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4.11.14

Superação

Chocolate fez coaching. Descobriu emoções que bloqueavam seu crescimento gatal, mapeou resistências e crenças limitantes, mudou padrões repetidos inconscientemente por gerações e gerações felinas, aprendeu a iluminar seus cantos escuros. É a única peluda de Gatoca que chega perto do aspirador de pó. E rola sobre seus medos.

3.11.14

Vômitos ornamentais

O fim do papel higiênico define a data da próxima compra de supermercado aqui em casa ― pode acabar o arroz, o sabonete, os produtos de limpeza, mas nunca o papel higiênico. E justamente quando os rolos estão contados, os bigodes decidem organizar um torneio de vômitos. O campeão dessa vez foi o que começou na janela, escorreu pela parede, caiu na mesa de jantar e terminou no chão. Nenhum peludo apareceu para retirar a medalha.


Simba, modelo e ator de Gatoca, porque vocês não iam querer os vômitos, né?


Update: com o calor, as bolas de pelos se multiplicam e costumam provocar mais vômitos. Vejam como minimizar os estragos.

31.10.14

Halloween da sorte

Nós não nos comunicamos mais como na Idade Média. Não nos deslocamos mais como na Idade Média. Não cozinhamos mais como na Idade Média. Por que, raios, continuamos acreditando que gato preto dá azar? Todo Dia das Bruxas, uma grande marca ou veículo de comunicação ajuda a perpetuar esse mito de quando os cultos pagãos que envolviam os bichanos se tornaram heresia. E dezenas de animais são torturados.

Pois o Gatoca resolveu aproveitar a data para convencer vocês de que azar mesmo é não ter uma pretolina carinhosa dessas para apertar no Halloween. Com história de cinema, Penélope espera um lar desde janeiro.


E três de seus bebês, que nem nasceram negros, também acabaram "sobrando". Batatinha foi doado e devolvido porque sentiu falta das irmãs e ficou dois dias sem inteiros comer.


Lilica viajou até a zona leste para passar o resto do sábado na lavanderia da minha sogra, pois a adotante mentiu que as janelas tinham telas.


E Pedrita sequer despertou interesse, apesar de todo o dengo.


Se estiver superlotado aí, ajudem a divulgá-los, por favor. Mamãe e filhotes são uns amores e não merecem passar o Natal em um quartinho apertado. Sem contar que a sessão de fotos da campanha deu o maior trabalho. Para vocês terem uma ideia da complexidade da coisa (rs):


Não basta pisar no cachecol, é preciso fazer cara feia



O sombrero só não ficava na cabeça


Bora sensibilizar um amigo? ;)

30.10.14

Teoria que vira prática

Na quinta-feira passada, os idealizadores dos projetos apoiados pelo Wings For Change, em parceria com o Instituto Asas e a Fundação Telefônica, se reuniram para comer, beber e conversar sobre mudar o mundo. Eu senti vontade de ajudar a recuperar o bioma dos rios Pinheiros e Tietê com o Mil Orquídeas Marginais, cair na estrada com a S.A.S. Brasil para tratar as comunidades carentes do sertão e ensinar a molecada a comer direito com o quebra-cabeça do Meu Dia Alimentar. Há muita coisa incrível sendo feita por aí!


Triste foi chegar em casa de madrugada e ver que o Gatoca ainda tem um trabalhão pela frente para ensinar as pessoas a cuidarem melhor de seus animais de estimação e a arregaçar as mangas por um planeta mais bacana para bípedes e quadrúpedes. Esta tigradinha apertável se atirou no meu colo e me fez acionar um monte de gente até descobrir que tinha tutora ― quando os filhos estão presos, quem se preocupa com os riscos que o gato corre solto?


