28.9.22

O que Chocolate, gatos e Tim Burton têm a ver?

Durante boa parte da infância, eu arrastei para cima e para baixo um travesseirinho velho que minha mãe jamais ousou jogar fora, porque a graça era justamente ficar passando os dedos na franja desfiada do babado. Só que o buraco aberto na almofada de joaninha da Chocolate poderia botar a perder nossas noites de sono conquistadas a duras penas.

Para quem chega agora, no auge de seus estimados 16 anos, a pequena está mais carente, rabugenta e gelada do que nunca. Foram meses até descobrir o ritual ideal: jantar com ela no colo, esquentar a almofadinha favorita com o secador antes de dormir e guardar ambas em uma caixa de papelão, protegidas do frio e das outras gatas — que ela ama odiar.


Vocês não imaginam a potência pulmonar da criatura de 2,5 kg às 3h da madrugada!

Lá fui eu, então, entrar pela segunda vez na vida em um armarinho. Comprei tecido vermelho resistente, carretel de linha preta e agulha para bordado que nem sabia que existia. A ideia era fazer um coração de remendo à la Tim Burton, aliando funcionalidade à estética gótica-tosca-fofinha.






Poucos minutos para uma mulher prendada, uma hora inteirinha para quem só costura palavras. rs

22.9.22

Vida com gatos #10

Vencido o receio da troca de ração, Gatoca agora tem rodízio: duas opções renais e duas normais (sendo que uma delas ainda vem com grãos de dois sabores para gatos exigentes), alimentação úmida da Pet Delícia (nas versões integral e batida) e sachê comemorativo.



Tudo isso para Pufosa comer o vômito da Jujuba.



Mais vida com gatos: #1 | #2 | #3 | #4 | #5 | #6 | #7 | #8 | #9

21.9.22

Eleições 2022: bora votar em um Mandato Animal?

Depois de quatro anos de retrocesso no país, a gente merece mais do que políticos que se posicionam contra a caça de silvestres ou que legislam apenas para cães e gatos, né? O Mandato Animal quer construir um mundo mais justo para todos os seres, incluindo os menos fofos, sem exploração nem maus-tratos.

Encabeçado pela Mônica Buava, diretora executiva da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e uma das fundadoras do Pop Vegan Food, o coletivo tem como cocandidato Fabio Chaves, criador do Vista-se, o maior portal vegano da América Latina, e conta com um time invejável de ativistas e especialistas — Luli Sarraf, Alana Rox, Eduardo Jorge, Eric Slywitch.


Fabio Chaves com um dos irmãos Sim e Simon, batizados em homenagem ao cocriador dos Simpsons, ativista pelos direitos humanos e animais

Juntos, eles disputam uma vaga de deputado federal por São Paulo (4366), sob as bênçãos do Partido Verde (PV). No site, vocês encontram a íntegra das propostas, que contemplam pets, alimentação, testes, vida terrestre e aquática, santuários, diversidade, entretenimento, mudanças climáticas e sustentabilidade — econômica e social.

Aqui, a gente foca em educação, a missão que o Gatoca acabou abraçando nestes 15 anos. Eu conversei na semana passada com o Fabio e a Luli, idealizadora da Celebridade Vira-Lata, e eles garantiram canal aberto à população pelo WhatsApp (11 96345-4366), porque querem representar a diversidade de atores da causa animal — em um mandato longevo, não apenas de quatro anos.


Além de propor projetos de lei, que precisam de aprovação na Câmara, no Senado e da sanção presidencial, portanto demoram, o coletivo pretende impactar diretamente a realidade dos peludos, vacas, porcos, cavalos, peixes, galinhas por meio do direcionamento de emendas parlamentares — parte do dinheiro público destinada a causas importantes da sociedade.

A ideia é começar ampliando o alcance da Segunda sem Carne nas escolas, junto às Secretarias Municipais de Educação, iniciativa que permite trabalhar com funcionários, estudantes e famílias não só a importância de uma alimentação mais saudável e nutritiva, mas também os desafios da emergência climática e um olhar empático para todos os bichos, que sentem dor e medo como a gente.

Nós falamos ainda sobre, em pleno século 21, existir a necessidade de disseminar os princípios da guarda responsável e os benefícios da castração, assim como incentivar a adoção, em vez da compra de animais de estimação — o Gatoca até venceu um edital com essa missão, frustrada pela pandemia.

Luli Sarraf com Rabiola, Fedelha e Castor, resgates que tiveram a sorte de encalhar com uma das protetoras mais generosa que conheço

Lembro também, quando visitei o Rancho dos Gnomos, que Marcos e Silvia Pompeu conscientizavam a molecada sobre o sofrimento que causamos aos silvestres com a caça, o tráfico, as gaiolas e as pipas de cerol. Como conselheiros do Mandato, espero que compartilhem essa experiência.

