A filha me escreveu em março do ano passado pedindo ajuda para os bigodes da mãe de 68 anos (SP). Todos eram castrados, vacinados e gordinhos, mas moravam em um cômodo de 3 m², repleto de móveis velhos, poeira e teias de aranha. A interação humana se limitava às refeições. E a única janela ventilável, disputada em dias de sol, fracassava na missão de disfarçar o cheiro dos xixis e cocôs, que começavam nas caixas de areia, raramente limpas, e se espalhavam pelo chão.
Eu sugeri acompanhamento psicológico e, se a senhora aceitasse doar os animais, fotografaria todo mundo e divulgaria aqui no blog. A resposta chegou 16 meses depois, com uma reviravolta: os prisioneiros se tornaram
personae non gratae e podem ir para a rua a qualquer momento. Alguns têm dez anos. Dez anos sem caminha, brinquedinhos, cafuné nas orelhas. Dez anos e descartados. As histórias de resgate são igualmente tristes, mas os peludos seguem acreditando no ser humano e, pasmem, esbanjam carinho.
Por favor, compartilhem. O
Gatoca não conseguirá salvar essas vidas sozinho. :\
África (6 anos)
Com quatro semanas de existência, os irmãozinhos dividiam uma gaiola de 30 cm² no petshop do bairro, sem água nem comida. Como ninguém quer os pretolinos, exceto às vésperas do Halloween (e não é para amar), a senhora acabou pegando os três, mais o sialata. E não conseguiu doar nenhum. África adora companhia e dengo.
Fidelis (6 anos)
É um ronronento tímido. Desconfia de estranhos em um primeiro contato, mas, se não for pressionado, logo se põe a fazer graça.
Fortunato (6 anos)
Bonito e bonzinho, o afortunado não poderia ter outro nome. É o gato mais doce da casa: não pode ver alguém que já se atira nos pés.
Hexa (6 anos)
Parece arisca, mas, com pouco tempo de convívio, já distribui cabeçadinhas, lembrando a Copa do Mundo que não deve ser nomeada.
Bebê (8 anos)
Resgatada do motor de um carro estacionado na igreja, toda suja de óleo, a tigrada não havia completado um mês. Esbanja carência e não economiza nos miados para ganhar atenção.
Cocadinha (10 anos)
Apareceu na escola em que a senhora trabalhava, já adulta, com uma sacola inteira saindo pelo ânus ― provavelmente ingerida no desespero da fome. Dizem que fugiu da casa da vizinha, onde era criada em uma gaiola de pássaro. Quando a pegavam no colo, se urinava de pânico. Hoje, faz cara de brava para a fotografia, mas é ultrameiga. Só não troca muito calorzinho com os outros bigodes.
Mel (10 anos)
Conheceu o abandono ainda na barriga da mãe, que vagava perdida em Peruíbe quando sensibilizou uma amiga da senhora. Primeira quadrúpede do recinto, é quem dá as ordens. Mas exerce esse poder com tranquilidade e gentileza. E não dispensa um afago.
Vitória (2 anos)
Arremessada sobre a cobertura de uma quadra de esportes, há 12 metros do chão, e descoberta três dias depois, Vicky quase morreu de desidratação. Vive fora do cubículo imundo, mas sem contato com pessoas e animais. E precisa de um tutor experiente na arte da conquista, que não se intimide com o festival de fuzzzzzz.