão de castração, oficina com crianças, roda de conversa com adolescentes, canal no YouTube, websérie felina, loja colaborativa, newsletter, Gatonó, edital do Condeca com a prefeitura de Sorocaba — os links estão aqui.

Espero voltar no dia 10 de agosto, data do aniversário oficial, com mais uma novidade! — esqueci de explicar o que é um quase-aniversário, né? É quando você cria um blog e demora 42 dias para juntar coragem de escrever nele. rs


Festinhas anteriores: 2021 | 2020 | 2019 | 2018 | 2017 | 2016 | 2015 | 2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008

24.6.22

Assassinato no Bebedouro do Poente

Parte I: Os Fatos

Eram 8h de uma manhã de quase-inverno em Araçoiaba da Serra, quando Monstro pediu um pente emprestado e, sem rodeios, quis contratar Levischot para um serviço. Recheado de catnip, ele contou que colecionava inimigos — tendo sobrevivido, inclusive, a uma tentativa recente de sepultamento no jardim. Ela declinou a oferta pelo simples fato de não ir com sua pelúcia.

Como aqui não neva e nossa casa, apesar de adaptada em um contêiner, não se mexe, saltemos direto para o assassinato: às 9h do dia seguinte, o corpo de Mostro foi encontrado sem vida, flutuando no bebedouro de água mais alto do recinto, que ele não alcançaria sozinho.

O assassino estava entre nós.


Parte II: Os Testemunhos

As sete entrevistas ocorreram no gatil, para que o culpado se sentisse seguro em território dominado e acabasse escorregando. Pipoca, primeira a testemunhar, relatou que notou um gosto estranho na água e logo o cadáver emergiu. Pufosa jurou estar ocupada com o pote de comida — a madrugada inteira. Keka, Jujuba e Guda apresentaram o álibi coletivo de terem dormido juntas porque fazia frio.

Pimenta, vista para cima e para baixo com o finado (antes de finar), provavelmente deixaria DNA em forma de catarro no local. E negou qualquer envolvimento na trama, assim como a mãe e as irmãs. Já Chocolate se ofendeu com a suspeita de cometer um crime tão desprovido de drama, como afogamento.

Mas quem disse que foi afogamento?

Parte III: Beatriz Levischot Para e Pensa

Quem se beneficiaria com o mergulho fatal do Monstro? Por que ele precisava de um pente? O enterro frustrado no jardim teria conexão com esse trágico desfecho? Eis que tudo clareou, como roupa limpa saída da máquina!

Para remover a lama e recuperar a maciez dos cabelos, Levischot achou que seria uma ótima ideia lavar o brinquedinho com amaciante, perfume que não só agravou a alergia da Pimenta como arruinou a experiência recreativa com o catnip.

Foi Pips, portanto, que atirou o coitado no bebedouro, mas eu dormirei com essa culpa, caros leitores.

17.6.22

Decifre as expressões faciais do seu gato! | EG #10

Que jogo vocês acham que Pufosa tem na pata? Vou dar uma dica: era tarde de pôquer, valendo petisco. rs


Falando sério, o fato de os gatos não terem as mesmas expressões faciais que a gente não significa que suas carinhas não demonstrem felicidade, tranquilidade, medo. O primeiro indicador do estado emocional dos peludos está, na verdade, um pouco acima: são as orelhas, controladas por mais de 20 músculos, que podem se mexer rápido ou devagar, de forma completamente independente.

- Erguidas e ligeiramente viradas para os lados: relaxamento.
- Voltadas para frente: alerta ou frustração.
- Achatadas para os lados e para baixo: susto ou coleta de informações — quanto mais achatadas, mais apavorado.
- Giradas para trás: proteção de um possível ataque.
- Cada orelha fazendo uma coisa diferente: interpretação ambígua.

Em segundo lugar, vêm os olhos.

- Pupilas contraídas: confiança e relaxamento.
- Pupilas dilatadas: reação de lutar ou fugir — quanto mais dilatadas, mais na defensiva. Mas não podemos esquecer que as pupilas também se dilatam à noite para permitir a entrada de mais luz e, consequentemente, de informações sobre o ambiente.
- Contato visual evitado: minimização da possibilidade de confronto.
- Piscadas lentas: contentamento e relaxamento — por isso vale a pena testar se comunicar com seu amigo assim.

Por último, mas não menos importantes, listamos os bigodes.

- Suaves, apontando para os lados: relaxamento.
- Encolhidos para perto da cara: susto ou defesa, na tentativa de parecer menor.
- Apontados para frente: interesse e coleta de informações, já que detectam objetos e movimentos no ar — quanto mais para frente, mais atento o peludo está. Também podem indicar ataque iminente, ao perceber uma ameaça.

Como nenhum comportamento ou atitude existe no vácuo, é preciso sempre considerar o contexto, alerta Jackson Galaxy em seu livro O Encantador de Gatos, que inspirou esta série longeva, financiada pelos apoiadores — quem quiser despiorar o mundo com a gente basta clicar aqui! ❤️

Um bichano deitadão no sofá certamente se sente diferente de outro encolhido embaixo da cama, concordam? Já Pufosa estava surpresa por ter tirado seu primeiro royal flush. :)



CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: Bichanos dormem menos do que parece (estreia no dia 15 de setembro!)

