.
.

7.3.08

Cachorroca

Não sei porque eu insisto em buscar pão na padaria da esquina de casa a pé! Desta vez, cruzei com uma cachorrinha malhada mancando, os ossos da bacia à mostra. Ela possuía feridas de corda no pescoço e abocanhou as salsichas compradas no tio do dog com papel e tudo. Marlene, que trabalha aqui no bairro e também se condoeu com a situação da pobrezinha, levou-a até meu carro (não é só de pombas que eu sinto medo - rs) e nós rumamos para a clínica utinguense.

Diferente dos bigodes, a pequena deitou sobre o paninho, no banco de trás, e não arriscou um latido sequer. Só me olhava soltando puns fedorentos de nervoso e pedindo carinho ― mas quando a mão chegava perto da cabeça, punha-se a piscar freneticamente, sem conseguir esconder o receio.

Adentrou a sala do Dr. E. com ataque de tremedeira e o clássico rabinho entre as pernas. Para minha surpresa, não tinha cinomose nem problema na coluna. Só fraqueza e desnutrição. Lucia, protetora de Santo André, concordou em acolhê-la se eu pagasse a castração e as vacinas. Como Marlene havia cogitado uma vaquinha na empresa, eu aceitei.

― Você já pensou em um nome?
― Não...
― Então será o seu.

Constatei mentalmente que a população de cadelinhas Beatriz estava aumentando (na virada do ano, ajudei um casal de amigos a encontrar um lar para uma poodle abandonada de coleira em Santo Amaro) e precisei disfarçar o riso.

Minha xará ganhou uma gaiolinha exclusiva, mas não queria me deixar partir e, esticando o focinho estrategicamente, impediu que a porta se fechasse por um último cafuné. Se não fosse a Fabíola esmagá-la contra o peito, anunciando a amizade que se estabeleceria nos próximos dias, eu morreria de culpa.


P.S.: Pelo amor de Deus, não me façam piadas com Cavaloca, Papagaioca, Ramsteroca, Porcoca ou quaisquer variações! Cachorroca, Gatoca, Pomboca e Passarinhoca já bastam para 2008.

5.3.08

Como estragar um gato: curso intensivo

Só a Keka, aqui em casa, vomita a ração da lata. E eu morro de dó porque ela adora. Lambe o potinho empolgadíssima e, no segundo seguinte, bota tudo para fora. Sempre. Como forma de compensação, passamos oferecer-lhe outras guloseimas: leite, mamão, granola, pão integral. Acontece que agora basta alguém adentrar a cozinha para que a glutona monte plantão na porta, ansiosa pelo "prato do dia". Mariana já até reclamou que o café da manhã da pequena é mais completo que o seu.

4.3.08

Ex-queletinhos: adoções no atacado

Smoo passa o dia atrás de Mika, uma gatinha resgatada da rua, mas até agora só levou patada. Do Ricardo ele não quer nem saber. Deby contou que basta escutar uma voz masculina para sair correndo na direção contrária.


Chococat e Lourdes dormem juntos embaixo da máquina de lavar roupa e costumam levantar animados às 5h30 para tocar o terror na casa da Raquel: mexem em tudo, arranham o sofá, brincam de bolinha – coisa inimaginável no cortiço da dona Lourdes*!


Na mesma semana, Susan comunicou ao maridão que havia adotado Conie (a filhotinha de dois meses que levara um pontapé e foi parar na UTI), sua peluda número oito. Eis a cartinha que me fez admirá-la ainda mais:

Aos dois meses, Conie passou por uma cirurgia com 90% de chances de morrer. Devido ao estado crítico do diafragma rompido, a costura da operação ficou muito perto do pericárdio, deixando sua respiração mais curta que o normal. Ela acabou de sarar de uma bronquite, aliás. Se a tal costura colar no pericárdio durante o crescimento, a pequena correrá o risco de viver pouco. Deverá, portanto, fazer raio-x freqüentemente. Além de ser preta, apresenta duas falhas enormes de pêlo, culpa de uma reação durante o tratamento à base de antibióticos. E ainda parece a reencarnação da minha Courtney: mesma cor, mesmo jeito.

