Eu não pretendia contar esse causo, porque sei que os leitores do
Gatoca preferem protagonistas de bigode. Mas como a Débora perguntou nos comentários, aí vai:
Quinta-feira retrasada, a caminho da academia, eu quase fui atropelada por um cachorro desgovernado. A maioria das pessoas juraria que o filhotão Duracell fugira de casa. Essa jornalista calejada pensou logo em abandono – com direito à gravatinha amarela, para que o primeiro coração de pudim do bairro se sentisse obrigado a resgatá-lo.
Botei o peso-pesado no colo e saí tocando as campainhas da rua. Todo mundo se sensibilizava com a história, mas ninguém podia ajudar. Suspeito que os arquitetos modernos andam cometendo a gafe de projetar mansões sem banheiros. Passei também em vários pet shops e veterinários (esses, por incrível que pareça, só faltavam torcer o nariz).
Na última tentativa, a moça da recepção confirmou que o focinho havia tomado banho lá, bem no dia anterior. Ligaram para a responsável, só que ela que estava ocupada demais para atender o telefone. Vinte minutos depois, enquanto eu encarava o rostinho machucado do pequeno, já pensando em desistir da busca, a fulana retornou.
Fiz questão de entregá-lo pessoalmente, graças à carona de uma cliente da clínica, para avaliar as chances de nova desova, em local ainda mais distante. Eis que Obama havia mesmo escapado. E fora recebido com festa, por uns seis indivíduos diferentes. Eu perdi a musculação (e a fisioterapia*), mas minha esperança na humanidade ganhou duas colheres de açúcar àquela tarde.
*Joelho direito e esquerdo resolveram tirar férias juntos, por tempo indeterminado, após quatro anos de dedicação exclusiva ao flamenco. :\