
Telefonei para a Ana Paul, roteirista de cinema, no mesmo dia e prometi que entregaria a bigode castrada no fim da semana. Famílias de comercial de margarina que moram em apartamento telado, compram ração super premium e colecionam felinos idosos não devem ser desperdiçadas.
Eu não precisava ter me sentido um monstro tirando a peluda do abraço apertado da filhinha da minha prima, enquanto as lágrimas de incompreensão lhe ensopavam o pijama. Mas coração de pudim costuma sobrar com o problema até quando não tropeça nele. Como recompensa pelo trauma, deixei então a coitada passar o pós-operatório no meu colo.

No sábado de manhã, a caminho de Pinheiros, ela devia estar se perguntando o que fizera para ser jogada como um saco de batatas de um lado para o outro. Alguns infernos parecem mesmo sem fim. Mal sabia a sortuda que na casa nova viraria Aimée, "amada" em francês ― e que a epopéia me renderia um par de meias de lã amarelas, tricotadas especialmente pela dona Regina. :)
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Retornaria o inconseqüente à necrópole da baixada em pleno inverno e sendo o mais sociável dos integrantes da colônia (sinal de abandono recente)? Enquanto eu encarava seu pêlo atipicamente macio e branquinho, percebi que o coração de pudim jamais teria coragem de efetivar a desova. E, em duas horas, o gatão estava instalado no quarto com o cheiro ainda fresco dos filhotes.
Batizei-o de Edward, após a terceira mordida, em homenagem ao vampiro sedutor dos livros de
Essa manhã, soltei a criatura no corredor para tomar um sol e morri de pena de vê-lo tentando escalar o muro com a ajuda de um arbusto, que insistia em envergar. Cogitei até a hipótese de devolver-lhe a liberdade do cemitério. Só que o tigrinho rolou para mim e São Francisco tratou de soprar ao vento que ele ainda podia ser filho único. Basta a gente colocar a rede para funcionar. Quem topa?
No sobrado do Tucuruvi, ontem de manhã, Ziggy virou Whistler, Fandangos, Banff, e Boo, Hope, em homenagem à viagem que ela e Samir fizeram ao Canadá durante o mês de maio.
O casal trouxe uma mala cheia de brinquedos importados para os bigodes, aliás, incluindo aquelas portinholas de vai-e-vem que a gente só vê nos filmes.
Zig mostrou-se mais resistente à mudança, mas logo, logo estará aprontando com Tom e Luck, os focinhos da casa.
Aos 29 anos, eu acho que finalmente entendi o brilho dos olhos das mães que precisam lembrar seus filhos de quantas fraldas trocaram para que eles chegassem até ali.
O vazio é o mesmo de sempre. Na casa, na calça de pijama e no coração de pudim. Mas mamãe pata se consola em saber que seus patinhos seguirão amigos. Para sempre.
*Novelinha: