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10.4.15

Mutirão de castração é para os fortes - parte 2

Bastava repetir os acertos e corrigir os erros da primeira etapa, certo? Não com um barraco sem porta e um cachorro chamado Napoleão. Sexta-feira à noite, eu tinha dois livros para terminar de ler, pipoca para comer vendo seriado e uma dúzia de horas de sono para repor. Mas fui ao DER ajudar a Karol a prender nas caixas de transporte os gatinhos que seriam castrados na manhã do dia 28 de março ― com acesso à rua, o jejum ficaria impossível.


As duas mães e oito bebês viraram três mães e nove bebês. Mais a Pretinha para passar em consulta (história que já contei aqui). E, às 22h, nós rastejávamos pela casa da vizinha para resgatar um filhote fugitivo sob a máquina de lavar. Fracassadamente.


Deitei esgotada e logo acordei com a ligação da Karol: Mel havia esfolado o rosto inteiro na grade da caixa. Ela foi boazinha e omitiu a informação de que os bichanos tinham feito xixi e cocô até nas janelinhas. E que a vizinha não conseguira pegar o fugitivo, alegando ataques impiedosos. Seguimos para Santo André com o carro aromatizado e o grupo desfalcado.




Conforme o Dr. Rodrigo ia operando os peludos, eu lavava as caixas meladas no fundo da clínica.


A Mel esfreguei no banho e tosa ― não dava para devolver a coitada assim, né?


Marcela, estudante de veterinária, deu uma superajuda.


E Bruna, bombeiro (!), foi nos instruindo ― ela cursou o técnico em veterinária e trabalha no banho e tosa aos sábados para aumentar a renda.


Com o incêndio apagado, retornamos a São Bernardo para buscar o Napoleão ― lembram do cachorro que quase me levou ao infarto em fevereiro?


Como eu sou brasileira e não desisto nunca, toquei a campainha da vizinha da Karol de novo, segurando uma lata de sardinha (pet shop de favela não vende sachê). A peste do filhote se escondeu nos entulhos do corredor, me fazendo pensar antes de cada objeto levantado: "Gato, rato ou barata?". E, dez minutos de buscas depois, voltou para a máquina de lavar.

Quando o marido, já sem paciência, levantou a dita cuja no muque, segurei o riso. A criatura assassina não media mais do que 10 centímetros. Fêmea, branquelinha, toda encolhida. E ainda soltou um "miu" para mim de cabeça inclinada dentro da caixa de transporte ― claro que, com os dedos oleosos de sardinha, eu não fotografei.

Napoleão precisou ser anestesiado com cambão, depois de morder o Dr. Rodrigo, tentar morder a própria dona e fazer cocôs aéreos pelo consultório.


Da gravidade do quadro da Pretinha vocês já sabem, mas faltou publicar a foto impressionante das gengivas amareladas.


Às 16h, nós conseguimos parar para almoçar. Nunca pensei que pisaria no McTrash´s de novo. Mas, entre as 200 opções da praça de alimentação do shopping, Karol, que sonha ser professora de dança, escolheu o sanduíche de papelão e ficou tão empolgada com o acréscimo de batata e refrigerante que não deu para falar de alimentação saudável ― e olha que meu nhoque custou metade do preço!

No caminho para casa, o Focus parecia um Fusca de palhaço: Karol com Pretinha no colo, Emily com Napoleão, oito bebês na caixa de transporte maior, um temperamental separado e três gatas adultas em caixas individuais.


Dona Ermínia, avó da Karol, não sabia como agradecer. Jane, mãe da Emily, me deu um cartão para trocar o óleo na oficina mecânica em que trabalha, por sua conta. E fez questão de mostrar como o Bebê havia se curado do machucado e das brigas depois da castração na primeira parte do mutirão.


E eu doei à Cida, protetora-diarista da comunidade, todos os vermífugos e antibióticos que sobraram da empreitada, porque assim funciona a corrente do bem. :)



Leiam também:

:: Panfletagem por uma causa nobre
:: Inscrição em três etapas - parte 1
:: Inscrição em três etapas - partes 2 e 3
:: Protetor é quem cuida
:: Mutirão de castração é para os fortes
:: Se há uma chance, Gatoca é a favor
:: Da favela para Hollywood!
:: O primeiro de nove!
:: Sementes
:: Adoção platônica
:: Adoção Gremlin
:: Quase famosos
:: Ossos e um coração partidos
:: Felicidade que nunca chega
:: Descanso merecido
:: Para bater recordes de bilheteria!
:: A arte de enxugar gelo
:: Quando a coisa fica preta
:: Desfecho frustrante
:: Refilmagem
:: Os últimos de nove
:: Favela com emoção
:: Conscientização: o trabalho por trás dos holofotes
:: Ossos e um coração colados
:: NeverEnding Story
:: De Hollywood para o Japão
:: De Hollywood para os palcos
:: Halloween da sorte 2015
:: De Richard Gere para os braços do Pepê
:: Black Friday fracassada

