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8.12.14

A arte de receber mais do que se doa

Por causa da dobradinha trabalho-que-paga-as-contas e trabalho-que-enche-o-coração, eu deitei às 3h30 algumas vezes nos últimos meses. Mas só ontem saí da cama esse horário. A Anchieta estava vazia, muda, espelhando a lua cheia. Os bigodes nem se mexeram nos almofadões. Era dia de ajudar bigodes que não têm almofadões ― 300 agora e mais centenas deles ao longo de 2015.

Como patrimônio histórico do Adote um Gatinho, fui promovida a coordenadora de vendas do Bazar de Natal: organizo mostruário, atendo o pessoal, passo cartão de débito/crédito, reponho estoque, conto dinheiro, resolvo pepinos, busco água, o que precisar. Não tenho pais para prestigiarem o evento, mas o namorado participa da montagem/desmontagem há dois anos e o irmão rala no stand há três. ♥

A cada rosto conhecido, a pressão sanguínea aumenta. Denise Canto, Maria Gracinda, Silvia Leonella Balloni, Ana Claudia S., Antoinette S. Mancilha, leitoras deste blog que driblaram a vergonha para me abraçar. Sara Criado, parceira no projeto Um Post Por Dia para Salvar Vidas e nos futuros. Julio Cesar Lopes, meu contador que não gostava de gatos. Vera Gherardini, mãe da Bebel, que atravessou o cordão de isolamento empolgadíssima para me beijar.

Michele Bastos Naneti entrou para o time das voluntárias queridas, dominado pela Rosa Yukari, Carol Toledo, Denise Granja e Yone Sassa. Vilma Gradvol brigou comigo porque os textos do calendário lhe roubaram lágrimas. Maira Bueno me deu os cupcakes de cenoura com brigadeiro mais fodásticos do planeta e um saco gigante de biscoitos crocantes. Vitor Medina confessou que leu o Gatoca de cabo a rabo para aprender a cuidar do filhote que adotou com a ONG.

As olheiras são de quem quase não dormiu. O sorriso deixa claro que eu faria tudo de novo.

5.12.14

Natal com espírito – a ressurreição

Todo ano tem post aqui no blog convocando vocês para participar do Bazar de Natal do Adote um Gatinho, eu sei. É que todo ano escrevo os textos da agenda e do calendário com o maior amor do mundo. Porque todo ano os bigodes que a ONG resgata insistem comer, precisam de vacina e castração, às vezes ficam doentes ou dão à luz mais bigodes que insistem em comer, precisam de vacina e castração, e às vezes ficam doentes.


Compareçam neste domingo ao Clube Homs (Av. Paulista, 735), entre as 10h e 18h, me abracem apertado (sem timidez!) e ajudem a salvar mais peludos que insistem em comer, precisam de vacina e castração, às vezes ficam doentes ou dão à luz mais peludos que insistem comer...

4.12.14

Calendários que marcam mais do que dias

Quando a Otávia me contou que buscou doçura nos posts do Gatoca para criar o calendário do Felinos Urbanos, o coração deu a volta no rosto puxando o sorriso. E ela fez questão de incluir o bigode que lhe presenteou com uma mordida, para mostrar que toda vida merece ser protegida. O meu chegou hoje, rendendo até foto da Keka encolhidinha. Quem mais topa ajudar a castrar e vacinar os ferais de São Luís, no Maranhão? ;)


Ah, vocês preferem focinhos? Não tem problema! O calendário do Celebridade Vira-Lata, que participará do nosso mutirão, em fevereiro, está cheio deles. Com o dinheiro arrecadado nas seis edições, Luli já esterilizou 7 mil animais de comunidades pobres, protetores independentes e organizações não governamentais pequeninas.


Vocês colocam a mão no bolso agora e lembram que fizeram uma coisa bacana o ano inteiro. ♥

3.12.14

Um frajola para chamar de meu

Há nove anos, Mercvrivs* cabia em uma mão. A viagem de Utinga a São Bernardo demorou 25 rosários. E eu mal respirava com medo de quebrá-lo. Oitenta e sete bigodes, bicos e focinhos depois, nós dois encouraçamos.

Mas o coração continua elástico. :)

*Novelinha: Conheça a história do Mercv

2.12.14

Papel gourmet

Você deixa em cima da mesa do escritório um folder de pão de queijo vegano, boletos do condomínio e do convênio médico, e um pedido veterinário de remédios. A gata despreza o pedido veterinário, experimenta a pontinha de um dos boletos e cai matando no folder do pão de queijo vegano.

1.12.14

A Volta dos que não Foram

Atualizado em 2 de dezembro de 2014

A história da Penélope continua fazendo inveja aos roteiristas de Hollywood (se você pegou o filme começado, clique aqui). Quatro meses depois da castração, ela voltou a entrar no cio! Sim, castrada. Gritava desafinadamente pela casa, se esfregava em tudo que via, batia nos filhotes. A gente esperou 60 dias para excluir a hipótese de problema comportamental e, no último sábado, o ultrassom encontrou um pedacinho remanescente de ovário perto dos rins.


