31.12.16

2016

Se eu pudesse voltar no tempo, pesaria Simba todo mês para perceber a evolução da doença renal antes que fosse tarde demais. Ou melhor: começaria o tratamento preventivo com homeopatia e daria água na seringa todo dia. Pensando bem, acho que resgataria o gordinho ainda filhote para que a rua não deixasse suas marcas. Como eu não gostava de bicho, porém, teria de programar a máquina para a década de 80 e convencer mamãe a trocar os peixes moribundos por um gatinho.

Acontece que a gente só pode voltar no tempo simbolicamente, escrevendo retrospectivas. E, por mais que elas enfileirem apertos, nas entrelinhas certamente há abraços. De amigos, de desconhecidos, do acaso. Em 2016, os janelões de Gatoca se despediram do sol ― foram 33 dias de garoa, registrados em 22 diários terapêuticos (os links estão no pé do post). E ainda chovo pela casa.

Em 2016, os janelões da Laís e da Lara Razza receberam Catrina, a gata azarada que caçou a sorte na garra ao negativar uma leucemia felina. Pituca, a primeira resgatinha do projeto, me recebeu para uma tarde de cafuné, 9 anos mais grisalha. E Feijão e Luigi receberam o amor incondicional da pequena Valentina, após a perda da primeira família.

Pandora comemorou o sétimo aniversário de adoção à beira da piscina. E os animais de Paranapiacaba esperam comemorar uma atitude do poder público que os tire da rua ― denúncia no Ministério Público e matéria na Vejinha não bastaram. Pretinha deixou o chão de terra da favela para dormir na cama. E os oito bichanos da colecionadora do Campo Limpo deixaram o cubículo imundo para bagunçar na Confraria dos Miados e Latidos ― nem todos ficaram lá, mas essa história ainda não tive estômago para contar.

Em janeiro, saiu o primeiro e-book do Gatoca, com direito a bate papo na Rádio Bandeirantes. Nos meses seguintes, saíram 24 textos para o Yahoo!. E a participação do Global Causes, iniciativa do Facebook ocorrida simultaneamente em 30 países. O primeiro mico no Snapchat. A parceria com a Farmina, sem transgênicos nem conservantes artificiais. O primeiro milhão de acessos neste blog. O primeiro projeto com crianças. E eu saí do AUG para plantar mais sementes por aqui. :)

O post sobre a doença que nos roubou o leãozinho alcançou 188 mil usuários na rede do Zuckerberg, somando 4,9 mil compartilhamentos e 20 mil curtidas! Gatoca também conscientizou leitores sobre os bichos de raça e por que adotar, o abandono de coelhos na Páscoa, os perigos de cheiros fortes e de se humanizar os peludos, a importância do enriquecimento ambiental, os mitos da alimentação animal, o colecionismo.

Também ensinou as diferenças das gripes felina e canina, os macetes para dar líquidos na seringa, como plantar milho de pipoca, que suculentas e gatos supercombinam, por que eles não gostam de sabores doces. E incentivou a denunciar maus-tratos, a não ignorar um bichano abandonado, a aquecer bípedes e quadrúpedes, a repensar hábitos alimentares, a deixar o mundo melhor com um passo.

Os bigodes seguiram marcando presença no trabalho (1 e 2), nas roupas (1 e 2), nos furtos (que renderam até concurso), na cama do escritório, nos banhos, no colo, nas caixas de papelão, na estante, no pano de prato, nos cafés da manhã, na máfia, nas contas a pagar, no túnel, nos almofadões, nas sacolas, nas Olimpíadas, nos chinelos, no taoismo, nas performances, nas plantas, nas cadeiras, sob as banquetas, na mesa de zoar, nas prateleiras.

Nos aprendizados (1 e 2) e no recomeço.

Teve festerê para a Chocolate, para a Clara, para a Guda, para as Gudinhas, para o Gatoca (1, 2 e 3), para o Dia do Amigo, para o Simba (o último, snif), para o Mercvrivs. E vocês ajudaram este projeto de muitos corações a continuar assinando o Clube na Kickante, dobrando a doação com o 13º, eternizando a trupe em ilustração, perguntando frequentemente se faltava algo, contando as transformações inspiradas por aí. Obrigada! Obrigada! Obrigada!

Se eu pudesse voltar no tempo, talvez descobrisse que as coisas acontecem exatamente do jeito que deve ser.


Foto de Leo Eichinger ♥

Retrospectivas dos anos anteriores: 2015 | 2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008 | 2007

27.12.16

Como nocautear um gato

Eles resistiram bravamente à mudança para o apertamento (sem jardim), à ração renal, aos exames de laboratório, às seringadas diárias de água, às visitas das crianças. Mas 33ºC de casaco de pele é sacanagem!

23.12.16

Especial de Natal: você pode deixar o mundo melhor

Não espere ganhar na loteria, ter mais tempo, trocar de trabalho, casar, separar, encaminhar os filhos, enterrar os pais. Também não adianta delegar ― isso só funciona enquanto a gente acredita em Papai Noel. Flexione levemente um dos joelhos, levante a perna o suficiente para permitir o movimento e apoie o pé no chão, um tico à frente (a outra perna sabe o que fazer). Tudo começa com um passo, desde comprar pão na esquina até descobrir a cura para o câncer.