Superlotada, eu busquei ração e água no apertamento, coloquei a pequena na garagem da família e voltei no dia seguinte para bater um papo. Renata adotou outros dois bichanos das ruas do bairro, mas nenhum é castrado, por falta de grana. Nas próximas semanas, vai rolar uma excursão ao veterinário. Ainda que passe longe do ideal, a gente sempre pode fazer algo. Repitam em voz alta antes de dormir. E compartilhem histórias inspiradoras nos comentários. ;)

29.10.14

Incêndio e animais

Você ouve os estalidos e pensa que o cachorro da vizinha arrumou uma nova brincadeira. O barulho aumenta, a primeira chama aparece na janela e a musiquinha do atendimento eletrônico dos bombeiros nunca termina. Até o caminhão chegar, você repassa 34 anos de memórias. O incêndio não era na sua casa, mas você se toca que não saberia como salvar os dez gatos, que entraram em pânico só de sentir o cheiro da fumaça.

Tem gente que fala que é preciso uma caixa de transporte para cada animal. E como segurar? Outros sugerem que se coloque todo mundo em um lençol molhado e arraste feito uma trouxa. Eu certamente me sentiria o Chaves, caçando uma parte dos bigodes enquanto a outra foge, em um looping infinito. Na internet, há a instrução de deixar para trás quem não puder ser carregado (bípede e quadrúpede) e avisar um bombeiro para resgatar. Difícil, hein?

Pois essa experiência triste me fez descobrir o serviço de emergência animal. No caso do vizinho, que diziam ter 30 bichanos, os próprios bombeiros acionaram o Fofão Ambulância Veterinária, que já chegou com roupa especial para enfrentar o fogo. Mas eles também atendem chamadas particulares, a qualquer horário, aqui no ABC, em São Paulo, no litoral e até no interior. Vale a pena pesquisar se existe algo parecido perto de vocês e deixar o telefone colado na geladeira.

Procura-se calor!

Não é só água que anda escassa em São Paulo. Este ano, a Campanha do Agasalho do AUG teve o pior desempenho da história. Foram arrecadados cerca de 700 itens, contra 2,3 mil de 2013. Nós ficamos chateadas porque deixamos de ajudar vários protetores independentes e dezenas de animais passaram o inverno encolhidos em abrigos improvisados.

Mesmo que os termômetros marquem temperaturas mais amenas, as madrugadas costumam ser geladas. E quem não dorme do lado de fora não percebe. Na próxima edição, lembrem de separar aquele paninho que seu melhor amigo não usa mais ― ou comprem um baratinho. É triste demais passar frio. Principalmente se você não pode pedir socorro.


Doações do ponto de São Bernardo, monitorado por mim

27.10.14

A função das coisas

Para que servem os amigos? Para roubar fotos ridículas do nosso Facebook e publicar no jornal. ♥


Para que serve a grande imprensa? Atualmente, para fazer a gente passar nervoso. Você perde um tempão explicando o projeto, a repórter escreve a matéria redondinha e a editora inventa que haverá vários mutirões na linha fina, se recusando a corrigir o equívoco. No texto da Isis Correia, estava claro que a maior parte do dinheiro arrecadado pelo Catarse seria investida no blog, para que ele continuasse ensinando, divertindo e inspirando mudanças. Vejam só:

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‘Vaquinha' banca mutirão de castração de animais carentes em São Bernardo

Ativista faz campanha pela internet e consegue angariar fundos para esterilizar cães e gatos da comunidade do DER

Uma ativista de São Bernardo mobilizou internautas para arrecadar fundos e conseguir castrar 50 cães e gatos na comunidade do DER. A ideia de levantar ajuda pela rede é da jornalista Beatriz Levischi, 34, que mora próximo à comunidade e mantém há sete anos o Gatoca (www.gatoca.com.br), projeto independente de texto e imagem que ensina, diverte e inspira mudanças em prol dos direitos e bem-estar dos animais.

Além dos textos, que contam principalmente as peripécias dos dez peludos de Beatriz, o Gatoca já socorreu voluntariamente 87 bichos, entre cães, gatos e aves, e encaminhou a maioria para novos lares. A ideia agora é esterilizar os animais de uma das áreas mais carentes da cidade e evitar, nos próximos cinco anos, o nascimento de cerca de 13 mil filhotes (considerando a média de duas crias por ano), que provavelmente passariam fome e frio nas vielas da antiga favela.