Dá para ser mais sortuda? Dá! Graças a esse mesmo ultrassom, a veterinária também descobriu uma "nevasca" de sedimentos na bexiga da Pretolina, indicando possível infecção, confirmada pelo exame de urina, que poderá ser tratada no início. Pê entrou na faca de novo, com um corte bem maior do que o primeiro, e terá de comer ração especial durante três meses. Mas continua doce e ronronenta, a espera de uma árvore de Natal para chamar de sua.


Update: Pê e os bebês foram castrados com o maior carinho pela Drª. Ana Lúcia, do Pet Land, que fará também o mutirão do Gatoca. Após a gestação, pode ocorrer um aumento do tecido adiposo ao redor dos ovários, mascarando o quadro. A Drª. deixou de almoçar no sábado para reoperar a gatinha no único horário que eu conseguiria levá-la, sem me cobrar um centavo ― incluindo o exame de ultrassom. Eu só escrevi o post para orientar vocês que isso acontece e tem solução. :)


Epopeia da família Cartoon na busca por um lar:

:: Como tudo começou
:: Nasceram!
:: Comédia romântica que virou drama
:: Drama que virou romance
:: Bebês de chocolate
:: Bolão e batizado
:: Para matar de ternura
:: A primeira ida ao vet a gente nunca esquece
:: Castração da Sessão da Tarde
:: Família Cartoon em oferta: Lindinha
:: Família Cartoon em oferta: Lilica
:: Família Cartoon em oferta: Pedrita
:: Família Cartoon em oferta: Batatinha
:: Família Cartoon em oferta: Patti Maionese
:: Família Cartoon em oferta: Penélope Charmosa
:: Batatinha na telinha
:: Happy ending: Lindinha
:: Happy ending: Patti Maionese
:: Sad ending: Batatinha
:: Campanha "Cansei de Ser Gato sem Família"

28.11.14

Etiqueta ao bebedouro

Jujuba Pascolato ensina como tomar água com requinte e sofisticação.



P.S.: Os gatos bebem água com a pata para não encostar os bigodes no pote, sabiam? É que eles são cheios de terminações nervosas, que servem para identificar se o bichano consegue caber em determinado lugar ou como estão as condições do ar para caçar aquele insetinho barulhento. Melhor optar pela tigela tamanho GG, de cachorro.

27.11.14

Chove, dos dois lados da janela

Há 11 anos, a tristeza me pega na curva. Eu acho que vai ser um dia normal e ensopo o tapete de ioga. Ou a cabeça do Mercv. Ou o peito do Leo. Com ela (a dona do sorriso da foto, não a tristeza herdada), muita coisa teria sido mais fácil. E muita coisa não existiria ― como este blog. Mas saudade de mãe não brinca em gangorras de prós e contras. Não bate ponto com intervalo para almoço. Não se preocupa com o que os outros vão pensar.

E hoje eu senti. Sempre pressa. Sem peso.

26.11.14

Água sanitária e animais não combinam

Aposto que a maioria de vocês já ouviu uma história trágica envolvendo água sanitária (ou cândida, alvejante, lixívia, hipoclorito de sódio) e bicho de estimação ― eu vivi uma, sem ter culpa. Quando ingerida, ela pode causar insuficiência respiratória, lesões no esôfago e no estômago, parada cardiorrespiratória e até morte. O que quase ninguém sabe é que basta inalar o produto repetidamente para se intoxicar.

E olha que o focinho dos peludos dá um pau no nosso! Na sequência de fotos abaixo, Guda está "viajando" porque sentiu o cheiro das três gotas de água sanitária que eu misturei ao sabão em pó para lavar um pano de prato encardido. Esse comportamento, com esfregadas e roladinhas, equivale ao êxtase do catnip, só que nada inofensivo. Na dúvida, melhor usar outra coisa. E aproveitem para pendurar na geladeira nosso post sobre primeiros socorros. ;)

25.11.14

A arte imita a vida

Nas telas de Gatoca, também existe desigualdade. Bigodes que acumulam brinquedinhos, que roubam comida dos amigos, que não dividem cafuné (muito menos colo), que se recusam a usar o banheiro comunitário, que se esparramam no almofadão com vista para a fonte d'água, enquanto o resto da família mora espremida na periferia.

24.11.14

O segredo do Gatoca

Em 2000, eu larguei o emprego concursado de bancária para realizar o sonho de ser jornalista ― com 9 anos, brincava de apresentar o Jornal Nacional no Polo Norte. Fui escolhida para trabalhar no Terra, época da bolha da internet, pelo texto, porque sequer sabia abrir dois navegadores ao mesmo tempo. "Aprendi" em uma semana a programar, tratar imagens, fazer upload no Cumbuco, o servidor de Porto Alegre. E chorava toda noite no Urubupungá.