7.4.15

Ajuda para quem ajuda

O Gatoca diverte, emociona, ensina e inspira cerca de 4 mil leitores mensalmente. Mas só três toparam ajudar a Pretinha. Eu doo meu tempo para o vai e vem (à noite, de fim de semana, no feriado), os textos de palavras escolhidas a dedo, as fotos tiradas com o maior carinho.

Há dez dias, ligo para a Karol toda manhã para saber da peluda. Respondo mensagens dos interessados nos irmãozinhos desde que o post subiu. Hoje, entreguei o primeiro bebê à nova família. E, às 22h50, estou tentando tirar do duto da churrasqueira a primeira resgatinha do projeto ― por isso ainda não deu tempo de contar a segunda parte do mutirão de castração no DER.

Se tiver de arcar com as despesas dos animais socorridos sozinha, vou morar na rua com eles. Vejam essa carinha...



P.S.: Mandem e-mail para doacoes@gatoca.com.br que passo os dados da conta direitinho. ;)

3.4.15

Da favela para Hollywood!

Os atores deste post moram em um barraco sem janelas, sob os cuidados de idosos extremamente humildes e já assistiram boa parte da família morrer envenenada. Foram castrados na segunda etapa do mutirão do Gatoca e têm talento de sobra para fazer humanos felizes ― falta uma tigrada e um branquelinho, que se esconderam dos paparazzi atrás do armário.

Ainda sobrarão perambulando pelas vielas de terra da comunidade quatro bigodes adultos e a Pretinha, que está em tratamento por conta do projeto. Se vocês não puderem adotar, espalhem para os amigos. Ou nos ajudem a pagar a conta. :)


Johnny Depp, 2 meses


Scarlett Johansson, 2 meses


Will Smith, 4 meses


Angelina Jolie, 2 meses


Brad Pitt, 2 meses


Halle Barry, 4 meses


Catherine Zeta-Jones, 2 meses


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2.4.15

Se há uma chance, Gatoca é a favor

A forma mais fácil de contar uma história é a cronológica. Mas a vida não quer saber o que aconteceu primeiro. Vem passando por cima do sono e da fome com suas demandas egoístas, e obriga a gente rabiscar o cronograma 20 vezes. No sábado, rolou a segunda parte do mutirão de castração no DER. Eu pretendia escrever sobre isso. Junto com as três gatas, os nove filhoticos e o cachorro fujão, porém, Pretinha adoeceu ― lembram da peluda que me rendeu um talho na mão?


De mucosas amareladas, ela parou de comer, virou meia e passou a andar com dificuldade. Para ajudar no diagnóstico, Drª. Ana Lúcia pediu exames de sangue e ultrassom, que o pessoal do R&K executou com o maior carinho (e 30% de desconto). Karolyne, a neta de 13 anos da dona Ermínia, fez questão de acompanhar as cirurgias da trupe, a consulta da pretolina e ainda faltou à escola ontem, dia do laboratório.




Subiu a ladeira da comunidade de batom, se emocionou olhando as imagens cinzentas no monitor da veterinária e comentou animada que o avô havia recebido a aposentadoria e compraria a primeira caixinha de areia para os bigodes ― eles usam o barraco sem janelas de banheiro e quem vê primeiro limpa (quando não dá o azar de pisar).


Estiquei o caminho da volta até o pet shop e coloquei no carrinho duas bacias grandes, pazinha, cinco pacotes de granulado higiênico, sachês e latinhas de sabores variados. Dona Ermínia me recebeu com uma xícara de chá de camomila, que, mesmo detestando, eu tomei até o fim. E seu Moacir, homem de poucas palavras, sorriu pela primeira vez.


Hoje, com o resultado dos exames, nós pedimos socorro ao Dr. N., vizinho da comunidade. A coisa é séria: anemia severa, infecção, hepatose. Karol aprendeu a medicar (corticoide uma vez ao dia e antibiótico, duas), a dar papinha (Nutralife Intensiv) na seringa, a endurecer para amolecer. E eu fui pagando ― R$ 472 já, porque Dr. N. não cobrou a consulta.


