Levar o animal de uma família embora é tão triste quanto assisti-lo morrer. E, de certa forma, há uma morte: sem entender nada, a ansiedade da caixinha de transporte balançando dará alugar à tristeza e ele nunca mais será o mesmo ― você, entendendo tudo, também não. Eu resgatei o Feijão em março de 2011, esfomeado e assustado, e
doei junto com o Luigi, de uma protetora do litoral.
Aos 18 anos, Natalia e Arielly prometeram que os encaixariam em todas as mudanças que a vida reserva aos jogadores novatos. Quatro depois, porém, decidiram jogar separadas. Natália voltou para Brasília e Arielly foi morar com uma prima que não gosta dos bigodes porque enchem o jaleco de pelos. O amor se restringiu a um quarto e seis meses de prisão. Feijão começou a perder pelos por estresse e Luigi parou de comer, tendo lipidose hepática.
Eu ofereci ajuda, prática e emocional, mas as pessoas reagem diferente às adversidades: umas arregaçam as mangas e vão para o mundo, outras se encolhem e deixam o mundo vir para cima. Natalia topou, então, recebê-los em Brasília. A
rede do Facebook conseguiu o dinheiro das passagens de avião, em menos de 48 horas, e dois corações de pudim para tomar conta dos meninos na cabine, salvos do risco de morte no porão.
Na véspera do embarque, porém, o pai dela mudou de ideia e os bichanos tornaram a ficar sem lar. Ao final da reunião do bazar de Natal do
AUG, eu pedi arrego à Susan: ofereci a grana arrecadada em troca de um quartinho no
Mamãe Gato, para que eles não entrassem em depressão no abrigo. Ganhei 20 diárias (o triplo do que poderia pagar), porque o hotel lota para as festas de fim de ano. E ajuda com a divulgação da ONG, que tem a maior vitrine de adoção do Brasil. :)
Toda manhã, a gente escolhe como vai gastar nossa energia. Em vez de sentir mágoa, criticar os outros ou me culpar, prefiro deixar o mundo melhor. Hoje, para deixar o mundo melhor, estes gatinhos precisam de uma família. Nosso prazo é curto, eles não são filhotes e estão bastante tristes. No hotelzinho, Feijão se recusou a sair da caixa de transporte e Luigi se plantou na porta, procurando, entre fuzzz, uma brecha para voltar para casa.
Os tutores devem ser pacientes e acreditar no poder de transformação do carinho nas orelhas. Os peludos gostavam de sachê, de olhar a paisagem da janela, de dormir abraçadinhos. E podem voltar a gostar. Se você mora em São Paulo e está guardando a última vaga do coração para um caso especial (ou dois), chegou a hora de preenchê-la! A lotação já atingiu o limite? Por favor, compartilhe.
Nós precisamos recomeçar.