E deixo mais duas sugestões: investir em projetos que expliquem como são feitos os testes em animais, viabilizando a pressão popular por métodos alternativos, e em iniciativas que sensibilizem para a crueldade do entretenimento com bichos em circos, zoológicos, aquários, rodeios.

O ser humano tende a rejeitar o que é imposto, mas se torna um grande aliado quando, acolhido e ensinado, se percebe agente de transformação. ❤

*

O conteúdo do Gatoca é financiado por gente que acredita que o mundo pode ser melhor. Quer fazer parte dos despioradores? Assine nosso clube no Catarse ou doe o cafezinho em forma de PIX: doacoes@gatoca.com.br

15.9.22

Existe outro gato vivendo dentro do seu! | EG #13

Música de suspense. Calma, não é um alien nem o anticristo, embora às vezes pareça, rs. Tirem a soneca de 12 horas no sofá, os ratinhos de pelúcia, o mundo visto pela janela e vocês terão um vislumbre do Gato Essencial, gêmeo ancestral do nosso bichano doméstico, aquele que aparece no meio da noite para morder dedos sob o cobertor.

Mesmo separados por milênios, eles seguem conectados pelo DNA (repassado entre gerações com pouquíssimas modificações) na urgência de proteger seu território, caçar, matar, comer e permanecer alerta, porque também são caçados — até a forma como os pequenos brincam está ligada a esse gêmeo ancestral.

E, apesar de viverem com ou em torno de seres humanos há 12 mil anos, nunca dependeram da gente completamente, né? A evolução desse relacionamento se baseou em benefícios mútuos: os gatos se banqueteavam com os ratos que atacavam nosso estoque de grãos e funcionavam como controle de pestes natural.

Acontece que, nos últimos 150 anos, desde que a rainha Vitória popularizou a ideia de trazer os peludos para dentro de casa, nós passamos a exigir que os coitados façam xixi em uma caixa, durmam a noite toda, não desfilem pela bancada da cozinha e, o pior de tudo, reduzimos seu território de centenas de hectares a "apertamentos".

Criar um ritmo que reflete o Gato Essencial, portanto, permite que os bichanos fiquem à vontade no próprio corpo e transformem o espaço ao seu redor em lar. Nos próximos capítulos desta série, inspirada no livro O Encantador de Gatos e financiada coletivamente pelos leitores do Gatoca, Jackson Galaxy ensina como.


Era para ser um arco e flecha, mas fiquei com dó de arrancar as penas da bolinha nova e vocês verão, no próximo post, que valeu estragar a produção, rs


(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanhaaqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 15 anos de projeto. ❤)


CAPÍTULO 1: Existe um canto do planeta sem gatos?
CAPÍTULO 2: A primeira gateira da história
CAPÍTULO 3: Como a humanidade se curvou aos bichanos
CAPÍTULO 4: Seu gato vem da América ou do Velho Mundo?
CAPÍTULO 5: 8 mudanças genéticas nos bichanos modernos
CAPÍTULO 6: 44 raças de gatos lindos, mas doentes
CAPÍTULO 7: O mistério do ronronar
CAPÍTULO 8: O que seu amigo quer dizer?
CAPÍTULO 9: 7 posições de rabo explicadas
CAPÍTULO 10: Decifre as expressões faciais do seu gato!
CAPÍTULO 11: Como é um abraço felino?
CAPÍTULO 12: Feromônios e os cheiros na comunicação
CAPÍTULO 14: O segredo da gatitude!
CAPÍTULO 15: Conheça sua maquininha de matar: tato
CAPÍTULO 16: Conheça sua maquininha de matar: bigodes
CAPÍTULO 17: Conheça sua maquininha de matar: visão
CAPÍTULO 18: Conheça sua maquininha de matar: audição
CAPÍTULO 19: Como e o que os gatos caçam?
CAPÍTULO 20: E como eles comem?
CAPÍTULO 21: Felinos se limpam como a cena de um crime
CAPÍTULO 22: E dormem menos do que parece
CAPÍTULO 23: Qual é o arquétipo do seu bichano?
CAPÍTULO 24: Identifique os lugares de confiança dele
CAPÍTULO 25: Gato medroso: faça do esconderijo casulo!
CAPÍTULO 26: 13 curiosidades felinas
CAPÍTULO 27: Existe bichano dominante (ou alfa)?
CAPÍTULO 28: A importância dos três Rs para um gato
CAPÍTULO 29: Três Rs: o jeito infalível de brincar
CAPÍTULO 30: Três Rs: como alimentar a gatitude
CAPÍTULO 31: Três Rs: limpeza e sono felinos
CAPÍTULO 33: Gatificação: arranhar sem estragos (estreia no dia 18 de outubro!)