"A cirurgia não serve apenas para impedir crias indesejadas, aliás. Ela deixa o bicho mais caseiro e carinhoso, acaba com a marcação de território e reduz absurdamente a chance de desenvolver câncer de mama, útero e próstata", explica Beatriz.

As castrações serão feitas em fevereiro de 2015, por veterinários especializados em mutirões. Voluntários baterão de porta em porta na comunidade para explicar os benefícios e cadastrar os animais. Idosos e portadores de doenças pré-existentes receberão cuidados especiais. Haverá até aparelho de ressuscitação para emergência. Bigodes e focinhos voltarão para a casa com a dose do dia de antibiótico e anti-inflamatório e seus tutores receberão os contatos da equipe para tirar dúvidas.

A campanha foi lançada em agosto e ficou no ar até o inicio deste mês, em um site de financiamento coletivo, com o intuito também de angariar fundos para reforçar o trabalho educativo do blog. “Não há mudança no mundo sem investimento em educação e eu cansei de só enxugar gelo”, diz Beatriz. Os 240 apoiadores do projeto concordam com ela: as doações ultrapassaram os R$ 19,5 mil necessários à empreitada.

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E aí, mando a comunidade do DER cobrar do Metro os mutirões extras?

24.10.14

Aniversariante do mês – outubro de 2014

Mercv nasceu com a fantasia errada, mas faz aniversário pertinho do halloween. Eu demorei oito anos para me tocar disso ― e olha que já tive um guarda-roupa trevoso! Foi na festa da minha priminha, quando bati o olho na mesa temática e imaginei os bigodes brincando enlouquecidos com a decoração.

Não contente em recusar o croquete, a coxinha e o cachorro-quente, pedi para trocar a lembrancinha pelo chafariz aracnídeo e guardei para entregar na comemoração do primogênito, hoje à tarde.

Ele adorou! Bateu, mordeu, abraçou, sentou em cima. Acontece que a Pimenta gostou ainda mais e se pôs a engolir pedacinhos das varetas de plástico, acabando com a diversão da galera. Sobrou até para o Simba, que estava apenas tentando cheirar a novidade. Toda festa de família tem um parente sem noção. A frajola só não encheu a bolsa de guloseimas porque não usa bolsa.


*Novelinha: Conheça a história do Mercv

Outros aniversários: 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008 | 2007

Mutirão estrelado

O Maranhão é um estado carente de iniciativas sociais ― e a frase poderia facilmente ter parado no "carente". Mas a Otávia Mello, leitora antiga do Gatoca, resolveu nadar contra a maré e criou o Felinos Urbanos, um projeto de captura, esterilização, vacinação e devolução de gatos ferais, abandonados ou semidomiciliados nas ruas de São Luís. Trabalho de formiguinha, realizado com dinheiro sempre contado. E ainda queria ajudar nosso mutirão!

Como eu não deixei, ela me apresentou à Luli Sarraf, idealizadora do Celebridade Vira-Lata, que já castrou 7 mil animais com a grana da venda dos famosos calendários. Depois da palestra sobre a importância da cirurgia, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping, a gente fez planos para dominar o mundo e ficou combinado que o mutirão do Gatoca contará com um voluntário experiente do Celebridade, para facilitar os fluxos.

Quando duas idealistas se juntam, o planeta acorda diferente. :)

22.10.14

Frila de Mamãe Noel

Foram quase duas horas separando os mimos doados pelos parceiros do projeto Um Post por Dia para Salvar Vidas, preenchendo os envelopes com os endereços dos apoiadores e escrevendo as cartinhas de agradecimento ― deem um desconto à letra "sufrida", de mão dolorida. As primeiras recompensas pegam a estrada amanhã. E duas serão entregues pessoalmente!