Quero que Pretinha tenha uma chance, mesmo que pequena. Mas quero ainda mais mostrar a Karol que vale a pena sair da zona de conforto para deixar o mundo melhor. E o mundo começa com quem a gente já sabe que ama, para se esparramar por desconhecidos que a gente aprende a amar.


P.S.: No próximo post, publico as fotos individuais dos bebês, que a família topou doar. Toda ajuda é bem-vinda: com dinheiro, divulgação, apoio moral. :)



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27.3.15

V de tristeza

Na caixa de sapato ensopada, entregue pelo mendigo, ela virou Vitória. Jantou caldinho de sachê, dormiu embrulhada na camiseta e convulsionou de manhã, quando Sheila (lembram da dona do Pãozinho?) me ligou.


No veterinário, entre pulgas, Vitória virou Vitório. A suspeita era de hipoglicemia e o tamanho apelativo rendeu-lhe a doação da papinha importada para desmame.


No dia seguinte, amado como todo animal deveria ser, Vitório virou Derrota. E, sob olhares impotentes, a pantufa de urso murchou.

26.3.15

Aniversariante do mês... passado (repeteco 2015)

Mantendo o recorde da comemoração mais atrasada de Gatoca, Cho* apagou suas oito velinhas ao lado do amigo palhaço, que não ronca de madrugada, não come com a televisão ligada nem alimenta o ódio de classes. E, como boa capricorniana, segundo a nova versão do horóscopo, ainda fez cara de fofa para a foto.


*Novelinha: Conheça a história da Chocolate

Outros aniversários: 2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008

20.3.15

A sexta primavera

Pandora é como os vinhos, só que mais peluda: fica melhor (e maior) a cada ano. No último aniversário, ganhou mamão por causa da insuficiência hepática e estava tratando a artrite com acupuntura, lembram? Neste, recusando-se a avinagrar, voltou ao Biscrock, às corridas pelo jardim, à latição em matilha.

Para comemorar, eu levei batalhoada e a família completa, incluindo o irmão de desvio de septo recém-operado. E, quando São Pedro fechou o tempo, a gente tratou de abrir a conversa. E as risadas. E os apertos.


O pedaço do meu coração que mora em Sorocaba


Família


Dez aqui, 12 lá


Sorriso


Amor alemão


Soneca egípcia


Epopeia da Pandora:

:: Caixa de esperança
:: Casa de esperança
:: Nascimento da ninhada
:: Morte da ninhada
:: Devolução
:: Boletim - 28 de novembro
:: Boletim - 1º de dezembro
:: Boletim - 8 de dezembro
:: Sítio temporário
:: Doação de conto de fadas
:: Primeira primavera
:: Segunda primavera
:: Festa em Sorocaba
:: Terceira primavera
:: Quarta primavera
:: Quinta primavera

19.3.15

98 posts que salvaram vidas!

Eles foram publicados de madrugada, nos feriados, entre lágrimas, com taquicardia. Para continuar divertindo, ensinando, sensibilizando leitores de língua portuguesa a arregaçarem as mangas pelo mundo. E o mutirão de castração, pensado para beneficiar 50 cães e gatos da comunidade do DER, aqui em São Bernardo, rendeu de bônus uma coleção de histórias emocionantes.

E o layout de brechó se modernizou, deixando a naftalina para os oito anos de textos do arquivo ― antes que alguém reclame, as fotículas dos bigodes estão no "Quem somos", muito mais arrasadoras. E vocês não precisarão esperar o próximo financiamento coletivo para apoiar o projeto. Basta clicar no banner do topo da coluna da direita (ou aqui).

Obrigada ao Wings For Change e aos 240 coautores destas linhas e de tantas outras entrelinhas. ♥

13.3.15

Mutirão de castração é para os fortes

Você planeja cada detalhe (1, 2 e 3), pede ajuda para deus-e-todo-mundo, acorda de madrugada com ideias precisadas de papel, faz o namorado ir à 25 de Março comprar pulseirinha de identificação. Mas, só na hora em que se depara com a praça da comunidade cheia de famílias e cães e gatos (domingo, às sete da manhã!), é que tem a dimensão da complexidade da coisa.


E não estou falando de preencher a agenda de cirurgia com os dados dos animais por ordem de chegada (respeitando a divisão entre bigodes e focinhos), prender as pulseirinhas na pata dianteira direita, tirar as dúvidas dos tutores, responder as mensagens da veterinária, colocar todo mundo nas caixas de transporte (mesmo os rosnadores), ajeitar nos quatro carros disponíveis e no caminhãozinho do Luis, dirigir até a clínica.









Ou de operar dezenas de bichos no mesmo dia.