9.9.22

O que eu faria diferente com os gatos #3

Nestes quase 17 anos, só troquei a ração de Gatoca duas vezes — a primeira, ainda inexperiente, por acreditar que a marca (super premium) era culpada pelo aumento dos casos de doença renal, não a alimentação seca em si. E a segunda porque Simba odiou a versão medicamentosa que Pipoca comia sem reclamar.

Com a terceira marca, se passaram oito anos! Até que os aumentos absurdos coincidiram com a chatice gastronômica dos velhinhos e resolvi testar outras opções — meu receio era desencadear um piriri generalizado, em um grupo já sensível por outros problemas de saúde.

Claro que os bigodes conseguiram gostar de uma ração ainda mais cara. E que duas infelizes se recusaram a abandonar a velha, me obrigando a acumular pacotes, já que compro normal e renal de ambas as empresas — normal ofereço só no jantar, controlada, e renal fica disponível o dia inteiro.

Foi a melhor decisão da década! Quando um gato enjoa do cardápio, substituo pelo conteúdo do pote ao lado, sem qualquer sinal de diarreia nem o estresse da alimentação forçada.



Máquina do tempo: #1 | #2

8.9.22

Cistite recorrente em gatos pode ser ansiedade!

Olhando em retrospecto, fica tão óbvio: a primeira crise da Guda aconteceu em setembro de 2020, junto com o quarto pedido de desocupação do imóvel que a gente alugava em Sorocaba, no meio da pandemia de covid, enquanto a arquiteta golpista enrolava para entregar nossa casa-contêiner em Araçoiaba da Serra. Deu para sacar o nível de estresse?

Claro que a gata (e qualquer ser vivente) se afetaria com as discussões, o choro, os quilos perdidos.


Fizemos ultrassom, confirmamos a inflamação na bexiga (cistite), tratamos. Mas os pinguinhos de xixi fora da caixa de areia sempre voltavam, porque nossa mudança também foi um caos, aí a Clara morreu e depois o Mercv — a gorducha adoeceu junto com ele, aliás, e se desesperou com a alimentação forçada a ponto de urinar sangue!

No exame de maio deste ano, apareceram também alterações no fígado, baço e pâncreas, gases nas alças intestinais (incomum em felinos) e linfonodos aumentados na barriga — dos rins assimétricos (e cristais), a gente já sabia porque o diagnóstico de insuficiência renal dela saiu em 2018.

Estava desenhada a Síndrome de Pandora, uma doença complexa e ainda pouco conhecida relacionada à ansiedade (ansiopatia), que tem a cistite como sintoma comum a todos os gatos, mas pode acometer outros órgãos e partes do corpo aleatoriamente — por isso o nome da mulher mitológica que liberou os males da humanidade abrindo uma caixa proibida.


Simon’s Cat, do cartunista Simon Tofield

Outra curiosidade da síndrome, segundo a veterinária Larissa Rüncos, é que a bexiga inflama com as substâncias liberadas pelo cérebro ansioso, não pela clássica infecção bacteriana — por isso não adianta tomar antibiótico. As crises até passam sem medicamento, só que acabam retornando. E, como ansiedade tem causas variadas, a prevenção foca em evitar estresse no cotidiano:

- Garantindo um ambiente propício ao desenvolvimento dos instintos naturais do bichano — com esconderijos, estímulo à prática de exercícios e um cantinho tranquilo para descansar.
- Brincando com seu amigo pelo menos 10 minutos diariamente.
- Cuidando para que a caixa de areia (sem perfume) fique longe de barulho e seja limpa com frequência.

Desde que a paz tornou a reinar no recinto, Guda nunca mais fez xixi parcelado, fora do banheiro ou cor-de-rosa. :)

2.9.22

Gatos, língua de beija-flor e o cocô da vingança

Eu já tinha uma história absurda: o beija-flor que tento fotografar há três meses bateu na porta de vidro da sala, ficou uma eternidade aninhado na minha mão (que plumagem psicodélica é aquela, gente?), de repente botou para fora do bico um fiozinho de língua em direção à gota de homeopatia da pipeta e, quando me ocorreu registrar a experiência única, saiu voando.


Aí, no dia seguinte, estava trabalhando no escritório quando ouvi um corre-corre e cheguei a tempo de ver o dono destas peninhas escapar dos gatos janela afora.


Nada digno de nota, concordo. Acontece que o desaforado não só entrou em casa como fez cocô no sofá.

E NA PIPOCA!