Ontem, perdemos outro gatinho da dona Lourdes. Nesses 16 dias, conseguimos ração, remédios, dinheiro para pagar as consultas veterinárias. Temos usado cada minuto do nosso tempo livre (já que trabalhamos fora da proteção animal) batalhando doações, correndo com os bigodes para cima e para baixo, procurando interessados em adotá-los. Mas parece que o Barbudão está sendo mais rápido.
Abrigar um esqueletinho temporariamente não é difícil, pessoal: ele só precisa ficar separado dos bichos da casa –pode ser num quartinho, banheiro, lavanderia– até termos certeza de que não possui dodóis contagiosos. Já irá "despulgado" e medicado. Se quiserem lacinho, a gente coloca também. Nos comprometemos ainda a passar o chapéu, caso não consigam arcar com os gastos relativos à alimentação. Para tratamento (se necessário!), basta levar o peludo à Drª. Angélica, perto do Shopping Santa Cruz. Marina topou o desafio e escolheu um negão. Peçam para ela contar a experiência.
E pensem com carinho no meu apelo cabisbaixo.
7.10.07
5.10.07
Aviso!
Estimados (meia dúzia de) leitores,
Não desisti de relatar as peripécias aprontadas pelos bigodes aqui em casa. Só vou deixar o pedido de ajuda à dona Lourdes mais um pouco na "vitrine" para ver se outros anjos se sensibilizam. Aí, as crônicas voltam ao normal e, semanalmente, escreverei contando em que pé está o projeto de resgate dos esqueletinhos.
Desejem-me sorte. :)
Não desisti de relatar as peripécias aprontadas pelos bigodes aqui em casa. Só vou deixar o pedido de ajuda à dona Lourdes mais um pouco na "vitrine" para ver se outros anjos se sensibilizam. Aí, as crônicas voltam ao normal e, semanalmente, escreverei contando em que pé está o projeto de resgate dos esqueletinhos.
Desejem-me sorte. :)
3.10.07
Eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas estou aqui pedindo
Em um mundo perfeito, as crônicas do Gatoca renderiam acessos suficientes para que eu pudesse negociar parcerias em prol de projetos de conscientização da população sobre posse responsável de bigodes, campanhas de castração, adoção e vacinação, resgates rocambolescos. Em um mundo, perfeito, aliás, essas iniciativas nem precisariam existir, porque cada animal de estimação teria direito a um amigo fiel, comida sem restrições e dois sofás macios para estragar à vontade na vigência da vida.
Quis o Universo, porém, que alguns montinhos de ossos cruzassem meu caminho antes do sucesso do blog e cá estou eu há dez noites sem dormir direito, tecendo mil articulações para ajudá-los. Por isso, inclusive, os posts andam rareando. Tudo começou no domingo do dia 23 de setembro, quando Eduardo sugeriu almoçarmos na Paulista e eu vi dois gatinhos esqueléticos passeando pelo quintal de uma casa abandonada.
Aborrecida, desisti do programa na hora e nós voltamos a São Bernardo para buscar comida e água. Cerca de 40 minutos depois, segurando 1 kg de FIT 32 e uma garrafa pet, eu pulei o portão de ferro, montei um verdadeiro piquenique no chão de cimento e chamei os peludos. Eis que, de uma porta emendada com sacos de lixo e papelão, foram saindo vários outros felinos, seguidos por uma senhora de roupas puídas e cabelo desgrenhado, ainda mais magra.
Desde a morte da irmã, dona Lourdes passou a alimentar os bichanos com o arroz e salsicha do próprio prato, despedindo-se da ração, cara demais. Para melhorar, os folgados do bairro ainda fizeram o favor de jogar outros gatos lá, ano após ano, aumentando a família de quatro para 30, incluindo filhotes. Na trama, tem também um vizinho que insiste em envenená-los, porque almeja comprar o imóvel a preço de banana para ampliar o estacionamento.
Quando eu comentei sobre doação, a velhinha disse sentir vergonha de receber visitas no estado em que se encontrava. Acontece que a imagem daqueles corpos esquálidos de crânios gigantes não parava de me atormentar e acabei pedindo o contato da ONG responsável pelas feirinhas do Hospital Veterinário Dr. Hato. Cecília foi a primeira pessoa a acolher minha inexperiência de jornalista apaixonada por bigodes e indicar o caminho das pedras.
