23.4.25

Dicas para cortar unha de gato antissocial (sobrevivi!)

Jujuba vai fazer 18 anos no mês que vem, a única gata, em duas décadas, de quem eu nunca havia arriscado cortar as garras por motivos de: trauma ― diferente das irmãs, assustadas-passivas, a criatura sempre foi assustada-agressiva. Ainda usa o arranhador, sobe e desce da minha mesa de trabalho sem escadas, corre enlouquecida pela casa. Mas tem se enroscado no cobertor e cheguei a pegá-la com uma pata presa à outra pela unha. rs

Como um gladiador prestes a entrar no Coliseu, no dia 25 de março tirei, então, o cortador enferrujadinho da gaveta, parti para cima da fera e acabei caindo na risada ao constatar que boa parte das Gudinhas deu mais trabalho durante a manicure do que a encardida. Sim, ela está mais velha. Só que eu também acumulei mais experiência ― pelo amor e pela dor.


Se vocês também precisam encarar esse desafio, principalmente no caso de gatos idosos, que tendem a afiar menos as garras, sob o risco, inclusive, de atravessarem as almofadinhas, seguem minhas dicas salvadoras:

Use um cortador específico
O formato que acompanha a curvatura da unha do bichano facilita a missão.

Pegue seu amigo sonolento
Apesar de a estratégia não ter funcionado com os outros bigodes, Jujuba se mostrou bem menos resistente interrompida em seu sono de beleza.

Se adapte à posição escolhida pelo gato
Talvez você precise voltar para a ioga, mas garanto que vale a pena. Contenção aqui em casa, aliás, só irritava mais a gangue.

Seja paciente
Se a tolerância do felino permitir aparar apenas uma garra por vez, não insista. Quanto maior o estresse, mais adrenalina e cortisol o organismo libera, deixando o animal mais agressivo.

Corte apenas as pontinhas
Ao pressionar a pata, as unhas ficam à mostra, devendo-se encaixar o cortador o mais longe possível da base rosada.


A prova do feito, apesar de o celular da Samsung deixar as garras parecendo falsas

Ofereça recompensas
Como Jujuba não gosta de croquetes e já come sachê todos os dias, caprichei na escovação ― que ela ama. Se não for o caso aí, substitua por uma sessão demorada de carinho. E, se seu peludo curtir petiscos cremosos, tem esse truque que o veterinário Dan Baeta testou, aplicando nas costas da mão que segura a pata, para distrair a Snow durante o processo.

*

Alerta! As garras ajudam no equilíbrio e na mobilidade do bicho, incluindo os atos de pular e escalar, portanto, não podem ser extraídas (onicectomia) — sem contar que isso é proibido no Brasil, desde 2008, pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Quem não quer ter o sofá customizado deve investir em enriquecimento ambiental.

17.4.25

Um Homem Chamado Ove: encontro 'Cluboca do Livro'

Eu amo os livros do Fredrik Backman porque ele consegue escrever sobre temas complexos de um jeito leve, tirando sarcasmo da manga sempre que a gente está embargado, prontinho para desaguar. Em Um Homem Chamado Ove (sinopse aqui), o autor-jornalista fala de velhice e morte com irônica propriedade, uma vez que é mais jovem do que eu.

A gente já começa sorrindo com os títulos dos capítulos ― ao menos a maior parte deles. Embarca, então, em uma montanha-russa de definições impagáveis: crianças, pequenos erros linguísticos balançantes, que crescem sem o menor respeito; gentileza, uma caixa contendo nitroglicerina; aposentar-se, tornar-se desnecessário; gente, desperdício de oxigênio; vencedor de uma discussão, aquele que conhece as palavras mais difíceis; medo da morte, ela passar batido e nos deixar sozinhos.

E tem o gato, que "vai perambulando com o porte de um bicho convencido, talvez um pastor-alemão de 60 kg do esquadrão antidrogas da polícia. Ove desconfia que é justamente a ausência total de autopercepção que fez com que ficasse sem cauda e metade da pelagem". Por outro lado, quando o bichano constata a prisão no carro, deita e dorme, "uma forma muito direta de resolver problemas". E, ao ser questionado se sete vidas não bastam, "lambe a pata, parecendo não ser do tipo que considera importante ficar fazendo a contagem".

Chorei de rir com os capítulos em que o velho rabugento tenta comprar um iPad, agride um palhaço e ensina Parvaneh a dirigir. E chorei de chorar no final. Ove também perdeu os pais precocemente, antes de poder formar sua família, "um tipo muito peculiar de solidão", acreditava que não gostava do gato, via-se cercado por idiotas e adoraria que quem estivesse certo estivesse certo e quem estivesse errado estivesse errado.

