Quarta-feira de cinzas, para os católicos, é dia de refletir sobre a fragilidade da vida, que veio do pó e ao pó retornará. Eu não sou católica, mas me peguei pedindo a uma força maior que Pipoca
continuasse pelo por mais uns anos. A via-sacra de carnaval começou no sábado, quando a pequena recusou o café da manhã. No domingo, ela só comeu um tico de sachê, tarde da noite. E, na segunda, havia sangue no cocô.
Dr. Débora, irmã de uma amiga de adolescência, leu meu relato angustiado por WhatsApp, já que nenhuma clínica estava aberta no feriado, e receitou Trissulfin, um antibiótico para infecções intestinais. Junto com o remédio, eu comprei a caixa inteira de sachês renais do pet shop, mais palatáveis do que a ração seca, porque eles andam em falta no mercado ― a bichinha tem
insuficiência.
Na terça, quando voltei de São Paulo, encontrei cinco poças de sangue na areia e um vômito rosa no chão do escritório. Pipoquinha pedia socorro com esta imagem de dar nó na garganta.
Nós rumamos ao hospital, onde ela tomou soro para baixar a ureia e a creatinina, foi medicada para conter o vômito e saiu com um pedido de ultrassom para confirmar a suspeita de colite.
Ontem, Dr. N. lhe preparou um coquetel de soro: vitaminas para compensar a greve de fome, ranitidina e plasil porque os vômitos pioraram em vez de cessar, dexametasona para ajudar o intestino a desinflamar (apesar de o corticoide prejudicar os rins), e enrofloxacina para evitar bactérias oportunistas. Também enfiou-lhe gaviz goela abaixo, para proteger o estômago judiado. O vírus, se for uma colite viral, só se combate fortalecendo o organismo.
À noite, a peluda comeu um quarto da latinha de A/D de colherinha, me fazendo rir e chorar ao mesmo tempo. Hoje, teve coquetel de soro de novo, mas nada de vômito simbólico nem de banheiro de filme de terror ― na verdade, não teve cocô ainda. Pipoquinha continua querendo ficar. E eu sou uma magrela boa de briga.