No dia 26, eu entreguei à dona Lourdes parte de um pacote incarregável de Cat Meal (25 kg por R$ 39) + arroz, feijão, carne moída de músculo, coxa e sobre-coxa de frango, macarrão, molho de tomate, óleo, sal, cenoura, batata, cebola, alho, tomate, ovo, ervilha, milho, sardinha, banana, limão, maçã, leite, açúcar, café em pó, farinha ― impressionante como se pode encher um carrinho de supermercado com R$ 72,77, sem comprar porcarias. E cada sacola aberta vinha acompanhada de um suspiro: "Minha filha, você não esqueceu de nada". A cabeça nem levantava, na tentativa de disfarçar a emoção.
Eu aproveitei o clima receptivo para tirar fotografias sensibilizadoras da situação. Os bichinhos não estavam apenas desnutridos. Alguns eram cegos, vários tinham o corpo sem pêlos e os olhos inchados. Havia uma branquinha com ferida nas costas e outra com as orelhas carcomidas por um possível câncer de pele. A tigrada, encolhida sobre a televisão da sala, escondia o rosto deformado, como nos filmes de terror.
Não sei de onde tirei força para clicar figuras tão tristes, que continuam me assombrando. Mas era por um bom motivo: conseguir lares de verdade para aquelas criaturas. Meia dúzia de anjos, inclusive, já se ofereceram para colaborar no manuseio dos felinos, diagnóstico das doenças, empréstimo de caixas de transporte, doação de remédios, cobertores, ração, areia, produtos de limpeza, tigelas, roupas, cesta básica. As meninas da lista Gatos iniciaram o mutirão. :)
Linha do tempo
No último sábado (29.09), Meg e Susan me ajudaram a tirar dona Lourdes da cama para levar os casos mais graves a Dr. Angélica. A tigrada da televisão havia morrido de madrugada e seu corpo jogado em um saco, rapidamente recolhido pelo lixeiro. Eu confesso que fiquei aliviada de não precisar decidir sobre a eutanásia. Se confirmassem a suspeita de esporotricose (altamente contagiosa e em estágio avançado), as chances de o tecido do nariz se reconstruir seriam pequenas e o sofrimento, enorme. Mas bateu uma tristeza por ter chegado tarde demais.
A ratinha branca está com câncer mesmo e ficou na clínica para tratamento, graças ao Adote um Gatinho. Pode ser que ela perca as orelhas. A envenenada, que dona Lourdes considera como dela e não queria deixar colocar no carro de jeito nenhum, corre risco de morte. Mas preferimos não segurá-la, pensando nos outros bichos. Quem sabe da próxima vez.
A tricolor, mais magrinha de todos, serviu de amostragem para o conjunto dos felinos: enfraquecidos, cheios de vermes, pulgas e piolhos, com problemas hormonais, alergias às picadas e intestino solto. Isso quer dizer que o organismo terá dificuldade em absorver os nutrientes. Investiremos, então, na ração super premium, já que a tarefa de enfiar vitaminas goela abaixo de um batalhão diariamente mostra-se inviável a uma senhorinha debilitada.
Resta convencê-la a permitir a boca-livre. É que dona Lourdes arremessa a comida aos bigodes como se alimentasse pombas: cada bolinha vai parar em um canto diferente do jornal. E, no segundo seguinte, recolhe tudo para não ter desperdício. Espero que seja mesmo medo de acabar e não um jeito de evitar que eles façam cocô mole pelos cômodos.
Em uma população de proporções tão grandes, aliás, estranhamos a ausência de ninhadas. Talvez, as próprias mães estejam devorando a cria quando bate o desespero da fome. Senti falta também de alguns pequeninos da primeira visita. Mas como o acesso à rua é liberado, por causa do rombo na porta principal, fica impossível controlar. Nem mesmo a velha sabia a qual bichinho eu me referia.
Próximos passos
* No sábado agora (06.10), eu escolho os três primeiros gatos que Susan preparará para a adoção. Instruíram-me a priorizar os claros e peludos. Mas e os outros critérios? Como decidir com justiça? Quanta responsabilidade...
* Na próxima semana, os dez bigodes mais fortinhos irão para a castração em Utinga, por conta do Dr. E. É bom começar a treinar a concentração para dirigir com sirenes múltiplas no ouvido.
