Faz duas semanas que eu rascunho este post na cabeça e, quando sento no computador para escrever, não sei por onde começar. A
história da Mel sensibilizou bastante gente, rendendo sugestões de vaquinha, indicações de lugares que talvez cobrassem mais barato pela cirurgia, questionamentos existenciais variados. E eu me deparei com um misto de sentimentos.
É muito legal ter leitores/amigos que não se fingem de mortos nessas horas. Mas poucos de vocês conhecem os bastidores da proteção animal (ou de qualquer grupo de pessoas que lide com faltas). Por trás dos finais felizes e das fotos coloridas divulgados aqui no blog, há pilhas de travesseiros salgados, de passeios não feitos e de sofás que viraram socorro veterinário.
O mais difícil é aprender a dizer "não". Eu não posso, por exemplo, bancar uma operação de R$ 2 mil e virar as costas para todos os outros moradores da favela que baterão à minha porta com bichos em situação pior à da Mel. Por isso recorri à Metodista. E, depois dela, ainda foram mais seis e-mails trocados, cinco mensagens pelo Facebook e dez ligações.
Universidade de São Paulo, Universidade Paulista, Dr. Emílio Sciammarella, oftalmologista indicado pela Unip, Centro de Diagnóstico De Olho no Bicho, Dr.ª Amelia Leybonz, idealizadora do Veterinários na Estrada, Dr. Eduardo Perlmann, oftalmologista indicado por ela, Dr.ª Marcia Galego, professora da USP.
E Mel continuará cega ― a cirurgia custa caro para um profissional arcar sozinho e as instituições renomadas não estão dando conta da demanda. Tempo perdido, que ninguém fica sabendo porque nunca vira post. Mesmo os happy ending nos roubam um tempão "invisível".
Para dar uma segunda chance à
família Cartoon, que vocês amam, eu passo uma tarde do fim de semana a cada 15 dias fotografando e outra editando as imagens, desde fevereiro. A vacinação da pirralhada rendeu a via-sacra São Bernardo-São Paulo-Santo-André-São-Paulo-São Bernado, que se repetirá na castração (adiada por causa da comemoração das mães).
E, com a grana gasta, daria para tirar as férias que fogem de mim há cinco anos! O objetivo deste texto, tão difícil de parir, é mostrar que as coisas são mais complexas do que parecem. E que só educação para os bípedes e castração para os quadrúpedes podem alaranjar o horizonte.
Aguardem o primeiro mutirão do
Gatoca ― e outras ideias revolucionárias. :)