Eu não gostava de bicho. Nem de política. Já votei com a boiada, anulei, invejei quem viajava nas eleições. A vida deu um triplo mortal carpado nestes sete anos! Foi impossível resistir aos olhos brilhantes do Mercv na caixinha de papelão. E é impossível tocar um projeto social sem entender o funcionamento da engrenagem. Você começa tirando da rua animais que deveriam ser responsabilidade do município e termina discutindo o conflito entre Israel e Palestina.
Quando a Isis Mastromano me mandou a
matéria do Vista-se sobre um candidato à presidência que tinha planos de incentivar o vegetarianismo no Brasil, eu lamentei o 1% das intenções de votos que ele dividia com mais cinco lanterninhas. E demorou para cair a ficha que Eduardo Jorge era o secretário do Meio Ambiente que respondeu pessoalmente meu e-mail sobre a feira ilegal de filhotes no Parque do Ibirapuera, em 2007, prometendo providências ― que foram cumpridas.
Na palestra sobre educação humanitária do fim de agosto,
Nina Rosa cobriu o político de elogios. E eu não conseguia entender porque ele é tão zoado no Facebook. Como todo cidadão deveria fazer, resolvi ler seu
plano de governo direto no site, sem atravessadores. E me senti no Uruguai. O pessoal admira o Mujica, mas, quando aparece um candidato não trabalhado no marketing, que fala sobre cultura da paz e abolicionismo animal, ridiculariza. Eis algumas propostas, bem resumidamente:
- Criar políticas públicas que equacionem social, ambiental e econômico.
- Dar mais poder aos municípios, para garantir maior participação do povo.
- Reduzir o salário dos parlamentares e extinguir a remuneração para vereadores ― "política não é negócio, é para servir".
- Proibir que empresas (com interesses próprios) financiem as campanhas eleitorais.
- Incentivar a agricultura familiar e combater o desperdício de alimentos.
- Privilegiar pequenas centrais hidroelétricas, subvencionar fontes de energia mais limpas e desativar usinas nucleares.
- Promover junto às nações o debate para estabelecer metas de redução não voluntárias de emissões de gases de efeito estufa, proporcionais às responsabilidades históricas e atuais.
- Priorizar a formação de médicos especializados na saúde da família.
- Descriminalizar a interrupção da gravidez, para garantir a segurança de milhares de mulheres que hoje realizam o procedimento clandestinamente.
- Estruturar a educação sobre os quatro pilares da Unesco: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser ― o sistema deve compor-se da maior multiplicidade de atores, lugares e tempos.
- Promover a inclusão social para deficientes.
- Reparar as sequelas da escravidão.
- Fortalecer a participação das mulheres nos espaços de poder e decisão.
- Promover a igualdade de direitos da população LGBT.
- Caracterizar as forças armadas como de autodefesa.
- Combater a economia do crime com a legalização e REGULAÇÃO pelo estado do acesso à maconha, além de criar políticas de educação que reduzam o dano causado pelo uso da droga.
- Priorizar políticas públicas relativas à mobilidade urbana, aos modos não motorizados e ao transporte coletivo, favorecendo à humanização do espaço público e a democratização do acesso à cidade.
- Proibir testes de cosméticos em animais e incentivar a pesquisa e o desenvolvimento para eliminar também o uso de animais como cobaias em outros setores.
- Difundir e promovera alimentação vegetariana como hábito saudável, benéfico para o meio ambiente e respeitoso para com os bichos.
- Eliminar subsídios e financiamentos públicos a granjas industriais que mantenham galos e galinhas em confinamento intensivo.
- Criar benefícios fiscais a produtos que proponham substituir (em termos de nutrição, culinária e/ou paladar) alimentos de origem animal.
- Reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais e começar uma transição para 30 horas, sem redução salarial ― "trabalharmos menos, para trabalharmos todos".
- Defender a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas.
- Apoiar fortemente as redes de produção, troca, consumo e financiamento sustentáveis, que dão forma à economia solidária, da qual o cooperativismo é parte fundamental.
Agora, leiam os planos de governo dos "favoritos" ― copiar e colar artigos da USP não vale!
Cada povo tem o governo que merece. Desta vez, eu vou votar idealista. E planto aqui minha sementinha de transformação. :)
4 links para ir às urnas consciente
www.verdinhas.org.br
Com o plugin, do Verdinhas você descobre quais empresas estão financiando as campanhas políticas ― vale a pena ler também a explicação de como essa informação pode ser maquiada.
www.bit.ly/1pMt1Zk
A ONG Transparência Brasil divulgou as instituições flagradas com trabalhadores em situação análoga à escravidão que doaram dinheiro aos candidatos.
www.naovoteemruralista.org
No site "Não Vote em Ruralista", da organização 350.org, há os principais responsáveis pela escassez de água, pelo desmatamento das florestas e (de novo!) pela manutenção do trabalho escravo.
www.bit.ly/worldanimal
A página da World Animal Protection traz os políticos engajados na causa animal.