
Telefonei para a Ana Paul, roteirista de cinema, no mesmo dia e prometi que entregaria a bigode castrada no fim da semana. Famílias de comercial de margarina que moram em apartamento telado, compram ração super premium e colecionam felinos idosos não devem ser desperdiçadas.
Eu não precisava ter me sentido um monstro tirando a peluda do abraço apertado da filhinha da minha prima, enquanto as lágrimas de incompreensão lhe ensopavam o pijama. Mas coração de pudim costuma sobrar com o problema até quando não tropeça nele. Como recompensa pelo trauma, deixei então a coitada passar o pós-operatório no meu colo.

No sábado de manhã, a caminho de Pinheiros, ela devia estar se perguntando o que fizera para ser jogada como um saco de batatas de um lado para o outro. Alguns infernos parecem mesmo sem fim. Mal sabia a sortuda que na casa nova viraria Aimée, "amada" em francês ― e que a epopéia me renderia um par de meias de lã amarelas, tricotadas especialmente pela dona Regina. :)
