Atrasada para ioga, ouço aquele miado fininho ininterrupto, que faz o coração calar no peito. Largo a bolsa no carro destrancado e saio pela rua procurando a criatura. Filhote de pelo encardido e olho esquerdo colado, em visível desespero. Tento atrair com sachê, mas ele entra cada vez mais fundo em um motor desconhecido. Deixo bilhete no para-brisa e me programo para continuar a caçada na volta.
Não há volta. O carro se foi e o pequeno também. Converso com a vizinha fofoqueira do prédio, que comenta indiferente sobre o surgimento dos miados pela manhã. E emenda, de graça, a história em que foi mordida por uma gata no cio, mandou colocarem a coitada em um saco e desovarem no Riacho Grande.
Eu poderia falar do instinto animal, explicar a importância da castração, citar a lei que criminaliza o abandono. Mas agradeci e me enfiei embaixo das cobertas. Também tenho direito a meus dias de desesperança na humanidade.
4 comentários:
Tristeza sem fim...
Numa situação como essa, não dá pra deixar pra depois. Pode ser o preço de uma vida. Sinto muito.
Que coisa mais triste...
A ideia era tentar de novo à noite, porque a rua fica mais tranquila e silenciosa. Eu já tinha usado todas as estratégias que conhecia para fazer o bichinho sair de dentro do motor do carro, sem sucesso. Até escrevi a Kuka, do Stray Cats, que castra gatos ferais. Mas a resposta dela também chegou tarde.
Postar um comentário