10.6.22

Cuidado com alimentação forçada para gatos!

Atualizado em 4 de agosto de 2023

98% dos serial killers de plantas as exterminam por falta de água. Eu consigo matar frutífera afogada. E, até abril deste ano, preferindo pecar pelo excesso, entrava com a alimentação forçada sempre que um gato começava a rejeitar a ração. Marquei abril porque foi quando Mercv e Guda ficaram doentes juntos.

O frajola até aceitava bem as seringadas de patê processado — embora elas não tenham conseguido reverter o combo de fígado, baço e pâncreas comprometidos. Mas a barriguda puxava das entranhas para cuspir, o que me obrigava a enfiar a seringa cada vez mais fundo na garganta. Primeiro a coitada parou de ronronar, depois passou a fugir da gente, a barriga se pôs a inchar e não tardei a encontrar sangue nas pedrinhas do banheiro.

O ultrassom indicou gases e cistite. E, na mesma semana, dois produtores de conteúdo que acompanho no Youtube explicaram que estresse pode causar ambos os problemas — gases porque altera as bactérias do intestino e cistite ao desencadear uma ansiopatia chamada Síndrome de Pandora, batizada assim pois afeta vários órgãos e sistemas.

Resumo da tragédia: um quadro que tinha se iniciado com sintomas respiratórios (secreção nos olhos, nariz fungante, espirros aleatórios e engasgos com catarro) desandou completamente com a intenção justamente oposta. E não estou militando contra a alimentação forçada! — em casos de lipidose hepática, por exemplo, ela é essencial.


Mas, antes, aconselho testar outros sabores e marcas de ração — custei a arriscar por medo de um piriri generalizado (Simba desenvolveu intolerância em uma das poucas trocas que precisei fazer, milênios atrás). Dependendo da situação, os veterinários liberam até comidas contraindicadas para ajudar a recuperar o apetite — claro que não as tóxicas.

Se forçar goela abaixo for a única solução...

- Comece devagar e com pequenas quantidades, já que o animal não poderá recusar o excesso.
- Bata a ração (seca ou úmida) que ele estiver acostumado a comer para evitar diarreia — lembrando que a seca precisa amolecer primeiro.
- Dilua bastante.
- Use dosador oral.

IMPORTANTE!

Tentar tirar o atraso da alimentação de uma vez tende a provocar vômito e é muito frustrante perder um dia inteiro de esforço por causa daquela seringada a mais — isso quando o bicho não entra em looping de vômitos, mais difícil ainda de contornar. Vale lembrar que, em condições normais, cabe (confortavelmente) no estômago de um gato 20 ml de comida ou água e a digestão demora cerca de 40 minutos.

8.6.22

Um post diferente de aniversário

Eu sempre fotografo os bigodes no dia dos festejos de adoção (ou, mais clássico, de nascimento), conto para vocês o que a gente fez de bom e às vezes desengaveto um causo empoeirado. Neste 2022, porém, as Gudinhas* completaram 15 anos na sequência da morte do Mercv — assim como Simba morreu em cima do aniversário dele (para que servem os 365 dias?).

E a data acabou passando em preto.

Em vez de improvisar uma comemoração retroativa, como já aconteceu outras vezes, resolvi, então, pesquisar no arquivo fotos das meninas tiradas nesse período e sorri duas constatações: 1) Nunca usei tanto a câmera do celular — como se pudesse congelar os afetos que me escapam pelos dedos. 2) Sem qualquer programação, os gatos desta casa já têm vidas memoráveis. ❤️


Pufosa e o sono em família


Pipoca e o colo aleatório no meio da tarde


Jujuba e as ervas recreativas


Keka e a almofadinha para aumentar o conforto da almofadona


Pimenta e os 90 m2 de gatil na natureza, com florzinha pendurada no nariz


*Novelinha: conheça a história das Gudinhas

Outros aniversários: 2021 | 2020 | 2019 (especial Dia do Abraço) | 2018 | 2017 | 2016 | 2015 | 2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009

3.6.22

Cicatriz

Quando minha mãe morreu, a menos de um mês para o Natal de 2003, eu fechei o sutiã que insistia em dar um baile no funcionário do hospital, consertei o sobrenome escrito errado na plaquinha do velório, pedi para tirarem os crisântemos do caixão porque ela achava que crisântemo era flor de cemitério — não pareceu contraditório na época.

Sempre fui razão.

Nas inúmeras sessões de terapia depois, percebi que se mostrava urgente algum espaço para emoção. Cogitei até tatuar um coração de asas como lembrete. Aí conheci o Eduardo, coincidentemente com essa mesma imagem na internet, símbolo de muitos presentes, e Mercvrivs, o mais inesquecível deles.