Agora, me explica como escolher um puuuuuta adotante para uma gata preta, com falhas de pêlo, que precisa de acompanhamento veterinário constante e pode morrer cedo? Como doar uma criatura que é a cara da minha filha falecida, que me acorda todo dia, que entra no banheiro comigo, que me segue pela casa inteira?

Ficou! rs

beijos!
Su



*História completa dos montinhos de ossos da dona Lourdes, constantemente atualizada.

3.3.08

Velho Oeste

Essa madrugada, como precisaria acordar para tomar remédio, deixei Mercvrivs e Simba dormirem comigo. Os coitados já estavam perseguindo meus chinelos pela casa há meia hora, com cara de choro, e até esqueceram as diferenças. Quando deitei na cama, porém, cada um se posicionou de um lado da perna e foi abaixando sincronicamente ao outro, para evitar a surpresa de um cascudo-relâmpago. Faroeste em digital sound!

29.2.08

Escuridão total

Gatoca acabou de retornar do apagão mundial. Enquanto eu quase cochilei na escada da sala, esperando passar os cinco minutos de breu para que o planeta pudesse respirar, uma vertente dos bigodes achou a oportunidade perfeita para brincar de bolinha na chuva, outra preferiu caçar insetos invisíveis e Chocolate continuou rosnando para o próprio rabo.


Obs.: Como só encontramos velas pretas (!?!?!) na gaveta da cozinha, não foi possível registrar as peripécias felinas dessa vez.

28.2.08

Golpe baixo em cinco lições

Quando quer muito alguma coisa, Keka tomba a cabeça de lado e nos atravessa com o olhar típico dos pedintes de farol. Pimenta mia baixinho, como se um último sopro de vida passasse por seu corpo àquele momento. Pipoca nos persegue incansavelmente pela casa. Pufosa solta um gritinho curto e determinado, dando a entender que a solicitação é, na verdade, uma ordem com prazo de validade vencido. E Jujuba chora, esperando que a Guda resolva a questão.

27.2.08

Igreja Universal do Reino de Bia

Acabei de surpreender Pimenta com uma lagartixa na boca e emagreci dois quilos perseguindo a peste pela casa, até fazê-la largar. A sortuda, provavelmente recém-caçada, saiu correndo incrédula, de rabo e tudo! Já posso imaginar os milhões de répteis espalhados pelo mundo, de terno puído e bíblia suada, lotando os templos da Igreja Universal do Reino de Bia para ouvir o testemunho da bispa sobre o milagre ocorrido no dia 27 de fevereiro de 2008 (e processos contra jornalistas serão terminantemente proibidos!).

26.2.08

Chegou a vez da Umaga!

Logo que adentrou o recinto, Umaga (a ex-queletinha* que estava com a Marina Kater-Calabró temporariamente) descobriu um guarda-roupa no cantinho do quarto, escalou as prateleiras sem fazer bagunça e dormiu sobre o paninho que Thais havia previamente ajeitado para essa função. Parece que até ensaiou umas brincadeiras e, timidamente, deixou-se acariciar. Quando se sentir mais à vontade com o lugar, será apresentada à Lua, sua irmã canina (e, se os gênios não baterem, saberá para onde correr - rs). Abaixo, a cartinha que me emocionou:

Boa noite, Beatriz.

"Obrigada" é a melhor forma de começar este e-mail. Obrigada pelo anjinho doce e meigo que você salvou.

Domingo, busquei a Umaga, que agora está em sua nova casa, cheia de carinho e se adaptando muito bem. Marina me contou que foi você quem a levou até a Susan, do Adote um Gatinho, uma ONG fantástica, que faz um trabalho lindo.

Quero que você saiba que essa gatinha terá sempre um lar, até que vá para o céu dos gatinhos (num dia muito distante).

Ela é muito amada, um verdadeiro anjinho que eu tive a sorte de receber em minha vida.

Obrigada!

Thais Rioto


25.2.08

Flashs de Caras

No último final de semana ensolarado do mês de fevereiro, Mercvrivs, o bigode que deu origem ao Gatoca, foi flagrado por nossas lentes em pose super confortável, aproveitando a sombrinha do Celta vermelho de Eduardo, poeta, artista plástico e advogado-nas-horas-vagas.