* Vicky Dolabella, artista conhecida pela simpatia à causa, concordou em doar um de seus quadros para a rifa, que organizaremos em breve aqui no Gatoca. Separem seus trocados!
* Existe a possibilidade, ainda, de conseguir Frontline a preço de custo com a Mundial Pet (distribuidora da Merial), porque os bichinhos precisam ser "despulgados" urgentemente.
Ajuda emergencial
Apesar de a dona Lourdes passar o dia limpando as sujeiras do exército de bigodes, a casa é escura e as condições de moraria, precárias. Soma-se ao contexto a dificuldade de monitorar os bichanos, graças às idas e vindas constantes da rua, e o tabu da alimentação self service para pombos. Lares temporários, portanto, fariam toda a diferença no tratamento. Alguém se habilita a acolher um amigo fragilizado?
Idéias fantásticas, doações diversas, auxílio na divulgação, palavras de carinho ou serviços voluntários também renderão sorrisos e agradecimentos repetidos à exaustão. Basta mandar um e-mail para bialevischi@yahoo.com.br. As contas abaixo recebem depósitos de quaisquer valores, só não esqueçam de me avisar.
BB
Beatriz Levischi
Ag: 1561-X
C/c: 6830905-8
Itaú
Textrina
Ag: 0185
C/c: 08360-7
Quis o Universo, porém, que alguns montinhos de ossos cruzassem meu caminho antes do sucesso do blog e cá estou eu há dez noites sem dormir direito, tecendo mil articulações para ajudá-los. Por isso, inclusive, os posts andam rareando. Tudo começou no domingo do dia 23 de setembro, quando Eduardo sugeriu almoçarmos na Paulista e eu vi dois gatinhos esqueléticos passeando pelo quintal de uma casa abandonada.
Aborrecida, desisti do programa na hora e nós voltamos a São Bernardo para buscar comida e água. Cerca de 40 minutos depois, segurando 1 kg de FIT 32 e uma garrafa pet, eu pulei o portão de ferro, montei um verdadeiro piquenique no chão de cimento e chamei os peludos. Eis que, de uma porta emendada com sacos de lixo e papelão, foram saindo vários outros felinos, seguidos por uma senhora de roupas puídas e cabelo desgrenhado, ainda mais magra.
Desde a morte da irmã, dona Lourdes passou a alimentar os bichanos com o arroz e salsicha do próprio prato, despedindo-se da ração, cara demais. Para melhorar, os folgados do bairro ainda fizeram o favor de jogar outros gatos lá, ano após ano, aumentando a família de quatro para 30, incluindo filhotes. Na trama, tem também um vizinho que insiste em envenená-los, porque almeja comprar o imóvel a preço de banana para ampliar o estacionamento.
Quando eu comentei sobre doação, a velhinha disse sentir vergonha de receber visitas no estado em que se encontrava. Acontece que a imagem daqueles corpos esquálidos de crânios gigantes não parava de me atormentar e acabei pedindo o contato da ONG responsável pelas feirinhas do Hospital Veterinário Dr. Hato. Cecília foi a primeira pessoa a acolher minha inexperiência de jornalista apaixonada por bigodes e indicar o caminho das pedras.
No dia 26, eu entreguei à dona Lourdes parte de um pacote incarregável de Cat Meal (25 kg por R$ 39) + arroz, feijão, carne moída de músculo, coxa e sobre-coxa de frango, macarrão, molho de tomate, óleo, sal, cenoura, batata, cebola, alho, tomate, ovo, ervilha, milho, sardinha, banana, limão, maçã, leite, açúcar, café em pó, farinha ― impressionante como se pode encher um carrinho de supermercado com R$ 72,77, sem comprar porcarias. E cada sacola aberta vinha acompanhada de um suspiro: "Minha filha, você não esqueceu de nada". A cabeça nem levantava, na tentativa de disfarçar a emoção.
Eu aproveitei o clima receptivo para tirar fotografias sensibilizadoras da situação. Os bichinhos não estavam apenas desnutridos. Alguns eram cegos, vários tinham o corpo sem pêlos e os olhos inchados. Havia uma branquinha com ferida nas costas e outra com as orelhas carcomidas por um possível câncer de pele. A tigrada, encolhida sobre a televisão da sala, escondia o rosto deformado, como nos filmes de terror.