No último domingo, o livro nos deu a oportunidade de trocar experiências sobre nossos idosos e nossos próprios planos para a velhice, em um raro espaço de acolhimento, já que os tabus sobre o assunto se sobrepõem: pagar um cuidador para manter o familiar em casa (o que não custa barato) ou trazer para morar conosco e mudar toda a rotina? ― mesmo trabalhando fora, essa função ainda sobra para as mulheres. E na clínica de repouso, pode colocar contra a vontade? Até quando se tem condições de decidir? Como envelhecer com qualidade?


Fernanda Barreto citou a médica Ana Claudia Quintana, sobre quem envelhece bem ter as melhores relações, não necessariamente a melhor saúde ― na contramão da Era das telas e dos algoritmos das redes sociais, programados para engajar no ódio, gerando atomização. Embora não possamos descartar a importância da alimentação na longevidade, como lembrou Neide Rodrigues. Sua avó, que plantava a comida no interior sem agrotóxicos, viveu até os 94 anos, independente e ativa.

Se manter em movimento, aliás, talvez seja o terceiro pé do andador. A mãe da Cristina Rebouças, também com 94 anos, morava sozinha e viajava todo ano de navio, até a pandemia. Sua tia, de 92, ainda vai ao shopping com as amigas e não perdem um filme ou show. Ela faz Universidade da Memória e, em 2024, lançou um livro com as receitas da família.

Um andador precisa de quatro pés, certo? Exercitar o cérebro, como qualquer outro músculo do nosso corpo, atende os requisitos. A própria Cris, de 71, está estudando inglês para bater papo com a sogra irlandesa. Já a mãe da Paula, aos 86, divide a assinatura do Kindle com as filhas para ler digitalmente. Para a maioria das famílias, porém, a velhice vem cheia de desafios.

A negação das doenças sem cura, a sobrecarga em um dos familiares, a culpa de quem está longe, cobranças de todos os lados. Vanessa Araújo ressalta que é preciso acolher o comportamento do outro, por mais que a gente não entenda: "Idosos viram crianças, mas são crianças que já tiveram autonomia. Despedir-se de si mesmo não deixa de ser um processo de luto".

Por isso Aline Silpe, que tem como ritual ir ao teatro com o pai, "a criatura de 76 anos mais marrenta do universo", reforça que todo mundo deveria fazer terapia: "Nós precisamos de alguém de fora para ajudar a entender a nós mesmos e as pessoas ao redor".

Na lógica do capitalismo, inclusive, a aposentadoria nos torna inúteis, mas sempre se pode encontrar outros motivos para sair da cama e ser importante para alguém, como mostra o livro do Fredrik ― provocando o sistema, Cris confessa se sentir bastante útil cuidando de si, dos seus gatos e assessorando uma ONG baiana. Quatro amigas juntaram suas famílias em um pequeno condomínio, dividindo o cuidador, e ela pensa em repetir o combinado com outro grupo.

Ao longo das quatro horas de conversa, não faltaram indicações...


Para lidar melhor:

A Máquina de Fazer Espanhóis, livro do português Valter Hugo Mãe
"Eu me coloquei no lugar do personagem principal. Quando chegar a minha vez, já tenho uma ideia de como será", Cristina Rebouças.

O Incrível Dom de Oscar, livro do estadunidense David Dosa
"Mostra como as pessoas reagem a seus idosos internados", Paula Melo.

E se eu Morrer Amanhã?, livro da portuguesa Filipa Fonseca Silva
"Fala sobre descobrir o sexo na terceira idade", Fernanda Barreto.

Finitude Familiar, livro da brasileira Luiza Gonçalves de Paula
"Aborda a jornada que antecede a morte, os aprendizados, a importância dos cuidados paliativos", Vanessa Araújo.

A Luz Difícil, livro do colombiano Tomás González
"Conta a história de quem fica", Cristina Rebouças.

E se Vivêssemos Todos Juntos?, comédia dramática francesa (Prime Vídeo)
"Fala sobre cuidar de quem está perdendo a acuidade mental", Aline Silpe.


Para saber mais:

Como se prevenir contra as demências?
Vídeo do Drauzio Varella que também discute o papel do Estado no desenvolvimento de políticas públicas que garantam uma estrutura de cuidados aos idosos, como as que existem atualmente para bebês e crianças.

Cidades não gostam de pessoas mais velhas?
Vídeo da jornalista Mariana Mello, indicado pela Fernanda Barreto, sobre como as cidades precisam se preparar para acolher os idosos, estimulando que saiam de casa e tenham vida social.