E vou dar um exemplo bichístico, senão este post não estaria aqui. A caminho da Cobasi, cruzei com uma cachorrinha magrela deitada na banca de jornal, completamente invisível. Não, eu não conseguiria enfiá-la no apertamento com mais nove gatos. Mas a enxerguei. E, quando a gente enxerga uma vez, não pode mais se valer da bênção dos ignorantes.

Comprei uma latinha de ração úmida para ter certeza de que não seria rejeitada, pedi um potinho emprestado para o funcionário do pet shop e atraí a pretolina até o estacionamento, onde mais corações de pudim se sensibilizariam. Em meia hora, ela ganhou dois sacos de ração seca, um monte de carinho e uma chance de adoção pós-conversa com o marido.

Tirei fotos para ajudar na divulgação caso tudo desse errado (capricorniana), sondei a possibilidade de uma consulta veterinária solidária (grande) e deixei-a cercada de um afeto inimaginável no quarteirão anterior. À tarde, me contaram depois, o dono de um HB20 branco levou-a para recomeçar. A vida funciona assim: basta alguém quebrar o padrão para quem está em volta se sentir cutucado a fazer diferente também.

Já flexionou o joelho?

20.12.16

Suculentas e gatos

Depois dos posts da Simbalenta (1 e 2), muita gente me escreveu perguntando se esse tipo de planta não era tóxica para os bigodes. Pois observem as folhas da coitada.


Agora, vejam a criatura que a deixou nesse estado e tirem suas conclusões.

16.12.16

Sonhei com o Simba!

O gordinho estava sentado-deitado na mesa da cozinha da nossa casa de infância e eu dava um grito de felicidade quando o via. Ele correspondia com o olhar afetuoso, miava daquele jeitinho inconfundível e se transformava em outro gato: vesgolino, de pelo longo, embora ainda amarelo-tigrado.

Tenho "enxergado" o leãozinho de relance pelo apertamento há uns dias. Primeiro, dentro da caixa de papelão, na sala, e ontem na cama do escritório, perto do canto da parede. Entendi que ele quis me dizer que continua por aqui, só que diferente.

55 dias depois, devia estar escolhendo as palavras.

14.12.16

Mesa de zoar

Parece que a gente se mudou ontem, mas já faz três anos. O sofá e a mesa de jantar, que viriam logo depois da reforma iluminadora, viraram exames veterinários (no plural), consertos mecânicos (no plural também), tratamento homeopático para a asma-rinite-sinusite (eterno), curso de elaboração de projetos (plantando sementes!).

E o amor pôde ser exercitado a cada almoço na bancadinha do micro-ondas e conversa entorta-coluna no colchão com pillow top. Segunda passada, Tati Pagamisse doou sua mesa de 200 lugares para Gatoca. Os bigodes afiaram as unhas em todas as cadeiras, vomitaram nos assentos, capotaram a Simbalenta no tampo de vidro. Tudo isso em menos de 24 horas.

Leo e eu continuamos exercitando nosso amor.

9.12.16

Como denunciar maus-tratos pela internet em SP

Finalmente entrou no ar a Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (Depa), promulgada por meio da Lei 16.303/2016, de autoria do deputado Feliciano Filho (não confundam com o pastor!). O objetivo é agilizar as denúncias e investigações de crimes contra animais no estado de São Paulo, que até terça-feira precisavam ser feitas presencialmente nas delegacias da Polícia Civil, depois de um amargo chá de cadeira.

Para usar o serviço, basta clicar em: www.ssp.sp.gov.br/depa e preencher um formulário simples com informações sobre a ocorrência, o bicho e o agressor, anexando fotos e vídeos se existirem. O sistema também pede os dados de quem denuncia, mas dá para escolher ficar no anonimato. A delegacia responsável recebe o dossiê, toma as providências necessárias e retorna em até dez dias ― antes tarde do que nunca.

Você não mora em São Paulo? Pois outros cinco estados já estão copiando a ideia: Espírito Santo, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rondônia e Santa Catarina, e a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Além de ajudar a punir quem sacaneia os quadrúpedes, o portal permitirá traçar um mapa estadual da criminalidade contra animais, facilitando a implantação de políticas públicas de prevenção. :)))

IMPORTANTE! Se um ato de crueldade grave estiver ocorrendo sob seus olhos, ligue para 190, porque a Polícia Militar é quem pode interromper e salvar o bicho ― não banque o super-herói.

7.12.16

Por que eu saí do AUG e como enxergar a proteção animal

Achei que não precisaria escrever este post, afinal, não sou a Angelina Jolie e não casei com o Brad Pitt ― embora também tenha uma prole de filhos adotivos. Mas o bazar de Natal do Adote um Gatinho aconteceu sem mim, depois de nove anos de voluntariado, e as mensagens começaram a pipocar, quase todas terminando com "que pena".

