Pode parecer uma dúvida boba, mas mudou completamente minha rotina com a Keka porque, quase duas décadas e dez gatos depois, eu não sabia que o segredo da fluidoterapia está no xixi! Só que me adianto. Preciso explicar primeiro como chegamos até aqui. A magrela tem 17 anos e gastrite, não qualquer gastrite, uma gastrite causada pela doença renal.
Isso quer dizer que os rins dela não filtram direito as toxinas, deixando passar ureia para a corrente sanguínea, e essa uremia provoca enjoo e úlceras no estômago. Para ajudar a diluir as toxinas, animais renais demandam um reforço na hidratação, o que eu já fazia com as seringadas de sachê (batido no blender).
Acontece que, após oito dias comendo até pedra, feito de arrancar lágrimas quando a criatura em questão pesa metade dos tempos áureos, Keka entrou em um looping de vômitos, terminando em sangue vivo ― quanto menos a comida parava na barriga, menos ainda a gente oferecia para não sobrecarregar a digestão e, claro, ela acabou desidratando.
Eu, que havia prometido não aplicar soro na leva arisca da gangue, me vi reconsiderando tentar apenas uma bolsa para ver se a pequena embalava de novo ― que vida bandida essa de tutora de idosos! Festival de urros e algumas pesquisas frustradas na internet depois, escrevi para o Eduardo Carneiro, porque tenho o privilégio de poder encher de perguntas um veterinário paciente e acolhedor.
O primeiro efeito do soro é hidratar o bicho, o que ocorre gradativamente, conforme passa para o sangue e depois banha os tecidos ― você vai ver uma bolota se formar no local da aplicação e ir desaparecendo aos poucos. Nos casos mais severos, pode demorar alguns minutos e, nos demais, raramente passa de quatro horas.
Vale ressaltar que me refiro à aplicação subcutânea, aquela entre a pele e o músculo, que a gente consegue fazer sozinho em casa (dicas salvadoras aqui), porque a intravenosa (direto na veia) se absorve bem mais rápido. Como a desidratação está sempre ligada a outro problema, porém, retornará também em questão de horas se ele não for resolvido.
Em um quadro renal, por exemplo, equivale a dar um auxílio emergencial de R$ 300 para uma família com despesa de R$ 3 mil ― longe do ideal, melhor do que nada. Por isso a indicação de pelo menos quatro aplicações, permitindo que o organismo ganhe um respiro maior para se reorganizar.
Nossa aposta é que os vômitos da Keka cessem e a hidratação oral, sem agulhas, torne a bastar. Aqui entra o segundo efeito do soro: ao diluir a ureia, ele ameniza a náusea. Mas ela só passa mesmo com a eliminação pelo xixi. E voltamos ao começo do post. Funciona melhor concentrar a hidratação de manhã, assim o animal se livra logo das toxinas e tem o resto do dia para comer sem o enjoo atrapalhando.
Como a desidratação, porém, a uremia também torna a aumentar entre 12 e 24 horas. A insistência na fluidoterapia pode ajudar a voltar menos alta a cada aplicação, mas não é garantido, principalmente porque um corpo acostumado a trabalhar com menos água tende a mandar o excesso embora, buscando o equilíbrio padrão, e o gato acaba urinando mais.
Falta um dia para terminar a bolsa-teste de 500 ml, dividida em sessões de tortura de pouco mais de 100 ml, e a frajola já retomou o hábito de me perseguir miando por comida ― em especial a ração do Intrú, cheia de proteína e fósforo para rins saudáveis, que provavelmente a fez entrar no looping de vômitos.
Uma hora a gente não vai mais conseguir ― eu, ela, os rins. Mas hoje dormi feliz.
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8 comentários:
Música para meus ouvidos...
Mesmo quando vem de madrugada..
AliceGap
👏🏻👏🏻👏🏻Torcendo aqui por dias melhores …obrigada por tanto ensinamento
Quanta paciência vcs têm.
Muita admiração pois sei que não é fácil, abala nosso físico e mais ainda o emocional
Bia, o soro subcutaneo deu uma sobrevida de uns 2 anos para a minha gatinha q morreu com 18 anos. Ela tinha crises de vomito, q as vezes terminavam com sangue tb. Ficava muito desidratada e nas primeiras vezes q levei para fazer soro no vet dava para ver a diferença no brilho dos olhos em menos de uma hora. Depois eu fazia em casa, até sozinha, ela era boazinha, eu aquecia o soro ligeiramente e ela parecia até gostar. Eu usava uma agulha mais grossa, para nao demorar muito. Ela só reclamava da picada, o processo nao parecia ser incômodo para eles, e era bem menos estressante do q tentar dar agua de seringa, q ela tb vomitava durante as crises. Beijo, boa sorte aí, q ela aceite bem e consiga comer. Alias, a vet dos meus diz q gato renal tem q comer. Qq coisa, mesmo q nao seja indicado. Pq o jejum prolongado diminui ainda mais o fluxo de sangue no rim (ou algo assim, já faz um tempo q isso aconteceu, 15 anos).
Parabéns Bia, para mim uma explicação preciosa! Muito grata. Bjs de Cris e das renais, ronrons ❤️
Obrigada por detalhar tudo isso. Onde mais poderíamos encontrar estas informações? Que possamos dar aos velhinhos o melhor para se sentirem bem. Beijo
Olá!Estamos perdendo a guerra, após dois anos do diagnóstico renal, mta fluidoterapis e seringas de sachê renal e uma lista de medicamentos depois, minha Tôquinha, está apática, caindo, quase não consegue mais parar de pé, se instalou uma ronqueira como pneumonia e não consegue mais engolir alimentos na seringa, água, nada e está exalando um odor fétido, mas não temos coragem de levar para fazerem eutanásia!! Ela é uma guerreira lutou toda a vida e nos últimos 2 a 3 anos mais ainda e não sou Deus pra ditar a hora de seu último suspiro, mas estamos de coração partido!!
Obrigada pelas dicas. Estou com a minha gata a seis meses com insuficiência renal crônica. E uma luta para ela se alimentar bem. Seu Blog tem sido um raio de Luz. Obrigada
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