Não sei de onde tirei força para clicar figuras tão tristes, que continuam me assombrando. Mas era por um bom motivo: conseguir lares de verdade para aquelas criaturas. Meia dúzia de anjos, inclusive, já se ofereceram para colaborar no manuseio dos felinos, diagnóstico das doenças, empréstimo de caixas de transporte, doação de remédios, cobertores, ração, areia, produtos de limpeza, tigelas, roupas, cesta básica. As meninas da lista Gatos iniciaram o mutirão. :)
Linha do tempo
No último sábado (29.09), Meg e Susan me ajudaram a tirar dona Lourdes da cama para levar os casos mais graves a Dr. Angélica. A tigrada da televisão havia morrido de madrugada e seu corpo jogado em um saco, rapidamente recolhido pelo lixeiro. Eu confesso que fiquei aliviada de não precisar decidir sobre a eutanásia. Se confirmassem a suspeita de esporotricose (altamente contagiosa e em estágio avançado), as chances de o tecido do nariz se reconstruir seriam pequenas e o sofrimento, enorme. Mas bateu uma tristeza por ter chegado tarde demais.
A ratinha branca está com câncer mesmo e ficou na clínica para tratamento, graças ao Adote um Gatinho. Pode ser que ela perca as orelhas. A envenenada, que dona Lourdes considera como dela e não queria deixar colocar no carro de jeito nenhum, corre risco de morte. Mas preferimos não segurá-la, pensando nos outros bichos. Quem sabe da próxima vez.
A tricolor, mais magrinha de todos, serviu de amostragem para o conjunto dos felinos: enfraquecidos, cheios de vermes, pulgas e piolhos, com problemas hormonais, alergias às picadas e intestino solto. Isso quer dizer que o organismo terá dificuldade em absorver os nutrientes. Investiremos, então, na ração super premium, já que a tarefa de enfiar vitaminas goela abaixo de um batalhão diariamente mostra-se inviável a uma senhorinha debilitada.
Resta convencê-la a permitir a boca-livre. É que dona Lourdes arremessa a comida aos bigodes como se alimentasse pombas: cada bolinha vai parar em um canto diferente do jornal. E, no segundo seguinte, recolhe tudo para não ter desperdício. Espero que seja mesmo medo de acabar e não um jeito de evitar que eles façam cocô mole pelos cômodos.
Em uma população de proporções tão grandes, aliás, estranhamos a ausência de ninhadas. Talvez, as próprias mães estejam devorando a cria quando bate o desespero da fome. Senti falta também de alguns pequeninos da primeira visita. Mas como o acesso à rua é liberado, por causa do rombo na porta principal, fica impossível controlar. Nem mesmo a velha sabia a qual bichinho eu me referia.
Próximos passos
* No sábado agora (06.10), eu escolho os três primeiros gatos que Susan preparará para a adoção. Instruíram-me a priorizar os claros e peludos. Mas e os outros critérios? Como decidir com justiça? Quanta responsabilidade...
* Na próxima semana, os dez bigodes mais fortinhos irão para a castração em Utinga, por conta do Dr. E. É bom começar a treinar a concentração para dirigir com sirenes múltiplas no ouvido.
* Vicky Dolabella, artista conhecida pela simpatia à causa, concordou em doar um de seus quadros para a rifa, que organizaremos em breve aqui no Gatoca. Separem seus trocados!
* Existe a possibilidade, ainda, de conseguir Frontline a preço de custo com a Mundial Pet (distribuidora da Merial), porque os bichinhos precisam ser "despulgados" urgentemente.
Ajuda emergencial
Apesar de a dona Lourdes passar o dia limpando as sujeiras do exército de bigodes, a casa é escura e as condições de moraria, precárias. Soma-se ao contexto a dificuldade de monitorar os bichanos, graças às idas e vindas constantes da rua, e o tabu da alimentação self service para pombos. Lares temporários, portanto, fariam toda a diferença no tratamento. Alguém se habilita a acolher um amigo fragilizado?
Idéias fantásticas, doações diversas, auxílio na divulgação, palavras de carinho ou serviços voluntários também renderão sorrisos e agradecimentos repetidos à exaustão. Basta mandar um e-mail para bialevischi@yahoo.com.br. As contas abaixo recebem depósitos de quaisquer valores, só não esqueçam de me avisar.