22.2.08

BDSM* felino

Lembram quando eu contei que Chocolate fazia questão de perseguir os bigodes pela casa, bem devagarzinho, como nos filmes de terror?! Pois agora é a Guda que anda atrás dela, com cara de Anthony Hopkins, obcecada por carinho. Claro que a pequena se irrita e sai distribuindo safanões. Mas parece que a masoquista gosta, porque não desiste.


*Prática de bondage e disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo.

21.2.08

Certas coisas nunca mudam

Nos anos 90, toda família (inclusive a minha!) era obrigada a suportar uma adolescente gótica-romântica-sofredora, uma metaleira-trevosa-do-mal ou uma rebelde-incompreendida-que-não-usava-preto. Quase duas décadas depois, aqui em Gatoca, enquanto Keka traz florzinhas do jardim para a mãe, Jujuba caça baratas e Pimenta, passarinhos.

20.2.08

Sinalização para a vida

Estou pensando em pintar uma faixa de pedestres aqui na sala, devido ao fluxo contínuo de bigodes em alta velocidade, e ver se consigo fazer as travessias com um pouco mais de segurança. Agora, à noite, quase fui atropelada numa perseguição enlouquecida de polícia e ladrão (daqueles que não ficam pendurados ao telefone, simulando seqüestros).


Obs.: Foto do Mercv aos dois meses de idade, quando seu único amigo para as brincadeiras de pega-pega era o ratinho de gatária.

19.2.08

PCC: pânico em Gatoca

Essa madrugada, Mariana me acordou segurando o celular com uma mão, contando o dinheiro da carteira com a outra e dizendo que era um seqüestro. Sem entender como alguém podia ter pego o Mercv e ainda querer resgate (graças ao crachá de funcionário do mês), fui atender o telefone fixo já com tremedeira. Do outro lado, "Bruninho do PCC" ameaçava dar um tiro na cabeça do meu irmão. Opa! A sonolência, aliada ao coração de mãe, me fizera incluir bigodes inexistentes na história.

E nós acabávamos de virar estatística: tratava-se do velho golpe do terror psicológico, aplicado por bandidos de dentro dos presídios (!), que costumávamos criticar quando algum ingênuo morador de Marte caía. Sorte que recebi esse spam umas 200 vezes e consegui falar com o João, enquanto me fingia de autista para o Bruninho. Mariana confessou, porém, que ouvir o cidadão chorando desesperadamente e repetindo que ia morrer, como se fosse um parente nosso, deixa os nervos em frangalhos e você esquece completamente a razão.

Bando de filhos da puta que tiraram meu sono (e o do Mercv)!

18.2.08

Só o sapo não lava o pé

Um belo dia, Pipoca decidiu passar a beber a água do pote com a mão. Pensei até que estivesse usando o recipiente para limpar as garras, como nas comunidades quilombolas do Gorutuba, em que o conteúdo de um único poço servia para cozinhar, tomar banho, lavar roupa (e a prefeitura só tornaria a enchê-lo em dois meses). Eis que hoje peguei a figura repetindo o ritual... com o pé! Senso de coletividade zero.

16.2.08

Passarinhoca

Este post era para ser engraçado. Eu pretendia contar que na véspera de soltar a pomba, Pimenta apareceu com as asas de um passarinho abertas sobre o rosto. Consegui tirar-lhe o jantar a força, mas o montinho de penas ficou caído no chão, todo desconjuntado. Cinza, cabia inteiro em uma das mãos. E carimbou-a de cocô vermelho enquanto eu pedia socorro na Fauna ― Mariana, assumindo o apoio técnico, tentava matar os bichinhos minúsculos que andavam pelo meu braço.

Drª. Melissa aconselhou-nos, antes de qualquer coisa, a observar de onde saía o sangue: nas fezes, indicaria hemorragia interna e dificilmente ele sobreviveria à cirurgia; no corpo, podíamos estancar com uma gaze seca; se não estivesse pingando, bastava deixá-lo quietinho e quentinho, em um quarto escuro. A experiência, por si só, já havia sido deveras traumatizante.

Eu coloquei água em uma tampinha de garrafa e preparei o mesmo cardápio da hóspede anterior. Quando considerei que os pedaços estavam suficientemente pequenos, piquei mais umas cinco vezes, para garantir.


