.
.

31.12.15

2015

2015 foi um ano em que tudo deu errado.

O financiamento coletivo do Catarse rendeu o primeiro mutirão de castração do Gatoca e uma gastrite com a fuga do Napoleão, a morte do Enzo e as demandas intermináveis dos barracos sem janelas do DER, como mais esterilizações, ajuda para doar bicho e tratamento para doenças que se desdobravam em outras doenças (1, 2 e 3) ― Pretinha ganhou e perdeu um lar temporário em seis dias, por causa de um erro veterinário.

As dezenas de idas à favela incluíram, ainda, caçar gato embaixo da lavadora, atravessar telhado de bunda e desfilar pelas vielas de terra com seu Moacir de cueca. Distante dali, em um bairro de ruas asfaltadas e árvores floridas, Catrina foi abandonada por um ser humano, proibida de receber comida por outro e desabrigada por um terceiro, que mudou de ideia sobre a hospedagem emergencial sem dar satisfação.

Na avenida do Estado, Leo freou para um cachorro preto que andava desorientado entre as pistas, mas sua parceira já estava morta. Da conversa com a família de carroceiros, restou a impotência. E o sentimento se repetiu quando o Vitório virou Derrota antes de desmamar, mesmo com quatro pessoas, incluindo um mendigo, envolvidas na batalha.

Em meia noite de sono, Pimenta conseguiu cortar o rabo num cômodo praticamente vazio do apertamento. Simba odiou a ração renal que Pipoca já comia, emagreceu 600 gramas em sete dias (a pança loira era assim), teve intolerância alimentar com a marca nova, que ironicamente amou, e a diarreia mais fedida da história de Gatoca ― detalhe: a gente nem havia curado a infecção de pele de 2014.

Às vésperas do famoso inferno astral de dezembro, quase cinco anos depois da adoção, Feijão e Luigi foram devolvidos. E o Facebook tirou do ar o post de divulgação dos meninos com quase mil compartilhamentos, levando junto todas as ofertas de lar temporário e os contatos dos interessados em ficar com eles. Não adiantou espernear.

Eu já tinha mobilizado a rede para levantar a grana das passagens a Brasília e procurado corações de pudim que topassem acompanhar os bigodes no avião. Gastei, então, mais um tempão escrevendo novos textos de divulgação (1 e 2), buscando um canto por aqui para os dois, respondendo mensagens de possíveis adotantes. E não consegui terminar o e-book do Gatoca para o Natal ― sim, nosso primeiro livro digital seria lançado neste ano.

Como dezembro é o mês mais longo dos 12, ainda trinquei o dedinho do pé em duas partes, só encostando no aspirador de pó. Chorei com o coral de crianças no supermercado, comprando os ingredientes para a ceia do Jamie Oliver. Fiz faxina até perto da hora da festa e não pintei as unhas. E, em vez de Papai Noel no trenó, assisti a uma barata entrar voando pela janela do quarto e atravessar a cama de lençol recém-lavado.

O post começou com os contratempos do mutirão no DER, né? Mas nós também conscientizamos a comunidade sobre os benefícios da castração, com panfletagem nos estabelecimentos comerciais, inscrição na pracinha e conversa de porta em porta. A Ceva doou todos os vermífugos e antibióticos da empreitada. E as cirurgias, ocorridas em duas etapas (1 e 2), beneficiaram 49 cães e gatos ― Napoleão foi encontrado 18 horas e três quilos perdidos depois.

Subindo e descendo as vielas de barro, eu descobri a Cida, garota de rua que cresceu protetora e ajuda os animais da favela com o salário de empregada doméstica. O seu Luis, que emprestou o pet shop para incentivar a população a cobrar o CCZ, já que eu costuro palavras melhor do que barrigas. E a Karol, pré-adolescente que convenceu os avós a castrar os 14 quadrúpedes da família e doar os bebês hollywoodianos.

