Você, a criatura mais tibetana que já passou pela Terra, me esperou recomeçar. Nove meses, depois dos nove meses do parto ao contrário — essa parece ser a nova marcação de tempo por aqui. Eu não estava pronta. Mas também não estaria se você partisse aos 30 anos, como costumava brincar.
16 e meio: tanto em tão pouco.
Sim, eu quis desistir porque você começava a diarreia na caixa de areia e saía andando sem terminar, sujando tudo. Não entendia nada de bicho. Só que, quando o veterinário disse que sua chance de sobreviver era pequena, nem 50 dias já com anemia, infecção e virose, eu chorei.
Na frente de um estranho, por uma bolota de bigodes de que acha que não gostava. E decidi te segurar nas garras — além de acabar com o estoque de Gatorade de limão, seu favorito.
O que não me impedia de ficar brava quando você mordia meu dedão embaixo da coberta ou escalava minhas pernas com as unhas, porque desconhecia o próprio poder letal. Entendi só depois que o combo precoce de doenças te roubou a oportunidade de se calibrar na lutinha com os irmãos.
Essa foi a vantagem que Eduardo usou para me convencer a te adotar, lembra? "Ele não mia, não brinca, não come, você nem vai perceber que ele existe". E logo a Clara me pescou no pet shop, te mordeu de volta e a paz passou a reinar — fora do quarto, porque, injustiça das bravas, me descobri alérgica a gatos.
Você foi, de longe, minha melhor escolha. Tentaram me empurrar os filhotes que cresceriam de olhos azuis, um dos cinzas com branco, o mais peludinho. Mas eu sabia que era você — o frajola comum, com a eterna secreção no olho esquerdo e o pelo caspento (que resolveu ficar macio e brilhante, misteriosamente, no final). Não tem explicação, não racional.
E com você eu aprendi a amar também cachorro, passarinho, rato kamikaze, pomba porcalhona. A resgatar, depois a doar — não sem antes formar nossa gangue. A dividir o Gatoca com o mundo. A estender esse amor aos porcos, vacas, galinhas — e ler rótulo minúsculo de embalagem.
A querer mudar o planeta.
Agora, preciso aprender a continuar sem você — e seu cheirinho de roupa passada, o salto alto ecoando pela casa, as caçadas de ração, o colo roubado no meio da ioga, "mãããããããe" perfeitamente miado do outro lado das portas fechadas (isso quando você não decidia abri-las no pulo), a parceria no mamão do café da manhã (porque descobri que não podia te dar iogurte e sorvete napolitano), sua paixão por água, fingindo que bebia só para molhar o cabelo.
Naquele 2 de dezembro de 2005, te carreguei sem jeito no carro balançando, com medo de quebrar. Uma menina de 25 anos. Aos 42, sou eu a quebrada.
Se não existir nada além daqui, no nosso terreno você está ao lado da Clara — lugar em que você mesmo escolheu descansar no último passeio, já cambaleante. E porque Leo pegou a enxada há pouco, com a sensação térmica de 9ºC — você partiu no dia mais frio do ano e o termômetro não precisava concordar.
Como prometido, segurei sua mão por intermináveis cinco horas. E você retribuiu com um pãozinho timidamente amassado, o presente mais incrível que uma mãe poderia ganhar. Não existirá outro Mercvrivs.
Vem me visitar, de vez em quando? Eu sou boa de sonho.
*
Não poderia deixar de agradecer à Guda, que não era a Clara, mas ficou grudadinha com o Mercv até o fim. Ao Leo, da ajuda prática com o soro e os almoços que eu mal conseguia comer ao acolhimento em abraços silenciosos. Ao Edu, que cuidou do pequeno nos últimos dois anos, durante as madrugadas e finais de semana. À Maru, por me apresentar à homeopatia e às seringadas de água, e me acompanhar na despedida. Ao Eduardo, por ter insistido para eu abrir a janela e deixar o sol entrar.
Chorando muito por aqui... a gente nunca está pronta. Um abraço com carinho.
ResponderExcluirSem palavras….😞
ResponderExcluirQue dor , meu Deus, que dor
ResponderExcluirQuerida .... Sinta um abraço quentinho de uma gateira que não te conhece mas te entende neste dia tão frio... Que ele fique em paz e vc também... Beijinhos...
ResponderExcluirMeu abraço.
ResponderExcluirSem palavras, Bia. Que tristeza... Apenas sinta nosso abraço forte e apertado. Rosa e Casé
ResponderExcluir😢
ResponderExcluirAh, sinto muito!! 😢🙏🏻Mais um lindo anjo no céu...❤
ResponderExcluirAi, meu Deus, era o que eu temia. Sem mais que dizer. Beijo, Bia.
ResponderExcluirRegina Haagen
Chorando junto com vc. Força aí menina.
ResponderExcluirEu sinto muito. Só quem muito ama, muito sente, muito chora. Um forte abraço. Daqui a pouco o sol brilha de novo e aquece os corações, ainda que sempre na saudade.
ResponderExcluirSó receba um abraço bem apertado e quentinho, envolto em lágrimas.
ResponderExcluir😔 vai lá, Mercv, brincar muito com com Clarinha e Simba! ❤️🩹
ResponderExcluirSinta-se abraçada, Bia.