As almofadinhas vão direto da Loja Gatamia. Os pesos de porta artesanais, da Nina Culina Atelier. O colar e o anel, da Gatatuca. A guirlanda "gatalina", da Paula Guima Ateliê. A tela, de Los3Gatones. E o bebedouro, do Gatolino. Segurem a ansiedade um tico mais! rs

Quem escolheu o papel de parede para computador precisa definir o bigode-modelo. Os leitores que preferiram ver seus bichanos estampados nas páginas do blog devem caprichar no retrato. E se você optou por conhecer as estrelas de Gatoca, me adicione no Facebook para a gente combinar a visita. ;)

Eu estou mandando e-mail para todo mundo. O tempo passou e não chegou nada? Grite: bialevischi@yahoo.com.br. Mensagens importantes gostam de se perder na caixa de spam, enquanto nosso inbox coleciona propagandas de como melhorar o desempenho sexual.

Ah! O vídeo das peripécias dos peludos sai assim que passar essa loucura, ok?

21.10.14

100% transpiração

Quem acompanha o Gatoca pelo Facebook sabe que a divulgação do financiamento coletivo do projeto Um Post por Dia para Salvar Vidas foi toda feita com fotos dos bigodes segurando plaquinhas ― tem olhar mais apelativo do que este?


Cliquem na imagem para ver a galeria da campanha


O que pouca gente imagina, porém, é que, na manhã do dia 9 de setembro, a câmera desta jornalista registrou 227 poses, para salvar 13! Diferente dos animais-almofadas dos comerciais de revista, a gangue do recinto derrubava a plaquinha, ficava na frente do texto, insistia em mastigar as bordas do papelão, fazia movimentos bizarros e ainda brigava comigo.

Agora, de coração descansado, eu consigo escolher os melhores momentos para rir com vocês.

20.10.14

Os leitores mais incríveis do mundo!

Em uma das tardes destes sete anos, eu me deparei com um depósito de R$ 11 no extrato bancário, para ajudar a pagar as despesas veterinárias de algum bigode resgatado. O valor mexeu comigo. A pessoa podia ter doado R$ 10, mas se espremeu e doou R$ 11, porque provavelmente não conseguiria ir além. Ao longo da existência, a gente adota o movimento inverso: por repetição, aprende que o pouco não faz diferença. Que nós não fazemos diferença. E nos encolhemos.

Antes de o projeto ganhar asas com o apoio do Wings For Change, o Gatoca já ensinava os leitores a abrirem o peito ― e o coração. Juntos, nós podemos, sim, transformar o mundo. E vocês provaram isso batendo as duas metas de arrecadação do financiamento coletivo! Com os R$ 18.365,70 (porque R$ 2.744,30 ficarão para o Catarse), o blog ganhará cara nova e muito mais posts, fotos e vídeos, para continuar divertindo, educando e inspirando mudanças.

Em fevereiro, ocorrerá também o primeiro mutirão de castração da empreitada, com dicas do Celebridade Vira-Lata, evitando que nos próximos cinco anos 13.792.687 bichos passem fome e frio nas vielas da comunidade do DER, aqui em São Bernardo. E ainda sobrou um troco para cobrir o rombo causado pelas vacinas, esterilizações e medicamentos da família Cartoon (mais de R$ 1 mil). Vocês conseguem enxergar a dimensão dessa conquista?

Os meninos me contaram que, dos 1,3 mil projetos viabilizados pela plataforma, apenas 171 levantaram valor igual ou superior a R$ 20 mil ― fora as iniciativas fracassadas. E nosso "produto" é abstrato, não dá para exibir nas redes sociais, como um livro ou um disco, campeões de financiamento coletivo no Brasil. O foco sai do umbigo para iluminar o outro. E todo mundo arrumou um jeito de ajudar. :)

Teve estudante que abriu mão do lanche na faculdade. Adotante que convenceu o chefe e os fornecedores a participarem. Amigo que emprestou a popularidade. Que convocou outros amigos. Protetor que se apertou mais um tico. Leitor que publicou foto da campanha na capa do Facebook. Gente que doou duas vezes. Que fez o marido doar também. Que doou pela filha recém-nascida. Que incentivou os alunos a doarem. Que pediu doação de presente de aniversário.

