Quando
Gatoca ainda nem existia e Mercvrivs demorava um mês para comer o pacotinho mínimo de ração da Royal Canin, eu costumava fazer as compras no pet shop do Sonda, como qualquer mortal. Ajoelhava em frente à prateleira colorida e ficava horas pensando num sabor inédito, para variar.
Até o dia em que fui fisgada: de dentro da gaiola, uma gata pintadinha conseguira enroscar as garras na minha blusa de lã e desfilava de um lado a outro, esfregando o rosto contra as grades para me conquistar. Seu miado enchia a loja de tristeza.
Soube que ela e os filhotes haviam sido abandonados em sacos de lixo separados, sem o menor sinal de compaixão. O encanto dos pequenos logo atraiu candidatos à adoção. Mas a mamãe sobrou. Tão jovem (um ano no máximo), já considerada velha. Sem dinheiro nem tempo para cuidar de outro bichinho, trouxe-a para casa.
O encontro dos bigodes saiu de improviso: primeiro, deixamos que se cheirassem pelo vão da porta da sala. Depois, passamos para a etapa visual, na janela. Mercv, poço de ingenuidade felina, queria tocar a escaldada de qualquer forma. Ela recuava.
No momento em que finalmente se encontraram no jardim, não dava para dizer qual coração batia mais rápido. E bastou os focinhos se encostarem para que a recém-chegada soltasse o clássico
fuzzzzzzzzzzz. A noite caiu sem progressos, em meio a tentativas frustradas de aproximação e rosnadas gratuitas.
Com a gente, o tratamento era diferente. Doce e meigo. Mas o choro pela perda da ninhada não cessava e a nova hóspede recusava-se terminantemente a comer.
*
continua*