Pensei de novo em tatuar o coração alado, agora como lembrança. E me toquei que o frajola já havia cuidado disso. A cicatriz no tornozelo direito, feita durante um trabalho que não existiria sem ele, porque caiu do colo que foi seu porto seguro em horário comercial durante 16 anos e 7 meses, me dividindo entre a dor e o riso, como tantas vezes antes. ❤️


Aproveito para agradecer os apoiadores incríveis do Gatoca, Adrina Barth, Aline Silpe, Daniela Cavalcanti, Elaigne Rodriges, Elisângela Dias, Gláucia Almeida, Kley Kopavnick, Marcelo Verdegay, Regina Tavares, Vanessa Araújo e Vivian Vano, que, encabeçados pela Michele Strohschein, dividiram as despesas com os últimos exames dos bigodes, compensando a desvalorização que nosso financiamento coletivo sofreu nos últimos anos.

(Aceitamos novos apoiadores, retribuímos com mundo melhor! 🤗)

E também a Tatiana Spinelli, irmã que escolhi na jornada, que tem ajudado a colar minha alma com band-aids de reiki lá da Itália — sair na foto com a Jujuba não é para qualquer um! rs

18.5.22

Saudade

Do alto da minha arrogância, acreditei que era só dar água na seringa que você viveria para sempre — não me passou pela cabeça que existiam outras mortes de gato, que não a do Simba e da Clara. E talvez eu tenha subestimado a falta que ela te faz, né, Mercv?

Você, a criatura mais tibetana que já passou pela Terra, me esperou recomeçar. Nove meses, depois dos nove meses do parto ao contrário — essa parece ser a nova marcação de tempo por aqui. Eu não estava pronta. Mas também não estaria se você partisse aos 30 anos, como costumava brincar.

16 e meio: tanto em tão pouco.

Sim, eu quis desistir porque você começava a diarreia na caixa de areia e saía andando sem terminar, sujando tudo. Não entendia nada de bicho. Só que, quando o veterinário disse que sua chance de sobreviver era pequena, nem 50 dias já com anemia, infecção e virose, eu chorei.

Na frente de um estranho, por uma bolota de bigodes de que acha que não gostava. E decidi te segurar nas garras — além de acabar com o estoque de Gatorade de limão, seu favorito.

O que não me impedia de ficar brava quando você mordia meu dedão embaixo da coberta ou escalava minhas pernas com as unhas, porque desconhecia o próprio poder letal. Entendi só depois que o combo precoce de doenças te roubou a oportunidade de se calibrar na lutinha com os irmãos.

Essa foi a vantagem que Eduardo usou para me convencer a te adotar, lembra? "Ele não mia, não brinca, não come, você nem vai perceber que ele existe". E logo a Clara me pescou no pet shop, te mordeu de volta e a paz passou a reinar — fora do quarto, porque, injustiça das bravas, me descobri alérgica a gatos.

Você foi, de longe, minha melhor escolha. Tentaram me empurrar os filhotes que cresceriam de olhos azuis, um dos cinzas com branco, o mais peludinho. Mas eu sabia que era você — o frajola comum, com a eterna secreção no olho esquerdo e o pelo caspento (que resolveu ficar macio e brilhante, misteriosamente, no final). Não tem explicação, não racional.

E com você eu aprendi a amar também cachorro, passarinho, rato kamikaze, pomba porcalhona. A resgatar, depois a doar — não sem antes formar nossa gangue. A dividir o Gatoca com o mundo. A estender esse amor aos porcos, vacas, galinhas — e ler rótulo minúsculo de embalagem.

A querer mudar o planeta.

Agora, preciso aprender a continuar sem você — e seu cheirinho de roupa passada, o salto alto ecoando pela casa, as caçadas de ração, o colo roubado no meio da ioga, "mãããããããe" perfeitamente miado do outro lado das portas fechadas (isso quando você não decidia abri-las no pulo), a parceria no mamão do café da manhã (porque descobri que não podia te dar iogurte e sorvete napolitano), sua paixão por água, fingindo que bebia só para molhar o cabelo.

Naquele 2 de dezembro de 2005, te carreguei sem jeito no carro balançando, com medo de quebrar. Uma menina de 25 anos. Aos 42, sou eu a quebrada.

Se não existir nada além daqui, no nosso terreno você está ao lado da Clara — lugar em que você mesmo escolheu descansar no último passeio, já cambaleante. E porque Leo pegou a enxada há pouco, com a sensação térmica de 9ºC — você partiu no dia mais frio do ano e o termômetro não precisava concordar.

Como prometido, segurei sua mão por intermináveis cinco horas. E você retribuiu com um pãozinho timidamente amassado, o presente mais incrível que uma mãe poderia ganhar. Não existirá outro Mercvrivs.

Vem me visitar, de vez em quando? Eu sou boa de sonho.



*

Não poderia deixar de agradecer à Guda, que não era a Clara, mas ficou grudadinha com o Mercv até o fim. Ao Leo, da ajuda prática com o soro e os almoços que eu mal conseguia comer ao acolhimento em abraços silenciosos. Ao Edu, que cuidou do pequeno nos últimos dois anos, durante as madrugadas e finais de semana. À Maru, por me apresentar à homeopatia e às seringadas de água, e me acompanhar na despedida. Ao Eduardo, por ter insistido para eu abrir a janela e deixar o sol entrar.