Quando a Dani Bertocchi voltou de férias, marcou uma reunião para conversar sobre meu desempenho, segurando uma folha repleta de rabiscos. O coração foi encolhendo a cada comentário. Só me restava pedir demissão ― a empresa merecia alguém que soubesse fazer o serviço. Surpresa, ela me deu este mantra vitalício: "Estou te criticando porque você é boa e pode melhorar. Senão, não perdia meu tempo".

Os anos passaram. E eu segui aprendendo na marra a atuar com periferia em ONG, a entender as leitoras da classe C, a revisar revista de madrugada, a blogar sobre animais, a assentar tijolos, a dizer "não". Era boa e podia sempre melhorar. Quatorze calendários novos depois, Dani me convidou para uma nova parceria. A primeira vez que me pagam para postar no Facebook. :)

Eu levei quatro horas para escolher as dez matérias (trata-se do maior portal feminino do país!), escrever os textinhos e caçar as imagens nos bancos. Precisava fazer bonito. E fiz. Mas sei que ainda posso melhorar.

21.11.14

Unidos por um bisturi - capítulo 4

O que Nenê, Simba, Sansão, Tom e Maru têm em comum ― além dos bigodes e de morarem em bairros humildes? Eles deixaram de multiplicar o sofrimento nas ruas. Por causa do projeto Um Post por Dia para Salvar Vidas (e da Natali Souza :*), a Gatto de Botas doou cinco castrações ao Gatoca, feitas com anestesia inalatória.


O atendimento dos bichanos, aliás, foi inteiro VIP (ou seria VIC?). Quando a tigradinha começou a se debater na caixa de transporte, as meninas lhe arrumaram um quarto na internação com cafunés. E eu devolvi a moça de antibiótico comprado, para os R$ 37 não saírem das necessidades básicas ― nem o pós-operatório terminar em tragédia.


Tata adotou o primeiro gato do meu bairro, para caçar ratos. E se apaixonou. Os vizinhos gostaram da ideia e acabaram amolecendo também. As esquinas do mundo escondem histórias incríveis. E pessoas também.

*fim*

Capítulo anterior: Unidos por um bisturi – parte 3

20.11.14

Unidos por um bisturi - capítulo 3

Existe gente que troca presente mesmo tendo servido, que repassa para outra pessoa sem nem tirar da embalagem, que esquece o embrulho de fita colorida no bar. E existe gente que não se importa se o "presente" for uma vida. Dona Maria acabou sobrando com o Tom porque a neta não quis mais o brinquedo ― nem só para preparar bolos e contar histórias servem as avós.


E já tinha resgatado o Maru, abandonado no lixo (sempre dá para piorar, né?). Quem me colocou em contato com a humana e os bichanos, que moram em um bairro igualmente pobre de Santo André, foi a Carol, mãe do Ganglere. Enquanto a gente conversava, eu não fazia ideia de que os animais adotados é que haviam salvo sua tutora de um câncer de mama.

*continua*


Capítulo anterior: Unidos por um bisturi – parte 2

19.11.14

Unidos por um bisturi - capítulo 2

Simba não é amarelo. E de leão também não tem nada. Diferente da maioria dos gatos aqui do bairro, não quer saber de sair de casa. Passa a maior parte do tempo meditando na fruteira de três prateleiras, prática que destoa de sua forma esbelta. Foi presente do namorado da Renata, mãe da Nenê, para Tata, sua tia. As duas moram no mesmo terreno, com outra parente. Eu sempre confundo as campainhas.


Sansão não puxou o irmão adotivo. Adora uma rua. E uma boa briga. Vira e mexe aparece com a cabeça machucada e unhas enfiadas pelo corpo. Certa vez, tomou uma paulada de gente que quase encerrou sua carreira. Tata não tinha dinheiro para levá-lo ao veterinário e tratou o estrago quase que xamanicamente. A história do peludo começou em Ribeirão Pires, quando sua mãe resolveu dar cria dentro do carro da família.

*continua*


Capítulo anterior: Unidos por um bisturi - parte 1

18.11.14

Unidos por um bisturi - capítulo 1

Antes de completar 4 meses, Julie virou Nenê. E engravidou (mas isso a gente ainda não sabe). Renata, apesar de já ter tido um gato assassinado pelos vizinhos, alega ser impossível prender a tigradinha em casa. E só não ficou sem ela também porque um casal que trocou a privacidade do cinema para namorar na rua de madrugada me avisou sobre a existência da tutora ― eu contei a primeira parte dessa história, lembram?

Nenê consegue superar o Sparky e o Lázaro em grudice. Saiu do terreno em obras aqui do bairro para fazer uma sucessão de poses engraçadas no meu colo, enquanto ronronava como se estivesse dentro de um megafone. E não custou a arrancar um sorriso do policial à paisana que tomava conta do trator ― sim, há pessoas que roubam tratores.

*continua*