Wrong feeling. O AUG tem um trabalho incrível de resgate e doação de bichanos, com o suporte de dezenas de pessoas. O Gatoca atua na educação e conscientização, para mudar o olhar do ser humano que abandona, e conta... comigo. Se não é fácil se dedicar a um projeto voluntário e pagar as contas no fim do mês, imaginem a dois.

A morte do Simba me fez relembrar, pela terceira doída vez, que a vida acaba num suspiro mais demorado ― e a gente deixa para trás uma coleção de palavras não ditas, abraços não dados, mundo não transformado. Decidi, então, que 2017 é ano de investir mais nestas linhas digitais e nas entrelinhas reais. A cada nova iniciativa, a proteção ganha, em vez de perder.

ONGs bacanas estão percebendo isso e abrindo mão da competição para somar. Celebridade Vira-Lata deu uma superconsultoria para o mutirão de castração no DER. Felinos Urbanos e Stray Cats vira e mexe ajudam leitores que querem fazer CED (captura, esterilização e devolução) em suas comunidades. Confraria dos Miados e Latidos recebeu oito gatos de uma colecionadora que caiu no meu colo em agosto. Canto da Terra socorre os bigodes com homeopatia sempre que as coisas se desequilibram por aqui.

As portas do AUG continuam abertas para os textos desta jornalista-coração-de-pudim. E eles sempre estarão disponíveis para o AUG.

2.12.16

13 macetes para dar líquidos na seringa a um gato

Não, ele não precisa estar doente para você ler o post até o final. Dar água na seringa diariamente ajuda a evitar problemas renais, já que os bichanos não são bons de tomar no pote, a versão parada, morna e com sujeirinhas ― seus ancestrais caçavam animais menores, que serviam ao mesmo tempo como comida e bebida, dispensando o reforço hídrico.

20 ml é uma boa quantidade, mas, se rolar um repeteco à noite, melhor ainda! E acostumar as maquininhas de matar com essa manipulação facilita absurdamente a administração de remédios e comida forçada, em caso de necessidade futura. Como tenho à disposição um laboratório de dez bigodes (agora nove, snif) para teste, fiz uma coletânea de dicas supimpas:

1) Compre seringa de 5 ml
Elas são mais anatômicas para a função.

2) Treine com 1 ml
Ofereça essa quantidade de água uma vez por dia até baixar a resistência da criatura ― prometo que isso acontece.

3) Não afogue o animal
Aqui em casa, funciona melhor dar dez seringadas de 2 ml do que lotar o êmbolo e diminuir as chuchadas.

4) Segure a cabeça com uma das mãos
Coloque a palma no topo e pressione os buraquinhos de cada lado da mandíbula com os dedos indicador/médio e polegar, facilitando a abertura.

5) Posicione a boca para cima
Caso contrário, pode esperar a cuspida.

6) Impeça fugas
Eu evito a imobilização pelo cangote porque acho que aumenta o estresse do bicho. Para impedir que ele dê ré, então, vale empurrar o bumbum para baixo com o mesmo braço da mão que está segurando a cabeça ou colocá-lo em uma mesa/prateleira/balcão e fazer barreira com o peito.

7) Ajeite a seringa no canto da boca
Além de ajudar a forçar a abertura, não dá tanta vontade de mastigar como na frente. Só tome cuidado para não machucar a gengiva.

8) Mire no céu
Se o jato for direto para o fundo, há uma grande chance de engasgar. Na bochecha também funciona, mas precisa prestar atenção para não sair do outro lado.

9) Respeite o ritmo do bichano
Alguns vão bebendo conforme a gente aperta o êmbolo, portanto, é melhor ir devagar. Outros se desesperam com a água acumulada, preferindo que a tortura termine mais rápido. Só não pese na mão, porque a rebatida volta na cara ― pode rir imaginando a cena.

10) Mantenha a cabeça para o alto
Até o peludo terminar de engolir, pelo mesmo motivo do item 5. Dá para fazer isso empurrando o queixo de leve. E deixe ele relaxar enquanto recarrega a seringa.

11) Tome cuidado com a garganta e os bigodes
A água tem de passar por ali e, se a cabeça do gato for pequena, a gente acaba apertando a garganta sem querer. Quanto aos bigodes, repuxá-los todo dia fará com que comecem a cair ― I've been there, pobre Simba.

12) Distancie as seringadas das refeições
No estômago dos bichanos cabe, confortavelmente, 20 ml de bebida ou 20 gramas de comida. Mais do que isso, causa desconforto. A boa notícia é que ele demora apenas 40 minutos para esvaziar.

13) Dobre a cota de carinho ao final da empreitada
O pequeno precisa associar as seringadas a um momento bacana. Nada de brigar quando tomar olé pela casa ou de chorar ao encontrar água no chão depois de seguir todas as instruções.

Se bater o desânimo, lembre desta jornalista-coração-de-pudim, que tem uma trupe circense para seringar. E a Jujuba, rainha da sociabilidade. rs



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