E que escreveu sobre o projeto com mais paixão ainda do que eu. Além de sete apoios internacionais (dos 240!). E nove parceiros: Lina Gatolina, Nina Culina Atelier, Gatatuca, Maria Simone, Patchwork by Celia, Los3Gatones, Paula Guima Ateliê, Loja Gatamia e Gatolino Bebedouros. O Gatolino, aliás, exército de uma mulher só, como o Gatoca, acreditou na ideia e contribuiu com R$ 500 ― nem sempre o dinheiro vem de quem tem mais.

Nós saímos na Anda, o primeiro portal jornalístico do mundo voltado aos bichos, no Olhar Animal e no blog da Vejinha. O post da fanpage do Catarse teve 2 mil curtidas e 201 compartilhamentos. A Cora Rónai, gateira e colunista do jornal O Globo, colaborou e divulgou a iniciativa. E o Rui Vilhena, autor da novela Boogie Oogie, autorizou revelar seu apoio para estimular o pessoal: "Esse é o lado bom de ser uma figura pública, alertar para os problemas que existem".


Cliquem na imagem para ver os corações de pudim


A lista é maior, mas muita gente preferiu ficar anônima. E cinco amores merecem um agradecimento especial: Leonardo Eichinger, parceiro de projeto e de vida, Mariana e Jon Levischi, família gigantesca, e Tatiana Pagamisse e Amanda Herrera, irmãs de alma.

Dois meses de correria insana depois, começa hoje o projeto Um Post por Dia para Salvar Vidas. Preparem a pipoca, mas não se acomodem na cadeira. Nós, bípedes e quadrúpedes, merecemos um 2015 melhor.

9.10.14

Jogo da Vida

Sorte: acabou o tratamento para o ouvido do Mercv. Azar: a infecção de pele do Simba voltou, depois de oito caixas de remédio! Fique mais duas semanas escravizada pelos horários do antibiótico.

8.10.14

Desrespeito

Eu sabia que precisaria de outro fim de semana para descansar do fim de semana. No sábado, tinha que levar a Lilica para a casa nova, visitar a sogra e matar a saudade da turma que estudou comigo na escola. Domingo era dia de votar consciente, almoçar com a Amandica e receber o casal que queria conhecer o Batatinha e a Pedrita.

Antes das 8h, eu já estava de pé. Cuidei dos bigodes, ajeitei o apertamento, peguei a gata no lar temporário na zona sul, dirigi até a leste e o Leo me esperava na oeste, para curtir a tarde ensolarada em família. Só que a adotante mentiu que as janelas eram teladas e, para cobrir o bolo com cereja de chuchu, não me deixava ir embora.


As pessoas podem discordar dos nossos critérios. Ainda que a gente explique com a maior paciência do mundo que o questionário evita a adoção por impulso, que bicho com acesso à rua corre inúmeros riscos e que cada peludo resgatado toma tempo, dinheiro e leva com ele um pedaço do nosso coração. Basta arregaçar as próprias mangas ― o olhar de gratidão de uma vida salva não tem preço.

Mas mentir é muita sacanagem! Principalmente com o animal, que ficou quase duas horas chacoalhando no carro quente e mais oito em pânico na lavanderia da minha sogra, porque a Michele estava do outro lado de São Paulo e só voltaria para a Vila Mariana à noite. No último sábado, eu perdi o encontro da escola e um tico de esperança na humanidade.

3.10.14

Cada povo tem o governo que merece

Eu não gostava de bicho. Nem de política. Já votei com a boiada, anulei, invejei quem viajava nas eleições. A vida deu um triplo mortal carpado nestes sete anos! Foi impossível resistir aos olhos brilhantes do Mercv na caixinha de papelão. E é impossível tocar um projeto social sem entender o funcionamento da engrenagem. Você começa tirando da rua animais que deveriam ser responsabilidade do município e termina discutindo o conflito entre Israel e Palestina.

Quando a Isis Mastromano me mandou a matéria do Vista-se sobre um candidato à presidência que tinha planos de incentivar o vegetarianismo no Brasil, eu lamentei o 1% das intenções de votos que ele dividia com mais cinco lanterninhas. E demorou para cair a ficha que Eduardo Jorge era o secretário do Meio Ambiente que respondeu pessoalmente meu e-mail sobre a feira ilegal de filhotes no Parque do Ibirapuera, em 2007, prometendo providências ― que foram cumpridas.

