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15.8.07

O poder da maternidade

Enquanto os outros gatos demoraram horas para despertar da anestesia, desfilaram bêbados pela casa por mais um tempão, enfiaram a cara no pote de comida sem que a boca abrisse, fizeram xixi em si mesmos e vomitaram diversas vezes nas cobertas, Guda Duro de Matar acordou em 45 minutos, bambeou apenas nas primeiras tentativas de sair da cama, quase limpou o pote de ração em duas bocadas, urinou na caixa de areia e nem chegou a colocar o jantar para fora. Depois de parir cinco, castração deve ser fichinha.


P.S.: Os Gudos é que estranharam a situação. Primeiro, acharam que ela estava morta, cheirando o corpo tombado com o rabo cheio, tipo espanador. Depois, puseram-se a observar passados o corpete zumbi andar para cima e para baixo. Experiência sofrida, eu sei, mas necessária.

14.8.07

Colo à vista!

Agora que os Gudinhos descobriram o colo, sento no computador e vai chegando um, depois outro, e mais outro... Bastam 15 minutos para que os cinco estejam amontoados numa área de menos de 60 cm2, exercitando a capacidade felina do equilíbrio. Triste é a cara do Mercvrivs quando se depara com a pensão lotada.

Motoboys felinos

Quando bate sol aqui na janela do escritório, os gatos parecem entregadores do China in Box no farol: sempre tem o mala de trás da fila que fica pressionando o da frente para ceder espaço rente à faixa de pedestres.

Amigos

- Djúlius, o que acha de combinarmos uma sessão de filmes com pipoca aqui em casa?
- Eu topo. Só não sei se rola nos próximos 374 finais de semana.
- Ah, vai... Prometo que te arrumo uma máscara antialérgica!
- Isso é o de menos, Bioca. A chance de se ter um gato homicida em uma população de dez me assusta!

10.8.07

Inimizades

Mercvrivs mal chegara em casa e já colecionava arquiinimigos: o mais odiado era, de longe, o Eduardo, competindo apenas com Severina, a boneca de vodu herdada do terceiro setor.

Esmagavam-se, em segundo lugar, o tapete da sala, o sofá-arranhador, o pano de chão da lavanderia, o edredom vermelho, os fios do computador, os botões das minhas blusas, as plantinhas que a Francisca cuidava com o maior carinho, meu óculos, quaisquer dedos e cabelos em movimento.

Como vocês podem perceber, não sobraram coadjuvantes para a terceira posição.

Gata-Aranha

O que se passa pela cabeça de um gato para subir em lugares de onde não conseguirá descer sozinho depois, ainda mais sabendo que não há nada lá?

Tira de pano vermelha: o segredo da felicidade

Tente tirar a gravatinha do Simba após a tortura no pet shop e verás um leão. Mariana, desavisada, ousou e teve de fugir dele a casa inteira, até devolver o adereço. Sua versão "gato de negócios" deve fazer o maior sucesso com as felinas.

Nos menores frascos...

De frágil Chocolate só tem o tamanho. Com a convivência, acabei percebendo que é ela que provoca os outros gatos. E se eles fogem de medo, a peste faz questão de ir atrás, bem devagarzinho, como nos filmes de terror.

29.6.07

Prólogo

Atualizado em 02.12.08

Diferente do Calvin, que levava para a escola Velociraptors e Tiranossauros Rex, ou da Mônica, que vivia brigando por causa do Sansão, seu coelho de pano azul, eu nunca tive um animal de estimação. Na verdade, minha mãe abriu exceção aos peixes, escolha que provocava certa frustração e boa dose de tédio em uma criança hiperativa.

Mas se a gente pedia algo mais dinâmico do que limpar o aquário mensalmente ou despedir-se dos cadáveres reluzentes antes de puxar a descarga, o diabo da razão tratava de assombrá-la com duas palavras impronunciáveis: gasto e bagunça, deixando para segundo plano (ou melhor, para um plano inexistente) a experiência de se aprender a aconchegar um coração que vive fora do seu corpo, mas bate cada segundo em sintonia ao seu.

Como mecanismo de compensação, acredito, cresci simpatizando com todas as vilãs dos filmes da Disney, de Rainha de Copas a Cruela Cruel, até que, 25 anos depois, o namorado da época me convenceu a adotar um algodão com pernas chamado Mercvrivs (02.12.05).

Nessa fase, eu ainda achava que conseguiria desinfetar as patinhas dele com álcool sempre que saísse da caixa de areia e ria do nome do cachorro da vizinha, pronunciado em tons agudos.

Aí, veio a Clara Luz, abandonada com os filhotes que nem cheguei a conhecer em um saco de lixo (10.04.06). E o Simba, machucado de briga (17.09.06). E a Chocolate, ainda bebê (14.02.07). E a Guda, mamãe (07.05.07). De cinco (22.05.07), atrapalhadamente batizadas como Queixinho (Kekinha), Pimenta, Vaquinho (Jujuba), Bufosa (Pufosa) e Branquinho/Pimpão (Pipoca).

Essas dez histórias vêm sendo contadas em novelinhas, cada vez que um bigode faz aniversário:

:: Exército de um homem só (Mercvrivs)
:: Dividir para multiplicar (Clara Luz)
:: Um é pouco, dois é bom, três vira festa! (Simba)
:: Bagagem extra (Chocolate)
:: Golpe da barriga (Guda)
:: Pane no sistema! (Gudinhas)

Nos demais posts, relatos atuais e empoeirados se misturam sem preocupação com a ordem cronológica, ora embalados pelo olhar ingênuo da descoberta, ora salpicados de uma ironia que só o cotidiano é capaz de maturar.

Respeitável público, apresento-lhes Gatoca.