Vocês devem estar sabendo que São Paulo aprovou uma lei que multa quem alimentar e abrigar pombos na cidade, né? Além de antiética, trata-se de uma medida de controle populacional
A pedido da ONG Canto da Terra, eu escrevi um manifesto que explica por que, embasado em estudos científicos, desmistifica a espécie (Gatoca já abrigou uma pomboca!), aponta os reais problemas de saúde pública e ainda sugere soluções.
A íntegra segue abaixo do vídeo do Jairo Mattos. Sim, tem um ator da Globo lendo um texto meu! E vocês nem precisam lembrar de "Barriga de Aluguel", porque ele integra o elenco da novela das seis. rs
Vai rolar uma ação de inconstitucionalidade, pedindo a retirada da tal da lei, e a gente carece de ajuda para pressionar. Compartilhem este post usando #salveospombos.
Porque eles não merecem levar a culpa do nosso lixo!
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Guerra aos pombos: estratégia equivocada e cruel
Por que proibir a população de alimentar e abrigar pombos tende a aumentar a proliferação de doenças, em vez de reduzir, como espera a nova lei paulistana
Em junho, São Paulo condenou uma espécie que já sofre preconceito a ser ainda mais maltratada aprovando a Lei nº 16.914, de autoria do vereador Gilberto Tanos Natalini (PV), que promete multar quem alimentar e abrigar pombos na cidade. Foram realizadas duas audiências na Comissão de Administração, em 18 de dezembro de 2017 e em 8 de março deste ano, sem votação em plenário.
Por considerar uma medida ineficaz e antiética de controle populacional, a ONG Canto da Terra e o Fórum de Defesa e Proteção dos Animais da Câmara de São Paulo entrarão com uma ação de inconstitucionalidade, pedindo sua retirada. E precisam de pressão popular para serem ouvidos. Compartilhem estas informações! #salveospombos
:: Mentiras e esclarecimentos ::
Pombos transmitem 70 doenças ao homem?
Em 2004, o biólogo suíço Daniel Haag-Wackernagel analisou literatura mundial para doenças possivelmente relacionadas aos pombos e encontrou apenas 176 casos relatados de 1941 a 2003.
Em artigo, ele cita que isolaram 60 patógenos em penas e patas da espécie e apenas sete poderiam causar enfermidade nos humanos, indicando que, mesmo convivendo com eles, o risco de adquirir doenças por esse contato é baixo.
Os fungos e bactérias ligados às respectivas doenças ainda são encontrados em cascas de árvores, madeira úmida, solo e materiais orgânicos em putrefação, além de fezes de outras aves que vivem em bandos, não se podendo culpar exclusivamente os pombos.
Alimentar as aves favorece sua reprodução?
Milho e migalhas de pão, comumente oferecidos pela população aos pombos, estão longe de uma dieta nutricionalmente balanceada, não proporcionando ganho energético significativo para aumentar sua procriação, segundo artigo de Wetswood, publicado em 1996.
:: Desdobramentos indesejados ::
Acúmulo de sujeira em locais já poluídos
Weber relata, em artigo de 1994, que os pombos são extremamente adaptáveis e a redução da alimentação em focos isolados acaba fazendo com que migrem para centros com excesso de lixo, multiplicando a quantidade de fezes passíveis de contaminação nessas regiões.
Aumento da violência contra a espécie
Já perseguidas, as aves sofrerão ainda mais maus-tratos com uma lei que as vilaniza, visto que o atendimento à espécie na Canto da Terra triplicou desde sua aprovação.
:: O real problema ::
Desinformação e cegueira seletiva são os principais desafios de saúde pública na cidade de São Paulo, que ignora a sujeira de praças, escolas, bibliotecas e outras áreas abertas, assim como a falta de moradia digna de parcela significativa da população, que (sobre)vive em casas de madeira e chão de terra batida.
:: A solução ideal ::
Investir em educação, limpeza e habitação
Haag-Wackernagel afirma, em artigo de 1995, que o simples ato de limpar as ruas, impedindo o acúmulo de lixo em locais públicos, já é suficiente para a redução da população de aves. É preciso, portanto, criar políticas públicas de manutenção do espaço público e educação ambiental, além de garantir condições decentes de moradia a todos os cidadãos.
Construir pombais ecológicos
Estratégia de países europeus como Espanha, Portugal e Itália, os espaços contam com comida de qualidade e ninhos onde os ovos botados são substituídos manualmente por imitações, permitindo que os pombos choquem normalmente, sem se multiplicarem.