Na palestra sobre educação humanitária do fim de agosto, Nina Rosa cobriu o político de elogios. E eu não conseguia entender porque ele é tão zoado no Facebook. Como todo cidadão deveria fazer, resolvi ler seu plano de governo direto no site, sem atravessadores. E me senti no Uruguai. O pessoal admira o Mujica, mas, quando aparece um candidato não trabalhado no marketing, que fala sobre cultura da paz e abolicionismo animal, ridiculariza. Eis algumas propostas, bem resumidamente:

- Criar políticas públicas que equacionem social, ambiental e econômico.
- Dar mais poder aos municípios, para garantir maior participação do povo.
- Reduzir o salário dos parlamentares e extinguir a remuneração para vereadores ― "política não é negócio, é para servir".
- Proibir que empresas (com interesses próprios) financiem as campanhas eleitorais.
- Incentivar a agricultura familiar e combater o desperdício de alimentos.
- Privilegiar pequenas centrais hidroelétricas, subvencionar fontes de energia mais limpas e desativar usinas nucleares.
- Promover junto às nações o debate para estabelecer metas de redução não voluntárias de emissões de gases de efeito estufa, proporcionais às responsabilidades históricas e atuais.
- Priorizar a formação de médicos especializados na saúde da família.
- Descriminalizar a interrupção da gravidez, para garantir a segurança de milhares de mulheres que hoje realizam o procedimento clandestinamente.
- Estruturar a educação sobre os quatro pilares da Unesco: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser ― o sistema deve compor-se da maior multiplicidade de atores, lugares e tempos.
- Promover a inclusão social para deficientes.
- Reparar as sequelas da escravidão.
- Fortalecer a participação das mulheres nos espaços de poder e decisão.
- Promover a igualdade de direitos da população LGBT.
- Caracterizar as forças armadas como de autodefesa.
- Combater a economia do crime com a legalização e REGULAÇÃO pelo estado do acesso à maconha, além de criar políticas de educação que reduzam o dano causado pelo uso da droga.
- Priorizar políticas públicas relativas à mobilidade urbana, aos modos não motorizados e ao transporte coletivo, favorecendo à humanização do espaço público e a democratização do acesso à cidade.
- Proibir testes de cosméticos em animais e incentivar a pesquisa e o desenvolvimento para eliminar também o uso de animais como cobaias em outros setores.
- Difundir e promovera alimentação vegetariana como hábito saudável, benéfico para o meio ambiente e respeitoso para com os bichos.
- Eliminar subsídios e financiamentos públicos a granjas industriais que mantenham galos e galinhas em confinamento intensivo.
- Criar benefícios fiscais a produtos que proponham substituir (em termos de nutrição, culinária e/ou paladar) alimentos de origem animal.
- Reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais e começar uma transição para 30 horas, sem redução salarial ― "trabalharmos menos, para trabalharmos todos".
- Defender a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas.
- Apoiar fortemente as redes de produção, troca, consumo e financiamento sustentáveis, que dão forma à economia solidária, da qual o cooperativismo é parte fundamental.

Agora, leiam os planos de governo dos "favoritos" ― copiar e colar artigos da USP não vale!

Cada povo tem o governo que merece. Desta vez, eu vou votar idealista. E planto aqui minha sementinha de transformação. :)


4 links para ir às urnas consciente

www.verdinhas.org.br
Com o plugin, do Verdinhas você descobre quais empresas estão financiando as campanhas políticas ― vale a pena ler também a explicação de como essa informação pode ser maquiada.

www.bit.ly/1pMt1Zk
A ONG Transparência Brasil divulgou as instituições flagradas com trabalhadores em situação análoga à escravidão que doaram dinheiro aos candidatos.

www.naovoteemruralista.org
No site "Não Vote em Ruralista", da organização 350.org, há os principais responsáveis pela escassez de água, pelo desmatamento das florestas e (de novo!) pela manutenção do trabalho escravo.

www.bit.ly/worldanimal
A página da World Animal Protection traz os políticos engajados na causa animal.