O Bom do Alzheimer
Perfil da gerontóloga Claudia Alves Silva, indicado pela Lorena Fonseca.


Para se divertir (lista toda minha, porque ninguém é de ferro, né?):

Minha Avó Pede Desculpas
Livro fofo do mesmo autor de Ove.

O Clube do Crime das Quintas-Feiras
Coleção de detetive de Richard Osman.

Grace and Frankie (Netflix)
Série de comédia com a Jane Fonda e Lily Tomlin.

O Método Kominsky (Netflix)
Série de comédia-drama com Michael Douglas.

Only Murders in the Building (Disney+)
Série de comédia-policial com Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez.

A Gangue da Luva Verde (Netflix)
Série de comédia com atrizes polonesas maravilhosas.

Um Espião Infiltrado (Netflix)
Série de comédia com Ted Danson.

*

Volto para contar quando o livro de junho for decidido. Para viver outras histórias, cair na risada junto, se emocionar e culpar o clima seco, basta apoiar o Gatoca com qualquer valor a partir de R$ 15, escolher uma bebida e comprar sua edição favorita ― usando nosso link da Amazon (para qualquer produto, aliás), uma porcentagem vem para o projeto. :)


Discussões anteriores

:: Vou te Receitar um Gato, da japonesa Syou Ishida :: O Mestre e Margarida, do russo Mikhail Bulgakov

11.4.25

Quatro anos de casa nova-velha, sem blog

Foi em 31 de março, mas eu não tinha como contar aqui, pois a Hostinger, empresa que hospeda o Gatoca, conseguiu nos deixar 27 dias fora do ar, por causa de um boleto que vencia no sábado e o banco jogou o pagamento para segunda-feira, respaldado tanto pela Lei 7089/83 quanto pelo Código Civil, no Art. 132 ― e comigo apelando por e-mail, Procon até parar no Juizado Especial Cível.

Ufa! Eu precisava muito botar isso para fora, desculpem. Quando chegou o aviso de que apagariam todo o conteúdo do servidor, no último sábado, vi 18 anos de projeto indo para o lixo ― o painel que me permitia acessar os arquivos já estava zerado, como se a gente nunca tivesse existido por lá. Quanto vale uma gastrite, seu juiz?

Agora, sim, a comemoração! No aniversário de 2024, eu disse que a gente havia instalado a lendária porta do banheiro, né? Mas a verdade é que, como faltava o batente do lado de dentro, Leo tirou para pintar tudo junto e, entre uma morte e outra de gato, mais um ano e meio se passou ― vocês também se perguntam para onde vai esse tempo, que parece tão lento quando se olha de dentro?

O desfecho da epopeia ocorreu em 23 de março e pedia registro, né? Spoiler alert: a gente ainda não sabia que a porta não cumpriria sua função a contento.


E esse foi o grande feito dos últimos 365 dias em Araçoiaba da Serra ― junto com os surtos de arrumação, doação, jardinagem e a visita de amigas cultivadas há três décadas. Isso porque na lista dos fatos esquecíveis estão a morte inesperada da Pimenta, apesar de velhinha, e as partidas esperadas, mas igualmente tristes, da Chocolate e da Keka, deixando Jujuba sozinha pela primeira vez em 17 anos e meio ― Jujuba, a gata que me rendeu uma escarificação e agora não desgruda.


Por falar em grude, outra transformação produzida ao longo desses 12 meses foi a do Intrú, que não perde uma oportunidade de ganhar carinho, inclusive quando me vê desmontada da caminhada ― e ainda espera uma casa onde possa morar do lado de dentro da porta de vidro lavanderia.


Termino este retorno de brasileiro-que-não-desiste-nunca com dois pedidos:

🚨 Divulguem aos amigos os links do Gatoca que permitem comprar no Petz (com 10% de desconto!), na Amazon, na Shopee e agora também no Mercado Livre, revertendo uma parte do valor ao projeto. Como a Hostinger derrubou o blog 17 horas depois que publiquei o post, ninguém viu ― e perdemos as vendas justo do Dia do Consumidor. 😢

🚨 Esse período todo inacessível prejudicou também a indexação no Google dos textos que ajudavam gatos doentes, principalmente renais, e acolhiam seus tutores, como mostra o relato que Aline compartilhou recentemente no Cluboca. Bora fazer uma força-tarefa para que eles voltem a aparecer nos resultados de busca? Preciso que vocês interajam com os posts que redivulgarei nas redes sociais ao longo das próximas semanas. 😊


Para ampliar, cliquem na imagem

Obrigada! Obrigada! Obrigada! ❤️