BB
Beatriz Levischi
Ag: 1561-X
C/c: 6830905-8
Itaú
Textrina
Ag: 0185
C/c: 08360-7
2.10.07
Entre espécies
Finalmente Clara Luz encontrou uma companhia à altura do seu gênio: abraçava a babosa (esquecida em cima da geladeira para curar a gastrite, unha encravada, dor de dente e cabelos ressecados) e ganhava uma espetada, ensaiava um carinho e levava um arranhão, lambia as folhas e sobrava com a boca amarrada. Desistir do relacionamento, porém, jamais!
29.9.07
Desafio molhado
Você sabe que chegou a hora de levar um gato para tomar banho quando, por mais esforço que faça, não consegue lembrar sua cor original. Se o bigode adorar esfregar a barriga na sujeira, aliás, pode ter certeza que essa será a parte branca do corpo. Dessa vez, porém, Mercv precisava de intervenção especial:
― Pet shop, banho e tosa, Ana Luíza, boa tarde.
― Boa tarde, Ana Luíza. Vocês usam xampu anti-caspa?
― Só neutro.
― Mas meu gato está com caspa.
― Então a senhora tem de trazer o produto.
― E vocês dão desconto?
― Não.
― Pode me transferir para a loja?
― Pet shop, artigos para animais de estimação, Kátia, boa tarde.
― Boa tarde, Kátia. Quanto custa o xampu anticaspa?
― Nós não vendemos xampu anticaspa, senhora. Só para seborreia.
― E não é a mesma coisa?
― Qual seborreia?
― Como assim?
― Seca ou oleosa?
― Existe seborreia que não seja ensebada?
― ...
― Vou ligar para o veterinário.
E não é que a seborréia do Mercv era seca!? Comprei Sensun Azul na farmácia mesmo, seguindo a instrução do Dr. E., e lá fomos nós para o programa aquático. O peludo curtiu cada gotinha do jato quente que escorria pela cabeça, parecendo um pirulito somali ― a parte do secador continuou odiada. Quando voltou para casa, exausto, ainda pôde colher os louros do seu esforço higiênico: todos os bigodes, amigos e inimigos, amontoaram-se para cheirá-lo.
― Pet shop, banho e tosa, Ana Luíza, boa tarde.
― Boa tarde, Ana Luíza. Vocês usam xampu anti-caspa?
― Só neutro.
― Mas meu gato está com caspa.
― Então a senhora tem de trazer o produto.
― E vocês dão desconto?
― Não.
― Pode me transferir para a loja?
― Pet shop, artigos para animais de estimação, Kátia, boa tarde.
― Boa tarde, Kátia. Quanto custa o xampu anticaspa?
― Nós não vendemos xampu anticaspa, senhora. Só para seborreia.
― E não é a mesma coisa?
― Qual seborreia?
― Como assim?
― Seca ou oleosa?
― Existe seborreia que não seja ensebada?
― ...
― Vou ligar para o veterinário.
E não é que a seborréia do Mercv era seca!? Comprei Sensun Azul na farmácia mesmo, seguindo a instrução do Dr. E., e lá fomos nós para o programa aquático. O peludo curtiu cada gotinha do jato quente que escorria pela cabeça, parecendo um pirulito somali ― a parte do secador continuou odiada. Quando voltou para casa, exausto, ainda pôde colher os louros do seu esforço higiênico: todos os bigodes, amigos e inimigos, amontoaram-se para cheirá-lo.
27.9.07
Cinco pães, dois peixes e um mistério
Como ninguém aqui em casa tem o dom da multiplicação e as guloseimas precisam ser divididas por dez, cada filhote desenvolveu uma estratégia diferente de degustação: Pufosa arrasta o potinho dos outros para si sem cerimônia, Vaquinho conta seis lambidas e empurra a cabeça do parceiro com a pata, Kekinha faz cara de choro para ver se ganha um recipiente extra, improvisado com as louças do armário. Essa manhã, porém, apesar da escassez, nenhum deles quis beber na tigela rosa. Demorou até descobrir que estavam morrendo de medo das bolinhas de ar que haviam se formado na última dose de leite.
Obs.: Lembrança da fase em que eles cabiam juntos no mesmo potinho.
Obs.: Lembrança da fase em que eles cabiam juntos no mesmo potinho.