Após três campanhas de divulgação (1, 2 e 3), Will Smith conquistou a veterinária Camilla De Cássia Sovenhi. Halle Berry e Catherine Zeta-Jones se mudaram para a casa da Joyce Tsuchiya Melo. Johnny Depp teve um desfecho aparentemente frustrante que terminou feliz. Benedict Cumberbath e Julia Roberts passaram pelo quintal da Susan (AUG) antes de aportar, respectivamente, nos apartamentos da Maria Augusta e da Rafaela Dantas. Angelina Jolie virou Tofu no colo de Bianca Urata. E Brad Pitt sensibilizou dona Madalena com sua bacia quebrada ― esqueci de contar isso nos primeiros parágrafos. rs

O financiamento coletivo do Catarse também permitiu que o blog fosse atualizado diariamente por cinco meses, somando 98 textos, para turbinar a missão de divertir, ensinar e sensibilizar leitores de língua portuguesa a arregaçarem as mangas pelo mundo. E o layout ganhou cara nova, assinada pelo namorado e programada pelo irmão. Em abril, nós batemos a marca de 1 mil posts. Naveguem pelo arquivo de dicas! (Seria insano listar tudo aqui.)

Meu relato sobre o dengo da Pretinha pós-sofrimento amoleceu a Fernanda Abreu, rendendo-lhe dois irmãos temporários, o Demonho e a Mushu. E o Gatoca se profissionalizou nas campanhas de adoção: teve especial de Halloween, Black Friday e Dia dos Mortos. Os moradores do prédio onde Catrina foi três vezes sacaneada se uniram para ajudá-la, João passou quatro semanas de janelas fechadas até a gente conseguir um lar temporário oficial e Marina Kater-Calabró não resistiu ao chamado de La Muerte. Feijão e Luigi recomeçaram na casa nova ― conto assim que terminar a adaptação delicada.

Uma das desistências do mutirão de fevereiro aprendeu a tempo que pena se deve sentir de animal que vai para a rua. A pedido da Gatto de Bottas, que ficou sabendo do nosso trabalho educativo por uma grande marca de ração, nós conscientizamos a família do Baeta a castrar oito bichanos. E caprichamos nas fotos da turma para divulgação. Michele Naneti e Cléber Borges acabaram adotando todos os Cartoons encalhados! E o café da manhã virou PB com Penélope Charmosa e seus três frajolinhas.

Para agradecer a aula de maquiagem do Saulo Fonseca, acostumado a pintar modelos de passarela e capas de revista, eu fiz um book do Fumacinha, que logo arrumou um sofá-arranhador oficial. Salvei um gato da árvore montada num estranho. Insisti na propaganda do Felinos Urbanos, esperançando despiorar a vida dos peludos maranhenses que não votaram na família Sarney por cinco décadas. Escrevi os textos da agenda e do calendário 2016 do AUG, além de coordenar as vendas do arraial e do bazar de Natal.

E ganhei cobertinhas da Itacira Ossiama para os bichos do DER, mimos artesanais da Daniela Cavalcanti e proteção de peru, morcego, aranha e cachorro em Cunha. Ah! Continuei trabalhando em boa companhia, sendo louca dos gatos com orgulho (1, 2 e 3), curtindo as peripécias dos bigodes (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10) ― valem cada clique! E eles continuaram se amando.

Não faltou festerê, aliás: da Chocolate, da Pandora, da Clara, da Guda e das Gudinhas, do Gatoca (1, 2 e 3), do Simba e do Mercv (1 e 2). O leãozinho se curou da diarreia e da infecção de pele (finalmente!) com a homeopatia, um tratamento lento, mas bem mais barato e sem efeitos colaterais. E minha admiração pela Maria Eugenia Carretero se desdobrou em terapia alternativa coletiva, incluindo o terror da Jujuba.

2015 foi um ano em que tudo deu certo.



Retrospectivas dos anos anteriores: 2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008 | 2007

29.12.15

Onde Está Catrina?

Gateiros sabem que os bigodes adoram um cantinho apertado. Mas Catrina parece ter fugido de Onde está Wally?, livro do ilustrador britânico Martin Handford. Durante dez dias, Marina Kater-Calabró, tutora temporária da vesgolina, clicou-a pela casa e o resultado certamente arrancará risadas nostálgicas de quem nasceu entre as décadas de 1970 e 1990.