ResponderExcluirHoje tem miadeira nos telhados do céu...
Só ate mandando um afago daqui.
ResponderExcluirChoro com vc, Bia. Receba meu abraço 💔💔💔💔💔
ResponderExcluir❤️
ResponderExcluirMeus sentimentos! A dor da parte é algo que não dá pra explicar 😭
ResponderExcluirSem palavras para este momento… sinto muito… 😞
ResponderExcluir😭😭😭😭😭
ResponderExcluirO buraco que a partida deles deixa no nosso coração só não é maior que o amor que nos trazem… Sinto tanto. Um abraço forte e apertado de uma gateira lutando contra a doença renal por aqui também. ❤️
ResponderExcluirObrigada por compartilhar o seu amor ao mercv conosco, que São Francisco acolha-o e console seu coração, um abraço forte e caloroso
ResponderExcluirTive que ler em partes, não tive estrutura para aguentar
ResponderExcluirPoxa Bia!!! Chorando litros aqui! E sentindo sua dor!! E como dói! E dói muito!!!passei por isso tantas vezes, que o coração anda calejado 😢agora tenho outras preocupações peludas aqui a Julie minha Maine que hoje tem 13 anos e uma diarreia que estou a investigar e lutar com a falta de tempo que me rouba até mesmo horário do medicamento. E um de 14 anos o Francisco que foi meu lar temporário dos tempos do Adote que me tira noites de sono com seus miados altos, magreza, exames normais. Como é duro dar conta de tudo. Sinto muito querida, abraço forte e que Deus te dê forças.
ResponderExcluirSinto muito. Nunca estaremos preparadas. 😿
ResponderExcluirO meu está enterrado no sítio, junto com a Hannah, Belinha e Vivi. Debaixo de uma flor bem bonita, conforme o pedido da minha filha.
ResponderExcluirAgradecer o tempo vivido com ele, ajuda a superar
ResponderExcluirTriste, triste, triste... Sinto muito, Bia.
ResponderExcluirSinto tanto Biazuda. Chorando litros aqui. Que feliz Mercv foi por ter vivido a vida ao seu lado <3. Fique com meu abraço.
ResponderExcluirSinto tanto... 😞
ResponderExcluirPoxa... Sinto muito... 😔
ResponderExcluirPuxa. Força. Ele era mesmo especial.
ResponderExcluirForça pra você, passei por algo parecido com a Nany, e realmente nos vimos em sonhos muitas vezes, até que em um deles era virou um filhote e eu compreendi na hora que poderíamos ter mais uma chance.... depois de meses encontrei e minha saudade sumiu, que todos que amam possa ter essa oportunidade. Força e amor pra vc, um abraço apertado da Fernanda (Cozy Gatos)
ResponderExcluirÔ, minha amiga, nem sei o que te dizer. Que encontro bonito esse que você teve com o Mercv. Esse gatinho que aqueceu aquele seu coração geladinho, eu bem me lembro. Que mudou toda a sua vida e, com isso, a vida de tanta gente, e tanto bicho, e tanta vida. Que você consiga seguir em frente, transformando toda essa dor em força pra cuidar de todos os amigos do Mercv desse mundo. Te amo! Saudade
ResponderExcluirOi... Que lindo relato de uma despedida triste. Que vida maravilhosa vocês tiveram, intensa, um sopro e um vendaval. Obrigada por compartilhar seu amor e sua dor, por me emocionar ao ler o que senti em suas palavras.
ResponderExcluirMorreu um pedacinho do coração aqui...fiquem bem...
ResponderExcluirUm abraço apertado Bia. Não há muito o que dizer. Só a agradecer ao Mercvs por ter trazido tanta luz e inspiração para este mundo. Por mais dolorido que seja, a despedida perfeita é assim, mão na mão amada, sentindo que está ali o coração.❤️
ResponderExcluirBia, sempre pensava como seria quando esse dia chegasse, porquê sempre chega. Ele foi um gatinho especial que mudou a sua forma de ver os animais e você foi a mãe especial que ele jamais poderia sonhar. Um pertenceu ao outro e nada poderá separar vocês. Receba nossos abraços, meu, do Gatinho, da Nana, da Mpenziwe e do Catchorro. Fique bem, ele está!
ResponderExcluirBia, meus sentimentos 😢
ResponderExcluirSinto muito, muito mesmo!
ResponderExcluirMinha querida, sinta-se abraçada. A dor precisa ser processada, mas as boas lembranças permanecerão para sempre. <3
ResponderExcluirEles se doam tanto! A gente é tão abençoada com eles. Amor é isso... Triste aqui... Força!
ResponderExcluirDemorei para responder, mas li cada mensagem de vocês com o coração abraçado. ❤️
ResponderExcluirComo estão as coisas por aí, Aline?
Espero que Julie e Francisco sigam na resistência — e não se culpe!
Amo-te, Lelécas! Saudade também!
Perdi meu Lucy ontem. Estou me sentindo destruído por dentro. Não paro de chorar escondido, pois tenho medo que zombem do luto de um homem de 58 anos por um gatinho.
ResponderExcluirSinto muito pelo Lucy. :\ E sinto ainda mais que você precise esconder sua dor. O mundo seria melhor se homens de 58 anos pudessem chorar a perda de seus gatinhos. Receba meu abraço a distância!
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