24.9.07
Assistencialismo
Quando a gente abriga dez gatos, até as mocinhas que fazem promoção no pet shop solidarizam-se. Sábado, sem eu pedir, deram-me 17 amostras grátis da nova ração da Whiskas. Pena que deve ter gosto de isopor, porque só o Simba (apaixonado por novidades duvidosas) comeu.
23.9.07
Milagre!
Eis o brinquedo de pet shop mais genial de todos os tempos. E o primeiro a não ser trocado por um pedaço de sujeira sobrevivente à faxina da semana anterior. Ainda veio de brinde! Pena que em quatro horas os pequenos furaram o plástico com os dentes, tiraram o chocalho de dentro e mastigaram as penas.
21.9.07
Zumbis de bigode
De uma semana para a outra, McDia Feliz virou "A Volta dos Mortos-Vivos". É só a gente fingir que não viu os pequenos esperando a tigelinha de leite, que eles se juntam no centro da cozinha e começam miar lamentosamente, como nos filmes de terror.
20.9.07
Pufosa renascida
Depois de consultar tarólogos, astrólogos, sites de numerologia na Internet e o cabeleireiro aqui perto de casa, Bufosa deixa seu passado mal-cheiroso para abraçar o sucesso:
Número 9: Perseverança
Bastante talentosa, você possui a tolerância e perseverança para compreender as pessoas e situações. Suas realizações estarão ligadas à capacidade de não desistir frente aos obstáculos e encontrar soluções criativas e originais para os problemas. É independente e leal, sempre pronta a lutar pelo que acredita e ajudar os que precisam.
Só precisa tomar cuidado para não se tornar "egoísta, avarenta, e se fechar ao mundo por conta de timidez e falta de confiança em si mesma".
Número 9: Perseverança
Bastante talentosa, você possui a tolerância e perseverança para compreender as pessoas e situações. Suas realizações estarão ligadas à capacidade de não desistir frente aos obstáculos e encontrar soluções criativas e originais para os problemas. É independente e leal, sempre pronta a lutar pelo que acredita e ajudar os que precisam.
Só precisa tomar cuidado para não se tornar "egoísta, avarenta, e se fechar ao mundo por conta de timidez e falta de confiança em si mesma".
17.9.07
Aniversariante do mês - setembro de 2007
Almejando comemorar um ano de Simba* aqui em casa (e mais uns três de batimentos cardíacos acelerados pelas ruas do bairro), eu abri uma lata da ração em pasta durante o almoço, sem restrições! E os nove bigodes apareceram na cozinha para cantar os parabéns. Os filhotes, que sequer levaram presente, ainda aprenderam a puxar as tigelas dos adultos desavisados, que sobravam com a boca aberta no ar. Festejos à parte, acho que o grandão queria mesmo era curtir o dia esparramado ao sol. Mas, como São Pedro deve preferir os cachorros, até choveu.
*Novelinha: Conheça a história do Simba
*Novelinha: Conheça a história do Simba
13.9.07
Religião x gatos
- Beatriz?
- Quem gostaria?
- Aqui é o Frei Gusmão. Vi que você deixou um pedido de benção na sacristia e estou ligando para combinar o dia.
- Quando o senhor pode, Frei?
- Agora.
- Ahn... Tenho meia hora?
- Tudo bem, vai.
Um mês de espera e o homem conseguira acertar bem a semana em que a faxineira nos dera o cano! Corri lavar meia dúzia de pratos (dos 294) para não parecer 100% relaxada, limpei as caixinhas de areia, recolhi do chão os tufos de pêlo e pedaços de parede mais visíveis, enfiei as roupas não dobradas no armário, estiquei os cobertores sobre as camas bagunçadas, tirei as marcas de pata dos móveis da cozinha, tomei banho.
Assim que o humilde servo do Senhor botou os pés dentro de casa, Clara Luz aproveitou para enfiar-se embaixo do carro. Como queria que a geniosa também recebesse o afasta-encosto, bati a porta na cara do coitado e fui atrás dela. Cinco minutos circundando a lataria sem sucesso, no entanto, fizeram-me desistir da idéia. Até porque um bigode, num universo de dez, tem pouca representatividade estatística.
