Pandora tinha pelo menos 5 anos quando abocanhou na sacola as salsichas que eu havia comprado. Lembro da bituca de cigarro embolada no pelo, das pessoas quase pisando nela (uma pastora belga prenhe!), de tirar todos os documentos da bolsa para convencer o veterinário a hospedá-la por alguns dias, enquanto corria atrás de um lar temporário. E de como ela me recebia com festa, apesar de tudo.
Na casa da Rose, depois de perder a ninhada e de uma primeira doação trágica, as orelhas de loba se levantaram para nunca mais baixar, o peso dobrou e ela seguiu me recebendo com festa, mesmo debilitada pela idade e pela insuficiência hepática. Resolvi compartilhar o vídeo da visita de março, porque quero lembrar dela assim — a emoção é de quem sabe os dias contados.
No fim de julho, coração e rins enfraqueceram também, as vértebras da coluna despontaram no carinho e o exame de imagem identificou um tumor pressionando os pulmões. A pantera parou de comer, de beber água e só abria exceção às salsichas, onde tudo começou.
Rose me escreveu no sábado, preocupada com a piora acelerada. E no domingo eu fui agradecer, pela última vez, nosso recomeço — mais meu do que dela. A caixa de Pandora se fechou ontem, guardando no fundo falso a esperança de uma humanidade que não descarte vidas.
Por hora, meu coração é negro.
Epopeia da Pandora:
:: Caixa de esperança
:: Casa de esperança
:: Nascimento da ninhada
:: Morte da ninhada
:: Devolução
:: Boletim - 28 de novembro
:: Boletim - 1º de dezembro
:: Boletim - 8 de dezembro
:: Sítio temporário
:: Doação de conto de fadas
:: Primeira primavera
:: Segunda primavera
:: Festa em Sorocaba
:: Terceira primavera
:: Quarta primavera
:: Quinta primavera
:: Sexta primavera
:: Sétima primavera
:: Nona primavera (atrasada), com vídeo!
:: Décima (e última) primavera
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