Epopeia da Catrina, La Muerte na busca por um lar:

:: Como tudo começou
:: Notícias da Morte
:: Lar temporário do lar temporário
:: Morte quer vida nova!
:: Chuchuia
:: A gata mais azarada de Gatoca

23.12.15

Quando o presente não é o presente

Daniela Cavalcanti mora em Bauru, tem três bichanas adotadas que nunca mais botaram o nariz para fora de casa e acessa o Gatoca mais vezes do que eu dou conta de atualizar. Escreveu-me em outubro pedindo o endereço para enviar uns "mimos". Precisava de tempo para fazer parte do presente. E ele chegou na semana retrasada.

Dentro da caixa de papelão, acompanhando o jogo de cozinha e a toalhinha artesanais, vieram perfumes e palavras de aconchego. Nas entrelinhas do cartão (sim, eu recebo cartões de papel!), um incentivo para continuar. Daniela não me conhece. Mas se enamorou pelos textos deste blog e sabe que ele já transformou a vida de milhares de animais.

O que ela não sabe é que, às vezes, dá vontade de relaxar os músculos e ser levada pela corrente. Nessas horas, eu corro os olhos pelas letras azuis arredondadas. O projeto também transforma pessoas. E talvez, um dia, não precise mais existir.


18.12.15

Pulgas felizes

― Piso de taco é complicado. O sonho da casa própria para pulgas...
― Hoje, eu tirei os soltos e aspirei bem dentro dos buracos.
― Jogou o saco coletor fora?
― Não, esqueci!
― Além de ter teto, comida e roupa lavada, suas pulgas ganharam diárias na colônia de férias!


P.S: Para fazerem os parasitas infelizes, sigam estas dicas, não as da Marina Kater-Calabró (rs). E tem receitas caseiras também! :)

15.12.15

Objetivos conflitantes

A ideia do brinquedo é estimular os bigodes a caçar bolinhas (ou ração) pelos buracos geométricos da caixa de pizza. A minha, era dar uma rejuvenescida na Gatoca de Repouso para Felinos. E a da Pufosa, colaborar para que o inferno astral de dezembro continue restrito apenas aos bípedes: chegou antes dos amigos, abriu a tampa com dois tapas, tirou a parte incômoda das divisórias e se ajeitou para mais 12 horas de soneca.

9.12.15

Black Friday fracassada

Enquanto tem gente que dobra os preços na véspera para fingir oferecer 50% de desconto na Black Friday, nossa Pretinha continuou de graça. E, quase duas semanas depois, ninguém a colocou no carrinho ― nem deixou o carrinho aberto para ela entrar sozinha. A Pretolina foi herdada do primeiro mutirão de castração do Gatoca, sobreviveu a um combo de doenças e se manteve ultracarinhosa.

Paga o lar temporário da Pompeia enchendo a Fernanda Abreu de beijos, dorme de conchinha com os irmãos peludos, ciceroneia as visitas, obedece ordens (ou a maioria delas) e brinca como filhote, embora esteja perto de completar 2 anos. Já foi castrada, vacinada e testada para FIV e FeLV, com resultados negativos.

Só lhe falta uma família.



Leiam também:

:: Panfletagem por uma causa nobre
:: Inscrição em três etapas - parte 1
:: Inscrição em três etapas - partes 2 e 3
:: Protetor é quem cuida
:: Mutirão de castração é para os fortes
:: Se há uma chance, Gatoca é a favor
:: Da favela para Hollywood!
:: Mutirão de castração é para os fortes - parte 2
:: O primeiro de nove!
:: Sementes
:: Adoção platônica
:: Adoção Gremlin
:: Quase famosos
:: Ossos e um coração partidos
:: Felicidade que nunca chega
:: Descanso merecido
:: Para bater recordes de bilheteria!
:: A arte de enxugar gelo
:: Quando a coisa fica preta
:: Desfecho frustrante
:: Refilmagem
:: Os últimos de nove
:: Favela com emoção
:: Conscientização: o trabalho por trás dos holofotes
:: Ossos e um coração colados
:: NeverEnding Story
:: De Hollywood para o Japão
:: De Hollywood para os palcos
:: Halloween da sorte 2015
:: De Richard Gere para os braços do Pepê