Mas ele não comia nem apoiava um dos pés na gaiola. E, na manhã seguinte, continuava igualzinho. Corremos, então, para a clínica.


Eis que, no caminho, o safado resolveu usar as duas perninhas, piou, chacoalhou as plumas e se entupiu de mamão. Parecia adivinhar que devia sorrir para se livrar dos remédios. Ou que a papinha que a veterinária lhe receitaria tinha gosto de Chocooky. Nem acreditamos que o ataque da Diana perfurara apenas de leve uma das asas. Era um sanhaço filhote, que provavelmente mal sabia voar e ainda comia na boca.


Nós podíamos experimentar soltá-lo no jardim e ver se ele voltava para casa. Em caso de fracasso, o alimentaríamos até que aprendesse a ganhar os céus, correndo o risco de ele nunca mais partir, por nos considerar suas mães. Ou o entregaríamos direto ao Parque Estoril, onde certamente seria cuidado por biólogos e veterinários, pois se tratava de um pássaro raro da fauna brasileira, não uma praga urbana.

Escolhemos a primeira opção, mas, por conta da chuva, preferimos esperar mais um dia. Foi aí que o texto ganhou contornos de tristeza. Será que o aquecedor estava forte demais? Ou Godofredo (como Mariana o batizara desconhecendo o significado) engasgara com os grãozinhos do pão integral? Talvez, tenha morrido por estresse do cativeiro. Completamente solitário.

Quando o encontrei tombado sobre a tampinha de água, senti-me culpada por não visitá-lo de madrugada, já que havia precisado levantar para tomar remédio. Lembrei dele espirrando mamão pelo quarto inteiro e, meia hora depois, dormindo de suspirar. Até desisti de dar a última papinha, na seringa de fartos 1 ml. Antes de deitar, aliás, confesso que achei estranho ele cochilar de lado. Mas, como acontecera à tarde também e a respiração parecia normal, desencanei.

Por que me deixaram salvá-lo para esse desfecho? Admito que não sei lidar com a perda ― ou com as coisas que fogem do controle da minha insignificância. E meu coração só parou de retorcer quando Drª. Melissa disse que a culpa era do trauma causado pela Pimenta. Às vezes, passam-se meses do choque, mas a sensação fica armazenada no corpo do animal e, cedo ou tarde, os órgãos acabam paralisando (cientificamente não consigo explicar).

Nas aves, esse processo ocorre de forma especialmente rápida: saltitante em um dia, estrelinha no outro. Resta-nos o consolo de que toda a correria proporcionou ao pequeno uma partida menos thriller. Agora, o mamão do café da manhã vem carregado de lembranças. E pode parecer loucura, mas juro que um casal de sanhaços insiste em gritar aqui na janela do escritório há duas semanas.

O que está acontecendo com os passarinhos de São Bernardo?!?!?!?!?!

Anteontem, Pimenta (alimentada com ração super premium!) caçou outro infeliz. E, dessa vez, o estrago foi grande. O bichinho, de peito amarelo, nem conseguia ficar em pé. Quando tentava voar, só dava cambalhotas, quicando peito e costas no chão freneticamente. Para melhorar, a cabeça sobrou tombada de lado. Completamente falida, graças à pomba e ao sanhaço, eu recorri à irmã de uma amiga, estudante de veterinária.

Ela me falou da tal síndrome vestibular, que faz o animal perder o equilíbrio por causa de uma pancada justamente na cabeça descoordenada. Para se recuperar, portanto, ele precisaria tomar vitamina diluída em água ao longo do dia e antiinflamatório. A cauda, que virara ao contrário, deveria ser imobilizada com palito de sorvete. E as feridas, cuidadas com pomada. Eu concluí que sairia mais barato levá-lo ao veterinário. E, se ele passasse da primeira noite, ainda corria o risco de ficar tortinho para sempre.

A polícia ambiental nem quis saber do caso: "Minha senhora, com a escassez de profissionais no Estado, a ave morreria antes de encontrarmos um lugar para entregá-la. Pode mantê-la aí mesmo, na sua casa, que ela se cura sozinha". Resignadas, Mariana e eu tampamos as janelas do banheiro com um cobertor, arrumamos uma caixinha acolchoada para acomodar o convalescente, ligamos o aquecedor e tentamos dar comida na boca. Mas ele não agüentou.