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1.7.22

Luto seco: um luto estranho

Eu me considerava especialista em luto. Perdi meus avós maternos aos 15 anos, minha mãe aos 23 e meu pai aos 31. Aí vieram as mortes felinas, Simba aos 36 e Clara aos 41, eclipsando outros parentes porque essa é uma lista de afetos. Em todos os casos, houve uma doença que se demorava, noites de sono entrecortado, alívio no final — e lágrimas atropelando tudo.

Mas não com o Mercvrivs.

Até muito perto do inesquecível 18 de maio, cuidei dele esperando que ficasse bom. Não percebi que era a vida que emagrecia, ainda não acredito que nunca mais. E, apesar de lembrar do frajola todo dia, não penso a respeito, não vejo fotos, não estendo conversa. Medo de chorar e não parar mais.

Por ele, por tudo de tão errado com o mundo, pela minha pequenez.

Foi um episódio do Diário Possível (mas inventado), anteontem, que me driblou. Comecei empática à voz embargada da Ana Roxo, que se despedira do pai, peguei carona na trilha sonora ardilosa e logo o tronco inteiro chacoalhava no tapetinho de ioga, em que Mercv me fez companhia por mais de uma década — a parceria na cadeira do escritório beirou 17 anos!

42 dias represada.

E ainda não posso dizer que estou fluindo.



Despedida do Mercv:

:: Saudade
:: Cicatriz

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu perdi um cãozinho há mais de 10 anos. Chorei litros, dias seguidos. Desde que ele partiu, nunca mais consegui ter outro cão. Tenho gatos! Mas cães, fujo deles. Talvez seja um mecanismo inconsciente de sobrevivência que faz a gente não querer olhar para o tamanho da perda. Talvez a gente tenha medo. Talvez nos falte apoio pra passar por isso. Ou talvez seja também um mecanismo inconsciente que leva a gente a querer se conformar, no sentido de se adequar a uma forma que nos diz pra não chorar. Talvez não sejam lutos secos, talvez sejam na verdade lutos interrompidos. Que talvez escondam uma grande vontade de não se despedir.

Kuka disse...

Obrigada, Mercv, por vir e trazer a Bia pras nossas vidas ❤️

Unknown disse...

Entendo.

Elaini disse...

___ o ___

Anônimo disse...

Já passei por isso diversas vezes e te digo, é sempre a mesma dor, mesmo vazio na alma, mesmo desânimo, mesma vontade de sumir...depois, bem depois, vc precisa aprender a abstrair. É questão de sobrevivência...

Anônimo disse...

O que eu aprendi é que o vazio não passa. A gente só acostuma a viver com ele. Mas é um processo lento...