Antes de iniciar o trajeto sagrado de benzedeira pelos 2.935 cômodos, Frei Gusmão abriu os braços na sala e pôs-se a rezar o clássico Pai Nosso. Eis que Pimenta decide atravessar o recinto empurrando um carrinho. Tiro-lhe o brinquedo e aparece Kekinha com um boneco de plástico. O bolso da calça jeans enchia de quinquilharias, enquanto as meninas penduravam-se na estola do sujeito (vermelha, com detalhes cuidadosamente bordados em dourado). Clara ainda voltou da garagem só para fazer cocô no meio da oração.
Acelerei o tour, almejando evitar catástrofes de proporções maiores, e solicitei atenção especial à Chocolate, o verdadeiro motivo do circo armado. Com um sotaque italiano misterioso, o padre paulista entregou a pequena aos cuidados de São Francisco de Assis, encharcou-lhe o cabelo de água benta e despediu-se. Ao alcançar o portão, a peste já estava brigando com a Guda de novo. Agora, quando ouço seu rosnado turbinado, lembro dos R$ 20 que, por falta de troco, doei à paróquia do bairro.
- Quem gostaria?
- Aqui é o Frei Gusmão. Vi que você deixou um pedido de benção na sacristia e estou ligando para combinar o dia.
- Quando o senhor pode, Frei?
- Agora.
- Ahn... Tenho meia hora?
- Tudo bem, vai.
Um mês de espera e o homem conseguira acertar bem a semana em que a faxineira nos dera o cano! Corri lavar meia dúzia de pratos (dos 294) para não parecer 100% relaxada, limpei as caixinhas de areia, recolhi do chão os tufos de pêlo e pedaços de parede mais visíveis, enfiei as roupas não dobradas no armário, estiquei os cobertores sobre as camas bagunçadas, tirei as marcas de pata dos móveis da cozinha, tomei banho.
Assim que o humilde servo do Senhor botou os pés dentro de casa, Clara Luz aproveitou para enfiar-se embaixo do carro. Como queria que a geniosa também recebesse o afasta-encosto, bati a porta na cara do coitado e fui atrás dela. Cinco minutos circundando a lataria sem sucesso, no entanto, fizeram-me desistir da idéia. Até porque um bigode, num universo de dez, tem pouca representatividade estatística.
Antes de iniciar o trajeto sagrado de benzedeira pelos 2.935 cômodos, Frei Gusmão abriu os braços na sala e pôs-se a rezar o clássico Pai Nosso. Eis que Pimenta decide atravessar o recinto empurrando um carrinho. Tiro-lhe o brinquedo e aparece Kekinha com um boneco de plástico. O bolso da calça jeans enchia de quinquilharias, enquanto as meninas penduravam-se na estola do sujeito (vermelha, com detalhes cuidadosamente bordados em dourado). Clara ainda voltou da garagem só para fazer cocô no meio da oração.
Acelerei o tour, almejando evitar catástrofes de proporções maiores, e solicitei atenção especial à Chocolate, o verdadeiro motivo do circo armado. Com um sotaque italiano misterioso, o padre paulista entregou a pequena aos cuidados de São Francisco de Assis, encharcou-lhe o cabelo de água benta e despediu-se. Ao alcançar o portão, a peste já estava brigando com a Guda de novo. Agora, quando ouço seu rosnado turbinado, lembro dos R$ 20 que, por falta de troco, doei à paróquia do bairro.
12.9.07
Falta de feeling
Se as empresas que abastecem os pet shops tivessem visão felina de negócios, fabricariam arranhadores em forma de sofá, sopas para gatos e brinquedinhos que voam. Sorte dos cachorros, que ganham até chocolate exclusivo.
P.S.: Esse era o Mercv aos dois meses de idade.
P.S.: Esse era o Mercv aos dois meses de idade.
11.9.07
Cachorro, gato, galinha
Sempre que um Gudinho se perde do bando, olha para os dois lados, conta até cinco e põe-se a miar em desespero no corredor, aproveitando o eco, até ser acudido. No começo, concordei que levaria algum tempo para se acostumarem com o tamanho da casa. Meses depois, batizei a síndrome do pânico recorrente de "família". :)
10.9.07
Misantropo
Com a casa superpopulacionada, Mercvrivs deve ter descoberto sua vocação para ermitão. De uns tempos para cá, sempre que o procuro, o peludo está no canto mais distante possível do agito, sozinho, com cara de meditação.
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