Suspeito que seja o mesmo filhote que não consegui resgatar pouco depois de mudarmos para cá, sobrecarregada com a obra inacabada e os bigodes morrendo, só que endurecido pelas porradas da vida. No dia 27 do mês passado, enquanto ele nos observava faxinar a sala, para a indignação das meninas, resolvi tentar uma aproximação.
Levei Pet Delícia, que o pequeno devorou em segundos, e arrisquei um carinho tímido, entre os machucados de briga. Na segunda refeição, já ganhei esfregadinhas na perna e o primeiro ataque, assustado pelo balde que ele mesmo derrubou ― dá para ver no vídeo que pula de bracinhos abertos, as garras furando a parte de trás das minhas pernas e os dentes batendo na frente.
Com esse mínimo de intimidade, o cara de pau se sentiu à vontade para invadir nosso quarto (aquele vetado aos moradores por causa da alergia a gatos) e marcar território no banheiro. No segundo ataque, que vitimou meu peito, eu nem havia encostado nele, mas li que a agressividade redirecionada pode ocorrer horas depois do estresse e tinha rolado um estapeamento pelo alambrado do gatil.
No terceiro ataque, que personalizou minha mão direita, resolvi entrar com a homeopatia. E já notei diferença para a patada sem unha do quarto e a mordida do sexto, que não tiraram sangue ― receosa de colocar a ração com ele alternando ansioso entre minha mão e o pote no chão, devo ter emulado justamente uma presa. E vocês não imaginam como ele caça!
Quando tentei respeitar a quantidade de alimentação recomendada pela embalagem, o self-made cat pegou um lagarto in natura, que custou todas as minhas habilidades de negociação de reféns. Agora, a criatura mora embaixo do nosso contêiner (Leo diz que me acompanha entre os cômodos pela voz) e faz cinco refeições por dia ― acorda a gente em estéreo, miando fora e Keka dentro, pontualmente às 6h30!
Só que ainda vai para a rua. Voltou mancando no fim de semana, com o olho esquerdo mais fechado. E, do mesmo jeito que entortou, desentortou. Não faço ideia se entrará na caixa de transporte com petiscos, mas pretendo castrá-lo na segunda-feira, quando completa um mês de comida sem miséria e tentativa de socialização.
Leitores de exatas devem ter sentido falta do quinto ataque, né? Foi no domingo em que resolvi ler no jardim, a uma distância segura, para ele se acostumar. Acontece que antes de a bunda chegar no concreto, o carente já estava se esfregando em todas as partes alcançáveis do meu corpo e deitando coladinho e acertando meu peito e meu rosto.
Ele é um gato assustado, mas parece que vai gostar de ter uma família. Ronrona de boca aberta igualzinho o Mercv, tenta entrar em casa a qualquer oportunidade e ostenta o nariz rosinha mais apertável! Vou precisar de toda a ajuda do mundo com a divulgação para encontrar tutores experientes durante o verão ― as madrugadas de inverno aqui são bem frias.
Alice Gap amadrinhou o frajola bancando as primeiras despesas ❤, que incluem antipulgas + vermífugo para a diarreia, diariamente comunicada na soleira. Ajuda com as próximas (veterinário, castração, vacinas, teste FIV/FeLV) também é bem-vinda ― chave pix: doacoes@gatoca.com.br.
Não, eu não posso ficar com ele porque as meninas, idosas e renais, merecem um fim de vida tranquilo. Chocolate passou quase 17 anos atormentada pela Guda (ainda que ela não fizesse de propósito) e só agora está aproveitando outros espaços da casa. Keka emagreceu meio quilo desde o ataque e fica o tempo todo procurando o intruso nas janelas.
Pimenta conseguiu fugir quando bobeamos com a porta e se atracou feio com ele ― separei aos urros. Nem consigo imaginar se fosse a Jujuba! Nosso gatil sem teto também não segura um bichano jovem, cheio de energia. E ainda sonho com um sabático depois do caos.
11 comentários:
Oin, nenê! Tem potencial, esse frajola! Zé Lelo também era meio agressivo quando apareceu, mas hoje é praticamente o Garfield! =^.^= <3 <3 <3
Ouhnnn! Espero que encontre uma família!
Que delícia de gato. Passei exatamente por isso com meu frajola. Foi 1 ano domando a fera. E virou o mais carente. Teve um fim de vida cheio de amor e carinho. Torcendo para ele ganhar esse lar cheio de amor que merece.
Ele é lindo e corajoso, espero que encontre o lar ideal e que não tenha se contaminado com Fiv/Felv nessa vida aventureira
Chicão não dá ponto sem nó!
Ah, Intruso, todo charmoso foi conquistando seu espaço. Em breve estará em algum lar seguro e amoroso distribuindo alegria e recebendo chamegos!
A patinha dianteira direita tem uns desenhos em branco que me fizeram lembrar as patas de elefante, adorei.
Tenho um coração fraco para gatos. Não posso ver um sofrimento que tomo as dores, tem 6 meses que encontrei uma mãe e um filhotinho no fundo do meu quintal. Já castrei e adotei. Hoje eles alegram meus dias. Admiro os gatos que se viram para sobreviver como podem. Essa minha maezinha veio primeiro e depois me trouxe o filhote. Ela vinha comer para poder amamentar seu filho. Como não admirar uma mãe lutadora. O frajola encontrou um lugar seguro no mundo.
Vídeo mais lindo do gatinho destemido! Ele não poderia aparecer em uma casa melhor!
❤️
O teste deu positivo para FeLV. Mas ele come mais do que minhas quatro gatas juntas, sobe e desce do muro como se tivesse asas, caça qualquer coisa que se mova. rs
Obrigada por não virar as costas à familinha, Maria Alice!
Amei o vídeo da criatura, frajola amorável, sabido, tratou de invadir um espaço com pontos falhos: as donas do pedaço... todas idosinhas... Então é pra lá que vou! Tomara encontre logo bons tutores (alô Chico!) e um espaço pra chamar e ser seu, frajolo! Bjo da Cris
🤗🤗🤗
Que vídeo lindo!!! Emocionante ver toda a evolução do Intrú!
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