4.12.15

Luigi: cartinha de um gato devolvido

Dizem que gato preto dá azar, mas eu é que fui abandonado em um cemitério. Demorei um tempão para confiar nas pessoas. E, depois de quase cinco anos de cafuné, soneca embaixo da coberta e caçada a bolinhas, terminei aqui. Devolvido. Minhas tutoras se separaram e, preso no quartinho da casa nova, recusei-me a comer até ficar amarelo. Tudo deveria voltar a ser como antes. Só que não voltou.


Distribuí fuzzz para as tias, gritei madrugada adentro e tornei a me fechar. Não queria saber de comer, muito menos de brincar. Quando encostavam em mim, lembrava da mamãe e travava de tristeza. Ainda fico tenso ao ver outros gatos. Mas tia Susan me convenceu a dar mais uma chance aos humanos complicados.





No começo, me faço de difícil, confesso. Só que a bundinha acaba empinando e não consigo mais largar o carinho. Sim, eu posso ser amado de novo! Também tenho um irmãozinho, o Feijão, e adoraria que continuássemos juntos. Se não der, entendo. O importante, como ele fala, é, desta vez, ser para sempre.



***

Esse texto foi escrito para o AUG, que topou ajudar a divulgar os meninos porque nosso prazo é curto. O post anterior, que estava com quase 1 mil compartilhamentos no Facebook, saiu do ar, levando com ele todas as ofertas de lar temporário e os contatos de interessados em adotar os bigodes. Eu fiquei passada com a denúncia, confesso. E precisei de um tempo para digerir a falta de compaixão. Mas meia dúzia não pode estragar um projeto de tantos corações. E a maior vitrine de gatos para doação do Brasil ninguém censura. :)


3.12.15

Feijão: cartinha de um gato devolvido

Eu me lembro de ter sentido muita fome quando era pequeno. E todos os problemas do mundo desapareceram no potinho de sachê. A tia Bia, que me resgatou, conta que eu cantava, ronronava e mastigava ao mesmo tempo. Durante quase cinco anos, tive um lar. Brincava de ratinho, tomava sol na janela e dormia na cama com minhas tutoras.

Mas elas se separaram, nós mudamos de casa e acabei trancado em um quartinho. Triste, comecei a perder pelos e vim parar aqui. Não entendo o que aconteceu. Só sei que não se resolve com comida. Passei os primeiros dias escondido na caixa de transporte, ouvindo as tias falarem em depressão.


De vez em quando, aceitava um pouquinho de sachê para voltar no tempo. Nunca funcionou. Tia Susan sentava no chão e ficava me olhando. Ela sabia que eu queria a mamãe. Até que senti muita vontade de ganhar um cafuné. Saí da toca devagar, deitei a cabeça e fechei os olhinhos, como antigamente.




É tão bom ser amado! Acontece que não posso morar neste hotel para sempre. Preciso de uma família. Também tenho um irmãozinho, o Luigi, e adoraria que pudéssemos continuar juntos. Se não der, a gente entende. O importante é, desta vez, ser para sempre.



***

Esse texto foi escrito para o AUG, que topou ajudar a divulgar os meninos porque nosso prazo é curto. O post anterior, que estava com quase 1 mil compartilhamentos no Facebook, saiu do ar, levando com ele todas as ofertas de lar temporário e os contatos de interessados em adotar os bigodes. Eu fiquei passada com a denúncia, confesso. E precisei de um tempo para digerir a falta de compaixão. Mas meia dúzia não pode estragar um projeto de tantos corações. E a maior vitrine de gatos para doação do Brasil ninguém censura. :)


2.12.15

Uma década de Mercv

O aniversário foi no dia 24 de outubro. Mas ele só veio para mim quando desmamou, 39 manhãs, tardes e noites de ansiedade depois. Hoje, faz exatamente dez anos que me olha assim.

E tudo passa.

E eu recomeço.


*Novelinha: Conheça a história do Mercv