Dr. Rodrigo e Dr.ª Ana Lúcia pilotando as tesourinhas, Adriana e Leda no suporte



Centro cirúrgico



Antes e depois



Técnica minimamente invasiva



Cuidado

Nem de forrar as caixas com tapete higiênico no pós-cirúrgico, separar a quantidade certa de remédio (segunda dose do vermífugo e antibiótico) para cada paciente, escrever mil cópias das instruções, ajeitar todo mundo nos carros e no caminhãozinho de novo, dirigir de volta a São Bernardo, entregar os peludos às famílias, enfatizando as recomendações veterinárias, acompanhar vários deles até suas casas.





Havia 11 voluntários para me ajudar nisso ― obrigada, Leo Eichinger, Mariana Levischi, Denise Granja, Fernando Paulino, Rosa Yukari, Casé Nagot, Tati Pagamisse, xará do Leo, Sheila Santos, Luis e irmã fofa! Obrigada, também, Carol Toledo, Paula Ramos, Amanda Herrera, Fernanda Dias, Dani Xavier e Bruno Fernando, pelo empréstimo das caixas. (Bruno tem um pet táxi que eu recomendo de olhos fechados, gente!)

Quando escrevo "complexidade da coisa", me refiro aos acontecimentos que fogem do nosso controle, como as desistências sem satisfação, a sialata que não estava em jejum e quase sufocou com o próprio vômito, as duas gatinhas em início de gestação que perderam os bebês, o cachorro com testículo ectópico (fora do lugar).


No percurso até Santo André, um dos meus passageiros deu uma de Houdini e fez xixi no carro inteiro.


E o feito virou piada comparado à notícia estarrecedora de que um dos cães do caminhãozinho havia estourado a caixa de transporte e desaparecido bairro adentro. Foram mais de sete horas de buscas ininterruptas, o mamão das 6h vencido no estômago, um par de pernas que mandaram lembranças o resto do mês. Em vão.




Às 16h, com os animais operados precisando retornar à comunidade, a gente resolveu pedir socorro à Jane ― nunca mais vou esquecer os olhos afogados da Emily, sua filha adolescente. E outras cinco horas de via-sacra motorizada e a pé por Santo André se sucederam. Não sobrou uma viela por onde nós não tivéssemos passado. Um morador que não tivesse ouvido o assobio da Jane. Um segurança do entorno do terreno onde Napoleão foi visto algumas vezes sem nosso telefone.

Perto das 22h, derrotados, um motoqueiro bateu no meu carro. Ainda faltou contar do Enzo, o poodlelata que passou a tarde no soro, por causa de uma crise de convulsão. Dr.ª Ana Lúcia cobrou apenas a aplicação do remédio, deu uma caixinha à família e insistiu que ele voltasse para investigarem a causa das convulsões, com desconto-vaquinha-o-que-precisasse. Deitei vazia.


Às 4h30, o celular me pegou acordada. Como faltam palavras no dicionário para descrever reencontros desacreditados, preferi filmar.


Napoleão foi adotado pelas meninas filhote, quando sua tutora, idosa, faleceu. Já tinha escapado uma vez e, aos 3 anos, só aceita as duas ― provavelmente, morreria na rua. Sem paciência com as marcações de território, o avô vive ameaçando doá-lo. A castração coroará o final feliz, assim que o fujão se recuperar do susto. :)






Enzo não sobreviveu. Liguei para a dona Maria Marinês na sexta, depois de passar a semana em curso, acordando às 6h e indo dormir às 24h, e fiquei sem reação, segurando o aparelho no ouvido. Como os exames cardíacos não acusaram nada, restou a suspeita de problema neurológico. E ela não me deixou ajudar com a conta do hospital. "Eu trabalho, meu marido trabalha, tenho uma filha professora, outra designer. Cada um pagou um pouquinho".

Percebendo meu silêncio constrangido, emendou: "As coisas acontecem na hora que têm de acontecer. O mutirão não deu certo para o Enzo, mas beneficiou outros animais, não é?". Dez cachorros (duas fêmeas e oito machos) e 27 gatos (dez fêmeas e 17 machos). Fora a segunda leva, que não pôde ser operada agora. "Então, não desanime. E venha aqui em casa, um dia desses, para tomar um café".

Nas madrugadas seguintes, quando o coração apertava, eu relia a mensagem da Ana Carolina, tutora da Ágatha:


E lembrava do sorriso das famílias na pracinha, recebendo seus amigos quadrúpedes.




Mutirão de castração é, definitivamente, para os fortes.


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:: Ossos e um coração partidos
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:: Para bater recordes de bilheteria!
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:: Quando a coisa fica preta
:: Desfecho frustrante
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