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14.6.24

Três Rs: como alimentar a gatitude | EG #30

Tirando a dieta baseada em carne crua (Barf), incomum aqui no Brasil, o mais próximo do natural que podemos oferecer a um bichano é a ração úmida, de preferência sem grãos ― usados para baratear o preço. Jackson Galaxy, porém, sempre reforça que a pior ração úmida do mercado ainda compensa mais do que a melhor ração seca.

E eu incluo uma exceção às versões medicamentosas, que atendem outras demandas ― no caso dos renais, por exemplo, os grãos ajudam a suprir a necessidade calórica e a saciedade sem que o animal ingira tantas proteínas, sobrecarregando os rins. Já para idosos, o autor de O Encantador de Gatos, livro que inspira esta série, diz que qualquer coisa que aceitarem está valendo ― só precisa ficar de olho no peso.


Ração seca x úmida

Enquanto a ração seca possui apenas 10% de água, a úmida pode chegar a 85%, quantidade mais próxima (até maior) do que a encontrada no corpo das presas que os peludos costumam caçar (em torno de 75%). Tutores que adotam a ração seca, geralmente por conveniência, também tendem a deixá-la direto no chão, o que vai contra a lógica do Gato Essencial ― e o argumento de que ela auxilia na limpeza dos dentes nem merece comentários.

Variedade, sim!

Você provavelmente não gostaria de almoçar a mesma coisa todo dia, mesmo que fosse nhoque. Os felinos menos ainda, já que na natureza estão sempre caçando um bichinho diferente ― Intrú é prova! Com opções para todos os bolsos, dá para testar diversas proteínas, texturas e preparos até encontrar uma combinação favorita ― aqui, os bigodes amam a Pet Delícia, comida com cheiro e cara de comida.

Mudar a dieta do seu amigo regularmente deixará a vida dele mais saborosa. Mas não se esqueça de fazê-lo gradualmente, para evitar piriris.

Refeições com horários

Quem tem comida à disposição durante 24h por dia são os animais que pastam. Carnívoros oportunistas precisam caçar, apanhar, matar e comer (CAMC) ― sem esforço envolvido, a satisfação fica prejudicada. E, como os bichanos evoluíram para fazer pequenas refeições, com intervalos de cinco ou seis horas, o ideal é oferecer diariamente de duas a quatro, seguindo o ritmo da sua casa.

Uma vez domesticado, o ciclo circadiano do gato se conecta ao da família. Quando vocês acordam e a energia do recinto dispara, portanto, ele acompanha. Essa é a hora do CAMC, unindo brincadeira à alimentação, processo que pode se repetir na volta do trabalho/escola e antes de dormir ― sempre que houver um aumento dessa energia, devido a um ritual.

Lembrando que os peludos precisam de 60 a 80 calorias por dia para se manter e um ratinho tem em torno de 30. Isso significa que, na rua, eles comem entre oito e dez roedores por dia, mas só depois de 20 ou 30 tentativas de caça, bem diferente dos bichanos domésticos.

Lidando com gangues

Em casas com mais de um gato, os potes devem ser individuais. E velhinhos ou doentes talvez demandem a alimentação livre. Já os peludos que engolem tudo tão rápido que acabam colocando para fora podem desacelerar com comedouros que tenham barreiras, exigindo mais esforço para alcançar a ração ― dá para improvisar usando pedras limpas. No caso dos invisíveis, aproveite as refeições para integrá-los lentamente ao grupo, em vez de servir a comida em um cômodo separado.

Dicas antichatice

Para experimentar coisas novas, seu amigo precisa estar com um pouco de fome ― e só assim também a gente consegue convencê-los a fazer qualquer coisa, já que são motivados por alimentos e recursos, não por elogios.

- Irritação dos bigodes: como muitos bichanos não gostam que eles encostem nas laterais do pote, vale providenciar um modelo raso ou apelar ao pratinho de vez.

- Textura: há quem prefira patê, pedaços, mais caldo, menos caldo. Você não pode dizer que seu gato não curte ração úmida até testar todos os tipos ― compartilhei dicas para facilitar a adaptação neste post!

- Temperatura: a quentura do alimento deve bater com a temperatura corporal do animal ― exceto nos dias quentes, em que um geladinho cai bem.

- Variedade: como explicado anteriormente, ofereça opções, mude de tempos em tempos, preste atenção nas preferências do peludo.

- Localização: certifique-se que o pote está em um local seguro, longe do cachorro ladrão de comida e da criança sem noção, ou com um campo de visão para observar as idas e vindas ― todo mundo merece paz durante as refeições.

- Pote vazio: os pequenos aprendem rápido que recebem atenção ao mirar para a tigela, esperando que a gente coloque ração fresca.

Importante! É preciso diferenciar gato com frescura de bicho doente. Passar mais de 24 horas sem comer merece uma investigação veterinária, principalmente no caso de animais obesos, que têm risco alto de acumular gordura no fígado (lipidose hepática), podendo até morrer.


(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes quase 17 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 13: Tem outro bichano vivendo dentro do seu!
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito obrigada por toda informação, sempre!

Anônimo disse...

Este post é um presente! Obrigada

Anônimo disse...

Oi, tudo bem? Tenho três gatos e a minha Rita foi diagnosticada com DRC recentemente... tem alguma dica dw como você fazia a alimentação dos gatinhos renais separada dos demais? Tenho medo de que ela queira comer a ração dos outros gatinhos e rejeite a renal. Desde ja agradeço muito! Teu blog foi um achado incrível e de esperança pra mim.

Beatriz Levischi disse...

❤️

Quando eu descobri o primeiro gato renal, troquei a ração de todo mundo para a medicamentosa, porque o veterinário disse que não havia problema se não tivesse gestantes ou filhotes no grupo. Depois, li que a proteína faz falta na dieta de animais carnívoros e o ideal, para não sobrecarregar os rins, é restringir a ingestão de fósforo. E, atualmente, se sabe que a ração seca, mesmo renal, faz pouca diferença no quadro, porque a doença é causada justamente pela falta de umidade na alimentação, já que gatos não curtem muito beber água no pote. Eu me preocuparia mais, então, em oferecer sachês ou latinhas, comprar um bebedouro elétrico sedutor e, se a grana estiver apertada, dar água na seringa. Tem dicas neste post: https://blog.gatoca.com.br/2021/11/seringa-que-goteja-para-cuidar-de-gato.html e no final do texto incluí uma lista de links para ajudar na jornada. :)