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6.11.24

Saudade

Ainda não acredito que você e Jujuba, as irmãs mais ariscas da ninhada parida em casa, ficaram por último ― 17 anos e 5 meses e meio, no seu caso. E que a frajolinha assustada que criou asas para grudar no teto de tela, em Sorocaba, quando o entregador passou com as telhas pelo quintal, terminaria no colo. Ronronando.


Leo dizia que você tinha cara de brava, mas a culpa era do cavanhaque. Você sofria de timidez ― aparecia pouco no blog e, mesmo assim, virou folder, lembra? Gostava de ficar no modem quentinho durante o inverno e embaixo do edredom no calor de 32ºC.


Em Araçoiaba, porém, brilhou ― para além do pelo impecável. Com 16 anos, enfrentava a ponte bamba do parquinho vertical (que nos rendeu uma obra) para procurar croquetes, ganhando o apelido geriátrico de Cocreta. Caçou seu primeiro insetinho (pobre grilo). E aprendeu a miar na porta do quarto quando perdeu metade da família biológica.


Aqui também sofreu o ataque do Intrú no gatil e tudo desandou. Entre o abscesso de agosto de 2023 e os vômitos de sangue (as diarreias explosivas viriam depois), comecei o rascunho desta despedida. O arquivo marcava 28 de fevereiro!

Como no dia em que escapou da mordida do Marley andando pelas paredes de São Bernardo, hábito "Matrix" que levaria contigo em todas as nossas mudanças de cidade, você fugiu da morte desviando pelas paredes metafóricas de 2024 ― enterrou Chocolate e Pimenta, que nem ruins estavam, apesar de renais.

E demandou uma jornada quase integral de cuidados, que eu constatava sempre que recebia o relatório do celular ― Youtube para as tarefas mecânicas, WhatsApp para conversar com o veterinário, alarmes para encaixar a rotina em blocos de 40 minutos (os intervalos das seringadas de comida).


Se o ataque do Intrú acelerou sua partida, ele se redimiu emprestando a energia que faria falta à Jujuba, porque você passou a dividir a porta de vidro da lavanderia com o gorducho ― só que do lado certo. E Jujuba acolhia seu 1,7 kg nas madrugadas.



Em um momento, a derrota parecia iminente, no outro você ressuscitava para perseguir um lagartinho no terreno. Desencanei da alopatia, do soro e enchi o armário do lavabo, aquele cujo barulho te fazia vir correndo, com sachês gordurentos, que segui batendo no blender ― dá para acreditar que não aceitava bem a ração úmida antes?

E assim você foi apagando no seu tempo ― a doença renal crônica não conseguiu te desidratar, deixar o hálito fétido ou roubar o apetite amarelando as mucosas. Mas causou um déficit metabólico que tornou os nutrientes da última semana inúteis.

Insegurança na caminhada, xixi fora do banheiro (que você já confundiu com restaurante!), meio pacote de fraldas de bebê ― e miadinhos (que agora me desmontam como alucinação auditiva) para virar de lado no sofá, ganhar mais comida ou uma forcinha com o cocô.


Ontem de manhã, quando o sol rasgou uma trégua nos dias chuvosos, senti que estava esperando para se despedir do jardim. E testemunhei uma última ressurreição:



Você travou a boca para o sachê favorito, conquistou o direito de dormir na cama com minha alergia a gatos (Jujuba de vigília na porta) e, às 2h, amolecida no meu peito exausto, esticou determinada os bracinhos para o alto, como se abraçasse alguém, depois apertou-os contra minha mão.

13 comentários:

Viviane Silva disse...

Registros lindos de amor e uma dor que há de se transformar um dia... Que o amor nos acolha sempre!! Descanse em paz, por uma vida cheia de alegrias e emoções...

Bárbara disse...

Estou arrasada, Bia. Meus sentimentos.

Aquela dos Gatos Pet Sitter disse...

Terminei o post chorando e sorrindo, porque as despedidas são dolorosas, mas que bom que ela (e os outros) tiveram a sorte de esbarrar com você nas sete vidinhas deles. :)

Danyara Rosane disse...

Um grande abraço, Bia! 🖤

Erika disse...

Sinto muito pela Keka, Beatriz... Fico de coração partido toda vez que leio os relatos dos seus bichaninhos que se foram, ao mesmo tempo em que fico maravilhada com a sensibilidade, amor e respeito que você tem por eles até os últimos momentos e nas palavras dedicadas a cada um deles aqui no blog por todos esses anos. Que vida incrível e que sorte todos os animais que cruzaram seus caminhos tiveram! Um abraço e desejo muita força para vocês <3

Simone Castro disse...

Descanse em paz, Keka. Você foi muito amada e querida por sua mãe, pela Bia, pelo Leó, seus irmãos e irmãs e por tanta gente que acompanhou sua história e família.
Viva o seu luto, Bia. Sinto muito.

Anônimo disse...

Meus sentimentos

Gisele disse...

Meus mais sinceros sentimentos, essa despedida a gente quer que jamais aconteça. Choro a partida de todo animalzinho, é um amorzinho eterno. Sinta um abraço muito longo.

Anônimo disse...

Sinto muito… Sinta-se abraçada, meus pensamentos estão com vcs… 😢

Anônimo disse...

Sempre a mesma tristeza imensa com o inevitável...

Alessandra Frazato disse...

Revivi minha despedida do meu frajola. Tenho acompanhado toda a dolorosa saga de dar conforto nesse fim de vida deles. É tão difícil ter que se despedir. Porém, sei que está com a consciência e o coração se tranquilo de que tiveram todo o amor e cuidado que mereciam e precisavam. Fiquem bem. 🥺🩷

Anônimo disse...

É um momento muito triste Bia!😢

Anônimo disse...

Um grande abraço, Bia.