Quando a gente recebe o diagnóstico de doença sem cura de um ser amado (bípede ou quadrúpede), antecipa os cinco estágios do luto: primeiro se recusa a acreditar, depois sente raiva, tenta barganhar com uma força organizadora do caos, cai em depressão e acaba aceitando. Mas ainda resta o desafio dos cuidados paliativos, que garantirão alguma qualidade nesse finzinho de vida.
Escrevi "desafio" porque não é fácil gastar tempo e dinheiro cuidando de alguém que não ficará bem — e, no caso dos gatos, que rosna, morde e arranha porque não entende os remédios, a alimentação forçada, os curativos. No começo, sob o impacto da notícia e o despreparo para lidar com a morte, a coisa até que flui bem. Após meses da mesma rotina, repetitiva, cansativa e inglória, é preciso exercitar a paciência.
Meu desafio atual se chama Clara. E confesso que às vezes dou umas tropeçadas. Na maior parte do tempo, porém, procuro prestar atenção nos detalhes que tornam os dias da retalhinha mais leves. O ponto ideal em que o patê processado se sustenta na parte de trás da colher, que ela consegue lamber com gosto. A coçadinha no pescoço depois de colocar o colar elisabetano detestado. Um colo não pedido, mesmo que esteja quente e voe pus no teclado.
São 26 anos de jornada nessa estrada, que começou na adolescência, com o câncer da minha mãe. E sigo odiando a impotência. Mas aprendi a chorar só no final.
Sinto muito pela Clara, oro todos os dias por ela, para que sinta algum conforto na doença, apesar de saber que não poderia ter uma tutora melhor, que cuida com zelo e respeito até o fim. Espero que o final seja tão breve quanto a Clara aguentar.
ResponderExcluirNunca fica fácil, não importa a "experiência" que a gente tenha..
ResponderExcluirNunca, mas nunca mesmo, vou aprender a lidar com isso.
ResponderExcluirVivo com o coração apertado pois tenho 8 idosos.
Sei bem o que vc está passando
___o___
ResponderExcluirPassei esse luto antecipado com Angélica há pouco tempo. E vê-la definhar a cada dia, sabendo que aquele "esqueletinho-da-dona-lourdes" já foi gordinha e saudável, me deixou muito mal. Mas o céu aliviou para ela e o tempo tem me aliviado.
ResponderExcluirEstou passando de novo pela doença renal grave ....😔
ResponderExcluirMuita força pra vcs com a Clara
Obrigada pelo carinho, meninas! Clara é dura na queda e continua querendo ficar. rs
ResponderExcluirSei que são tempos difíceis por aí, Adrina. Receba meu aperto a distância! ❤️
Beijo para a Cris e para a minha xará também!